ED113
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lição de vida<br />
57<br />
não foi fácil. Saiu de uma escola especializada,<br />
onde tudo era adaptado, e foi para<br />
uma escola regular, onde os professores,<br />
a equipe técnica e os próprios alunos não<br />
tinham convivência com o “diferente”.<br />
“Foi um desafio. Aí comecei a entender<br />
a inclusão, que não existia. Ninguém era<br />
preparado e o caos estava instalado. Não<br />
havia materiais didáticos adaptados para<br />
o braile e o único recurso era o quadro<br />
negro, a voz do professor e a colaboração<br />
de um colega que ficava ao meu lado<br />
lendo tudo”, explica.<br />
O amor pelo teatro começou ainda<br />
bem pequeno, já que os pais sempre o<br />
levavam a espetáculos. Ele sonhava um<br />
dia estar do outro lado, no palco: “Meu pai<br />
era músico, então o contato com a arte<br />
era certo, daí veio a escolha profissional,<br />
ser artista, realizar meu sonho de criança”,<br />
lembra. A carreira de ator veio antes de<br />
ser bailarino: é formado pela Universidade<br />
Federal de Minas Gerais (UFMG). “A dança<br />
veio como complemento para acrescentar<br />
conhecimentos, já que o teatro trabalha<br />
muito o olhar e, como não o possuo, procurei<br />
expressar com o corpo esta falta, acumulando<br />
vivência em oficinas de dança e<br />
espetáculos profissionais”, explica.<br />
A carreira começou como ator amador<br />
na escola, em 1996, acumulando,<br />
portanto, 20 anos de atuação. Ele já teve,<br />
inclusive, um grupo chamado “Nós Cegos”,<br />
que foi extinto porque os outros atores não<br />
quiseram seguir carreira. A partir daí, vem<br />
trabalhando com convites para executar<br />
trabalhos esporádicos.<br />
No Rio de Janeiro, além da participação<br />
nos Jogos Paralímpicos, onde trabalhou<br />
com a coreografa Cassi Abranches, ex-<br />
-bailarina do Grupo Corpo, um dos principais<br />
do país, ele também atuou em<br />
dois espetáculos teatrais: “Imagens de<br />
um C(Ego)”, texto escrito para ele pela<br />
autora Paula Wenke e “Feliz Ano Novo, de<br />
Novo”, espetáculo do Teatro dos Sentidos,<br />
também desenvolvido pela mesma autora<br />
e diretora técnica, em que a plateia tem os<br />
olhos vendados e acompanha toda obra<br />
encenada através da imaginação e dos<br />
outros sentidos.<br />
Em todas as encenações que participa,<br />
ele afirma que o público o recebe muito<br />
bem e com curiosidade para entender seu<br />
trabalho no palco, já que tem bastante<br />
domínio cênico e que parece enxergar, dependendo<br />
do personagem que interpreta.<br />
Hoje a rotina é bem movimentada:<br />
como mora sozinho, precisa cuidar de<br />
toda a rotina da casa, além de ter ensaios<br />
regulares de 6 horas por dia e de<br />
frequentar a academia três vezes por<br />
semana. Em 2017, ele espera poder<br />
circular por todo o Brasil com os três<br />
últimos trabalhos em repertório. “Também<br />
estou aberto a novas propostas de<br />
dança/teatro e também de televisão,<br />
onde acredito que falte representatividade<br />
da minha classe, do cego, falta<br />
abertura e também profissionais competentes”,<br />
afirma.<br />
“Acredito que para o ser humano ter<br />
um bom crescimento intelectual é preciso<br />
ter amor, respeito e o apoio da família. Só<br />
cheguei até aqui porque tive bons pais,<br />
que já faleceram, mas que me deixaram<br />
uma grande herança, o caráter e respeito<br />
ao próximo, um querido irmão e sobrinhos<br />
maravilhosos quem me motivam a cada<br />
dia trabalhar mais e poder compartilhar<br />
com todos minha felicidade pessoal e<br />
profissional”, conclui Capucho.