REBOSTEIO Nº 2
Revista REBOSTEIO DIGITAL número dois - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
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Melancolia Melancolia<br />
O filme “Melancholia”, de Lars Von<br />
Triers, anuncia em enfática linguagem<br />
alegórica que o fim é irreversível.<br />
Nada que religiões, seitas e profetas,<br />
falsos ou não, tenham deixado de<br />
apregoar, histericamente, numa fala<br />
carregada de ódio e vingança,<br />
garantindo a salvação para os<br />
seguidores do senhor e o fim<br />
inexorável para os pecadores,<br />
heréticos e ateus.<br />
O forte sentimento de uma era que se<br />
extingue, de forma irreversível é<br />
compartilhado por nós artistas,<br />
cineastas, poetas e músicos no início<br />
da segunda década do século XXI.<br />
A percepção aguda do<br />
desmantelamento da Europa, dos<br />
EUA, de suas instituições financeiras e<br />
culturais, há gerações mistificadas<br />
pela mídia oficial. O acirramento de<br />
extensas ações bélicas, invasões,<br />
ocupações militares de longo prazo e o<br />
abandono de soluções diplomáticas,<br />
nos leva a crer num momento histórico<br />
terminal.<br />
Intuitivamente colocamos o dedo na<br />
ferida enquanto a sociedade civil e<br />
suas instituições falidas se recusam a<br />
reconhecer sua anunciada caducidade.<br />
Mas, afinal nesse contexto macro, que<br />
relevância tem a voz, o discurso de um<br />
poeta? Em contrapartida e quase que<br />
excepcionalmente, afirmava Freud -<br />
por onde ele investigasse, não importa<br />
o campo de saber, encontraria um<br />
poeta, um artista assinalando os<br />
sintomas, declarando como agora, o<br />
fim e o reinício dos tempos.<br />
O artista não profetiza, ele<br />
sensivelmente, captura os sintomas do<br />
colapso iminente ou a irrupção, sutil ou<br />
violenta de uma nova ordem mundial.<br />
Maiakóvski me parece envolver-se de<br />
corpo e alma com esses dois<br />
momentos, cantando os valores mais<br />
relevantes da revolução socialista de<br />
1917 e sucumbindo ao desmanche, com<br />
o stalinismo, de um projeto único na<br />
história das transformações sociais,<br />
levando-o, trágicamente ao suicídio.<br />
Caetano Veloso, na canção, “Fora da<br />
Ordem”, investiga o afloramento de<br />
uma nova ordem mundial fora dos<br />
sistemas sociais vigentes:<br />
“Eu não espero pelo dia<br />
Em que todos<br />
Os homens concordem<br />
Apenas sei de diversas<br />
Harmonias bonitas<br />
Possíveis sem juízo final...<br />
Alguma coisa<br />
Está fora da ordem<br />
Fora da nova ordem<br />
Mundial...”<br />
*<br />
Ouça a música no Youtube:<br />
http://www.youtube.com/watch?feat<br />
ure=player_embedded&v=HUbz8C3CBs<br />
E veja o trailler do filme:<br />
http://www.youtube.com/watch?v=m<br />
iMZP4tGHuU&feature=related