REBOSTEIO Nº 2
Revista REBOSTEIO DIGITAL número dois - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
Revista REBOSTEIO DIGITAL número dois - entrevistas, arte, cultura, poesia, literatura, comportamento, cinema, fotografia, artes plásticas.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
piratininga<br />
avenidas me trespassam<br />
rios correndo leito<br />
adagas<br />
a chuva é tanta<br />
lágrima<br />
e o frio abraça por todo lado<br />
violento<br />
me comendo os ossos e adentro<br />
a matriz desse amor difícil<br />
forjado preto no branco<br />
polis urbe úbere<br />
treze listras amordaçam<br />
profano<br />
meu tesão paulista<br />
cuspalavras inoculadas<br />
do caos<br />
jorra-me o aço da matéria<br />
agora que só derivo<br />
em linha férrea<br />
aferrada à vaga sensação<br />
de que na plataforma somos cúmplices<br />
[não espalhe]<br />
potencialmente suicidas<br />
prestes a voar<br />
e loucos pela vida<br />
no susto de sermos um<br />
no desvão do encontro átimo<br />
último ato<br />
a cidade feita a cada passo<br />
e antes que perceba<br />
e antes que anoiteça<br />
e antes que as putas da Augusta<br />
me reconheçam...<br />
o violinista de terno chama<br />
tocando Bach só para mim<br />
sem saber que apaixonada<br />
posso dar meia volta e sorrir<br />
*<br />
São Paulo chora<br />
chovendo bala<br />
em paradoxos -<br />
Moinhos dom quixote<br />
sem sancho ou pança.<br />
Sacis sem perna ou vida<br />
com seus crakchimbos.<br />
Pinheirinhos abatidos<br />
para lenha<br />
que não aquece.<br />
E tudo escorre célere<br />
imundo<br />
para onde ninguém vê<br />
para o fim do mundo<br />
que sangra Tietê.<br />
urbefagia<br />
corre pelo meio fio<br />
a existência vaga<br />
devorada<br />
em bocas-de-lobo.<br />
castelhana<br />
trago na pele o sangue<br />
das touradas perdidas<br />
primitiva<br />
navego vento e calmaria<br />
íntima<br />
inquisição pagã e atrevida<br />
do velho continente<br />
ao novo conteúdo<br />
meu astrolábio beija cada<br />
descobrimento<br />
meu velho blues<br />
num canto de mim<br />
se tanto<br />
resiste um ponto<br />
de trama azul<br />
num canto sem fim<br />
(é banto?)<br />
reside um tempo<br />
de torso nu<br />
metade pranto<br />
metadenim.<br />
sapiens<br />
bichos, nascemos sábios<br />
dúbios, morremos lixo<br />
em nichos se escondem<br />
trágicos<br />
medos e vícios<br />
com poderes<br />
mágicos<br />
entre eu e o poeta<br />
(para Maiakóvski)<br />
uma troca de olhares<br />
furtivos<br />
roubados no tempo<br />
que nos separa<br />
uma cúmplice<br />
espera<br />
pelo século trinta<br />
pelo nunca<br />
pelas novas tintas<br />
pela íntima fera<br />
Mercedes Lorenzo é fotógrafa, paulistana, e esporadicamente escreve poemas descartáveis para serem afixados em<br />
superfícies ordinárias.<br />
Blog de fotografia: http://olhardelambe-lambe.blogspot.com<br />
Blog de poesia: http://cosmunicando.blogspot.com<br />
página 27