Rodrigo Boerin
O fotojornalismo é um seguimento da fotografia que aborda um pouco de tudo, desde coluna social, passando por esportes e política até chegar a guerras e questões sociais. Eu ainda não cheguei a guerras, mas exploro um lado da vida que a meu ver não se distancia muito disso: é a guerra pela sobrevivência na selva de pedra. E como em qualquer guerra, nesta também há caos e degradação humana. Eu passei a explorar os antros decadentes da cidade de São Paulo logo quando comecei a fotografar, essa sempre foi a minha intenção, o caos, a sujeira e a degradação humana sempre me atraíram. O idoso que sobrevive do lixo, o jovem que passa sua vida fumando crack e morando nas ruas, o travesti que faz programa em hotéis baratos... Tudo isso é uma guerra silenciosa, não há bombas nem minas terrestres, mas a guerra está ali, perante nessas faces. Quando eu começo a me aproximar do local onde vou fotografar e se trata de um local onde a coisa é extrema (como Cracolândia, por exemplo), eu já dou início à estratégia de sobrevivência: me aproximo com cautela e discrição e faço o meu melhor. Ora tenho que ir bem devagar e esperar, ora tenho que fazer dois ou três cliques o mais rápido possível e me afastar. A adrenalina é grande quando vou me aproximando do local onde serão realizadas as fotos, quando olho de longe e vejo que há viciados por ali consumindo a droga. Isso é perigoso, faz soar o alerta dentro de você, mas é uma sensação sensacional, me sinto com se estivesse mesmo em uma zona de conflito, pois tudo pode acontecer. Tem os momentos mais tranquilos, como abordar um travesti de rua, conversar e fazer as fotos. Muitas vezes eu encontro pessoas muito legais nesses lugares. Ou escutar as histórias de vida de um senhor que busca sua sobrevivência no lixo... Sou novo nisso, mas já escutei de tudo nesses lugares. Uma figura ilustre que é conhecida como “Paizão”, que sobrevive do lixo na região da Cracolândia, além de seringas e outros tipos de lixo hospitalar, me disse que chegou a encontrar fetos enquanto procurava algo que pudesse comer ou ser vendido, no lixo. Quero seguir fazendo isso, nunca me aconteceu nada. Não sei se por sorte ou por adotar táticas eficazes. Tenho a certeza que daqui desse caos urbano para uma zona de conflito será só questão de tempo, então eu espero e faço o que dá pra fazer, me embrenho nos lugares mais decadentes que eu puder. Eu não consigo viver longe dessa decadência toda, me entristece. Algumas vezes eu fico uma semana sem visitar esses locais e quando os visito, percebo que perdi tempo demais, que muita coisa aconteceu e eu não estava lá. Rodrigo Boerin fevereiro/2012 http://www.otaboo.com.br/sites/nucleo_fot03/index.html rodrigoboerin@hotmail.com