Jornal da ABI Especial - A Cronologia dos Quadrinhos 2
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Zodiako (à esquer<strong>da</strong>) foi uma de suas<br />
obras primas nos quadrinhos. Mas<br />
Jayme Cortez também criou capas de<br />
revistas e cartazes de cinema e foi um<br />
ilustrador de primeira: até seus esboços<br />
merecem destaque, como o deste cavalo.<br />
O gênero de<br />
Terror era a<br />
especiali<strong>da</strong>de de<br />
Jayme Cortez.<br />
seguintes, artistas do porte do cineasta<br />
Federico Fellini revelaram ao público a<br />
importância <strong>dos</strong> quadrinhos em sua formação<br />
artística e intelectual.”<br />
Hoje, o reconhecimento a esse feito<br />
permanece nas enciclopédias sobre comics<br />
nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, França, Itália<br />
e Espanha, onde sempre há um verbete<br />
registrando que o Brasil foi um país pioneiro,<br />
ao fazer uma exposição nesses<br />
moldes. Álvaro de Moya lembra que<br />
Cortez militou na publici<strong>da</strong>de na televisão,<br />
pela primeira vez, fazendo o desenho-assinatura<br />
de uma telenovela <strong>da</strong> TV<br />
Excelsior. E emprestou seu talento aos<br />
estúdios de um de seus discípulos mais<br />
famosos, Mauricio de Sousa, onde foi<br />
Diretor de Merchandising e Animação.<br />
Cortez escreveu três livros: A Técnica<br />
do Desenho, Mestres <strong>da</strong> Ilustração e<br />
Manual Prático do Ilustrador. Também<br />
essa contribuição é reconheci<strong>da</strong> por<br />
colegas, como Toninho Mendes.<br />
“Seus livros sobre como desenhar,<br />
publica<strong>dos</strong> nas déca<strong>da</strong>s de 1950 e 1960,<br />
influenciaram to<strong>da</strong> uma geração. Antes<br />
deles, até havia publicações técnicas<br />
sobre desenho... Mas era tudo muito<br />
desorganizado, pulverizado, publicado<br />
em fascículos. Ele foi o primeiro mestre<br />
que juntou, em livros completos, as<br />
dicas de como desenhar pés, mãos e<br />
outras partes do corpo, com to<strong>da</strong>s as<br />
instruções e as técnicas de acabamento<br />
a lápis, nanquim e bico de pena.”<br />
Fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Circo Editorial e atualmente<br />
à frente <strong>da</strong> Editora Peixe Grande,<br />
ele confirma a tese de que Cortez foi<br />
referência para os jovens que estavam<br />
se formando em desenho na época.<br />
“O que havia de mais marcante em<br />
sua arte é que ela é solta, livre, e precisa<br />
ao mesmo tempo. Ele não tinha um<br />
traço ‘duro’. Escrevo e tenho livros publica<strong>dos</strong>.<br />
Minha praia é mais a edição e<br />
a diagramação de Arte. Mas o que aprendi<br />
sobre desenho, na infância e na adolescência,<br />
teve muito <strong>da</strong> contribuição de<br />
Cortez”, diz Toninho Mendes.<br />
Em novembro de 1986, Jayme Cortez<br />
foi homenageado em Lucca, na Itália,<br />
com o prêmio Caran D’Ache, no XX<br />
Festival Internacional de HQ e Ilustração,<br />
pelos seus 50 anos de ativi<strong>da</strong>des. Foi<br />
professor <strong>da</strong> Escola Pan-Americana de<br />
Arte e trabalhou na área publicitária<br />
como diretor de criação <strong>da</strong> McCann<br />
Erickson. Ao longo de sua carreira, no<br />
Brasil, participou ativamente <strong>da</strong> luta<br />
pelo reconhecimento e valorização <strong>dos</strong><br />
quadrinhos – visto com menosprezo e<br />
preconceito por setores conservadores<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e até mesmo por alguns<br />
segmentos editoriais. Foi um <strong>dos</strong> idealizadores<br />
do projeto de reserva de<br />
mercado para a produção nacional de<br />
hq, reservando dois terços do espaço<br />
para artistas locais, que chegou a ser<br />
entregue às autori<strong>da</strong>des, mas<br />
nunca foi implantado.<br />
Jayme Cortez morreu em<br />
1987, de ataque cardíaco, após<br />
dois dias internado em conseqüência de<br />
uma hemorragia no abdômen. Deixou<br />
organizado o álbum Saga de Terror, reunindo<br />
diversos de seus quadrinhos. A<br />
obra foi lança<strong>da</strong> postumamente pela<br />
editora Martins Fontes, e segue disponível<br />
em catálogo.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>da</strong> <strong>ABI</strong> 362 Janeiro de 2011<br />
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