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Outros Tempos

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram. Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram.

Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

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A NOITE DOS TEMPOS<br />

MAURO IASI<br />

um dos primeiros poemas que a mim veio foi pelo choque<br />

de uma notícia. O filho de uma querida amiga havia<br />

partido deste mundo sem que houvesse tempo de<br />

conhecê-lo. Morreu de fome. “Hoje o mundo é menos<br />

humano, porque não reflete o rosto de um menino”,<br />

dizia. A fome, com seus dedos gelados, levara mais uma<br />

criança. E foi como se arrancassem um traço humano<br />

de nossas faces de forma que todos nós, depois disso,<br />

pareceríamos um pouco mais com o assassino.<br />

No dia do seu enterro, o poema indignado foi lido.<br />

Jamais foi publicado. Nunca consegui recitá-lo em<br />

público e mesmo lê-lo ainda me dói muito. Como aquele<br />

para quem foi feito, o poema passou pelo mundo sem<br />

ser conhecido. Deixou apenas uma pegada em outro<br />

pequeno poema publicado em meu primeiro livro:<br />

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