Outros Tempos

No texto literário, especificamente, essa poesia
impressiona desde um primeiro momento por sua
sensibilidade às dores e esperanças das pessoas. Para
tanto, o autor amplia o horizonte semântico das palavras,
retirando-as de seus espaços formais. Vimos isso
em Metamorfoses, coletânea de poemas publicada em
2011, em As ruas, livro que intercala suas “reflexões
pedestres” e poesias, editado em 2014, e, agora, em
Outros tempos. Para o poeta, concretizar o afastamento
do leitor do automatismo estéril das relações já reificadas,
levando-o a reformular sua percepção da realidade,
supõe não apenas uma invenção temática, como
obrigatoriamente formal. Seu poema abriga um fluxo de
imagens, de referências a diversas tradições literárias,
de rimas, de metáforas, de aliterações, trabalhados
através de métodos específicos de construção.
Em Outros tempos o leitor perceberá que se adentra
aos poemas como se estivesse em uma trilha, ora convocado
a correr junto ao verso, ora seduzido a parar para
escutar o murmurar dos redemoinhos e o som de uma
pequena jangada enfrentando o oceano. Um poema
parece nascer do seguinte, construindo, nesse processo,
um léxico de palavras em torno do universo da travessia:
jornadas, espirais, abismos, passos, caminho, direção,
beira, portos, estradas, trilhas, bússolas e mapas. São
apenas alguns exemplos.
Integram este livro 34 poemas, que permanecem
unidos, como um trajeto, a uma ideia anunciada já em
seu título: os “outros tempos”. O leitor há de se perguntar:
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