30.11.2017 Views

Outros Tempos

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram. Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram.

Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

nosso mestre João Cabral de Melo Neto, “o que vive não<br />

entorpece”, “o que vive incomoda de vida o silêncio”,<br />

o que vive tem arestas e é espesso 2 .<br />

Não sei se sei escrever poemas, provavelmente não,<br />

como alguns críticos perspicazes diagnosticaram;<br />

escrevo porque preciso. Escrevo porque dói.<br />

É indiferente ao poema se a dor vem do mundo ou do<br />

poeta, esta é uma fronteira que desconheço. Da mesma<br />

maneira, a tristeza e a alegria, dicha y quebranto, como<br />

já sentenciou Violeta Parra, continuam sendo os materiais<br />

de onde brotam nosso canto. Assim como a palavra<br />

“paixão” traz em seu corpo a alegria do encontro, a dor<br />

que fere, a esperança que nos move, a ferida que nos<br />

lembra, o poema é uma amálgama de tudo isso que se<br />

vive, dos tempos que nos cabe, da alma que os corta a<br />

cada dia em busca de outros tempos.<br />

Depois de um curto dia em que o sol hesitou em<br />

sair plenamente, são as trevas que se anunciam logo<br />

ali. <strong>Tempos</strong> difíceis se anunciam, uma nova derrota<br />

marcará o corpo coletivo de nossa classe. Nós seguimos<br />

cantando, como aprendemos com Atahualpa Yupanqui,<br />

que cantava pelos caminhos e também na prisão, porque<br />

cantava ouvindo o povo que canta muito melhor que<br />

qualquer um de nós.<br />

Os poemas que aqui se reúnem, produzidos<br />

entre 2008 e 2017, são o que poderíamos chamar de<br />

2<br />

Discurso do Capibaribe IV, in João Cabral de Melo Neto, Poemas<br />

(São Paulo: Global, 1985, p. 54).<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!