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Outros Tempos

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram. Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

O livro reúne poemas produzidos entre 2008 e 2017 e o autor os define como "noturnos", pois são fruto de tempos que anoiteceram.

Ainda assim, defende Iasi: "seguimos resistindo na noite, nos acolhendo no brilho tênue das estrelas, em velas deixadas nas janelas, nos faróis que conduzem navegantes, nos poemas que guardam nossa humanidade diante da barbárie, do extermínio, da arrogância dos poderosos".

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de que tempos falam os poemas? Parece-nos que aqui se<br />

fez palavra a realidade dos últimos anos, especificamente<br />

brasileiros e sul-americanos, mas também mundiais,<br />

como percebemos em Um navio sem porto, com rastros<br />

dos refugiados ao redor do mundo em seu arriscado – e<br />

tantas vezes fatal – exílio por terra e mar; um canto à vida,<br />

aos pais, às mães, aos filhos, mas com inegável vestimenta<br />

de luto. Aí está demonstrado não apenas a preocupação<br />

internacionalista do escritor, mas também o impulso<br />

universal de seus versos: a chuva que cai sobre os navios,<br />

que os levam, é a mesma que bate na janela de quem<br />

escreve e, subitamente, a que cai nos olhos do leitor.<br />

Essa capacidade universalista, que se declara no<br />

verso “o enorme mar à frente é uma metáfora” aparece<br />

desde o poema de abertura do livro, A sétima lei do tempo,<br />

cuja lírica nos concede uma pista para a interpretarmos,<br />

consoante a uma concepção dialética, que credencia a<br />

voz poética a conceber o mundo, mas também ser parte<br />

dele. Ali, o “eco”, ou seja, a voz, a representação, a escrita<br />

“são espelhos que nos mostram / reflexos invertidos do<br />

que fomos”. Compreendendo esses versos como uma<br />

arte poética de <strong>Outros</strong> tempos, isto é, como expressão<br />

da concepção de composição artística de Mauro Iasi,<br />

podemos entender essa poesia como aquilo que György<br />

Lukács chamaria de “espelho do mundo” 4 , o real aos<br />

4<br />

lukács, György. A característica mais geral do reflexo lírico. In:<br />

______. Arte e sociedade: escritos estéticos (1932-1967). Trad.<br />

Carlos Nelson Coutinho e José Paulo Netto. Rio de Janeiro: Editora<br />

UFRJ, 2009, p. 245.<br />

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