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Revista Curinga Edição 10

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Danielle Diehl<br />

Dona Nida abre as portas de seu<br />

bar para abrigar as tradições,<br />

memórias e trabalhos da comunidade<br />

do Morro São Sebastião.<br />

Subir e descer as ladeiras de Ouro Preto é o<br />

que mais gosto de fazer nos momentos de lazer. Nasci em Mariana,<br />

cidade vizinha, aprendi a admirar a beleza dos conjuntos<br />

arquitetônicos coloniais das duas cidades. Ouro Preto é a<br />

que mais me fascina pela diversidade cultural e desperta meu<br />

interesse por ações de preservação deste belo patrimônio.<br />

Foi assim que conheci o Ecomuseu Serra de Ouro Preto, um<br />

museu comunitário, que preserva o patrimônio, estimulando a<br />

relação entre a cidade monumento histórico e o cotidiano dos<br />

moradores. É um projeto, coordenado por Yara Mattos, museóloga<br />

e professora da Universidade Federal de Ouro Preto, que<br />

engloba as comunidades dos Morros São Sebastião, Santana,<br />

da Queimada e São João. O trabalho foi iniciado em 2005.<br />

Decido então visitar um dos morros, o São Sebastião. Uma<br />

amiga, frequentadora assídua do bairro, me ensinou o caminho<br />

até lá. Teria que subir uma rua que fica ao lado do Observatório<br />

da Escola de Minas, segundo ela. “E então é só subir<br />

reto”, completou.<br />

Sigo rumo à viela, cada vez mais estreita. Subida forte, calçamento<br />

de pedras irregulares. Pelo caminho, tenho recordações<br />

das aulas de história. Lembro-me das explicações da professora<br />

da época de ensino fundamental. Era um dos trajetos<br />

feitos pelos tropeiros nos tempos de antigamente.<br />

Durante a subida reflito sobre a atividade dos desbravadores<br />

desta região, que fizeram surgir cidades através da condução<br />

de suas tropas. Minha professora dizia que os tropeiros<br />

não eram apenas os homens de negócio, que comercializa-<br />

Tradições, como o ofício dos<br />

tropeiros são resgatadas<br />

pela comunidade, através do<br />

Ecomuseu.<br />

vam mercadorias, mas importantes veiculadores de notícias e<br />

ideias, numa época sem estradas.<br />

Chego ao topo do Morro. O dia estava chuvoso, mas não<br />

ofuscou a beleza de Ouro Preto. Bem em frente à capela da<br />

praça, um bar. O Bar da Nida, local cedido por ela para funcionar<br />

como sede do Ecomuseu. Bati palmas. Um rapaz, Gustavo,<br />

filho de Nida, me recebeu e pedi para conhecer o local. Ele me<br />

disse que a mãe é muito envolvida com o projeto, por isto empresta<br />

o bar para a realização de atividades do museu.<br />

O espaço mais parecia uma casa de tão aconchegante. Na<br />

entrada, o resgate de um elemento tradicional, típico da época<br />

colonial: paredes de pau a pique. À direita, estandartes com fotos<br />

antigas que fizeram parte de uma mostra organizada pela<br />

comunidade. A exposição, uma das atividades do Ecomuseu,<br />

retratava o cotidiano de moradores e visitantes do Morro São<br />

Sebastião. Começo a perceber que museu era aquele.<br />

Em busca de mais informações, sigo para a casa da Nida.<br />

Bárbara, também filha dela, gentilmente me recebeu, pois a<br />

mãe não estava em casa no momento. Foi ela quem esclareceu<br />

minhas dúvidas. “O Ecomuseu somos todos, é a comunidade<br />

e tudo que existiu e existe acerca dela”, relatou. Este museu<br />

não possui paredes. Foge ao contexto clássico. Tudo faz parte<br />

do museu comunitário: as casas, a capela, a ruela de pedras<br />

irregulares, a paisagem. Os costumes, as crenças, a linguagem,<br />

os ofícios, a vista de cima do morro, os tropeiros das minhas<br />

lembranças das aulas de história...<br />

Perguntei à Bárbara sobre como a comunidade contribui<br />

para as atividades do Ecomuseu. Ela cita, então, a “Roda de<br />

Lembranças”, que reuniu no bar, os mais antigos moradores<br />

do bairro para uma conversa informal, momento em que compartilharam<br />

seus conhecimentos, sentimentos e experiências<br />

adquiridos ao longo de toda uma vida. “Temos tudo registrado<br />

através de fotos e vídeos”, destacou. Enquanto ela falava, eu<br />

refletia como foi interessante e rico aquele momento, uma interação<br />

entre gerações.<br />

O Ecomuseu é a própria cidade de Ouro Preto, as comunidades<br />

e sua memória viva. Um museu a céu aberto, composto<br />

por um belo acervo arquitetônico, natural e cultural, cuja<br />

riqueza maior é a beleza no jeito simples de ser do seu povo.<br />

Flávia Silva<br />

17<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong>

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