Alternativa Vocë tem sede de quê? Mundo nas veias Pé na estrada e mochila nas costas. Esta é a vida de várias pessoas que decidem viajar pelo mundo em busca de conhecimento e aventuras. Impulsionado por um movimento literário na década de 1950 – conhecido como Geração Beat, composto por jovens cansados dos padrões da sociedade estadunidense – hoje, os chamados “mochilões” despertam a atenção das pessoas que estão dispostas a arriscar novas experiências para mudar as suas vidas. A cultura de pegar uma mochila e sair pelo mundo sem rumo certo continua a quebrar a estética tradicional de vida. Viajar sozinho de um país para o outro, pegar carona, compartilhar o quarto e histórias com diferentes pessoas é o estilo que faz a cabeça desses aventureiros. A artista plástica mineira Lidiane Gonçalves, de 30 anos, é um destes “cidadãos do mundo”. Após duas viagens pela Europa e uma na Argentina, somando ao todo quase um ano de viagem, ela atualmente tem um hostel em Ouro Preto, Minas Gerais, onde ainda tem contato com variadas culturas. Lidiane, que já está planejando o seu retorno à Alemanha, conversou com a <strong>Curinga</strong> sobre as suas experiências e aprendizados que obteve ao longo da estrada. Aventureiros geralmente possuem grande identificação com obras da literatura, músicas e filmes que abordam jornadas na estrada. Houve algo que serviu como inspiração para você? No meu caso, só a arte mesmo. Porque é muito legal você ver ao vivo o que sempre viu nos livros. Eu ia para galerias para ver , por exemplo, Salvador Dalí e estas coisas que você acha que não tem acesso ou nunca vai ter oportunidade. Mas também tudo da história geral, como o Muro de Berlim. Eu fui lá para ver o muro, e a sensação é que você se vê dentro da história. Isso é algo incrível! Qual foi a opinião de sua família quando você decidiu se tornar uma mochileira? Meus pais me acham louca! (risos). Eles são super tradicionais, o meu pai acha que a gente tem que ter um trabalho, um salário... Sabe, esse padrão tradicional. Mas eu não. Todo dinheiro que eu juntava, eu planejava uma viagem e ia. Eles ficavam preocupados comigo, especialmente o meu pai sobre a Alemanha, com o medo de eu sofrer algum preconceito. Mas isso tem em todo o lugar, o Brasil mesmo tem. Porém, eu sempre fui muito bem recebida lá, eu gosto muito dos alemães. Foi essa preocupação do meu pai, mas até hoje ele acha loucura. Ele diz assim: “Nossa! Você nunca para!”. Quais os lugares mais interessantes em que você já esteve? Nossa, essa é difícil! Eu já fiz esta pergunta para vários de meus hóspedes. Mas eu não sei, pois todos são lugares lindos. Uma vez, fiquei em uma vila, em uma cidadezinha na Suíça, onde eu realmente era um ser encantado, porque é uma cidade em que ninguém faz turismo, todo mundo branco com olhos azuis. Eu gostei de lá porque eles têm aquela cultura de deixar a porta aberta, havia pés de maçãs e pêras na porta das casas, sabe? Era uma vilazinha muito agradável! Não sei se é porque eu me acostumei com Ouro Preto, mas eu gosto das cidades pequenas. Na Alemanha tem a Weimar, a cidade onde há a Universidade Bauhaus, e é linda! Eu me interesso muito por estas cidadezinhas!
Texto: Gisela Cardoso Foto: Bárbara Monteiro Arte: Mayra Santos Costa 29