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Revista Curinga Edição 10

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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As mulheres estão adquirindo cada vez mais<br />

espaço na sociedade moderna, mas para que direitos fossem<br />

alcançados a classe feminina teve que passar por diversas lutas<br />

sociais. A primeira revolução e a mais importante, no que se<br />

refere a liberdade sexual feminina, ocorreu no início na década<br />

de 1960.Visto que, juntas poderiam conquistar seus direitos,<br />

as feministas dessa época lutavam por igualdades culturais e<br />

políticas, e encorajavam as mulheres a compreenderem aspectos<br />

de suas vidas íntimas. Outro movimento importante que<br />

integrou e integra a sociedade atual, é a chamada Marcha das<br />

Vadias. Criado em 2011 em Toronto, no Canadá, mulheres vestidas<br />

com roupas consideradas provocantes, salto alto ou apenas<br />

lingeries tinham como objetivo a luta contra a violência<br />

sexual. A partir do primeiro protesto, esse movimento tomou<br />

conta de diversos países, inclusive o Brasil que até hoje apresenta<br />

manifestações.<br />

Entretanto, mesmo com o passar dos anos e após os avanços<br />

conquistados pelas classes feministas, podemos notar que<br />

a mulher ainda é referência nas obrigações domésticas, enquanto<br />

os homens, são responsáveis pelo sustento da casa. Porém,<br />

nada foi em vão. No cenário sexual as mulheres<br />

conseguiram diversas melhorias, diante do fato<br />

que antes das lutas femininas, o prazer sexual<br />

era destinado apenas aos homens, já<br />

as mulheres eram tidas como reprodutoras,<br />

servindo apenas para dar à luz. Hoje,<br />

podemos notar uma série de benefícios<br />

destinados a liberdade sexual feminina.<br />

São anticoncepcionais e métodos contraceptivos<br />

que dão à elas o poder de controlar<br />

quando terão uma gravidez, além de<br />

vacinas que previnem doenças sexuais.<br />

A preocupação com a saúde feminina e<br />

o poder de regular quando teria uma gestação,<br />

já estava presente nas mentes femininas desde do<br />

período da Grécia e Egito antigos. O filósofo Hipócrates<br />

de Quíos descobriu que a semente de cenoura<br />

selvagem tinha eficácia contraceptiva. Com isso, a<br />

medida que os séculos se passaram, as mulheres<br />

continuavam com o uso dos contraceptivos naturais,<br />

mesmo que restringidas a falar sobre sexo.<br />

“A questão sexual era reprimida na nossa época.<br />

Para evitar a gravidez, nossas avós nos davam<br />

chás de ervas naturais antes das relações. Abortos<br />

também eram frequentes, mas ninguém podia<br />

tocar no assunto”, conta a moradora de Ouro<br />

Preto, Efigênia Carabina, de 66 anos.<br />

Nos anos 50 com a construção da identidade<br />

feminina e pela busca da liberação sexual,<br />

foi lançado em 18 de agosto de 1960 o primeiro<br />

contraceptivo oral nos Estados Unidos, chamado<br />

Enovid-<strong>10</strong>. O novo método de contracepção<br />

significou uma verdadeira revolução. Surgiram<br />

vários tipos de pílulas contraceptivas, que por<br />

sua vez tinham níveis diferentes de hormônios.<br />

No Brasil, o anticoncepcional começou a ser<br />

vendido em 1961, invadindo as casas brasileiras<br />

até os dias atuais. Segundo a enfermeira Michele<br />

Isabel Ferreira Mendes, de 34 anos, a pílula foi<br />

a maior forma de liberdade encontrada pelo sexo feminino.<br />

“Hoje a mulher não tem relações apenas para procriação e sim<br />

também por prazer”, enfatiza.<br />

Apesar dos benefícios, as pílulas geraram paradigmas, uma<br />

vez que no atual cenário, as adolescentes não estão se preocupando<br />

com as doenças sexualmente transmissíveis. Tendo em<br />

vista que existe somente uma vacina que previne algumas doenças<br />

sexuais, o índice se torna ainda mais preocupante. “As<br />

meninas fazem o uso abusivo de pílulas, se preocupando apenas<br />

com uma gravidez indesejada, por isso, percebemos um<br />

aumento no número de doenças”, conta a enfermeira. A única<br />

vacina que pode prevenir doenças sexuais é a do HPV.<br />

Liberdade conscientizada<br />

Visto que o índice de doenças sexuais, principalmente o<br />

HPV, vem aumentado significativamente no Brasil, segundo<br />

o Ministério da Saúde, foi lançada em janeiro de 2014 a campanha<br />

de vacinação contra o vírus. Causada pelo Papilomavírus<br />

humano, existem mais de <strong>10</strong>0 tipos de HPV, sendo que<br />

40 deles podem ser transmitidos através do contato sexual.<br />

Alguns tipos, podem causar câncer do colo do útero, câncer<br />

na garganta e no reto, além de verrugas genitais ou em outras<br />

partes do corpo. Haja vista que a doença atinge principalmente<br />

as mulheres (por possuírem, em relação aos homens, baixa<br />

resistência às infecções, devido a alterações de imunidade em<br />

cada ciclo menstrual), e que a prevenção pode ser mais eficaz<br />

em virgens, foi decidido pelo Governo Federal, que a faixa etária<br />

da vacina seriam jovens de 11 a 13 anos.<br />

“As meninas estão começando a vida sexual cada vez mais<br />

cedo, por isso foi escolhida essa faixa etária. A vacina em mulheres<br />

que já iniciaram esse processo não surtiria o mesmo<br />

efeito”, explica a enfermeira Michele. Apesar das controvérsias,<br />

principalmente religiosas, que defendem que a faixa etária<br />

estaria estimulando pré-adolescentes a iniciarem sua vida<br />

sexual, no primeiro mês de 2014 mais de 3,4 milhões de meninas<br />

já foram imunizadas contra o vírus HPV, de acordo com o<br />

Ministério da Saúde. O número representa 83% da meta, que<br />

é vacinar 4,1 milhões de adolescentes.<br />

O corpo como tabu<br />

Hoje, em pleno século XXI, podemos notar um quadro ambíguo<br />

na sociedade. Enquanto algumas mulheres falam e tratam<br />

o sexo naturalmente, outras ainda não conseguem lidar<br />

abertamente com questões sexuais. O psicólogo da Universidade<br />

Federal de Ouro Preto, Leandro Andrade, ressalta que<br />

a sexualidade não extrapola, simplesmente a questão carnal,<br />

mas toda uma cultura, marcada por comportamentos e atitudes.<br />

“Se a questão da sexualidade não for bem refletida, acaba<br />

por comprometer toda a saúde psíquica da mulher, afinal de<br />

contas, o simples fato de inaugurar um novo espaço de vivenciar<br />

seu corpo, não garantirá formas de enfrentamento marcadas<br />

por uma cultura que se diz não machista, mas que ainda<br />

coloca o homem como o possuidor de direitos de vivenciarem<br />

mais abertamente suas questões sexuais”, destaca o psicólogo.<br />

A sexualidade feminina está relacionada com a saúde do próprio<br />

corpo e a saúde psicológica, que se não estiverem interligadas,<br />

não conseguem obter nenhum tipo de prazer.<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>10</strong><br />

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