REVISTA UNICAPHOTO, ED 11
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coluna<br />
Traduzir imagens estáticas exige<br />
concisão. Como colocar todo o<br />
potencial de uma imagem em<br />
poucas frases? Deve-se priorizar<br />
a forma ou o conteúdo? De que<br />
maneira uma pessoa que não<br />
enxerga, ou que tem baixa visão,<br />
pode perceber a subjetividade<br />
das imagens? Essas são algumas<br />
dúvidas frequentes que surgem<br />
durante o trabalho de um audiodescritor<br />
roteirista e de um audiodescritor<br />
consultor. Segundo<br />
Agnieska Szarkowska e Pilar<br />
Orero, a audiodescrição é uma<br />
tradução multisemiótica porque<br />
durante a elaboração do roteiro<br />
há a conversão de um canal “não<br />
verbal visual”, a imagem, para<br />
um canal “verbal auditivo”, a fala<br />
(exceto quando o roteiro é lido<br />
em braile); bem como, às vezes,<br />
existe a necessidade de transferir<br />
informações do canal “visual<br />
verbal”, texto na imagem, para<br />
o canal “verbal auditivo”, fala.<br />
Percebemos que muitas vezes há<br />
também a conversão de um canal<br />
“sonoro não verbal”, ruídos,<br />
foley etc., para um canal “verbal<br />
Audiodescrição<br />
de um click e o som<br />
que vem do entorno<br />
Fotos Renata Victor<br />
Texto por Liliana Tavares<br />
auditivo”, fala, no caso de descrições<br />
de sons em imagens dinâmicas,<br />
como em um filme, por<br />
exemplo.<br />
Nosso trabalho prioriza o campo<br />
sonoro por considerarmos que<br />
estamos envolvidos pelo som<br />
todo o tempo. Até no silêncio.<br />
Esses sons nos informam sobre<br />
vários aspectos do ambiente e<br />
do contexto imagético a ser traduzido.<br />
Para a pessoa com deficiência<br />
visual, o sentido da audição<br />
se apresenta potencializado:<br />
deixa de ser apenas um decodificador<br />
sonoro e desencadeia<br />
experiências multissensoriais.<br />
A nossa prática nos mostra que<br />
a audiodescrição acompanhada<br />
de sons proporciona, além do<br />
engajamento cognitivo, a construção<br />
e o reconhecimento de<br />
associações afetivas. Contrariando<br />
a crença de que o tato<br />
seria a forma primordial de as<br />
pessoas com deficiência visual<br />
verem o mundo, percebemos<br />
que esse sentido, por si só, não<br />
consegue traduzir nem forma<br />
nem conteúdo. Ele até pode ampliar<br />
a compressão da imagem,<br />
mas desde que acompanhado da<br />
audiodescrição.<br />
Acreditamos que quando olhamos<br />
uma imagem nos conectamos<br />
também com som em<br />
que ela aparenta estar imersa.<br />
A composição sonora apresentada<br />
no QR Code abaixo é um<br />
exemplo da maneira como uma<br />
pessoa com deficiência visual é<br />
estimulada a participar do mundo<br />
visual e do universo da fotografia.<br />
Clique aqui para<br />
ouvir o áudio.<br />
SZARKOWSKA, Agnieszka. ORERO, Pilar.<br />
The importance of sound for audio<br />
description. In. MASZEROWSKA, Anna.<br />
MATAMALA, Anna. ORERO, Pilar. Audio<br />
description: new perspective illustrated. John<br />
Benjamin Publishing Company.<br />
Amsterdam/Philadephia, 2014.<br />
<strong>UNICAPHOTO</strong><br />
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