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Jornal da Bairrada<br />

10<br />

27 | setembro | 2018<br />

REGIÃO | ANADIA<br />

“O RENASCER” 69 ANOS DEPOIS<br />

Banda de Anadia renasce como semente<br />

para uma escola de artes<br />

A<br />

Artur Castro, André Dimas e Adriano Aires no Centro Cultural de Anadia,<br />

onde serão lecionadas as aulas de música<br />

O “renascer” da Banda<br />

de Anadia era um anseio<br />

da população do concelho,<br />

desde que há quatro<br />

anos o grupo filarmónico<br />

cessou atividade. A música<br />

não mais soou, contudo<br />

a associação permaneceu<br />

e a nova direção, eleita a<br />

4 de julho, tem ideias que<br />

não se esgotam na Banda,<br />

antes a lançam como semente<br />

de um projeto bem<br />

mais abrangente.<br />

André Dimas, Adriano<br />

Aires e Artur Castro são<br />

três dos elementos da<br />

nova direção, com ideias<br />

bem vincadas para o presente<br />

e futuro da associação<br />

“Banda de Música de<br />

Anadia”.<br />

O propósito primeiro<br />

é criar uma escola para o<br />

desenvolvimento da arte<br />

e da cultura, sublinham.<br />

No entanto, a referência<br />

ao passado e à história da<br />

Banda surgem como a raiz<br />

deste novo projeto.<br />

Adriano Aires, ainda<br />

que admitindo que o seu<br />

conhecimento musical<br />

não vai além de uma clave<br />

de sol, não esconde a sua<br />

sensibilidade à filarmonia,<br />

principalmente “como elemento<br />

aglutinador dos valores<br />

da cidadania, como<br />

momento de partilha e de<br />

convívio”. “As filarmónicas<br />

têm de se honrar de uma<br />

coisa: levaram a música e a<br />

cultura aos recantos e aos<br />

lares onde não havia hipótese<br />

alguma de aprendizagem<br />

da música”, ressalva,<br />

dizendo que, enquanto<br />

presidente da Assembleia<br />

Municipal de Anadia, já havia<br />

manifestado junto da<br />

presidente da Câmara o<br />

quão importante seria voltar<br />

a ter uma Banda filarmónica<br />

no concelho.<br />

Aproveitando um concerto<br />

dirigido por André<br />

Dimas no último Natal, a<br />

presidente da Câmara lançou<br />

o desafio e o maestro<br />

não se negou. “A partir<br />

daí, tentei rodear-me das<br />

pessoas certas e a primeira<br />

foi precisamente o Eng.<br />

Adriano Aires, diretor<br />

da Escola Profissional da<br />

VITI”, escola onde André<br />

Dimas coordena uma oficina<br />

musical, que funciona<br />

como disciplina opcional e<br />

extracurricular.<br />

Associação de desenvolvimento<br />

cultural.<br />

“Vimos aqui uma porta<br />

aberta para reanimarmos<br />

esta associação”, acrescenta<br />

André Dimas, que tocou<br />

na Banda de Anadia desde<br />

1994. “Aprendi com o<br />

meu pai, foi na Banda de<br />

Anadia que aprendi e cresci.<br />

E há uma ligação afetiva,<br />

uma vez que o meu pai<br />

e o meu tio são refundadores<br />

da associação”, refere<br />

aquele que foi escolhido<br />

como diretor artístico do<br />

novo projeto.<br />

Adriano Aires confessa<br />

que se mostrou renitente<br />

inicialmente, sabendo<br />

de antemão que agilizar<br />

o processo não seria fácil.<br />

“Falamos com algumas<br />

pessoas, ligadas à cultura,<br />

como o Artur Castro<br />

(Club d’Ancas), Albano<br />

Jorge (O Baluarte), Pedro<br />

Dias (diretor do Museu<br />

do Vinho). Era importante<br />

termos um pilar de ligação<br />

histórica e do conhecimento<br />

da filarmonia e<br />

por isso também fomos<br />

buscar alguns músicos da<br />

‘velha’ Banda. Um deles, o<br />

próprio André”, explica o<br />

diretor da VITI. “Quando<br />

entramos neste processo,<br />

fizemo-lo com a consciência<br />

de que as sociedades<br />

evoluem e que tem de<br />

haver uma adaptação. Isto<br />

para dizer que este projeto<br />

não se resume apenas a<br />

uma escola de música para<br />

a Banda. Será uma associação<br />

de desenvolvimento<br />

cultural, na área da música<br />

e da dança.” A médio/<br />

longo prazo, a ideia passa<br />

por criar uma escola de artes.<br />

Adriano Aires admite<br />

inclusive abrir um curso<br />

de vertente profissional<br />

ligado à música na VITI.<br />

“Estamos já a fazer o levantamento<br />

para o pedido<br />

de autorização prévio”,<br />

frisa o diretor.<br />

Aulas de música e dança.<br />

A Banda de Anadia começou<br />

a sua atividade em<br />

1949. Inicialmente, com<br />

uma estrutura não formal,<br />

ligada aos Bombeiros<br />

e contando também com<br />

o apoio fundamental da<br />

Misericórdia de Anadia.<br />

Só em 1990 se formalizou<br />

como associação, que<br />

manteve até hoje a atividade,<br />

pelo menos contabilística<br />

e que, no dia 4 de<br />

julho, conheceu novos órgãos<br />

sociais.<br />

Artur Castro entrou no<br />

projeto “porque era algo<br />

que faltava ao concelho e<br />

sobretudo por aquilo que<br />

pode vir a ser, uma intervenção<br />

séria na área cultural,<br />

não apenas na componente<br />

do espetáculo, mas<br />

sobretudo da formação e<br />

do ensino”. Identificou-<br />

-se com algumas ideias de<br />

Adriano Aires, “sobretudo<br />

na visão estratégica”, com<br />

André Dimas na componente<br />

cultural e musical<br />

e também “com as ideias<br />

mais contemporâneas<br />

apresentadas pelo Pedro<br />

Dias”. “Juntando isto tudo,<br />

associei-me a este projeto<br />

com bastante gosto mas<br />

sobretudo como um projeto<br />

de futuro.”<br />

“Queremos educar pela<br />

arte”, manifesta Adriano<br />

Aires. “Sabemos que o caminho<br />

é moroso e complexo,<br />

mas com trabalho e dedicação,<br />

tudo é possível. É<br />

possível montar um projeto<br />

deste género, porque<br />

não existe nada semelhante,<br />

nem em Anadia, nem<br />

nos concelhos limítrofes.”<br />

No curto prazo, não é<br />

objetivo principal da direção<br />

pôr a Banda a tocar,<br />

apesar de admitirem que<br />

há uma grande expectativa<br />

da população nesse<br />

sentido. “Temos matéria-<br />

-prima, há músicos que<br />

querem voltar à Banda,<br />

como Joaquim Costa, elementos<br />

da família Rocha,<br />

a Gisela e o marido, etc.,<br />

mas a nossa preocupação<br />

neste momento é desenvolver<br />

ações de divulgação<br />

e angariação de alunos”,<br />

refere o diretor artístico.<br />

Parte do património da<br />

Banda, nomeadamente os<br />

instrumentos, está no Centro<br />

Cultural de Anadia e é<br />

aí que vão decorrer as aulas<br />

de música. A ideia, no entanto,<br />

é abrir o leque da escola:<br />

“Para além de alimentar<br />

os músicos para a Banda<br />

(mais focado nos sopros<br />

e percussão), queremos a<br />

tradicional escola combo,<br />

com bateria, guitarra e sintetizador”,<br />

diz André Dimas.<br />

Ao nível da dança,<br />

que “hoje em dia tem uma<br />

adesão crescente, sobretudo<br />

no seio da população jovem<br />

e dos pais”, as aulas –<br />

hip hop, dança jazz e dança<br />

contemporânea – serão<br />

no quartel dos Bombeiros.<br />

Para que o projeto se ponha<br />

em marcha, é preciso<br />

financiamento, que a direção<br />

pretende conseguir<br />

através da angariação de<br />

associados, candidaturas a<br />

concursos, nomeadamente<br />

municipais, restabelecendo<br />

a ligação da associação<br />

com o Inatel, vendo as<br />

linhas de apoio da Direção<br />

Geral da Cultura do Centro<br />

e procurando entidades<br />

públicas e privadas<br />

que se queiram associar<br />

ao projeto.<br />

“Algumas pessoas também<br />

já se juntaram a nós,<br />

porque perceberam o valor<br />

do projeto. Por exemplo,<br />

o presidente da Junta<br />

[União de Freguesias<br />

Arcos e Mogofores], Fernando<br />

Fernandes, está<br />

connosco, enquanto cidadão,<br />

fazendo parte dos órgãos<br />

sociais”, concretiza<br />

Adriano Aires.<br />

Formalmente, a Banda<br />

começou a funcionar no<br />

dia 3 de outubro de 1949,<br />

nos Bombeiros, que hoje<br />

voltam a estar ao seu lado<br />

nesta revitalização. “O renascer”,<br />

69 anos depois,<br />

será simbolicamente marcado<br />

com um Ensemble<br />

Flash Mob, no próximo dia<br />

3 de outubro (quarta-feira),<br />

com grupos de músicos a<br />

aparecer em vários locais<br />

da cidade. Nesse mesmo<br />

dia, haverá um jantar simbólico,<br />

para as entidades<br />

envolvidas.<br />

Oriana Pataco<br />

oriana.b.pataco@jb.pt<br />

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