Sapeca 16

Lapsus linguæ
Ouvido em praia do Rio, de mulher pra criança:
– Anda, molesma.
Deveria querer dizer ‘sua lesma’, aí veio simultaneamente à mente a
palavra ‘mole’ e cometeu um neologismo que Lewis Carroll poderia classificar
como palavra portmanteau (um exemplo: showmício).
Presente, presunto. Amigo levou pra amiga o disco Muitos carnavais,
de Caetano Veloso, como presente de aniversário e ela pôs pra tocar.
Alguns casais se animaram, naquele cenário deslumbrante de uma cobertura
no Joá, verão a mil, e dançaram. O clima pedia comidas e bebidas leves
e ela serviu variados tipos de presunto e vinho branco. Degustando-os, uma
convidada, observando a capa do disco, perguntou:
– Quem te deu esse presunto?
Consultório médico. Dois clientes se encontram ali por acaso e a mulher
pôs-se a falar de si, como tantas donas de casa. Contou isso e aquilo,
morava em Niterói, marido, filhos etc. Ao lembrar-se da infância, disse:
– Eu era da pá-virada, subia aos castanheiros...
Subitamente, voltou-lhe o falar da pátria e revelou, sem querer, que
era portuguesa. Sem querer, querendo, poderia dizer um psicanalista.
Lapsus linguæ – cometer erro involuntário, ao falar. Freud trabalhava
muito com isso, que pode agir com eficácia no tratamento. Este consiste em
seguir todas as pistas e descartar todas até achar a mais plausível, como um
detetive, razão por que já compararam seu método ao de seu contemporâneo
Sherlock Holmes, além de ambos serem viciados em cocaína. A propósito,
tenho e li metade da obra de Freud e gostei de tudo. Na falta do restante,
reli há pouco um de seus casos clínicos e, juro, é profundo demais, sinais
evidentes do grande escritor que ele foi. Pro iniciante, recomendo Uma
recordação de infância de Leonardo da Vinci. Puro encanto.
Palavra feiosa da atualidade, referindo-se às conquistas femininas:
empoderamento. É a mãe, eu diria, fosse vítima dela.