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Por alguns minutos, o antigo professor adiou a leitura dos matutinos madeirenses<br />

– um hábito diário ao qual se dedica antes do almoço – para nos atender o<br />

telemóvel e nos contar de que são feitos os seus dias na sua casa, no Funchal.<br />

A leitura e a escrita – publicou nos últimos anos, três livros, o último dos quais<br />

foi este “Retalhos de uma Vida – Memórias, Opiniões e Comentário” têm sido<br />

prazeres presentes nos dias do antigo professor que muitos hoje recordam pela<br />

competência, a cordialidade e uma peculiar forma de ensinar, ou de explicar, a<br />

matéria escolar. Afetuoso, aplicaria os afetos na “praxis” pública, por exemplo,<br />

quando foi presidente da Câmara Municipal do Funchal (1976-1983, 1994-1994)<br />

ou eurodeputado social democrata. Presidiu à Junta Autónoma dos Portos da<br />

Madeira, ao Instituto do Bordado, Tapeçaria e Artesanato da Madeira, à direção<br />

dos Bombeiros Voluntários Madeirenses, à Associação Comunitária do Monte e<br />

à Comissão Funchal 500 Anos. Frequentou, nos anos 60, o curso de Engenharia<br />

Geográfica na Faculdade de Ciências de Lisboa, que não terminou, tendo se dedicado<br />

às explicações de matemática e à docência de diversas disciplinas. Casado desde<br />

1970 com Maria Filomena Marques Camacho Pereira, filha do 2.º Comandante dos<br />

Bombeiros Voluntários Madeirenses, José Vaz Martins Camacho, o casal teve três<br />

filhos: o Roberto (47 anos) o Bruno (46 anos) e o Luís (39 anos). Têm cinco netos.<br />

Há nove anos, uma queda fez com que passasse a ter dificuldades significativas de<br />

locomoção; antes, sofrera um AVC, isto para não falar da insuficiência coronária<br />

que lhe foi detetada há 33 anos e dos “bypasses” que têm mantido o seu coração a<br />

trabalhar, o mesmo coração que nunca deixou Virgílio Pereira, 78 anos feitos em<br />

janeiro, “deitar a toalha ao chão”.<br />

Dulcina Branco<br />

O.L.C. (Carolina Rodrigues).<br />

Professor Virgílio, comecemos por falar no<br />

presente...<br />

- Sim. Não tenho uma alma ligada ao passado...<br />

Quando olha para o Mundo atual, o que é que<br />

o preocupa?<br />

- Não sou daqueles que pensa que está tudo<br />

mal e que antigamente é que era bom. Quando<br />

olho para o Mundo atual, acho tudo muito<br />

bem, excepto certas coisas, observação esta que<br />

pode ser uma consequência da minha velhice...<br />

Gosto de olhar o futuro mas para se ser moderno,<br />

um não tem que ser malcriado. Isto é válido<br />

para todos os aspetos da vida, nomeadamente<br />

ao nível político. Quem assume lugares de decisão<br />

deve estar preparado para o escrutínio diário<br />

das suas ações e não tem que ser desrespeituoso<br />

para com o adversário político ou para com<br />

quem é de menor condição social ou quase analfabeto.<br />

Choca-me a falta de educação, no sentido<br />

de desrespeito para com quem tem menor<br />

condição social.<br />

“<br />

Gosto de olhar o futuro mas<br />

para se ser moderno, um não<br />

tem que ser malcriado<br />

”<br />

Foi professor durante muitos anos, atividade<br />

em que se notabilizou e que para sempre<br />

marcou a sua vida. Foi uma grande paixão, o<br />

ensino?<br />

- Sim. Gostei muito de ensinar; foi das melhores<br />

fases da minha vida. Não me licenciei mas contribui<br />

para que muitos que ensinei se licenciassem.<br />

Ensinei durante muitos anos e gostei imenso de<br />

ensinar, nomeadamente Matemática, Física, etc.<br />

Dediquei-me às explicações e ensinei em diversos<br />

estabelecimentos de ensino do Funchal,<br />

como se sabe.<br />

Em criança, sonhava com a profissão de professor?<br />

- Não sonhava com nada em especial...Na quarta<br />

classe do meu tempo de criança, gostava de<br />

Ciências da Natureza e de Matemática e gostava<br />

também de comunicar. Sempre gostei de comunicar.<br />

Tinha jeito e gosto por fazer discursos nas<br />

brincadeiras com os meus primos. Gostava de<br />

fazer homilias...Quando aprendi a ler e a escrever,<br />

escrevia os meus discursos. Foi a minha avó<br />

paterna que me ensinou as primeiras letras e<br />

me incutiu o hábito da leitura. A minha avó tinha<br />

filhos emigrados na ilha de Trinida, os quais lhe<br />

escreviam cartas que eu lia para ela. Ela recebia<br />

as cartas e enrolava-as com uma fita para<br />

mais tarde, eu ler as cartas para ela. Ela pedia-<br />

-me também que lhe lesse a Bíblia, de maneira<br />

que foi desenvolvendo o meu gosto pela leitura<br />

e por livros. Conforme fui crescendo, fui lendo<br />

melhor, o que a deixava satisfeitísssima. Quando<br />

me lembro disto sinto-me feliz porque dei a essa<br />

saber ABRIL 2019<br />

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