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carregada de estereótipos e tabus a respeito não só da
profissão, mas também do corpo da mulher.
A sexóloga Bruna conta que o sexo, desde
antigamente, é visto como uma ameaça à ordem social
e atuante como uma prática potencializadora do corpo.
O casamento por exemplo, era a única ocasião em que
o sexo era aceitável, porque já estava estabelecido por
meio do matrimônio uma maneira de controlar a ação
corporal. “Toda a visão sobre o sexo foi construída visando
ao controle dos corpos”. As mulheres que desobedeciam
essa ordem eram vistas como bruxas e sofriam duras
consequências. Até hoje, essa ideia reverbera diversas
impressões negativas às mulheres e, principalmente,
às prostitutas. Pois, além de desobedecerem a ordem
fazendo sexo fora do casamento, elas ainda cobram por
ele, e por isso, são multiplicadamente rechaçadas.
Então, prostituir-se significa o alcance da liberdade
sexual e social? Não exatamente. Todas as entrevistadas,
embora consigam se sentir minimamente confortáveis
na profissão, não a escolheram por simples vontade
de se prostituir. Há problemas de diversas naturezas,
subjetivas e não subjetivas, que fazem com que essa
mulheres entrem para a prostituição.
A ativista e jornalista Meghan Murphy, em artigo
no site QG Feminista (2017), defende a ideia de que “as
indústrias do sexo existem não por causa das ‘escolhas’
das mulheres, mas por causa das escolhas dos homens e
a consequente falta de escolha das mulheres”.
Assim, Murphy lembra “que a prostituição existe
porque homens querem ter acesso ao corpo de pessoas
para quem eles não devam responsabilidade.” Seguindo
esse pensamento, podemos dizer que a prostituição é
considerada uma forma de exploração.
É uma profissão como qualquer outra.
“ Um dia pelo outro. Tem prós e contras.
Tamiris ”
“Existem mulheres na prostituição que estão ‘bem’,
e você pode achar um bom número de mulheres online
que dirão exatamente isso. Mas existem incontáveis
mulheres na prostituição que definitivamente não
estão bem - aquelas cujos cafetões não as permitem
conversar com os jornalistas. Vale a pena considerar as
vozes que não estão presentes online, nesse chamado
‘debate sobre o trabalho sexual’, e nos perguntar o
porquê de sua ausência”.
A discussão, como se pode ver, é infindável e
necessária. Falar sobre prostituição é falar sobre
atualidade, direito e cuidado ao corpo feminino.
Representação
A presença da prostituição na Guaicurus é uma relação “sócio espacial”, ela influencia no ambiente e é influenciada por ele. Da esquerda para direita:
pintura feita por artistas de Manaus em homenagem a Nice, ex-prostituta e atual cozinheira na região; publicidade de hotel colado em poste.
EDIÇÃO 27 | CURINGA
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