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Revista Curinga Edição 27

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carregada de estereótipos e tabus a respeito não só da

profissão, mas também do corpo da mulher.

A sexóloga Bruna conta que o sexo, desde

antigamente, é visto como uma ameaça à ordem social

e atuante como uma prática potencializadora do corpo.

O casamento por exemplo, era a única ocasião em que

o sexo era aceitável, porque já estava estabelecido por

meio do matrimônio uma maneira de controlar a ação

corporal. “Toda a visão sobre o sexo foi construída visando

ao controle dos corpos”. As mulheres que desobedeciam

essa ordem eram vistas como bruxas e sofriam duras

consequências. Até hoje, essa ideia reverbera diversas

impressões negativas às mulheres e, principalmente,

às prostitutas. Pois, além de desobedecerem a ordem

fazendo sexo fora do casamento, elas ainda cobram por

ele, e por isso, são multiplicadamente rechaçadas.

Então, prostituir-se significa o alcance da liberdade

sexual e social? Não exatamente. Todas as entrevistadas,

embora consigam se sentir minimamente confortáveis

na profissão, não a escolheram por simples vontade

de se prostituir. Há problemas de diversas naturezas,

subjetivas e não subjetivas, que fazem com que essa

mulheres entrem para a prostituição.

A ativista e jornalista Meghan Murphy, em artigo

no site QG Feminista (2017), defende a ideia de que “as

indústrias do sexo existem não por causa das ‘escolhas’

das mulheres, mas por causa das escolhas dos homens e

a consequente falta de escolha das mulheres”.

Assim, Murphy lembra “que a prostituição existe

porque homens querem ter acesso ao corpo de pessoas

para quem eles não devam responsabilidade.” Seguindo

esse pensamento, podemos dizer que a prostituição é

considerada uma forma de exploração.

É uma profissão como qualquer outra.

“ Um dia pelo outro. Tem prós e contras.

Tamiris ”

“Existem mulheres na prostituição que estão ‘bem’,

e você pode achar um bom número de mulheres online

que dirão exatamente isso. Mas existem incontáveis

mulheres na prostituição que definitivamente não

estão bem - aquelas cujos cafetões não as permitem

conversar com os jornalistas. Vale a pena considerar as

vozes que não estão presentes online, nesse chamado

‘debate sobre o trabalho sexual’, e nos perguntar o

porquê de sua ausência”.

A discussão, como se pode ver, é infindável e

necessária. Falar sobre prostituição é falar sobre

atualidade, direito e cuidado ao corpo feminino.

Representação

A presença da prostituição na Guaicurus é uma relação “sócio espacial”, ela influencia no ambiente e é influenciada por ele. Da esquerda para direita:

pintura feita por artistas de Manaus em homenagem a Nice, ex-prostituta e atual cozinheira na região; publicidade de hotel colado em poste.

EDIÇÃO 27 | CURINGA

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