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Revista Curinga Edição 27

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Texto de Amanda Alves e Catharina Mello

Fotografias de Adrienne Pedrosa

Design de Adrienne Pedrosa e Catharina Mello

Segundo a Associação Gaúcha de proteção ao

ambiente natural (Agapan) desde a década

de 1970, perdura no Brasil o sistema de

desenvolvimento predatório baseado na expansão

da pecuária. Um método um tanto quanto perverso,

que retira povos da floresta do seu habitat tradicional

e devasta a flora, que carrega muito de nossas

riquezas brasileiras: plantas medicinais, diversidade

de espécies vegetais, árvores frutíferas e animais

inexistentes em outros lugares do mundo.

O Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia

(Imazon) detectou, em 2019, um crescimento de 54% em

desmatamento na Amazônia Legal no mês de janeiro em

relação a janeiro do ano anterior, comprometendo cerca de

108 km² de floresta, área um pouco maior do que o estado

de Pernambuco. O Instituto ainda indica resultados de

estudos sobre a degradação florestal em diversas áreas

brasileiras, causada por queimadas e extração seletiva de

madeiras. Em 2019, os estudos detectaram um aumento

em relação a 2018 em estados como o Mato Grosso, 32%,

e Pará 37%. O boletim levantou também um crescimento

no índice de desmatamento de áreas de posse: em

assentamentos o nível chegou a 21%, 7% em terras

Indígenas e 5% em Unidades de Conservação.

A extinção de espécies, fruto do extrativismo

predatório animal, também coloca em risco o

equilíbrio ecológico das regiões que foram desmatadas.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação

da Biodiversidade (ICMBio) e o Ministério do Meio

Ambiente (MMA), foram registrados, no final de

2014, cerca de 1.1173 espécies animais ameaçadas

de extinção, como a Arara-azul e o Boto-cor-de-rosa,

ameaçando a biodiversidade tão característica do Brasil.

O extrativismo ambiental no Brasil é marcado,

principalmente, por três categorias: vegetal, mineral e

animal. A extração vegetal se caracteriza pela retirada de

materiais como o látex, madeira e sementes e tem como

marca de destruição o desmatamento e a extinção de

espécies vegetais. A extração mineral é responsável por

remover minério da natureza como ferro, cobre ou alumínio,

alterando o ambiente no qual se concentra, por meio da

destruição da vegetação local e da contaminação dos solos e

rios. Já o extrativismo animal é caracterizado pela captura de

animais por meio da pesca e da caça. No Brasil, a atividade

de caça é fiscalizada pelo Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e

é permitida desde 1967 pelo Código de Caça apenas para o

próprio sustento, como por exemplo para os indígenas. Para

a atividade pesqueira também é necessária a autorização e

torna-se proibida em períodos de reprodução.

Diante do modelo de extrativismo predatório,

aparecem questionamentos sobre qual será o futuro do

meio ambiente, visto que os recursos naturais, tanto

minerais, animais ou vegetais, em algum momento,

podem deixar de existir. A contaminação da fauna,

assoreamento de rios e lagos, destruição da cobertura

vegetal e desmatamento são efeitos do extrativismo

que não se preocupa com os resultados que acabam por

atingir o equilíbrio dos ecossistemas.

Apesar dos riscos para a natureza, a grande exploração

mostra-se necessária para o desenvolvimento humano.

Como utilizar, então, a natureza de forma equilibrada? Quais

os limites da interferência humana? Questões importantes

que seguem na busca de respostas ou alternativas.

Como e por que as reservas surgiram?

A primeira reserva extrativista nacional, nomeada

Alto do Juruá, surgiu no Acre, no ano de 1990, e marcou

a criação de espaços limitados para serem explorados.

A reserva foi criada depois da morte de Chico Mendes,

ativista ambiental e personagem marcante da luta

pela demarcação de terras no país, que teve início com

os seringueiros no norte do Brasil. Esses produtores

denunciavam o desflorestamento cometido por

fazendeiros, que também invadiam terras e deixavam

os produtores em situação de desamparo, visto que sua

forma de subsistência estava em risco.

Logo, seringueiros e também outros pequenos

produtores que dependiam daquelas terras, como

os castanheiros, se uniram em prol do bem comum:

criaram associações e sindicatos rurais para reivindicar

seu direito à terra e ao uso dos recursos naturais como a

extração da copaíba, andiroba, látex e outros produtos.

Em meados da década de 1970, em junção com

outros grupos, criaram a Aliança dos Povos da Floresta,

união entre ribeirinhos, extrativistas e índios, para

lutar por direitos incorporados às políticas de reforma

agrária e meio ambiente. Esse movimento ganhou

importância e o reconhecimento da luta sindical dos

seringueiros e dos demais povos da floresta.

A ideia de reservas ambientais começou a ser

discutida em meados dos anos 1980, mas apenas em

1989 pode-se ver um avanço em termos de legislação

com a criação da Lei nº 7.804, estabelecendo a

Política Nacional do Meio Ambiente.

Um ano depois, em 1990, foi elaborado o Decreto

nº 98.897, sobre reservas extrativistas, descrevendo as

reservas como espaços territoriais destinados à exploração

auto-sustentável e conservação dos recursos naturais

renováveis, por população extrativista, dando autoridade

ao Poder Executivo para criação de reservas em espaços

considerados de interesse ecológico e social.

As reservas são separadas em dois grupos: o primeiro,

onde não é permitido alterar ou manter alguma atividade

econômica, por exemplo, a floresta amazônica, a não ser

que tenha dentro dessa unidade alguma comunidade

tradicional, como a reserva indígena do Xingu, ao norte

EDIÇÃO 27 | CURINGA

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