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Cultura Extrativista
Entrevista
uma justa compensação pelo que aconteceu. E
agora, esse ano, veio Brumadinho. Já havia um alerta
que havia questões erradas e, novamente, se repete.
Mesmo com esses dois casos super graves que
aconteceram, há uma insistência muito grande de
mineração e esse é um dos motivos que me levaram
a propor uma pena mais severa. Afinal, a minha
proposta com a PL 570 é justamente tornar crime
hediondo esse tipo de prática quando coloca em
risco o ecossistema e a saúde humana. No Projeto
de Lei, a saúde humana foi pensada, tanto nos que
perderam suas vidas, quanto nas comunidades
indígenas. Isso porque em Mariana teve os Krenak,
e em Brumadinho os Pataxó Hã-Hã-Hãe, que foram
removidos e hoje não estão ali. Nessa linha, é preciso
tornar visível esse tipo de discussão. Eu não concordo
com mineração, principalmente em terras indígenas.
Mariana e Brumadinho já são casos concretos, fato
acontecido. A gente precisa repensar a exploração
dos recursos hídricos e nos procedimentos que a
lei ainda inclui. E também nesses retrocessos em
termos da política ambiental, onde vemos cada vez
mais flexibilizações dos licenciamentos ambientais
para esses empreendimentos.
E quais medidas deveriam ser tomadas?
Eu acredito que a gente precisa pensar em termos
de uma fiscalização mais permanente sobre as
atuações das empresas e ter um olhar especial
para a população que depende delas. A questão
dos recursos hídricos me interessa um pouco mais
porque eu sempre tenho em mente que a água
não fica parada em determinada área. A água se
vai. Então muitos acreditam que o problema é só
aquele lá de Brumadinho e pronto, mas pessoas
que estão ali mais próximas e também mais
distantes vão ser atingidas por essa contaminação,
pelo rejeito. E a gente não pode deixar a impunidade
correr. A gente não pode deixar injustiças. Tem que
dar assistência aos trabalhadores e às vítimas. É
um dever do Estado intervir e não deixar outros
desastres. A gente tá vendo os profissionais da
área, os engenheiros, pessoas que são peritas no
assunto e o alerta que eles deixaram em Mariana.
Tudo isso está alertando agora pra Brumadinho.
Outras barragens podem se romper, então ações
devem ser tomadas de imediato.
Atualmente, vemos, na Amazônia principalmente,
um extrativismo travestido de progresso. Como
você vê e quais são os riscos para Amazônia?
Eu não chamaria isso de extrativismo, eu chamaria
de uma degradação crescente. Uma exploração
em relação aos recursos hídricos. Porque, no
extrativismo, você coleta e você deixa a árvore
em pé. É isso que eu entendo por extrativismo. Os
indígenas são extrativistas por natureza. Há povos,
por exemplo, os Waiwai, que vivem da questão da
castanha, que era castanha-do-pará, hoje castanhado-brasil,
e que se tira, usa, troca, vende, mas
mantém em pé a árvore. Esse projeto para explorar
os recursos da Amazônia incentiva o desmatamento
e outros impactos ambientais. A Amazônia tem sido
vista com um olhar em relação à exploração, sem
conservação. Exemplo disso é quando se constrói
uma hidrelétrica, que provoca vários e sérios danos
ambientais, não somente para biodiversidade, mas
para os seres humanos também. Além da questão
da mineração, que sempre tem tido uma tentativa
de regularizar, principalmente em terras indígenas.
Até agora, as mudanças do Código Florestal são
tentativas de anistiar os que provocam os danos
ambientais, dando prêmios para eles. É desvalorizar
aquele que protege, o extrativista, o que conserva, e
valorizar e perdoar aquele que já provocou o dano,
que não pode ser mensurado e tampouco reparado.
Então, a gente vê uma inversão dos valores na
política de preservação da Amazônia.
E como pensar alternativas?
A gente não enxerga alternativas. Nós [o país]
não vemos que a Amazônia pode, sim, ser uma
estratégia de economia. Temos um vasto potencial
em relação à diversidade que não é conhecida ainda,
tampouco explorada e valorizada. Nós temos vários
conhecimentos dos povos tradicionais indígenas
e o turismo ecológico. Não há investimento, não
há uma discussão. Não existe alternativa, inclusive,
na questão energética. Temos fontes de energias
renováveis, energias mais limpas, como a eólica, e
não é valorizada. Não protegem mais mananciais,
não discutem sobre matas ciliares, florestamento e
sobre proteção das áreas de conservação naturais.
Só querem ver inundação, acabar a biodiversidade,
assim, daqui a pouco não tem nem mais água potável,
que é o grande potencial da Amazônia. Enfim, existe
uma desvalorização em termos disso.
A cultura dos indígenas é, muitas vezes, usada
como fantasia em momentos como o carnaval.
Como você vê essa apropriação, principalmente
por parte do capitalismo?
Não fazendo uma imagem pejorativa, não
deturpando a história, não colocando o indígena
numa situação pejorativa, tentando levar maior
discriminação, eu não vejo problema de usar
plumas, que não seja de animais, lógico. Até gostaria
que contassem a história real dos povos indígenas.
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