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Cultura Extrativista
Exploração Turística
Gentrificação ou exclusão?
A gentrificação significa uma transformação
na dinâmica das cidades, que afeta o cotidiano de
determinados grupos. Quando os bens patrimoniais se
tornam alvo de interesses do Governo e de instituições
privadas, o espaço urbano onde eles estão localizados
passa por um processo de revitalização. O valor dos
aluguéis e imóveis sobe e o espaço que antes servia
de lar para todos deixa de atender as necessidades da
comunidade de baixa renda, enquanto as camadas
mais ricas ocupam a região central dessas cidades.
Esse fenômeno altera o perfil social dos moradores,
a identidade local, as características do espaço e
impulsiona o extrativismo turístico.
Sobre isso, a professora Luana diz que “quando
o turismo transforma o patrimônio em objeto de
consumo ele contribui com a sua preservação,
mas também com a sua fetichização” e ainda cita
exemplos em cidades coloniais que trazem à tona
os problemas de gentrificação: o Pelourinho de
Salvador (BA), a área central de Tiradentes (MG) e
o bairro do Recife Antigo (PE).
O Pelourinho passou por um programa de
recuperação em 1991, realizado pelo Governo do
Estado da Bahia. Segundo Luana, a região ganhou
uma revalorização e foi “transformada em produto
cultural a serviço do consumo e os moradores expulsos
daquele lugar”. No processo, a arquitetura colonial,
as tradições, a musicalidade e tudo o que constrói
a identidade cultural baiana, foi organizado para
produzir uma imagem mercadológica e “produto”
turístico atrativo nacional e internacionalmente.
Um estudo realizado em 2017 e publicado na revista
“Cadernos do CIM”, de autoria de Michel Constantino
Figueira, doutor em Memória Social e Patrimônio
Cultural, aponta esses aspectos do extrativismo turístico
e da gentrificação em um bairro histórico da cidade de
Colônia do Sacramento, no Uruguai, que está inscrito na
lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Segundo
dados trazidos por Michel, o processo se iniciou com as
ações desenvolvidas pelo Conselho Executivo Honorário,
que previam a requalificação do bairro. “Além do
desaparecimento de pessoas, desaparecem, também,
com o decorrer do tempo, manifestações socioculturais
tais como os clubes, as murgas, as atividades teatrais e
os bares tradicionais”, afirma Michel.
Em Ouro Preto, o crescimento da atividade turística
foi acompanhado do processo de refuncionalização do
patrimônio tombado da cidade”, afirmam Victor Lacerda
da Cunha e Altino Barbosa Caldeira em um estudo sobre
o processo de refuncionalização do patrimônio cultural
em Ouro Preto, de 2014. Ainda segundo os autores, as
alterações no conjunto arquitetônico e os interesses
comerciais causaram “a gentrificação do centro histórico
e a periferização da população mais humilde”.
De acordo com Luana Melo, no site do IBGE
consta que a presença negra continua forte em Ouro
Preto, porém vivendo em bairros periféricos. “Não
seria o momento de desenvolvermos uma política de
patrimônio e de turismo que evidencie a diversidade
cultural da nossa população e que levou à produção do
patrimônio que observamos hoje?”
Uma realidade mais próxima
Ouro Preto foi erguida sobre as montanhas de
Minas, em meio ao período áureo da mineração, à
soberania política da Coroa Portuguesa e à influência
da Igreja Católica. Fundada em 1711, a cidade foi
reconhecida como Vila Rica, até 1823, quando recebeu
o título de Imperial Cidade de Ouro Preto. Em setembro
de 1981, Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural
da Humanidade, pela Unesco, segundo dados do
IPHAN. “Depois que a cidade recebeu esse título,
houve uma supervalorização imobiliária dos terrenos
e das construções, especialmente na região do centro
histórico”, afirmam Victor e Altino.
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