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Revista Curinga Edição 27

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Cultura Extrativista

Exploração Turística

Gentrificação ou exclusão?

A gentrificação significa uma transformação

na dinâmica das cidades, que afeta o cotidiano de

determinados grupos. Quando os bens patrimoniais se

tornam alvo de interesses do Governo e de instituições

privadas, o espaço urbano onde eles estão localizados

passa por um processo de revitalização. O valor dos

aluguéis e imóveis sobe e o espaço que antes servia

de lar para todos deixa de atender as necessidades da

comunidade de baixa renda, enquanto as camadas

mais ricas ocupam a região central dessas cidades.

Esse fenômeno altera o perfil social dos moradores,

a identidade local, as características do espaço e

impulsiona o extrativismo turístico.

Sobre isso, a professora Luana diz que “quando

o turismo transforma o patrimônio em objeto de

consumo ele contribui com a sua preservação,

mas também com a sua fetichização” e ainda cita

exemplos em cidades coloniais que trazem à tona

os problemas de gentrificação: o Pelourinho de

Salvador (BA), a área central de Tiradentes (MG) e

o bairro do Recife Antigo (PE).

O Pelourinho passou por um programa de

recuperação em 1991, realizado pelo Governo do

Estado da Bahia. Segundo Luana, a região ganhou

uma revalorização e foi “transformada em produto

cultural a serviço do consumo e os moradores expulsos

daquele lugar”. No processo, a arquitetura colonial,

as tradições, a musicalidade e tudo o que constrói

a identidade cultural baiana, foi organizado para

produzir uma imagem mercadológica e “produto”

turístico atrativo nacional e internacionalmente.

Um estudo realizado em 2017 e publicado na revista

“Cadernos do CIM”, de autoria de Michel Constantino

Figueira, doutor em Memória Social e Patrimônio

Cultural, aponta esses aspectos do extrativismo turístico

e da gentrificação em um bairro histórico da cidade de

Colônia do Sacramento, no Uruguai, que está inscrito na

lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Segundo

dados trazidos por Michel, o processo se iniciou com as

ações desenvolvidas pelo Conselho Executivo Honorário,

que previam a requalificação do bairro. “Além do

desaparecimento de pessoas, desaparecem, também,

com o decorrer do tempo, manifestações socioculturais

tais como os clubes, as murgas, as atividades teatrais e

os bares tradicionais”, afirma Michel.

Em Ouro Preto, o crescimento da atividade turística

foi acompanhado do processo de refuncionalização do

patrimônio tombado da cidade”, afirmam Victor Lacerda

da Cunha e Altino Barbosa Caldeira em um estudo sobre

o processo de refuncionalização do patrimônio cultural

em Ouro Preto, de 2014. Ainda segundo os autores, as

alterações no conjunto arquitetônico e os interesses

comerciais causaram “a gentrificação do centro histórico

e a periferização da população mais humilde”.

De acordo com Luana Melo, no site do IBGE

consta que a presença negra continua forte em Ouro

Preto, porém vivendo em bairros periféricos. “Não

seria o momento de desenvolvermos uma política de

patrimônio e de turismo que evidencie a diversidade

cultural da nossa população e que levou à produção do

patrimônio que observamos hoje?”

Uma realidade mais próxima

Ouro Preto foi erguida sobre as montanhas de

Minas, em meio ao período áureo da mineração, à

soberania política da Coroa Portuguesa e à influência

da Igreja Católica. Fundada em 1711, a cidade foi

reconhecida como Vila Rica, até 1823, quando recebeu

o título de Imperial Cidade de Ouro Preto. Em setembro

de 1981, Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural

da Humanidade, pela Unesco, segundo dados do

IPHAN. “Depois que a cidade recebeu esse título,

houve uma supervalorização imobiliária dos terrenos

e das construções, especialmente na região do centro

histórico”, afirmam Victor e Altino.

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