Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Hélder Spínola: STOP
entrevista: teresa valério
João e Maria
da Cunha Paredes
“Sonhos já realizámos muitos, juntos”
EM ANÁLISE...
francisco
gomes
Madeira Aves
Corre-caminho
ANO XXII › €2,50
N.º275 mensal ABRIL 2020
SABER
MADEIRA
A Revista da Madeira
www.sabermadeira.pt
Revista Saber Madeira
sabermadeira@yahoo.com
291 911 300
sumario
04 ENTREVISTA
Teresa Valério
Autora de várias obras
07
08
Lugares de Cá
Quintas madeirenses
Conversas com a saber
O casal João e Maria Favilla da
Cunha Paredes foi entrevistado
para as Conversas com a Saber
que aconteceu no mês de fevereiro
no restaurante do Forte, pelos
irmãos Sandra e Ricardo Rodriguez.
Factos pessoais e familiares
que marcam a vida deste afável
casal que tem três filhas.
13 decoração
Casa – o novo espaço de trabalho
14 turismo
Savoy Signture: “A nossa atitude
positiva e foco mantêm-se inalteráveis”
17 nutrição
Compra de alimentos em situação
de isolamento
18
Opinião hélder spínola
STOP
19 Animais
Animad: Sobreviver ao Covid-19
20
20
24
madeira flores
Cravo
Caprichos de Goes
A Felicidade acontece agora
26
28
30
32
34
Câmara Municipal do Funchal
42
“A Cultura que no une”
Viajar com Saber
Ilha d’Orleans
em análise...
E qual é o impacto na sua vida?
madeira aves
Corre-Ccaminho e Andorinhão-da-
-Serra
opinião isabel fagundes
Onde está o Amor?
33 Educação
A Escola, um lugar de vários
mundos
Dicas de Moda
Lubov-Amor
36 cinema
La Casa de Papel
37 makeover
Liberdade
38 motores
Carros de Sonho: Bugatti Chiron
Pur Sport
40
Fashion Advisor
Explosão de Cores
marcas icónicas
Nivea
37
43 social
48
50
À mesa com...
Fernando Olim
Estatuto Editorial
26
saber ABRIL 2020
3
ENTREVISTA
Teresa
valério
Com a autora no auditório da editora O Liberal
e sem sabermos que a pandemia aí vinha para
mudar o Mundo, fomos ao encontro da escrita
e dos livros que resultaram das emoções que a
própria experienciou ao longo da vida. Teresa
Valério é uma autora da casa, com diversos
livros publicados desde 2000 com a chancela
da editora madeirense. O mais recente foi
Para Além do Sonho, que a autora lançou ao
público no auditório do Museu Casa da Luz,
em novembro de 2019. O livro teve prefácio do
antigo Presidente do Governo Regional, Alberto
João Jardim, amigo pessoal da autora. Com uma
energia transbordante e uma personalidade
cativante, Teresa Valério anda no mundo dos
livros desde 2000, quando lançou o primeiro: As
Trincheiras da Vigia. Ganhando-lhe o gosto pelas
críticas positivas, nunca mais deixou de criar
livros. Nascida no norte da ilha da Madeira, mais
precisamente no concelho de São Vicente, Teresa
Valério veio estudar para o Funchal depois de ter
concluido o segundo ano escolar no seu concelho.
No Funchal, fez o antigo Curso Geral dos Liceus
e seguiu a vida profissional na antiga Caixa de
Previdência, atual serviço de Segurança Social
da Madeira, onde trabalhou até se aposentar.
Os livros, a leitura e a escrita estiveram sempre
presentes na vida da autora que em 2001 ganhou
o Prémio Temático no concurso Literário Horácio
Bento de Gouveia. Um ano depois, estava a lançar
Estórias Encantadas, livro de 22 contos e que
integrou as comemorações da Segurança Social
em maio de 2002. Em homenagem aos emigrantes
da sua freguesia, escreveu Vidas Dispersas. Em
maio de 2006, lançou o romance Momentos de
Sonho. Ao seu genro dedicou o livro Amar em
Silêncio, com a chancela da Câmara Municipal
do Funchal. Sguiram-se Estás Perdoado e Outros
Tempos.
Dulcina Branco
O.L.C. (Cícero Castro)
4 saber ABRIL 2020
O que é que gostava de ler quando era
pequena?
- Desde criança que gosto de livros, de ler.
Quando vim para o Funchal com 17 anos
(sou natural do concelho de São Vicente)
para estudar, lembro-me que passava na
igreja do Carmo e nas bibliotecas do Funchal
para ler histórias, romances, história
dos países... Eu sempre gostei muito de
História, tive sempre boas notas na disciplina
de História e acho que isso contribuiu
para a escrita de livros.
Como é que decorre o seu processo criativo
e sobre que temas gosta de escrever?
- Gosto muito de escrever sobre histórias
reais e de escrever para crianças. Convidam-me
para ir às escolas falar às crianças,
contar uma historiazinha e gosto muito. As
crianças de hoje não estão mentalizadas
para fazer bonecas de pano e essas coisas
do meu tempo, então, quando penso num
livro, vem-me à ideia a minha infância e momentos
que experienciei e outros de que
ouvi falar, como por exemplo: pessoas humildes
do campo que vinham ao Funchal,
a emigração para Jersey, a emigração para
o Brasil e para a Venezuela. No meu último
livro, Para Além do Sonho, num dos episódios
deste livro recordo um acidente de há
uns anos na Venezuela em que morreram
50 pessoas numa discoteca – dois primos
meus morreram nessa tragédia. Tenho
uma prima na Venezuela que leu o livro e
recordou o seu pai quando embarcou para
a Venezuela no tempo da guerra. No livro
Digo sempre que não
escrevo mais, que é
o último livro, mas
depois passa a ideia
e penso em coisas
novas
Vidas Dispersas falo dos repatriados e das
suas viagens em 1939, recordo o meu pai
e um outro rapaz da freguesia de São Vicente
que foram para a Venezuela que era
então uma terra muito rica. No meu primeiro
livro, em 2000, As Trincheiras da Vigia, é
um livro que fala de histórias da época que
ouvi da minha mãe e de outras pessoas de
então. Eu tinha nove anos quando a guerra
acabou e a minha mãe contava muitas
histórias, as quais nunca esqueci. Em 2000,
lancei o meu primeiro livro com o impulso
da saudosa Maria Aurora, que foi quem me
incentivou a avançar com o livro, bem como
o Dr. Alberto João Jardim. O mais difícil é começar
mas assim que comecei a escrever
livros, as pessoas gostaram dos livros e tem
sido assim. Fiquei viúva há 14 anos e desde
então, tenho me dedicado mais aos livros.
Como é que foi conceber Para Além do
Sonho, o seu mais recente trabalho literário?
- O título do livro não era para ser Para Além
do Sonho. Era para ter outro título. Eu queria
um título que fizesse uma referência às
emoções, já que é um livro que é dirigido às
emoções, mas a Isabel Fagundes, que releu
o livro antes de ser publicado, anuiu que
emoções todos os livros têm e que aqui
talvez fizesse mais sentido a palavra sonho
- é um livro que vai para além do sonho.
O prefácio foi do Dr. Alberto João Jardim
e isto por que o Dr. Alberto é uma pessoa
amiga de há alguns anos. Foi o responsável
pelo lançamento do meu primeiro livro, em
2000, livro esse que teve o apoio da Câmara
Municipal de São Vicente e patrocínio da
empresa Tecnibrava. Fui membro da Junta
de Freguesia de Santa Maria Maior durante
17 anos, vem daí este conhecimento. Este
livro está à venda e é um livro que os leitores
gostam, de uma forma geral. E gostam
porque tem histórias reais, por que fala de
situações reais e as pessoas gostam disso.
É de sonhos mas os sonhos acontecem e
realizam-se e, portanto, transmite essa
mensagem de ambição e de sermos sempre
um pouco melhor.
São documentos históricos os livros...
- Claro que sim! Os mais novos não sabem
o que se passou e então ficam os livros
para contar a história.
Apesar de escrever sobre o passado, a
Teresa não é uma pessoa nostálgica?
- Não. Escrevo de uma forma positiva. Nada
de saudade, não gosto disso. Falo sobre
histórias do passado sem aquela coisa da
nostalgia, de que o passado é que era bom.
Escreve de acordo com a nova grafia ou
na antiga grafia?
saber ABRIL 2020
5
ENTREVISTA ENTREVISTA
- Na nova. Sigo o Novo Acordo Ortográfico.
A escrita é mais simples. Há quem critique
mas se o AO está na Lei é para cumprir.
Dos livros que lançou, qual é aquele que
gosta mais?
- Gosto muito do Mundos de Sonho porque
vai à Africa, fala das freiras que iam para a
África, os pais que não queriam que as filhas
casassem com rapazes pobres... Tive
uma amiga cujo pai não queira que ela casasse
com o rapaz que ela gostava mas que
era pobre... Conta essas histórias reais.
Como é a sua biblioteca?
- Tenho muitos livros. A minha bilblioteca
tem clássicos, históricos, romances...Não
consigo adormecer sem ler. Posso chegar
a casa às duas da manhã mas se estou desperta,
tenho que ler qualquer coisa do livro
que esteja nesse momento à cabeceira.
Os seus escritores de eleição?
- José Rodrigues dos Santos, Daniel Silva,
entre tantos outros...
A leitura é um bom exercício para as pessoas
mais velhas?
- Muito. No meu caso, é uma grande ajuda.
Como vivo sozinha, ler é uma distração e
uma companhia diária imprescendível mas
também vou ao computador para mandar
mensagens, ler...
Gosta de usar o computador?
Os sonhos acontecem
e realizam-se e,
portanto, o livro
transmite essa
mensagem de ambição
e de sermos um pouco
melhor
- Sim. É uma ajuda muito grande o computador.
Como os meus filhos já não estão em
casa, é através do computador e também
do telemóvel que estabelecemos contacto
uns com os outros. Tenho três filhos,
quatro netos e um bisneto - que até foi ao
lançamento do meu último livro, não estão
em casa e então, tenho é uma grande ajuda
estas novas tecnologias. São distrações
importantes.
Os seus filhos como é que reagem aos
seus livros?
- Gostam muito. Os meus filhos gostam
muito de ler e apoiam-me nos livros. Foi
uma surpresa para eles o lançamento deste
Para Além do Sonho por que não lhes
tinha contado do livro. Eles ficaram surpreendidos
e satisfeitos. O resto da família
também gosta. Tenho uma prima na Venezuela
e que leu o livro Trincheiras da Vigia,
e que se recorda do seu pai que embarcou
para a Venezuela no tempo da guerra, o livro
“Vidas Dispersas” e que foram repatriados
não tinham pagado a viagem em 1939,
o meu pai e outro rapaz eram casados e o
meu tio era solteiro e era uma Venezuela
muito rica e que ficou muito bem. É engraçado
por que, digo sempre que não escrevo
mais, é o último livro mas depois passa a
ideia e penso em coisas novas, de maneira
que, tenho sempre qualquer coisa que
pode dar um novo livro.
Já está a pensar num novo livro?
- Tenho umas ideias... Digo sempre que o
livro é o último mas não consigo estar parada.
No seu caso, podemos dizer que a idade
é um número, no sentido de que, continua
a manter-se muito ativa. Como é o
seu dia a dia?
- Não ligo à idade!. Gosto e tenho de me
manter ativa e então vou ao ginásio, conduzo,
vou às escolas falar para os mais novos,
cuido da casa, das flores, não durmo
depois do almoço, faço almoço para o meu
filho se ele vai lá a casa almoçar, convivo,
vou às compras... s
6 saber ABRIL 2020
LUGARES DE CÁ
[1]
Quintas madeirenses
Nas quintas madeirenses também se escreve a história da
Madeira. A partir do séc. XVII, estes espaços começaram
a receber viajantes em busca da “cura dos ares” da ilha.
Eram alojamento de eleição de ricos mercadores de passagem
pela Madeira na rota atlântica, a exemplo da Quinta do Monte
(foto 1). As quintas madeirenses estão inseridas na natureza e têm
uma arquitetura particular, que mistura o estilo local e o britânico.
Destacam-se os belos jardins, caminhos cobertos de calhau rolado
por entre árvores centenárias, flores e lagoas. O cenário de tranquilidade
e romantismo destas quintas chegou aos nossos dias adaptado
ao Turismo, a exemplo da Quinta da Casa Branca (foto 2). Esta
quinta pertence a uma família descendente de John Leacock, um dos
precursores da comercialização de vinho Madeira no séc. XVIII. Na
casa mãe encontram-se luxuosas suites, uma decoração exclusiva
ou um restaurante gourmet. Outro belo exemplo é a Quinta Jardins
do Lago (foto 3), também conhecida como Quinta da Achada, uma
construção que data de meados do séc. XVIII. Esta quinta oferece
uma proximidade especial com os jardins envolventes, frondosas árvores,
alpendres com trepadeiras, flores e lagos; no interior, a casa
mantém uma decoração sóbria e elegante, iluminada pelas janelas e
portas envidraçadas que se abrem para o jardim. As quintas madeirenses
estão abertas ao público e visitar estes espaços é, garantidamente,
uma experiência encantadora. s
Dulcina Branco
visitmadeira.pt, aprenderamadeira.net, Quinta do Monte Museu Vicentes (foto 1)
saber ABRIL 2020
7
CONVERSAS COM A SABER
João da Cunha Paredes
e Maria Favila Vieira da Cunha Paredes
Conheceram-se em Lisboa, o amor nasceu e com
três filhas, optaram, há 24 anos, por viver na
Madeira. Em Maria Favila Vieira da Cunha Paredes
e João da Cunha Paredes cruzam-se interesses
comuns e partilhados como a história dos lugares,
viagens, livros, arte, trabalho, jardinagem -
mas sempre a família como ponto nevrálgico.
Foi um prazer e uma honra partilhar a noite
de sábado de Carnaval, 25 de fevereiro de 2020,
ainda a pandemia vinha longe, a mesa com este
maravilhoso casal no belo restaurante do Forte.
Sandra Rodriguez e Ricardo Rodriguez
gentilmente cedidas pelos entrevistados
AgradecimentoS: Restaurante do Forte (jantar) e A Tulipa (flores)
Como é que se conheceram?
J.P.: Conhecemo-nos em Lisboa, na casa de amigos comuns, num jantar
para o qual fomos convidados.
M.F.: Conhecemo-nos numa altura em que eu estava em Lisboa a
frequentar uma especialização em Arquivo com o apoio do Governo
Regional. Sendo o meu pai diplomata, vivi no estrangeiro, tirei a licenciatura
em História em Lisboa, voltei à Madeira e ingressei na Direção
Regional dos Assuntos Culturais, em 1983.
J.P.: Quando nos conhecemos, começámos por visitar diversos locais
de Portugal como a Nazaré, o Convento de Mafra, a Ericeira, Évora,
etc. Foi um aproximar progressivo e a paixão foi crescendo. A Maria
tem grande vivacidade, é uma pessoa culta, falávamos de livros, dos
monumentos e lugares do nosso país que eu lhe queria mostrar... Percebemos
que tínhamos interesses comuns e poderíamos investir num
projeto de vida comum. Foi o que fizemos e temos feito ao longo dos
anos, com os ajustes e desajustes de qualquer casal, naturalmente.
Que lembranças tem dessa altura em que se conheceram e viajaram
por Portugal?
M.F.: O meu marido é apaixonado pela história do nosso país, tinha
8 saber ABRIL 2020
sempre comentários oportunos e elucidativos. Apercebi-me do que
é ver as paisagens, as aglomerações, os monumentos com olhos
de arquiteto. Gostei muito de visitar Conímbriga. A arte do mosaico
encanta-me e tenho muito interesse pela civilização romana.
Com um pai diplomata, como é que foram a sua infância e adolescência?
M.F.: Houve momentos inesquecíveis. Recordarei sempre um safari
no Krugger Park, na África do Sul, para que fomos convidados por
amigos da comunidade madeirense residente em Durban, onde o
meu pai, Fernão Favila Vieira, foi Cônsul e fez grandes amigos, nomeadamente
por ter promovido a fundação do Clube Português de Natal.
Gostei imenso de ver os animais! Tinha apenas sete anos, a visão próxima
da fauna africana em liberdade, o calor da savana, foram um deslumbramento!
Em Viena de Áustria, gostava de regressar a pé do liceu
francês até à Mayerhofgasse, onde habitávamos, para contemplar as
folhas que douravam o chão, no outono, a visão poética do crepúsculo
no Volksgarten (“Jardim do Povo”) sob a neve, no inverno. Descobri
a sensibilidade e requinte do talento de Klimt, gostava de sonhar no
jardim do Belvedere, quando estava bom tempo… Lembro a abundância
e variedade de conchas na linda praia de Cabo Ledo, onde estive
de férias com os meus cinco irmãos, era o meu pai Cônsul-Geral em
Luanda, no rescaldo da independência. Posso comparar a finíssima
areia coralífera e o quente mar de safira das praias de Varadero e Cayo
Largo, em Cuba, onde passámos a nossa lua de mel, sendo o meu pai
embaixador em Havana, com a areia dourada da praia do Porto Santo!
O mar é sempre um convite ao sonho, à fusão com a Natureza, e
estamos bem servidos na nossa luminosa terra madeirense, seja com
o mar transparente do Garajau, da Madalena do Mar, ou com o mar
batido e fresco do Seixal e do Porto do Moniz. Impressão bem diferente,
foi o choque do desembarque no aeroporto de Luanda, então
patrulhado por militares cubanos.
Arq. Paredes, nasceu em Angola. Que lembranças tem desse país e
em que momento vem para Portugal?
J.P.: Nasci no Lobito (Angola), onde o meu pai, Eng.º António da Cunha
Paredes, trabalhava com o empresário português António Champalimaud,
com quem se dava muito bem. Tinha eu cerca de 1 ano, os
meus pais regressaram a Lisboa, para alegria da minha mãe, saudosa
da família e dos encantos da vida lisboeta. O meu pai era um verdadeiro
“africanista”; fez parte de uma geração que acreditava que o
contributo dos engenheiros mudaria significativamente o mundo português.
Passou longas temporadas em Angola e Moçambique, países
que apreciava imenso e onde regressou frequentemente a convite de
António Champalimaud, para dirigir fábricas de cimento como as do
Lobito e da Beira. A minha mãe acompanhou-o algumas vezes, mas à
medida que os filhos foram nascendo, isso tornou-se mais difícil. Lembro-me
das histórias de África do meu pai: as caçadas, as chuvas torrenciais,
a maneira de viver descontraída, a Natureza abundante de
África... Em Lisboa, completei o ensino secundário, o curso de Design
de Interiores e depois o de Arquitetura. Seguiu-se o mestrado na Universidade
de Glasgow: vivi cinco anos na Escócia. Também frequentei
uma especialização em Urbanismo.
No entanto, regressou a Portugal...
J.P.: Pensei não regressar. Tive convites para trabalhar na Austrália,
na África do Sul, com boas condições de trabalho e remuneração, mas
optei por Portugal, cujo ambiente humano é muito especial. Regressei
a Lisboa, uma cidade que amo, onde conheci a Maria e onde vivemos
os primeiros anos do nosso casamento. Como a Maria é madeirense,
decidimos que a Madeira oferecia melhor qualidade de vida à
nossa família em rápido crescimento. Em Lisboa, o ritmo de trabalho
era intenso, eu chegava a casa noite dentro, as nossas filhas já estavam
a dormir. Optámos por dar-lhes uma infância descontraída e feliz,
com grande proximidade dos pais. Estamos satisfeitos com os resultados,
porque elas estão fazendo o seu percurso de vida com equilíbrio,
dando prova da sua boa formação. Eu pude conciliar vida familiar e
trabalho no meu gabinete de arquitetura, instalado na casa que habitamos
no Funchal. Aqui funcionou o consulado do Brasil, país de que
fui Cônsul Honorário, e irá funcionar em breve o Consulado da Sérvia.
Vivem na Madeira desde quando?
J.P.: Desde 1996. Há 24 anos.
Tendo em conta que é arquiteto, foi o autor do projeto da vossa
casa?
J.P.: Não. Habitamos uma casa de família, herdada pelos meus sogros,
com quem vivemos por períodos alargados, pois eles passavam uma
parte do ano no Funchal, outra em Lisboa. É uma casa histórica: nela
se hospedou Isabella de França na sua visita à Madeira e a Portugal
em 1834/1835. Nela habitaram o dramaturgo Manuel Caetano Pimenta
de Aguiar, os políticos Conselheiro Manuel José Vieira e Major João
Augusto Pereira que eram figuras destacadas do Partido Progressista,
o reitor do Liceu do Funchal, fundador e 1º diretor da Escola do Magistério
do Funchal, Dr. Ângelo Augusto da Silva e sua mulher, D. Berta
Pereira da Silva, que com um grupo de senhoras amigas, incluindo a
mãe do Dr. Alberto João Jardim, fundou e apoiou o Abrigo de Nossa
Senhora de Fátima. O meu sogro, Embaixador Fernão Favila Vieira,
bisneto de Manuel José Vieira, empenhou-se em restaurar esta casa
e eu tive muito prazer em colaborar com ele, projetando a recuperação
e a modernização da casa. Gosto muito de intervir na recuperação
de edifícios antigos, e considero esta casa um bom exemplo deste
tipo de intervenção.
A recuperação de igrejas destaca-se no seu percurso profissional.
Quando e como nasce esse gosto dentro da sua profissão?
saber ABRIL 2020
9
CONVERSAS COM A SABER
J.P: Sempre me fascinou a capacidade que a arquitetura tem de influir
no comportamento das pessoas. Investiguei muito sobre arquitetura
religiosa e arquitetura clássica, fiz várias experiências nos edifícios
religiosos que projetei - foram nove igrejas paroquiais nesta diocese
- e intervim em muitas outras. O controlo da proporção, da dimensão,
da luz, da acústica, em especial no interior do edifício, permite
criar um ambiente que desperta um estado de espirito. Quando uma
pessoa entra numa igreja, o seu comportamento é influenciado pelo
espaço, que deve “funcionar” como um convite à oração, à reflexão, e
ao mesmo tempo, proporcionar bem estar e a alegria da proximidade
do Divino. O espaço influencia o comportamento humano. É um grande
desafio para o arquiteto contribuir para acordar o espirito de contemplação
e estou satisfeito porque penso tê-lo conseguido nas igrejas
que projetei.
Na verdade, a igreja que referiu é muito bonita, pela luz, grandes
dimensões... As pessoas gostam destes espaços...
M.F.: É interessante a Sandra destacar esse aspecto. As igrejas antigas
madeirenses são realmente bonitas, com a riqueza da sua decoração –
a pintura e as imagens, a azulejaria, a talha barroca –, mas é certo que
os edificios modernos oferecem melhor funcionalidade, mais conforto.
São espaços que os paroquianos usam com naturalidade no quotidiano,
para além da celebração da Missa dominical.
J.P.: Procurei, e espero ter conseguido, projetar a arquitetura religiosa
madeirense. Devo realçar a inspiração que trouxe das viagens feitas
com D. Teodoro de Faria e outros peregrinos, nomeadamente à Terra
Santa e em especial a Goa, onde os portugueses deixaram uma pègada
cultural que me impressionou vivamente. Daí nasceu o que chamo
de a minha arquitetura do “torna viagem”, uma interpretação contemporânea
das nossas raízes, um (re)conhecimento dos valores religiosos
e artísticos históricos, atualizado na igreja católica moderna, bem
iluminada, arejada e de perfil contemporâneo.
Os vossos percursos profissionais estão marcados por diversos
momentos, uns mais marcantes do que outros. Que momentos são
esses e porquê?
M.F. Sou arquivista de profissão, pertenço ao quadro do Arquivo Regional
da Madeira. Desde 1997, presto serviço no Arquivo Histórico da
Diocese do Funchal, em virtude de um acordo resolvido pelo Secretário
Regional do Turismo e Cultura João Carlos Abreu e por D. Teodoro
de Faria. Um protocolo assinado em 2017 pelo Secretário Regional
Dr. Eduardo Correia de Jesus e por D. António Carrilho formalizou
esse mesmo acordo, reconhecendo o trabalho feito e que prossegue. A
acção junto do Arquivo diocesano permite nomeadamente que investigadores
devidamente autorizados consultem a documentação histórica
conservada na Diocese, de que boa parte foi aliás microfilmada
pelo Arquivo Regional em 1998. Em 2005, o Arquivo Regional publicou
um volume de variados “Documentos Históricos da Ilha do Porto
Santo” transcritos por mim. Em 2010, em Colóquio Internacional de
Arquivos de Familia no Arquivo Nacional/Torre do Tombo, apresentei
a comunicação “Capela de Nossa Senhora da Ajuda e Morgados dos
Piornais na Ilha da Madeira”. A capela está na posse da mesma família
desde a sua fundação em 1450. A minha comunicação, publicada nas
atas do Colóquio, foi uma achega para um amplo projeto iniciado em
2008 por Maria de Lurdes Rosa, Professora da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Investigadora do
Instituto de Estudos Medievais: a investigação da história dos morgados
nos séculos XIV a XVII, numa perspetiva comparada, em Portugal,
seus espaços atlânticos e outras sociedades da Europa do Sul. Voltei
à documentação do Porto Santo para tratar o arquivo dos morgados
Bettencourt Perestrelo, instituídos pelo 6º capitão da Ilha Dourada,
Diogo de Bettencourt Perestrelo: escrevi sobre esta família um artigo
publicado em 2019 no nº 1 da Nova Série da revista “Arquivo Histórico
da Madeira”, acessível online no site do Arquivo Regional e Biblioteca
Pública da Madeira. Recordo com gosto a colaboração em exposições
– experiência sempre desafiante, porque a divulgação pública exige
excelência no trabalho apresentado. Fui responsável pela tradução
dos textos da belíssima exposição “Um Príncipe Explorador: Alberto I
do Mónaco à descoberta da Madeira”, realizada no Museu de História
Natural do Funchal em 2017/2018, iniciativa do Arquivo do Principado
do Mónaco com agrado do Governo Regional da Madeira, concretizada
com notável esforço conjunto, que envolveu ainda a Câmara Municipal
do Funchal e o Instituto Oceanográfico do Mónaco. Colaborei,
também como tradutora, na realização de quatro importantes exposições
fotográficas recentemente realizadas pelo Arquivo Regional,
sobre os concelhos de Câmara de Lobos, S. Vicente, Calheta e Machi-
10 saber ABRIL 2020
co. Os estrangeiros que nos visitam devem poder usufruir plenamente
de toda a pesquisa feita para contextualizar fotografias que revelam
aspectos impactantes, curiosos ou pouco conhecidos da geografia
humana da nossa terra!
J.P.: No meu caso, voltamos às igrejas... As igrejas não são feitas só
de projetos, envolveram muita gente e apoios expressivos, quer do
Governo Regional, quer de entidades privadas e de muitos particulares.
Nas comunidades paroquiais o dinheiro não cai do céu! É preciso
muito trabalho, muita dedicação e esforço comunitário para concretizar
estes projetos. Criam-se laços e amizades que perduram e que considero
a maior compensação. A conclusão de cada uma das igrejas que
projectei assinalou um momento muito especial na minha profissão.
Em que momento nasce o seu interesse pelo Rotary Club?
J.P.: Sou membro do Rotary Club do Funchal há oito anos, quatro dos
quais nas funções de presidente. O Rotary Club do Funchal promove
eventos para angariação de fundos com fins de apoio social. Procuramos
valorizar os profissionais de excelência, em particular os da nossa
Região. Convidamo-los para realizar palestras sobre temas de interesse
atual nos jantares rotários que são uma forma de angariação de
fundos para as iniciativas. Rotary começou no início do século XX, é um
movimento com quase dois milhões de associados no mundo inteiro,
que desenvolve com notável sucesso projetos como o da erradicação
da poliemielite a nível mundial. Outros projetos semelhantes são o
combate à malária, verdadeiro flagelo do continente africano. O Rotary
Club do Funchal é o terceiro clube rotário mais antigo de Portugal, com
86 anos de existência. Deve-se-lhe a organização do primeiro rali na
Madeira, semente do que é hoje um evento regional dos mais importantes.
Nos incêndios calamitosos nas serras do Funchal, por exemplo,
apoiámos famílias que tinham perdido casa e bens, fornecendo equipamentos
electrodomésticos. Hoje, os clubes que mais têm crescido
não são os clubes europeus, mas os de países em grande desenvolvimento,
no Oriente e em África. À nossa escala, vamos dando os apoios
que são possíveis e colaborando e contribuindo para projetos internacionais
de apoio aos países mais carenciados. Temos intervenção local
e intervenção internacional, através do Rotary Foundation que gere os
fundos angariados e os canaliza para diferentes intervenções em países
e comunidades que precisam de ajuda.
No campo das artes, onde se detém o vosso coração?
J.P.: Gosto muito de escultura. Enquanto arquiteto, sou também um
escultor. Imagino tridimensionalmente um edifício antes de o projetar
no papel. Antes de cursar Arquitetura, estudei Escultura durante um
ano. Fascina-me tudo o que é tridimensional e palpável.
M.F.: Vi recentemente na RTP2, o documentário “Leonardo da Vinci, a
origem do génio”, fiquei maravilhada com “A Anunciação”, uma obra
de juventude do pintor. Escolho a pintura!
São também amantes de literatura. Que livros recomendam?
M.F.: Descobri só recentemente a prosa intensa de Herberto Helder,
no livro “Os Passos em Volta”. Recomendo vivamente! Estou a acabar
de ler uma apaixonante biografia do Capitão Cousteau, ecologista e
ambientalista assinalado.
J.P.: Gosto de livros de História. Neste momento, estou a ler sobre o
inglês William Stephan, fundador da primeira fábrica de vidro em Portugal.
Mas o livro da minha vida é “O Leopardo”, do Príncipe Lampedusa,
que descreve de forma admirável um trecho da vida dos Prínci-
PUB
saber ABRIL 2020
11
CONVERSAS COM A SABER
No Rotary Clube do Funchal com sua Excelência o Presidente da República Portuguesa,
Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, e o Dr. Edgar de Aguiar, digníssimo membro do Rotary Clube
do Funchal.
Na escadaria principal do principado do Mónaco, na sequência de uma exposição sobre
as campanhas oceanográficas na Madeira do Príncipe Alberto I (avô do actual príncipe
do Mónaco) e em que Maria Favila colaborou activamente, com o Director dos Arquivos
do Palácio Príncipe do Mónaco, Dr. Thomas Fouilleron e o nosso conterrâneo, o biólogo e
ambientalista Dr. Manuel Biscoito.
pes de Salina, na Sicilia, na época das guerras da unificação da Itália e
da ascensão ao trono do rei Vitor Emanuel I. O enredo foi transposto
magnificamente para o cinema por Visconti.
Livros que deram azo a grandes filmes. Qual é o filme das vossas
vidas?
J.P.: Gostaria de destacar um filme de 2004, “A Paixão de Cristo”, de
Mel Gibson, pelo grande rigor histórico que foi preocupação do realizador,
um filme fortíssimo. Merece referência o facto de ser falado em
aramaico, graças ao notável trabalho do padre jesuíta William Fulco,
que traduziu o roteiro em inglês para o aramaico.
M.F.: Ainda não vi mas quero ver o filme “Joker” e o filme “Parasitas”,
que conquistou diversos prémios internacionais.
Como é que ocupam os vossos tempos livres?
J.P.: Gostamos de ver, na televisão, os noticiários, debates sobre temas
da atualidade, os programas sobre freguesias da Madeira e os documentários
“Madeira 600 anos”, o programa “Visita Guiada” de Paula
Moura Pinheiro na RTP2...
M.F.: Amo cuidar do meu jardim!
Qual a viagem que mais vos marcou?
M.F.: Acompanhei o meu marido nas viagens com D. Teodoro de Faria
à Turquia e à Terra Santa e fomos a Roma assistir à cerimónia de canonização
do Imperador Carlos da Austria, cuja dedicação sem reservas
à Paz e ao bem comum dos povos europeus é bem oportuno recordar
nestes tempos conturbados da Europa de hoje.
J.P.: Eu viajei muito, mais antes do nosso casamento. Viajava com um
fundamento cultural, à procura de conhecimento que me enriquecesse
e tivesse ligação à minha atividade profissional. Não me motivava
simplesmente descansar numa praia paradisíaca. Para isso, existem
praias maravilhosas em Portugal, o belo mar do Garajau e do norte da
nossa Ilha, não precisamos de sair da Madeira, sequer. Para um arquiteto,
não há vídeos nem livros que substituam experienciar in loco a
dimensão, a escala, a identidade de uma cidade, a sua arquitetura e a
vivência da sua gente, só estando lá e percorrendo os espaços, para
perceber. Gosto de me deixar perder nas cidades para conhecer a vida
e a sensibilidade de um povo.
Quais são os vossos próximos objetivos ou sonhos?
M.F.: Peço a Deus que as minhas filhas percorram o caminho da sua
realização pessoal e profissional na fidelidade aos valores cristãos, e
que haja sempre harmonia e paz na nossa família.
J.P.: Já realizámos muito, juntos. O nosso objetivo é conseguir levar a
bom termo os projetos que temos em mãos. Partilhamos a vontade
de prosseguir com a convicção e com a força que temos tido até agora.
O que rejeitam no mundo atual e o que gostariam de ver alterado?
J.P.: Sou um otimista por natureza. Acredito que a geração a que pertencem
as nossas filhas é das melhor preparadas de sempre em Portugal.
Temos universidades prestigiadas e pessoas muito qualificadas,
que até estamos a “exportar”, nomeadamente para os outros países
europeus. Quanto à vida social, há alguma tendência para a superficialidade.
As redes sociais têm muita responsabilidade na difusão
de comentários feitos de forma leviana, de opiniões com pouco ou
nenhum fundamento. É importante procurar ser sério e bem informado
na reflexão sobre os problemas. É preocupante sentir que há
em Portugal, país cristão desde a origem, menos respeito pela vida. A
eutanásia, tal como o aborto, deve ser debatida com muita ponderação,
porque a vida humana é um Bem a cuidar e respeitar na sua plenitude,
em todas as suas fases. De resto, não tenho qualquer rejeição
à sociedade contemporânea. Sou uma pessoa completamente aberta
e adaptada ao nosso tempo.
M.F.: Acho inaceitável que no tempo de progresso tecnológico e científico
que é o nosso, tantos milhões de pessoas morram de fome e
sobrevivam despojadas até do direito de viver no seu próprio país! Sei
que o papa Francisco reuniu um grupo de jovens economistas para
reflectir sobre alternativas de desenvolvimento para o nosso mundo.
Aguardo com grande expectativa as conclusões desse trabalho. Espero
muito dos jovens universitários. Que a investigação que aprofundam
sirva para traçar diretivas concretas que tornem o trabalho humano
mais fecundo e mais justo! Respeito as pessoas e instituições que procuram
aliviar o sofrimento alheio ou simplesmente valorizar o Bem,
com simplicidade. Gostei, por exemplo, de ouvir a apresentadora Filomena
Cautela, em entrevista a certo canal televisivo, quando lhe perguntaram
qual a qualidade que mais apreciava numa pessoa, responder:
‘a bondade, a bondade genuína’. s
12 saber ABRIL 2020
DECORAÇÃO
Casa - o novo espaço de trabalho
Atreva-se no mundo digital e crie um espaço de trabalho em
casa. Neste momento da história em que vivemos tempos
conturbados e atípicos, há que adaptar o nosso dia-a-dia
da melhor forma. Criar um escritório em casa é fulcral para
que se continue ativo física e mentalmente e se mantenham as rotinas
diárias. Para lutar contra a monotonia e ansiedade de ter de
permanecer em casa nos próximos tempos, é importante que não
se descurem os hábitos. Há que estabelecer horários, não ficar de
pijama o dia todo e apostar na criação de um escritório confortável
e funcional. Aposte numa cadeira bem confortável e numa secretária
espaçosa e com arrumação para que tenha à mão tudo o que
precisa. s
Tânia Tadeu (taniatadeu@taylor365.pt), Dora Sousa (dorasousa@redoute.pt) newsredoute.com/fotos
newsredoute.com/fotos
saber ABRIL 2020
13
madeira TURISMO
Publituris Portugal Trade Awards 2020 distinguiu Savoy Palace
A nossa atitude
positiva e foco mantêm-se
inalteráveis
Dulcina Branco
D.R. (DIREITOS RESERVADOS)
Devido à pandemia do novocoronavírus, a Comissão
Europeia divulgou recentemente uma projeção que indica
uma redução de 50% na atividade turística na Europa
este ano, estimando “consequências prolongadas” no
setor, sendo Portugal um dos países mais afetados dada
a “dependência do turismo estrangeiro”. O turismo
representa 8% do PIB e 9,8% do emprego em Portugal.
A Comissão Europeia antecipa para Portugal “uma forte
recuperação da economia após o choque inicial”, mas
alerta para que, “em alguns setores, particularmente
no turismo, espera-se que os efeitos secundários se
prolonguem”. Destino turístico de excelência - Melhor
Destino Insular do Mundo dos World Travel Awards -
a Madeira sente os efeitos nefastos da pandemia no
sector que é o seu motor económico. A pandemia mudou
completamente o cenário da região: deixou de haver
turistas a passear, os poucos passageiros que chegam por
avião têm de ficar em isolamento e o porto do Funchal
e os hotéis estão fechados, o mesmo acontecendo com
todas as atividades relacionadas. Todos os programas
do cartaz turístico programados entre a primavera e o
verão, como a Festa da Flor, os arraiais (festas populares)
e os eventos musicais foram adiados ou cancelados. Com
o setor parado, o turismo regista uma perda de receitas
de 112 milhões de euros por mês, disse o presidente do
Governo Regional, Miguel Albuquerque, na conferência
do Governo no mês de março. Face à crise anunciada, a
Região colocou em marcha um programa para arrancar
com o setor turístico em segurança, com uma grande
aposta no mercado nacional. Segundo o secretário
do Turismo da região, Eduardo Jesus, em declarações
à agência Lusa, “estamos a preparar tudo para que,
quando existir o sentimento de conforto relativamente
ao controlo da pandemia, possamos estar em condições
de arrancar imediatamente”. A abertura de uma linha de
apoios no valor de 100 milhões de euros e o lançamento
de um processo de certificação de “boas práticas na
gestão de riscos biológicos”, inovador ao nível mundial,
são medidas que avançam para restituir a confiança
aos turistas, muitos dos quais são clientes fidelizados e
habituais dos hotéis madeirenses. O parque hoteleiro
madeirense é mundialmente afamado, conquistando
prémios e distinções nacionais e internacionais. É o caso
do Savoy Palace, que conquistou o Prémio Publituris
Portugal Trade Awards 2020 na categoria de melhor
‘Luxuary Hotel’, de entre 90 nomeados em 16 categorias.
Os prémios Publituris e o impacto da pandemia nos
setores do Turismo e da Hotelaria deram o mote à
entrevista que foi respondida pelos responsáveis dos
Publituris e a administração da Savoy Signature.
14 saber ABRIL 2020
O que são os Prémios Publituris e quantas
empresas, ou organizações, estes
prémios já distinguiram?
Publituris: Anualmente, o Jornal Publituris
realiza dois eventos para distinguir a
excelência no Turismo em Portugal: os Publituris
Portugal Trade Awards, em março,
e os Publituris Portugal Travel Awards, em
setembro. Estas duas entregas de prémios
têm categorias diferentes entre si. Este ano,
2020, os Trade Awards celebram a sua 10ª
edição. Tivemos mais de 90 nomeados a
concurso em 16 categorias. Os nomeados
foram escolhidos pela equipa do Publituris
e os vencedores eleitos por uma média
ponderada entre os votos dos assinantes
da newsletter do Publituris (40%) e os votos
do júri (60%). Os Publituris Portugal Trade
Awards já distinguiram 150 empresas e/organizações.
Comparando com outras regiões turísticas
portuguesas, em que patamar está a
Madeira nestes prémios?
Publituris: A Madeira, sendo um dos principais
destinos turísticos do país e um dos
mais consolidados, naturalmente que tem
sempre destaque nos prémios dos Publituris.
Recordamos que, no passado, estes
prémios já distinguiram a cadeia PortoBay
(2012, 2013 e 2014) e município do Funchal
(2012).
Como é que os prémios Publituris se reflectem
nas organizações que os recebem?
Publituris: Estes prémios traduzem o reconhecimento
do setor do turismo aos seus
pares. Esta eleição resulta da votação dos
assinantes do Publituris, que são os profissionais
do setor turístico, e do júri composto
por diversas personalidades da área do
turismo. Ou seja, são os profissionais que
trabalham diretamente com as empresas
de turismo que estão a atribuir o prémio.
As empresas e as suas equipas devem encarem
este prémio como um incentivo para
continuarem o bom trabalho desenvolvido
até aqui. Por outro lado, os vencedores podem
exibir este “selo de qualidade” junto
dos seus clientes.
Como é que a organização dos prémios
Publituris vê a pandemia nos setores turístico
e hoteleiro?
Publituris: Com apreensão, porque o turismo
é um dos setores mais afetados pelas
consequências na economia da Covid-19. É
preciso, primeiro, conter esta propagação.
Depois, o governo central e os governos
regionais têm de dar respostas rápidas,
ágeis e em conformidade com as necessidades
do setor turístico, para que as empresas
desta área possam enfrentar este
período de inoperabilidade, mantendo a
capacidade de retomar a atividade assim
que possível. Estamos convictos que assim
que a pandemia estiver contida, o turismo
tem condições para retomar, desde que
as empresas tenham meios financeiros e
recursos humanos. O desafio é este: o de
manter o negócio, apesar de não existir o
mesmo volume de clientes durante um período
que ainda não conseguimos quantificar.
Não temos dúvidas que o turismo e as
viagens são já encaradas como um direito
da população. As pessoas querem viajar. Só
não o fazem se não tiverem dinheiro, se for
desaconselhado por questões de terrorismo
ou instabilidade política, ou, neste caso,
se estiverem impedidas por razões sanitá-
saber ABRIL 2020
15
madeira TURISMO
rias. Neste caso em particular, o que pode
dificultar a retoma é a falta de rendimento.
Por isso, é fundamental que haja medidas
de apoio económico às empresas para que
mantenham o emprego, para que as pessoas
possam continuar a consumir e retomem
as viagens.
O que representou para vós a conquista
de um Prémio Publituris Portugal Trade
Awards 2020?
Administração da Savoy Signature: Este
prémio enche-nos de alegria e orgulho e
veio reforçar ainda mais a nossa motivação
face a este projeto em que tanto acreditamos
desde o início. O facto de ser atribuído
por profissionais do sector acrescenta valor
a esta distinção pois mostra que estamos
no caminho certo. É, também, um reflexo
da dedicação de toda a equipa Savoy Signature
e de todos aqueles que dão o seu
melhor e mantêm elevados os padrões de
qualidade de serviço no Savoy Palace (e
em todos os nossos hotéis). Um galardão
deste cunho, estando o Savoy Palace aberto
há menos de um ano, mostra que podemos
contribuir de uma forma muito positiva
para o sector da hoteleira, assim como
para o Turismo regional e nacional. O Savoy
Palace representa uma mudança de paradigma
para quem procura uma oferta de
luxo na Madeira e é essa mesma excelência
que vemos agora premiada. Pretendemos
manter e reforçar o nosso contributo para
o sector e para o próprio desenvolvimento
da nossa Região. Esta é a nossa missão.
Como vê a pandemia nos setores turístico
e hoteleiro e que estratégias estão a
ser adotadas para minimizar o impacto
económico?
Administração da Savoy Signature: É com
menos alegria que vivemos esta fase mas
a nossa atitude positiva e foco mantêm-se
inalteráveis. Os tempos não são fáceis para
o Turismo e as consequências diretas na
hotelaria são evidentes e inevitáveis: o cancelamento
de ligações aéreas, o regresso
antecipado a casa dos nossos hóspedes e a
quarentena imposta aos que chegam à Madeira
deixam os hotéis vazios. Estamos em
preparação da operação da Savoy Signature
para o arranque após a paragem forçada.
O futuro é incerto mas a esperança em
dias melhores alimenta a nossa proatividade
na definição de estratégias e planos de
ação para o período de recuperação. O sector
do Turismo vai enfrentar grandes desafios
e o perfil do viajante irá certamente
mudar. Temos que antecipar tendências e
estar preparados para o que aí vem. É esse
o trabalho que as nossas equipas têm desenvolvido
nesta fase. Uma das formas de
minimizar os efeitos e impacto no sector é
precisamente o recurso a apoios governamentais
e apelar a que estes sejam imediatos.
Sendo o Turismo determinante para o
futuro de Portugal e, em particular, da Região
Autónoma da Madeira, urge envolver
todos os players e unir esforços pelo bem
comum. s
16 saber ABRIL 2020
NUTRIÇÃO
Alison Karina
de Jesus
Alison Karina de Jesus
Nutricionista (2874N)
facebook.com/nutricionalmentebem
instagram.com/nutricionalmentebem
info@nutricionalmentebem.com
https://nutricionalmentebem.com/
INTERNET
Compra de alimentos em situações de isolamento
Numa situação de isolamento, é importante
garantir a disponibilidade
de alimentos que permita assegurar
as necessidades alimentares
por um período mais longo de tempo, sendo
a otimização do momento de ida aos supermercados
essencial para evitar deslocações
frequentes às compras. É essencial fazer
um adequado planeamento, antes de ir às
compras. Para tal devemos ter em conta a
necessidade de fazer uma lista de compras
organizada para assegurar a compra de
todos os alimentos que necessitamos, permitindo
evitar as idas frequentes ao supermercado.
Para organizar a lista de compras
devemos verificar os alimentos que ainda
temos disponíveis em casa e ter em conta
a capacidade de armazenamento à temperatura
de refrigeração e congelação. Para
além disso convém planear as diferentes
refeições que pretendemos fazer, assegurando
a utilização dos alimentos que ainda
temos disponíveis em casa e de modo a que
seja possível não esquecer todos os ingredientes
necessários para a sua confeção.
É fundamental planear e comprar apenas
aquilo que é necessário. Em relação aos alimentos,
opte pelos alimentos do grupo dos
cereais e derivados e tubérculos. A compra
de pão poderá ser uma opção caso exista
capacidade de armazenamento no domicílio
para congelar o pão. Pode sempre optar
por comprar farinha e fazer o seu próprio
pão. Sobre os hortícolas, opte pelos que têm
maior durabilidade: Cenoura, cebola, curgete,
abóbora, brócolos, couve-flor, feijão-
-verde e os congelados. Relativamente à
fruta com maior durabilidade temos a maçã,
pera, laranja e tangerina. Do grupo da carne,
pescado e ovos, destacam-se os ovos como
alimentos que apresentam uma boa durabilidade,
uma elevada riqueza nutricional e
que não necessitam de estar armazenados
no frigorífico. As conservas de pescado também
podem ser utilizadas para algumas das
refeições e o pescado e carne poderão ser
adquiridos quer em congelado ou fresco,
contudo o pescado e a carne frescos devem
ser utilizados para os primeiros dois/três
dias. Se ao final do 3º dia não tivermos utilizado
todo o peixe ou carne frescos, de forma
a aumentarmos a sua durabilidade, podemos
congelar ou então confecionar para
consumir mais tarde. Lembrar que os alimentos
confecionados conservam-se bem
e com qualidade por um período de 3 dias
no frigorífico. As leguminosas (feijão, grão,
ervilhas, lentilhas...), tanto as versões em
conserva como as secas podem ser opções
a considerar. As leguminosas têm proteínas
de elevada qualidade, que podem ser alternativas
à carne e pescado. Assim, pode sempre
experimentar fazer algumas refeições
sem carne ou pescado. O leite bem como as
bebidas vegetais têm uma boa durabilidade,
pode e deve considera-los no seu carrinho
de compras. No meio da ansiedade e da
vontade de petiscar, os frutos oleaginosos
(nozes, amêndoas, avelãs) podem ser uma
boa opção como snack e são produtos com
elevada durabilidade. Siga estes conselhos e
acima de tudo: proteja-se!. s
saber ABRIL 2020
17
OPINIÃO
Hélder Spínola
Biólogo/Professor Universitário
STOP
Mas, em todas as escolhas
tiramos aprendizagens que nos
tornam melhores ou piores. Eu
olho o horizonte e relembro o
caminho que escolhi. Queria que
tivesse sido outro. Mas outro
caminho poderia não ser o certo
para eu ser o que sou hoje.
A
espécie humana, como qualquer
outra, surgiu da evolução da vida
na Terra e, apesar de toda a roupagem
que as civilizações se fazem
rodear, continua a ser, como qualquer outra,
uma realidade biológica e dependente da
natureza, manifestando uma necessidade
intrínseca em manter essa ligação. A sobrevivência
das populações humanas sempre
dependeu dos recursos obtidos a partir do
ambiente natural e, embora agora disponha
de uma enorme capacidade tecnológica
para explorar, processar e transformar esses
recursos, na maior parte do tempo da sua
história e pré-história a humanidade viveu
como qualquer outra espécie, intimamente
dependente das condições e provisões diretas
da natureza. À medida que as populações
humanas foram-se apetrechando de
tecnologia e conhecimento, sentiram-se cada
vez menos submetidas às leis da natureza e,
com esse sentimento, posicionaram-se a si
próprias num patamar superior e exterior. A
cultura judaico-cristã é bem reveladora desse
distanciamento cultural e conceptual, sendo
uma clara evidência dessa visão a passagem
bíblica do livro do Génesis que se encontra
no versículo 28 do capítulo 1, referente às
palavras de Deus após a criação da mulher e
do homem: “Deus abençoou-os e disse-lhes:
Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei e submetei
a Terra; dominai os peixes do mar, as
aves do céu e todos os seres vivos que rastejam
sobre a terra”. Esta redação terá sido desenvolvida
há alguns milhares de anos, mas
já é reveladora do posicionamento humano
face à restante natureza, considerada inferior
e meramente instrumental. Os desequilíbrios
ambientais que hoje nos atingem resultam
da exploração de recursos e emissão de poluição
muito para além da capacidade da Terra
em repô-los e depurá-la, respetivamente.
Já há muito tempo que grande parte da humanidade
havia ajustado a sua mentalidade
cultural para explorar a natureza muito para
além dos seus limites e equilíbrios, mas só no
último meio século é que dispôs da dimensão
e capacidade tecnológica para atingir esse patamar.
E só depois de aqui chegar e começar
a sentir na própria pele as consequências dos
seus atos é que começa a tomar consciência
de que, afinal, não está acima das leis da natureza
e dos seus limites. Apesar disso, e de
todas as evidências, a humanidade ainda não
retrocedeu no caminho de insustentabilidade
que tem vindo a trilhar, nem mostra sinais
evidentes de que o irá fazer brevemente. Os
desequilíbrios e as preocupações ambientais
estão muito longe de constituírem um assunto
novo. Sendo um problema que se arrasta,
há, necessariamente, todo um contexto que
se agrava, ao ponto de termos perdido, nas
últimas décadas, todas as oportunidades
para resolvê-lo, ou pelo menos para atenuá-
-lo, de forma gradual e com o tempo necessário
para aligeirar o desconforto que sempre
vem associado a qualquer mudança. A gravidade
e a amplitude dos desequilíbrios ambientais
exigem, hoje, uma atuação mais imediata
e consequente. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, no mundo, nove em cada
dez pessoas respira ar de má qualidade, morrendo,
todos os anos, mais de 7 milhões de
pessoas devido à poluição do ar. As emissões
poluentes resultantes da queima de combustíveis
fósseis reduzem em mais de um ano
a esperança média de vida da humanidade,
subtraindo anualmente à humanidade mais
de 230 milhões de anos. Cerca de um milhão
de espécies estão ameaçadas de extinção e
a taxa de extinção acelera a um ritmo nunca
antes registado na história da humanidade.
Em média, por ano, desde 2014, uma
área correspondente ao tamanho do Reino
Unido tem sido desflorestada e a destruição
das florestas tropicais primitivas aumentou
em 44%. A produção e dispersão de plástico
é de tal forma elevada que já está presente
sob a forma de microplástico na comida que
comemos, na água que bebemos e no ar que
respiramos, podendo representar a ingestão
de 280 micropartículas de plástico por dia.
Como corolário destes e de muitos outros
desequilíbrios ambientais provocados pela
humanidade, surgem as alterações climáticas,
problema que não foi atempadamente e
devidamente considerado pela comunidade
internacional, obrigando a que hoje a fasquia
seja colocada muito abaixo do que seria
necessário para que os seus efeitos fossem
desprezáveis. Seremos capazes de arrepiar
caminho por nossa própria vontade ou só
iremos fazê-lo quando as consequências dos
nossos atos nos obrigarem a isso?. s
18 saber ABRIL 2020
animais
Natália Vieira
Presidente da direção ANIMAD
Sobreviver
ao covid-19
na ANIMAD
Os custos duma organização
como a nossa, sem finslucrativos,
são altíssimos
e muitos não entendem.
Os pedidos de ajuda continuam
a chegar à nossa caixa de correio
e o nosso coração chora por não
conseguirmos ajudar mais.
Sobreviver ao covid-19 na ANIMAD
é um desafio diário, agora, mais
preocupados do que nunca e
vivendo também a incerteza do
futuro. A altura é difícil para muitos. A falta
de trabalho, a preocupação e a incerteza
são motivos mais do que suficientes
para que as pessoas deixem de ajudar as
associações. Com 150 cães para alimentar
no abrigo, 60 gatos e muitos mais animais
de famílias carenciadas e colónias, as
nossas orações ao Universo são para que
jamais falte comida para os nossos animais.
Desafiando o perigo, mas tomando todas
as precauções necessárias, deslocamo-nos
quase diariamente aos supermercados
com o objectivo de recolher os sacos
impróprios para venda mas que estão em
boas condições para alimentar os animais.
As necessidades de cuidados veterinários
continuam e a dívida ao Hospital Veterinário
da Madeira aumenta de dia para dia.
Actualmente com três animais internados,
suplicamos aos deuses para que preserve
a saúde dos nossos e dos que andam pelas
ruas. Os custos duma organização como a
nossa, sem fins-lucrativos, são altíssimos
e muitos não entendem. Os pedidos de
ajuda continuam a chegar à nossa caixa de
correio e o nosso coração chora por não
conseguirmos ajudar mais. Vale-nos o apoio
incondicional dos nossos amigos de quatro
patas que, sem a mínima preocupação,
saltam e correm felizes, agradecendo-nos
com umas fortes lambidelas. Estamos cá por
vocês, hoje e sempre. s
saber ABRIL 2020
19
FLORES DA MADEIRA
Francisco de Gouveia Gomes
Fotógrafo autoditata
Cravo
Francisco de Gouveia Gomes é
natural da freguesia de Santa
Maria Maior, concelho do
Funchal, onde nasceu a 21 de
Maio de 1952. Fez o curso de
Mestrança de Construção Civil e
o curso de Design (inconclusivo)
da Universidade da Madeira. A
fotografia é um passatempo que,
desde muito novo, complementa
este fotógrafo autodidata que
tem na Natureza, “pela sua
exuberância e deslumbramento,
sempre diferente e inconstante
e que vai ao encontro da minha
maneira de ser e estar na vida”, a
sua grande fonte de inspiração.
Wikipédia (enciclopédia livre)
Francisco Gomes
Em Portugal, o cravo-vermelho é o
símbolo da Revolução dos Cravos (25
de abril de 1974). Símbolo das mães
em vida e os cravos brancos o símbolo
das mães que já partiram (Anna Jarvis).
O craveiro (Dianthus caryophyllus) é uma
planta herbácea, pertence à família Caryophyllaceae,
género Dianthus e as suas flores
são denominadas cravos. O cravo é de
folhagem perene, ou seja, as suas folhas
mantêm-se verdes durante todo o ano.
Existem 300 espécies de craveiros e várias
centenas de híbridos. A flor tem múltiplas
pétalas, com bordas recortadas e cuja cor
original é o púrpura rosado. As tonalidades
das flores variam desde o clássico vermelho
até ao rosa, amarelo, branco e mesmo
cores mistas. À mesma família das cariofiláceas,
pertence a cravina ou o cravo-bordado
(dianthus plumiarius). Certas variedades
exalam um aroma delicado, motivo pelo
qual são utilizadas na fabricação de perfumes.
Os cravos reproduzem-se por meio
de sementes e necessitam de solo quente,
sem excessiva humidade. A maioria das
espécies de formigas domésticas são altamente
repulsivas ao cravo, sendo este
um bom agente para combater invasões.
Muito característico da Península Ibérica,
o cravo distribui-se pelas regiões mediterrâneas.
Há mais de 2000 anos esta planta
já era utilizada pelos gregos em coroas de
cerimónias. Ao longo da história, esta flor
tem assumido vários significados - fidelidade
matrimonial (Renascimento) e o amor
pelos pais (Coreia). Nos nossos dias, o belo
cravo é uma das plantas mais usadas na decoração.
s
20 saber ABRIL 2020
saber ABRIL 2020
21
CAPRICHOS DE GOES
Diogo goes
Professor do Ensino Superior e Curador
A felicidade
acontece
agora
Não estejamos, por isso, à
espera de viver mais tarde
aquilo que temos oportunidade
de viver no presente, porque ao
não fazê-lo corremos o risco de
passarmos pela vida, sem nunca
a termos vivido.
No livro de André Comte-Sponville,
de 2001, intitulado «A Felicidade,
desesperadamente», na
sua tradução para Português,
esta fórmula de Woody Allen revela no seu
essencial que estamos separados da felicidade
pela nossa própria incapacidade de
nos libertarmos da nossa esperança, almejando
uma outra felicidade, talvez utópica,
sempre futura e sempre melhor do
que a do presente. Porque, como escreveu
Saint-Exúpery «o essencial é invisível
aos olhos». E com isso, não maximizamos
a experiência de fazer de cada momento
presente, instante de verdadeira felicidade
e não apenas um instante de banalidade,
aceitação e comodismo com o estado
das coisas e da nossa própria existência
enquanto seres humanos. Não olhamos o
essencial, enquanto não olharmos a face
do outro. E como dizia Platão, «de facto
quem não deseja ser feliz?» E custa tanto
perceber que a nossa felicidade, passa
necessariamente pela felicidade do outro.
A sabedoria, desta proposta e modelo de
felicidade, «seria viver de verdade, em vez
de esperar viver. Só teremos felicidade à
proporção da desesperança que seremos
capazes de atravessar. A sabedoria é isso
mesmo: a felicidade, desesperadamente.»
O autor conclui que, «não há sabedoria
que não seja alegria» e «não há alegria
que não seja de amar.». Vem isto a propósito,
do atual momento, das dificuldades
pandémicas e Dantescas que o mundo no
qual vivemos – nosso lar – se está defrontar.
No momento em que escrevo, cumpro
vinte dias sem sair de casa – irei continuar
– porque as instituições representativas,
que exercem a soberania num estado de
direito democrático – nas quais acredito
- assim apelaram coletivamente e depois,
assim o determinaram com a força da lei.
Porque o direito à vida, é um direito inviolável,
não porque apenas é uma premissa
inscrita na Constituição, mas porque é um
valor intrínseco, fundamental à existência
e à condição do Ser Humano, exercer
22 saber ABRIL 2020
a minha liberdade significa portanto, necessariamente
ser responsável para com
o outro. Para que, a minha liberdade não
determine a liberdade da outra pessoa,
que partilha comigo este mesmo mundo,
e para que não seja eu – cada um de nós
- a determinar o direito de cada um viver.
É porque acredito no estado de direito democrático,
que aceito os determinismos
à minha liberdade, pela qual os nossos
antepassados lutaram, mas que isso, não
signifique a perda do meu espírito crítico,
nem por isso desculpabilize, o estado a
que chegámos. Nem desculpabilize, num
momento em que todos poderão mostrar
o melhor de si, que se promova o ódio
contra os mais velhos e a xenofobia por
turistas e estrangeiros, como se houvesse
gente de fora deste mundo, que tornámos
global. A resposta terá de ser solidariamente
coletiva e universal, merecendo-se lutar
por todas as vidas. Porque todos somos
significantes. Depressa todos nos tornámos
estrangeiros dentro da nossa própria
casa, porque provavelmente, passámos
mais tempo fora dela, no trabalho, na escola,
no lazer, do que no lugar partilhado,
em que habitam as pessoas que amamos.
E em devida medida, todos nós contribuímos
para este estado de coisas, uns pela
inoperância, outros por participarem ativamente
num espírito do capitalismo, do
hiperconsumo, corroborando as guerras
económicas, a especulação financeira e o
esvaziamento das instituições públicas e
das funções do estado social. Ironicamente
são as pessoas as se substituírem e a
doarem às instituições do estado, aquilo
que lhes foi sonegado, durante décadas
de suborçamentação e cortes financeiros.
Dostoiévski disse que “todos somos responsáveis
de tudo, perante todos” e essa
responsabilidade implica necessariamente,
revelarmos o melhor de nós, na partilha
do sofrimento, na preocupação pelo bem
estar de cada ser humano. O neoliberalismo
do século XXI, esvaziou o estado social
e com ele perpetuou a hegemonia dos
poderes, muitos dos quais ocultos e não
democráticos. Será por isso, de facto, que
o nosso melhor contributo é resumirmo-
-nos à condição passiva de auto-isolamento,
já não voluntário e obedecer? Perigoso
quando se limita o acesso à informação
e fazendo-se valer da oculta vontade que
tudo ambiciona, se faça florescer e se justifique
fenómenos de censura, vigilância
e controlo, mesmo que muitas das vezes
ineficaz? Mais perigoso, no entanto, é que
tal se aceite e justifique em busca de uma
esperança de felicidade futura, para que
tudo seja igual, como era antes... Nada
poderá ser igual, não poderemos voltar
ao nosso modo de vida habitual, porque o
problema foi exactamente esse. Sabemos
no entanto – eu acredito – que a felicidade
tem de ser construída já hoje – mesmo,
nas atuais circunstâncias, no momento em
que vivemos. Caso contrário estaremos a
adiar a nossa própria felicidade, à espera
de um futuro, que tarda em chegar. Não
estejamos, por isso, à espera de viver mais
tarde aquilo que temos oportunidade de
viver no presente, porque ao não fazê-
-lo corremos o risco, de passarmos pela
vida, sem nunca a termos vivido. Nunca
me apercebi, da existência de tanta gente
a defender quase de um modo egoísta
a sua própria vida, em vez de defender
a dos outros, como que se só se dessem
conta agora, de que era finita e efémera e
como se descobrissem o medo da morte.
É porque toda a vida, adorei vivê-la pela
sua finitude, que não aceito que os determinismos
à minha (e nossa) liberdade se
transformem em determinismos à minha
(e nossa) felicidade. Tomámos depressa a
consciência de que tudo é efémero e de
que nãos somos imortais. De repente parece
que tardiamente nos demos de conta
que queremos viver. Sem nos darmos de
de conta, que provavelemente passámos
a vida a proceder de modo contrário, inclusive
defendendo a liberdade de querer
morrer. Não faltaram arautos dessa destemida
liberdade. Porventura faltam hoje os
tantos que defendam a liberdade de querer
viver. Mas entre quatro paredes não
guardamos a vida! Antes, fingimos vivê-la,
como um poeta, morremos com ela, mais
depressa... Não é a vida que protegemos,
é a vida que ao guardá-la tão bem, corremos
o risco de não estar a vivê-la. Não sei
quanto tempo durá a nossa clausura coletiva,
que nos possibilita ter tempo para
pensar, ter tempo para Amar. Provavelmente
far-nos-á bem na sua devida medida,
mas a questão que se levanta é, até
quando estaremos dispostos, enquanto
sociedade, a abdicar da nossa própria vontade
de viver, implicando necessariamente
tomarmos consciência da nossa própria
finitude? Como católico, permitam-me
tomar algumas ideias de São Tomás de
Aquino, na sua Suma Teológica, que retomando
Santo Agostinho, talvez me inspira
encontrando o mais essencial e radical
para a nossa vida: a coragem da “desesperança”.
Não haja, nem mais fé, nem esperança,
que haja só Amor. Segundo São Tomás,
o próprio Cristo nunca teve «nem fé
nem esperança» - porque Ele era a própria
razão da (nossa) Fé e sinal da verdadeira
Esperança, e no entanto Ele era «de uma
caridade perfeita» - de Amor perfeito. Saibamos
por isso, ao ser razão e sinal desse
Amor para com o próximo, construamos
a nossa própria Felicidade, todos os dias
da nossa vida. O Papa Francisco numa recente
homilia na Praça de São Pedro em
Roma, lembra-nos por isso, desta razão
coletiva, que só é possível construirmos a
nossa felicidade quotidiana, se estivermos
juntos, pois como diz «estamos todos neste
barco e ninguém se salva sozinho». s
saber ABRIL 2020
23
PUBLIREPORTAGEM
Departamento Comunicação e Imagem da Câmara Municipal do Funchal
“A Cultura Que Nos Une”
entra em casa dos funchalenses
O
Funchal criou uma agenda cultural
para resistir à crise. “A Câmara
Municipal, através da Divisão
de Turismo e Cultura, reinventou
toda a sua programação para os meses de
abril e maio, em virtude da crise de saúde
pública, e avançou com uma proposta de
40 eventos que aconteceram no local mais
próximo e seguro possível para os funchalenses,
e todos os madeirenses que assim
se quiseram juntar a nós: a sua casa”, anunciou
o Presidente Miguel Silva Gouveia. Até
ao final de maio, e sob o mote “A Cultura
Que Nos Une”, a Autarquia preparou uma
multitude de momentos que foram transmitidos
nas redes sociais camarárias, com incidência
nas páginas oficiais de facebook e
instagram da Câmara Municipal do Funchal,
do Teatro Baltazar Dias, dos museus municipais
Henrique e Francisco Franco e A Cidade
do Açúcar, e ainda da Biblioteca Municipal
do Funchal. O Presidente explicou que
“o Funchal integrou, assim, aquele que tem
sido um movimento nacional materializado
em plataformas digitais, no sentido de desafiar
os artistas a continuarem a desenvolver
projetos nas suas respetivas áreas. Desde
o início desta pandemia, os museus, cinemas,
teatros e monumentos encerraram,
deixando a cultura, e os profissionais que
dela dependem, quase parada. Mas a cultura
é um bem essencial e não pode parar.
É por isso que, na procura de alternativas, e
24 saber ABRIL 2020
num setor em que muitos são trabalhadores
independentes, a Câmara Municipal do
Funchal preparou um programa com novos
conteúdos para abril e maio de 2020, garantindo
que todos os trabalhos serão pagos,
o que é fundamental para apoiar a sustentabilidade
dos nossos artistas.” O programa
contemplou uma grande variedade de
eventos, a começar pela tertúlia a “Cultura
em Contingência”, transmitida em direto
através do facebook da CMF, contando com
a participação de Miguel Silva Gouveia, Rui
Camacho, Élvio Camacho, Hélder Folgado e
Henrique Amoedo. O ponto alto da programação
foram, contudo, os concertos em direto,
a decorrerem no facebook e instagram
oficiais da Autarquia. O primeiro decorreu a
10 de abril, e contou com Flor, num espetáculo
transmitido a partir da Torre dos Paços
do Concelho. “Esta é a particularidade especial
que fizemos questão de incluir no programa
que oferecemos à população. Numa
altura em que todos os espaços municipais
de interesse cultural estão fechados, entendemos
que seria uma experiência ainda
mais especial se pudéssemos levar um pouco
dos espaços icónicos do Funchal a casa
das pessoas, a par da música, e é isso que fizemos.”
Desta forma, e para além da estreia
na Torre, Miro Freitas atuou no dia 17 de
abril a partir do Lido, enquanto Tiago Sena
Silva honrou a memória do 25 de Abril na
véspera, e no jardim interior dos Paços do
Concelho. Cristiana Barbosa e Vitor Abreu
atuaram, por sua vez, na sala da Assembleia
Municipal a 8 de maio e, finalmente, Sofia
Ferreira e Pedro Marques encerraram este
ciclo no dia 22, no incontornável Mercado
dos Lavradores. A programação do Música
nos Museus prosseguiu em direto nas páginas
dos museus municipais, onde decorreram,
igualmente, visitas virtuais aos respetivos
espólios. O programa para estes dois
primeiros meses incluiu ainda teatro, documentários
e oficinas de dança, de música e
de artes plásticas, as quais decorreram nos
canais do Teatro Municipal Baltazar Dias (facebook
e instagram), contando com a participação,
em direto, de nomes como André
Santos, Lidiane Dualibi, Norberto Cruz, António
Lima, Mariana Camacho, Miguel Pires,
Gonçalo Caboz e Rui e Helena Camacho.
Finalmente, a componente literatura foi assegurada
pelo facebook da Biblioteca Municipal
do Funchal, com contos diários, entre
outros. “Os tempos que correm exigem que
sejamos cada vez mais criativos e ágeis na
procura de novas soluções, mas sempre
defendendo valores que para nós são essenciais,
como a democratização no acesso
à cultura, enquanto bem essencial, e a valorização
dos artistas regionais e do nosso
património. Acreditamos que tudo isso está
vertido nesta programação que oferecemos
à comunidade e será um prazer levá-la até
casa das pessoas, acalentando tempos difíceis
como aqueles que vivemos, com proximidade
e partilha da cultura comum que
nos une.” s
visite o novo site, mantenha-se informado!
PUB
notícias
medidas
empresas
informações úteis
recomendações
https://covid19.cm-funchal.pt/
saber ABRIL 2020
25
viajar coM saber
ANTÓNIO CRUZ
AUTOR E VIAJANTE › antonio.cruz@abreu.pt
Ilha d’Orleans
1] São cerca de 7000 as pessoas que a habitam. São 200 quilómetros
quadrados distribuídos de forma plana e harmoniosa. Tem vinhas, tem
casas de chocolate tradicionais, tem casas perfeitas ao olhar, tem tudo
para resultar num local prazeroso e para onde apetece ir sem intenções
de regresso.
Ali mesmo em frente à cidade do Quebeque existe
um espaço encantado. Pequeno e charmoso, foi
escolhido pelas famílias de maiores posses para
instalar a sua residência permanente ou tão-só de
retiro pontual. É, também ele, um lugar único por
entre as idiossincrasias das geografias canadenses.
E aqui tudo é realmente perfeito! É a Ilha d’Orleans.
António cruz › António Cruz escreve de acordo com a antiga ortografia
1]
26 saber ABRIL 2020
2]
3]
2] O dia começaria com um pequeno-almoço fantástico
num espaço não menos fantástico e alternativo, o Café La
Maison Smith.
3] Continuaria por uma das inevitáveis chocolatarias da ilha…
5] Uma paragem obrigatória numa banca de venda de morangos
de produção local…
4]
5]
4] Incluiria momentos de ternura como os que a imagem ilustra…
6] E um périplo fantástico pelas fantásticas casas em que a ilha
d’Orleans é rica.
7] Mais um daqueles spots que surpreendem pela diferença,
pelo bom gosto, pela forma quase cândida como se apresentam,
pela ternura que inspiram, pelo sorriso que abrem, pelo
olhar que permanece. Pelo romantismo de que estão imbuídos.
7]
6]
saber ABRIL 2020
27
em análise...
Francisco Gomes
Analista político
E qual é
o impacto
na sua vida?
Nas redes, como em tantos
outros aspectos da vida, em
todos os excessos há um mal.
Carolina rodrigues
As redes sociais criaram um espaço
infinito para a livre circulação de
ideias e de opiniões. Aliás, é hoje
um facto inegável que as mesmas
estão presentes em praticamente todas as
horas do dia das pessoas, sendo lugar-comum
cruzarmo-nos com homens e mulheres
que caminham de telemóvel em punho,
acedendo às redes e bebendo das últimas
partilhas. Todavia, não é menos verdade que,
no contexto das redes, e à distância de um
clique, passamos do acesso aos pensadores
mais brilhantes para a mira de criminosos,
para o alvo dos mais insuspeitos maus-carácteres
e para todo um enredo complexo
de notícias falsas, mentiras com fins políticos,
campanhas de ódio, constrangimentos
públicos, agressões verbais, preconceitos,
assédios, exposições de intimidade e tribunais
instantâneos, que elevam ou enterram
as reputações de celebridades e o carácter
de cidadãos comuns sem a menor piedade.
Face a uma realidade de tais proporções, há
uma pergunta que legitimamente vem ao
pensamento: Que impacto é que as redes
sociais têm nas nossas vidas? Ao nos debruçarmos
sobre este assunto, a conclusão
que se impõe naturalmente, como resultado
de tudo aquilo que hoje sabemos sobre
as redes sociais, o seu alcance e a profundidade
da sua influência, é a de que, muito
mais do que influenciar a moda, criar novos
estilos, incentivar novos comportamentos,
apelar a novos valores ou ditar renovadas
tendências, as redes socias têm o poder de
mudar o mundo no curto espaço de uma
geração. Este enorme potencial expressa-
-se de três maneiras diferentes, todas elas
igualmente marcantes. Primeiro, porque
as gerações mais novas, especialmente os
jovens, espelham-se uns nos outros, procuram
integrar grupos sociais, e, mais do que
qualquer outro grupo demográfico na história
da humanidade, vivem na era da tecnologia,
movendo-se, em demasia, pelo número
de ‘likes’ que recebem nas suas fotos e nas
suas publicações, o contexto virtual que encontram
nas redes assume uma relevância
28 saber ABRIL 2020
desproporcional, que é trágica, mas incontornável,
pois molda o seu comportamento
e a forma como pensam sobre o mundo e
sobre si mesmos. Não é mais possível anular
o impacto da informação partilhada nas
redes, restando, apenas, sensibilizar os mais
novos para os muitos cuidados que devem
obrigatoriamente ter na gestão da sua presença
pública nas muitas redes sociais que
estão ao seu dispor e alcance. Segundo, o
alcance das redes sociais já penetrou o quotidiano
das empresas, dos estabelecimentos
de ensino, das instituições da governação,
dos profissionais, dos casais, dos pais e até
das religiões. Também nestes contextos, as
redes têm desempenhado, a par de outras
funções, um papel muito significativo na troca
de informações pertinentes, na criação
de conteúdos relevantes, na promoção de
novas indústrias, na geração de novas fontes
de riqueza e até na criação de oportunidades
de emprego que não existiam em
gerações anteriores, distantes da realidade
digital contemporânea. Há muito de positivo
nesta evolução e não restam dúvidas de que
um mundo com redes digitais é um mundo
mais interactivo, mais comunicativo e mais
globalizado do que um mundo sem redes sociais.
Dito isto, há muito que as redes sociais
não podem proporcionar, nomeadamente
a interacção, o ambiente social e o contacto
humano, que são elementos fundamentais
para uma existência individual e colectiva
equilibrada. Ter consciência deste aspecto
é importante para evitar os muitos efeitos
nefastos que a ciência releva como estando
associados ao uso excessivo ou indevido
das redes sociais, entre os quais isolamento
social, sedentarismo, diminuição do rendimento
laboral, dificuldade em estabelecer
relações humanas reais, superficialização
das relações interpessoais, e, em casos mais
graves, sintomatologia ansiosa ou depressiva.
Nas redes, como em tantos outros aspectos
da vida, em todos os excessos há um
mal. Terceiro, as redes socias têm vindo a
ser, e poderão sê-lo cada vez mais, a plataforma
para a organização de grandes manifestações
e mobilizações. Um dos exemplos
mais destacados deste fenómeno foi a Primavera
Árabe, a onda revolucionária de protestos
que tiveram lugar no norte de África
e no Médio Oriente, exigindo, e, em alguns
casos, implementando, mudanças culturais
e políticas de grande magnitude na Tunísia,
Egipto, Arábia Saudita, Argélia e Líbia. Fortemente
influenciadas pelas ondas de contestação
germinadas e propagadas através das
plataformas sociais, estas campanhas de
resistência civil conseguiram, com justa eficácia,
fazer incidir a atenção da comunidade
internacional e dos canais de comunicação
social sobre a repressão, a censura e as violações
de Direitos Humanos exercidas pelos
regimes abusivos daquelas regiões, conferindo
à sociedade civil uma oportunidade
para conquistar direitos que lhe têm sido
violentamente suprimidos durante décadas.
Por isso, é óbvio que, pela comunicação que
potenciam, pela força que dão a situações
da vida real, pela influência que têm na opinião
pública e pelos conteúdos que permitem
facilmente criar e disseminar, as redes
sociais estão e passarão a estar para sempre
interligadas de forma muito próxima e íntima
com o exercício da governação, não só
a nível local, mas também a nível nacional e
até internacional. Sendo claros os riscos que
as mesmas amplificam a situações de repressão
psicológica, arbitrariedades opinativas
e até desinformações tendenciosas (popularmente
denominadas de fake news), as
redes socias são parte integrante da política
do presente e do futuro e não mais haverá
um movimento, um partido, um candidato
ou um líder eleito, num estado evoluído ou
num país sub-desenvolvido, que conseguirá
atingir os seus objectivos sem afirmar a
sua voz e o seu espaço no no Facebook, no
Twitter e no Instagram. Trump e Bolsonaro
são exemplos paradigmáticos disso mesmo,
e, em conjunto, têm mais de oitenta e
cinco milhões de seguidores da plataforma
do pássaro azul. Mas Narendra Modi, primeiro-ministro
da India, também o é, com
cinquenta e sei milhões de seguidores, e
ninguém suplanta Barrack Obama, que atinge,
com cada mensagem, cento e dezasseis
milhões de fãs, mais do que dez vezes a população
de Portugal.
Antes de falecer, em Fevereiro de 2016, o
filósofo e linguista italiano Umberto Eco
debruçou-se sobre o tema das redes sociais,
e, com a capacidade analítica que lhe era
mundialmente reconhecida, o homem que
nasceu entre as duas grandes guerras condenou
os comportamentos ofensivos que
encontramos diariamente nas diversas plataformas
digitais de interacção social. Explicando
que nelas proliferavam apelos às classes
sociais mais frustradas e desvalorizadas
pela crise económica e pelas lideranças políticas
para que assumam comportamentos
desviantes e deem voz a uma postura de
ataque a tudo o que não se conforme ao
pensamento das massas protegidas pelo
anonimato, Eco caracterizou as redes sociais
como um meio social subalterno, onde
agem veículos de um fascismo primordial.
Quando nos deparamos com a intransigência,
o sectarismo, a fraca argumentação
e, por vezes, o baixo nível do discurso, que
já existiam no mundo off-line, mas que foram
transportados para o mundo virtual, é
impossível não partilhar a observação feita
por Umberto Eco no estudo referido acima
de que “As redes sociais deram o direito à
fala a legiões de imbecis que, antes, falavam
só no bar, depois de uma taça de vinho, sem
causar dano à colectividade. Diziam-lhes
imediatamente para calar a boca, enquanto,
agora, têm o mesmo direito à fala que um
vencedor do Prémio Nobel.” Num mundo
complexo e de transformações aceleradas,
o comentário toca bem no âmago da identidade
perigosa e arriscada das redes. Contudo,
é um erro pensar que este é um desafio
que se coloca apenas às gerações mais novas.
Pelo contrário, é necessária a consciencialização
de todos os usuários daquelas ferramentas
para que os recursos que também
potenciam a integração de pessoas, a partilha
de informações, o surgimento de novas
oportunidades e a disseminação de ideias
e projectos não se convertam apenas num
instrumento de prossecução, repressão e
arbitrariedade. Sabedoria e ponderação são
as palavras-chave. E, a encerrar, uma pergunta:
Qual é o impacto das redes sociais na
sua vida?. s
saber ABRIL 2020
29
AVES DA MADEIRA
JOSÉ FRADE
Fotógrafo autoditata
José Frade nasceu há 53 anos no
concelho de Cascais. Trabalha
no sector automóvel mas foi
a sua paixão pela fotografia,
principalmente a fotografia de
natureza, que o fez aprofundar
os seus conhecimentos sobre
as aves e consequentemente
aderir ao grupo "Aves de Portugal
Continental", grupo esse criado
pelo Armando Caldas, mas, como
membro desde o primeiro dia,
foi convidado pelo fundador, em
conjunto com ele, administrar
o referido grupo, vendo aí uma
oportunidade para partilhar os
seus conhecimentos e incentivar as
pessoas à protecção da natureza.
AVES DA MADEIRA
AMadeira tem uma enorme variedade
de aves terrestres e marinhas,
42 espécies que aqui nidificam e algumas
espécies endémicas à Macaronésia
que só existem na Madeira. A observação
de aves tem se tornado muito popular
nesta região que oferece excelentes locais e
reservas, devido à sua localização única e ao
seu ecossistema. A classe das aves está representada
por espécies reprodutoras que
se distribuem por 11 grupos diferentes, dos
quais se destacam os mais numerosos: aves
marinhas, aves de rapina e passeriformes.
Das aves reprodutoras, as que merecem
maior destaque são as quatro espécies endémicas
do arquipélago: o pombo-trocaz,
a freira-da-madeira, o bisbis e a freira-do-
-bugio, e as 3 espécies endémicas da região
biogeográfica da Macaronésia (área que inclui
os arquipélagos dos Açores, da Madeira,
das Canárias e de Cabo Verde): o corre-caminhos,
o canário-da-terra e o andorinhão-
-da-serra. Algumas das espécies que eram
visitantes, tais como a galinha-d’água e o galeirão,
foram encontrando condições para
se reproduzirem anualmente no arquipélago;
verifica-se também a nidificação de seis
espécies introduzidas: o pato-mandarim, a
rola-turca, o periquito-rabijunco, o bico-de-
-lacre e o lugre, que provavelmente se estabeleceram
por introdução acidental, após
fuga de cativeiro, e a perdiz, que foi introduzida
no início da colonização do arquipélago.
Fonte:aprenderamadeira.pt. s
Dulcina Branco
aprenderamadeira.pt
José Frade,
administrador do grupo “Aves de Portugal Continental”,
que gentilmente nos cede as fotos que ilustram
esta rubrica
30 saber ABRIL 2020
Corre-caminho (Anthus bertheloti)
É uma ave da família Motacillidae, endémica dos
arquipélagos da Madeira e Canárias, comum em planícies
áridas e pedregosas com vegetação rasteira
Andorinhão-da-serra (Apus unicolor)
Uma ave da família Apodidae, nidifica nos
arquipélagos da Madeira e das Canárias,
mas pode deslocar-se para o Norte de África
durante o inverno.
saber ABRIL 2020
31
OPINIÃO
Isabel Fagundes
Exerce funções numa escola do Funchal
Onde está
o Amor?
As pessoas ficaram em casa com
os corações vazios e só depois,
muito depois, lembraram-se
que o Amor, sentado naquele
banco, era a essência da vida
que haviam ignorado por muito
tempo.
Um destes dias, encontrei o Amor
sentado num banco de jardim, ali
mesmo no centro da cidade, onde
as pessoas passavam apressadas
de um lado para outro. Estava chuva e frio,
mas mesmo assim as pessoas caminhavam.
E, alheias ao presente, nem se apercebiam
que o Amor estava lá, inerte e pensativo,
preocupado e também algo inquieto.
Tinha um semblante apagado e parecia
entristecido. Era ignorado por aqueles
que passavam porque estava esquecido
no coração das pessoas. Em passo lento
aproximei-me dele, e de mansinho, toqueilhe
no ombro: - Bom dia Amor!. Pareces
perturbado neste dia que deveria ser
teu. - Estou entristecido – confessou –
apoquentam-me os homens que me ignoram
todos os dias e fingem lembrar-se de mim
às vezes. E hoje, que dizem ser o meu dia,
mantêm-se tão distantes como nos outros
dias, mas oferecem prendas. Preocupame
que muitas pessoas não me vejam
sempre sentado neste banco de jardim, e
apenas hoje, com sorrisos emprestados,
se aproximem para oferecer flores. Eu sou
Amor todos os dias em todas as formas,
mas muitos não me sentem porque estão
absortos na versão materialista da vida. Por
isso estou triste. Entendi a visão do Amor,
entendi a distância que as pessoas têm
continuamente dele, mas entendi também
que temos de fazer algo para que isso mude.
Temos de espalhar gotas de amor na chuva
que cai e nos raios do Sol, nas flores que
brotam e na terra que se espalha no chão.
- Amor, dá-me a tua mão e caminhemos
no jardim. Não fiques apenas neste banco
porque existem pessoas que só olham para
cima e não te conseguem ver sentado. Fica
junto a mim. Deixa que te apresente aos
que não te conhecem. Verás que amanhã
serão mais os que se juntarão ao teu círculo,
os que aprenderão a viver amor em muitas
formas. - Vem! Passeia comigo e mostra a
tua grandeza dentro deste mundo onde
acordam as flores adormecidas da alma.
O Amor levantou-se e caminhou comigo.
Deixou no banco de jardim um aroma a
céu e a flores. No dia seguinte o jardim já
não tinha flores nem as pessoas passavam.
Uma grande tempestade havia destruído,
também o banco, e apagado o colorido
dos canteiros. Porque o Amor já não estava
presente naquele lugar, toda a Natureza
circundante esmoreceu e fechou-se na
sombra. As pessoas ficaram em casa com os
corações vazios e só depois, muito depois,
lembraram-se que o Amor, sentado naquele
banco, era a essência da vida que haviam
ignorado por muito tempo. Meses depois,
eu e o Amor voltamos àquele jardim, e as
pessoas que encontramos já nos deram a
mão e ofereceram os seus sorrisos. s
32 saber ABRIL 2020
Raquel Lombardi
Coordenadora Erasmus+
A escola,
um lugar de
vários mundos
O mundo mercantil dá ênfase
ao individualismo,
a concorrência e à competição,
tendo como objetivo o lucro,
a recompensa.
Aescola de hoje pode-se posicioná-
-la como uma organização globalizante
protagonizando-se como um
"lugar de vários mundos (ESTÊVÃO,
Carlos V. ,2018). Nota-se que, hoje, a escola
é uma instituição aberta a vários mundos,
desde o mundo doméstico, aquele que se
refere as tradições, onde ainda educamos
na ideia hierárquica de respeitar os mais velhos
evitando qualquer conflito. Depara-se
nas instituições escolares o mundo industrial,
onde se valoriza o mérito, a excelência
e a qualificação. Também são valorizados os
métodos formais e as avaliações. Valorizamos
na escola atual, o mundo cívico, pois é
imprescindível o trabalho em equipa, valores
de solidariedade, justiça, liberdade e de
altruísmo. A escola desenvolve muitos projetos,
tanto na comunidade escolar como
no meio envolvente, na defesa dos direitos
humanos, como também em projetos que
apelam para uma conduta cívica e social. O
mundo mercantil e o industrial são muito
valorizados também, isto quando nos referimos
aos rankings nas escolas. O mundo
mercantil dá ênfase ao individualismo, a
concorrência e à competição, tendo como
objetivo o lucro, a recompensa. Neste sentido,
incentiva-se a importância nos resultados
obtidos, tanto nos projetos internos da
escola como também em projetos nacionais
e europeus. No que concerne ao mundo
Mundial, aponta para valores como projetos
multipolares que se centram na mobilidade
e na captação de novas experiências. Numa
sociedade globalizante, é necessário sermos
nómadas e adquirir competências internacionais,
assumindo riscos. Temos apostas
no Erasmus+ e o Ensino à distância - que
hoje é o futuro da educação. A problemática
da pandemia do covid-19 veio complementar
e realçar esta visão de escola à distância
- pertencente ao mundo Mundial - mas
preparada para o efeito. Este período, de
quarentena obrigatória, será com certeza,
um tempo de reflexão e busca de estratégias
que se encaixem nesta realidade. A escola
que se abre a múltiplos mundos é uma
escola mais participativa e integrativa, que
combate a racionalidade burocrática. Esta
escola surge como uma organização ambígua
e complexa, irregular e descontínua,
devido às várias lógicas de ação. Para uma
escola ter sucesso tem de haver equilíbrio
entre estes vários mundos. s
Raquel Lombardi
saber ABRIL 2020
33
DICAS DE MODA
Lúcia Sousa
Fashion Designer Estilista › 914110291
www.luciasousa.com
Facebook › LUCIA SOUSA-Fashion Designer estilista
Lubov-Amor
“From Russia With Love” foi como denominei
o vestido que desenhei para
a linda noiva Svetlana, uma silhueta
a gosto da mesma: justo, de mangas
compridas, devote em V e com uma pequena
cauda. O vestido todo ele em renda de
cor bege foi colocado sobre uma base de
cor mais forte com o intuito de sobressair o
padrão da renda. Quanto ao corte, as pinças
no molde foram desviadas, o que faz com
que o vestido assente bem com o mínimo de
cortes possíveis e realçando a beleza deste e
de quem o veste. Na cauda foi aplicado um
acabamento à mão. O tecido interior é de
algodão a pensar nas temperaturas baixas
onde foi usado. Deixo-vos este belo registo
fotográfico realizado na cidade de Moscovo,
Rússia. s
D.R. (direitos reservados)
Agradecimento › Svetlana Krasovskaya e Denis Osipov
34 saber ABRIL 2020
saber ABRIL 2020
35
CINEMA
Título original:
La Casa de Papel
CRIADOR:
Álex Pina
Elenco:
Úrsula Corbero, Álvaro Morte, Itzar Ituno,
Paco Tous, Pedro Alonso, Alba Flores, Miguel
Herrán
Género:
Filmes de assalto
País:
Espanha
Data de estreia:
2017
FORMATO:
Série
Classificação:
M/12
DISTRIBUIÇÃO:
Netflix
LA Casa de Papel
L
a Casa de Papel, série espanhola aclamada
pela crítica - venceu o prémio
de Melhor Drama nos International
Emmy Awards, Prémios Fénix e Prémios
Iris - foi lançada no catálogo da Netflix
em dezembro de 2017. Está produzida
em quatro partes, sendo que, a quarta estreou
em 3 de abril de 2020. Os macacões
vermelhos e a máscara do pintor espanhol
Salvador Dali é a imagem de marca do mais
famoso grupo de ladrões da televisão liderados
pelo génio “Professor”, personagem
interpretada pelo Álvaro Morte que lidera os
fantásticos assaltos à Casa da Moeda de Espanha
e ao Banco de Espanha. Por causa da
pandemia, não tem ainda data prevista a estreia
das quinta e sexta partes da série que
é transmitida pela Netflix, o principal serviço
de streaming de vídeos a nível mundial. s
Dulcina Branco
www.ucicinemas.pt
36 saber ABRIL 2020
Mary Correia de Carfora
Maquilhadora Profissional › Facebook Carfora Mary Makeup
LLiberdade... Irónica Liberdade... Confinados
nos nossos lares... Alguns
confinados nos hospitais... Outros
reduzidos a um caixão... Mas nós, os
vivos, ainda estamos livres... Com a maior
incógnita de um futuro incerto... Fazemos
as contas de quanto nos está a custar esta
atípica Liberdade... Ainda somos parcialmente
livres... Parcialmente presos... Presos
pela restrição de um mundo cansado, que
nos olhou exaustos... E nós forçou a despertar...
Para percebermos que não éramos
totalmente livres... Estamos livres... Estamos
ficando livres de um mundo abatido...
Que se estava consumindo... Que o estávamos
debilitando... Temos liberdade... Sim, a
do Tempo... Que durante muitos anos passou-nos
pela frente... Horas a fio voando
como segundos... Estamos livres do fútil...
Do banal... Livres do desnecessário... Liberdade,
irónica Liberdade... Ficamos presos
dos nossos atos... Mas ainda em Liberdade...
Hoje meia presa, meia livre... Vou continuar
a sorrir... Embora somente com os olhos...
Amada Liberdade, ainda posso sorrir com
os olhos?... Não me faças chorar... Temos a
Autonomia... Mas não temos a Independência...
O mundo removeu-a... Amada Liberdade...
Irónica Liberdade... Faz-nos realmente
livres... Faz-nos sermos merecedores disso...
Após isto... Alguns... Mesmo assim continuarão
presos... Os que compreenderem
serão livres... Um mundo novo está a chegar...
Covid-19, Portugal, 25 Abril 2020... Vai
ficar tudo bem. s
Mary de Carfora
saber ABRIL 2020
37
MOTORES
Carros de Sonho: Bugatti Chiron Pur Sport
A
quarentena a que fomos recentemente
submetidos limitou-nos em
termos de mobilidade, alterando
as nossas rotinas, mas não nos
impediu de sonhar. E, já que não podemos
sentir nenhum novo carro, vamos nos debruçar
sobre um carro de sonho. O novo
Bugati Chiron Pur Sport, além de ser um carro
de sonho muito exclusivo, que só verá 16
unidades serem produzidas. A Bugatti Automobiles
SAS é uma marca de automóveis
fundada em 1909 por Ettore Bugatti, tendo
a sua sede na cidade francesa de Molsheim,
na Alsácia. Passando por muitos altos e baixos,
como muitas das empresas ligadas à
industria automóvel, a Bugatti passou por
um controlo italiano, numa aventura que
apenas levou o tempo de se montarem
150 unidades para ser anunciada a falência
desta emblemática marca. Em 1998, foi
o grupo Volkswagen a adquirir os direitos
sobre a Bugatti, sendo desde então gerida
por este grupo que vem surpreendendo o
mercado com os seus super desportivos. Na
versão de 2020/2021, o novo Bugati Chiron
Pur Sport é 19 kg mais leve e viu a sua aerodinâmica
ajustada para ficar mais ágil e
dinâmico nas curvas, isto num modelo que
ultrapassa os 490 km/h. Emprega o mesmo
motor 8.0 W16 quadriturbo, mas recebeu
uma nova afinação para a transmissão automática
de dupla embreagem e 7 velocidades.
Enquanto a potência continua a ser de
1.500 cv, o Chiron corta a rotação ao atingir
as 6.900 rpm. Além disso, a relação de velocidades
foi reduzida em 15% para melhorar
a entrega de potência e a resposta do motor,
o que resulta numa elasticidade 40%
melhor. Tudo isso está debaixo da carroceria
levemente revista, com uma nova frente
otimizada para melhorar a aerodinâmica,
com entradas de ar maiores e grade alargada.
Na traseira, o Chiron Pur Sport tem um
spoiler de 1,9 metros, que gera uma enorme
downforce. O design renovado é complementado
pelo sistema de escape feito em
titânio por impressora 3D, extremamente
leve e resistente a temperaturas altas. “Nós
focamos na agilidade do Chiron Pur Sport",
explica Frank Heyl, chefe de design externo
da Bugatti. "O veículo gera mais downforce
no eixo traseiro, enquanto o splitter
dianteiro, as entradas de ar e a passagem
pelas caixas de rodas foram otimizados,
junto com a altura reduzida do veículo, para
melhorar o equilíbrio na frente.”. O Chiron
Pur Sport tem novas jantes desenvolvidas
para melhorar a ventilação dos travões e a
aerodinâmica. Chamadas "Aero", elas usam
pneus especiais criados pela Michelin. São
modelos "Bugatti sport Cup 2 R", que medem
285/30 R20 na frente e 355/25 R21 na
traseira. O bólide teve ainda ajustes no chassi.
A nova suspensão traz molas 65% mais
firmes na frente e 33% na traseira, somando
um controle adaptativo dos amortecedores
para ajudar na performance. Graças ao uso
de titânio nos travões e às rodas 16 kg mais
leves, o Chiron Pur Sport está 19 kg mais
leve do que a versão normal. “Falamos com
clientes e percebemos que eles querem um
veículo que é ajustado para ser ainda mais
ágil e dinâmico nas curvas", explica Stephan
Winkelmann, o chefe da Bugatti. "Um híper
desportivo que procura por estradas sinuosas
com o máximo de curvas possíveis." E é
claro que isso irá custar bastante. A Bugatti
irá produzir apenas 16 unidades do Chiron
Pur Sport, cada uma custando 3,2 milhões
de euros. A produção começará no segundo
semestre de 2020. Enquanto isso, continuamos
sonhando com este modelo que, dificilmente,
rodará nas estradas da nossa Ilha. s
Nélio Olim
D.R.(direitos reservados).
38 saber ABRIL 2020
saber ABRIL 2020
39
FASHION ADVISOR
JORGE LUZ
www.facebook.com/jorgeluz83/
Explosão de cores
Temos o verão à porta e há que dar
côr aos nossos dias, apesar deste período
de quarentena que, com certeza,
irá passar. A ideia é vestir com cor
e positividade. As minhas propostas para estes
dias de sol e luz são os estampados bem
expressivos em túnicas e vestidos, tons fortes,
néons, cores garridas... Não há limites
para os estampados. Tendência da estação
é a mescla entre formas geométricas e estampados
florais. Dê aso à imaginação, dê
cor à sua vida, use e abuse dos estampados.
Vista umas pantalonas frescas esvoaçantes
e combine com túnicas leves estampadas.
Sim, isso mesmo amigas: junte duas peças
largas. Não não foi engano meu. Acabaram-
-se as peças ajustadas ao corpo. A regra é:
peças super hiper mega oversize. Isso mesmo.
Opte pela leveza das peças largas que
são tendência na estação mais fresca e colorida
do ano. s
Jorge Luz d.r.
modelos › Alzira Ribeiro
40 saber ABRIL 2020
saber ABRIL 2020
41
Nivea
MARCAS ICÓNICAS
O
famoso creme Nivea,
de origem alemã, foi o
primeiro creme hidratante
do mundo. Desde
sempre associado à saúde e
beleza da pele, principalmente
pelo setor feminino, a origem
do creme Nivea inicia-se com
uma descoberta feita pelo químico
Isaac Lifschutz, que após
décadas de investigação, conseguiu
criar o primeiro agente
emoliente baseado na cera retirada
da lã de ovelha (lanolina) e
que permitia que o óleo e a água
fossem misturados e permanecessem
juntos; até essa altura,
os produtos cosméticos eram
feitos com base em gorduras
vegetais e animais. Tendo noção
que o que havia descoberto teria
um enorme potencial a nível
da cosmética, Lifschutz deu-lhe
o nome de ”Eucerite” (cera da
beleza). Em 1911, Oskar Troplowitz,
proprietário da farmácia
Beiersdorf, juntou-se a Isaac
Lifschutz e ao dermatologista
Paul Gerson Unna para criarem
um creme hidratante com
base no agente emoliente que
Lifschutz havia inventado. Após
diversas tentativas chegaram à
fórmula que consideraram ideal
e que consistia em óleos, água,
compostos de glicerina, ácido
cítrico e essências de rosas e
lírios. O resultado foi o creme
sedoso e branco, batizado como
Nivea, proveniente do termo
latino “niveum ut nivius” que
significa “branco como a neve”.
A imagem do produto apresentava-se
com uma caixa metálica
redonda e amarela com motivos
florais em estilo art nouveau,
lembrando a natureza. A frase
publicitária do produto era “To
preserve its beauty, its health
and the freshness of its youth”
(em português, “Para preservar
a sua beleza, a sua saúde e a
frescura da sua juventude”). Em
1929 a empresa decidiu ampliar
o leque dos seus produtos, passando
a vender, para além do
famoso creme, a brilhantina, o
creme para barbear e depilar
(1930), o shampô (1931), protector
solar (1932) e a pasta de
dentes (1933). Em 1932 a empresa
lançou os seus produtos
na França realizando assim as
suas primeiras exportações. Na
atualidade, a marca Nivea está
avaliada em 3.11 biliões de dólares,
ocupando a posição 96
no ranking das marcas mais valiosas
do mundo. Os produtos
Nivea são comercializados em
mais de 160 países. Em janeiro
de 2020, a marca uniu-se à Start-
-se para criar um programa de
desenvolvimento de startups na
área dos cosméticos. s
Dulcina Branco
nivea.pt
42 saber ABRIL 2020
LUGARES DE CÁ
SOCIAL
›
›
Dolores Aveiro em campanha
de rastreio visual
› Food&Wine Experience 2020 da Savoy Signature
› Casa da Cultura de Câmara de Lobos apresentou exposição ‘Japanese Art’
› “Um conto, dois contos, três lições” no Fórum Madeira
saber ABRIL 2020
43 41
social
Food&Wine Experience 2020
O grupo Savoy Signature apresentou aos jornalistas, num almoço
realizado no Savoy Palace em fevereiro último, a 2.ª edição do
evento Food & Wine Experience. Esta iniciativa “abriu o apetite”
para o jantar exclusivo que foi realizado no outro hotel do grupo,
o Saccharum, na Calheta, e que este ano foi subordinado ao
tema Mundo das Especiarias. Tratou-se de, um jantar de degustação
harmonizado com os vinhos de excelência Quinta da Lapa
e Caves da Montanha - com a presença dos produtores, e no qual
participaram os chefs do grupo Savoy Signature. Os pratos de autor
ficaram a cargo dos chefs Raúl Ferreira, Fernando Silva, Carlos
Gonçalves, Teresa Barradas, Nélio Rodrigues e Pedro Campas. s
DB
D.R. (direitos reservados)
44 saber ABRIL 2020
‘Japanese Kimono Art’
A Casa da Cultura de Câmara de Lobos inaugurou em fevereiro a
exposição ‘Japanese Kimono Art’ da coleccionadora britânica Maggie
Healy. A inauguração contou com tradução simultânea para
português das histórias narradas pela coleccionadora sobre os
quimonos expostos; houve também um momento de demonstração
da arte de vestir esta peça de roupa tradicional japonesa
(quimono significa “coisa que se veste”). Esta iniciativa aconteceu
após uma visita de Maggie Healy a Câmara de Lobos que, tendo
ficado encantada com beleza da cidade, criou a exposição que
pretendeu unir a Madeira e o Japão através da linguagem estética
e histórica dos quimonos. s
DB
D.R. (direitos reservados)
saber ABRIL 2020
45
social
Ação MultiOpticas
com Dolores Aveiro
Dolores Aveiro é a embaixadora da marca MultiOpticas em Portugal,
e nesta função, participou, em janeiro deste ano, num
rastreio que a marca realizou aos alunos da escola da Ladeira,
no Funchal. A mãe de Cristiano Ronaldo foi acompanhada nesta
ação, pela direção da escola e responsáveis da MultiOpticas. Rui
Borges, CEO da MultiOpticas, disse que “As ações de Responsabilidade
Social são muito importantes pois fazem parte dos nossos
valores, fazemos ao longo de todo o ano e é muito dirigido a
crianças. Hoje foi um 2 em 1, mais um rastreio a apoiar as crianças
que são o nosso futuro e tudo o que possamos fazer por
elas é bem feito. Hoje temos a possibilidade de ter connosco a
Dolores Aveiro, a nossa nova embaixadora”. 200 alunos fizeram
o rastreio visual. s
DB
gentilmente cedidas por Flávia Almeida
46 saber ABRIL 2020
PUB
‘Um conto, dois contos,
três lições’
Com a estreia da peça “Um conto, dois contos, três lições” em
fevereiro de 2020, o Forum Madeira deu início às festividades de
Carnaval no espaço comercial. A peça de teatro foi um trabalho
da equipa teatral da Flow e permitiu que o público podesse participar
como personagem na mesma. Esta iniciativa integrou o
programa de três dias de festas de carnaval do Fórum Madeira
que incluiu também o tradicional desfile de carnaval no piso 0. s
DB
Direção do Fórum Madeira
saber ABRIL 2020
47
À MESA COM...
As sugestões de
FERNANDO OLIM
NNestes dias de confinamento social, estando em casa e tendo mais tempo
para dar asas à imaginação e gostando de cozinhar, ponha em prática o/a
cozinheiro/a que há em si e crie pratos que não têm que ser complicados mas
que lhe dêem prazer. Bom apetite. s
Fernando Olim / PIXABAY
48 saber ABRIL 2020
entrada
Cascata de camarão com
frutos tropicais
Os camarões são uma excelente opção para criar belas
bandejas tropicais, às quais poderá adicionar deliciosos
frutos tropicais que a nossa Região dispõe, como a meloa,
o melão, a papaia, os morangos, o abaxi, acompanhado
dos frescos pepinos. Uma opção saudável e visualmente
bonita que encanta o centro de uma mesa de verão.
prato
principal
“Steak au Poivre”
Que é como quem diz “bife com batatas” mas não
aquelas batatas fritas que temos em casa e que são
rápidas de fazer. As batatas são assadas no forno
e acompanham com um molho à base de vinho do
Porto e pimenta colorida.
sobremesa
Tábua de queijo de ovelha
É saudável e rápido de fazer este prato que acompanha
com frutos vermelhos e manjericão, uma autêntica
delícia que pode, se não gostar de queijo de ovelha,
acompanhar com um outro tipo de queijo a seu gosto.
saber ABRIL 2020
49
ESTATUTO EDITORIAL
A Revista Saber Madeira é uma revista mensal de
informação geral que dá, através do texto e da
imagem, uma ampla cobertura dos mais importantes
e significativos acontecimentos regionais,
em todos os domínios de interesse, não esquecendo
temáticas que, embora saindo do âmbito
regional, sejam de interesse geral, nomeadamente
para os conterrâneos espalhados pelo
mundo.
É um projeto jornalístico e dirige-se essencialmente
aos quadros médios e de topo, gestores,
empresários, professores, estudantes, técnicos
superiores, profissionais liberais, comerciantes,
industriais, recursos humanos e marketing.
Identifica-se com os valores da autonomia, da
democracia pluralista e solidária, defendendo
o pluralismo de opinião, sem prejuízo de poder
assumir as suas próprias posições.
Estatuto Editorial
Mais do que a mera descrição dos factos, tenta
descortinar as razões por detrás dos acontecimentos,
antecipando tendências, oportunidades
informativas.
Pauta-se pelo princípio de que os factos e as opiniões
devem ser claramente separadas: os primeiros
são intocáveis e as segundas são livres.
Como iniciativa privada, tem como objetivo o
lucro, pois só assim assegura a sua independência
editorial e económico-financeira face aos grupos
de pressão.
Através dos seus acionistas, direção, jornalistas
e fotógrafos, rege-se, no exercício da sua atividade,
pelo cumprimento rigoroso das normas éticas
e deontológicas do jornalismo.
A Revista Saber Madeira respeita os princípios
deontológicos da imprensa e a ética profissional,
de modo a não poder prosseguir apenas
fins comerciais, nem abusar da boa fé dos leitores,
encobrindo ou deturpando a informação.
E-mail:
www.sabermadeira.pt
Facebook: Revista Saber Madeira
sabermadeira@yahoo.com
Telf. 291 911 300
Propriedade:
O.L.C. Unipessoal Lda.
Sociedade por Quotas; Capital Social:
€500.000,00 Contribuinte: 509865720
Matriculado na Conservatória Registo
Comercial de Lisboa
Sede: Parque Empresarial Zona Oeste - PEZO,
Lote 7, 9304-006 Câmara de Lobos
Sócio gerente com mais de 5% do capital:
Edgar R. de Aguiar, H.S.S.A.N.C.
Sede do Editor
Edgar R. de Aguiar
Parque Empresarial Zona Oeste - PEZO,
Lote 7, 9304-006 Câmara de Lobos
Director
Edgar Rodrigues de Aguiar
Redação
Dulcina Branco Miguens
Secretária de Redação
Maria Camacho
“Livros são sonhos
que seguramos
com as mãos”(Neil Gaiman)
30 %
DESCONTO
EDIÇÕES EDITORA O LIBERAL
PEZO - Socorridos - Lote 7 - 9304-006 Câmara de Lobos 291 911 300
comercial@oliberal.pt / assinaturas@tribunadamadeira.pt
Colunistas
António Cruz, Hélder Spínola, Alison Jesus,
Sara de Freitas, Nélio Olim, Isabel Fagundes,
Mary de Carfora, Francisco Gomes
Depart. Imagem
O Liberal, Lda.
Design Gráfico
O Liberal, Lda.
Departamento Comercial
O Liberal, Lda.
22º
ANIVERSÁRIO
2020
Nome
Empresa
Morada
Código Postal
Concelho
Data de nascimento
Telem.
Telefone
Nova Assinatura
CUPÃO DE ASSINATURA
Renovação Assinatura
Localidade
Contribuinte Nº
Assinatura Data / /
Fax
SIM, quero assinar e escolho as seguintes modalidades:
Cheque
à ordem de ‘’O Liberal Comunicações, Lda’’
Pago por transferência Bancária/Multibanco
MPG NIB nº 0036.0130.99100037568.29
“O Liberal”, Parque Empresarial da Zona Oeste, Lote 7, Socorridos,
9304-006 Câmara de Lobos • Madeira / Portugal
Telefones: 291 911 300
Fax: 291 911 309
email: sabermadeira@yahoo.com
ASSINATURA
expresso
Ligue já o Telefone: 291 911 300
ou pelo Fax: 291 911 309
PREÇOS ESPECIAIS!
TABELA DE ASSINATURA - 1 ANO
MADEIRA € 24,00
EUROPA € 48,00
RESTO DO MUNDO € 111,00
* desconto sobre os valores da capa.
Os valores indicados incluem os portes do correio e I.V.A. à taxa de 4%
Serviço de Assinaturas
Luisa Agrela
Administração, Redação,
Secretariado, Publicidade,
Composição e Impressão
Ed. “O Liberal”, Parque Empresarial
Zona Oeste, Lote 7,
9304-006 Câmara de Lobos
Madeira / Portugal
Telefones: 291 911 300
Fax: 291 911 309
Email: preimpressao@oliberal.pt
Depósito Legal nº 109138/97
Registo de Marca Nacional nº 376915
ISSN 0873-7290
Registado no Instituto da Comunicação
Social com o nº 120732
Membro da Associação da Imprensa
Não Diária - Sócio P-881
Tiragem
7.000 exemplares
[Escrita de acordo com
Novo Acordo Ortográfico]
50 saber ABRIL 2020