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OPINIÃO
Isabel Fagundes
Exerce funções numa escola do Funchal
Onde está
o Amor?
As pessoas ficaram em casa com
os corações vazios e só depois,
muito depois, lembraram-se
que o Amor, sentado naquele
banco, era a essência da vida
que haviam ignorado por muito
tempo.
Um destes dias, encontrei o Amor
sentado num banco de jardim, ali
mesmo no centro da cidade, onde
as pessoas passavam apressadas
de um lado para outro. Estava chuva e frio,
mas mesmo assim as pessoas caminhavam.
E, alheias ao presente, nem se apercebiam
que o Amor estava lá, inerte e pensativo,
preocupado e também algo inquieto.
Tinha um semblante apagado e parecia
entristecido. Era ignorado por aqueles
que passavam porque estava esquecido
no coração das pessoas. Em passo lento
aproximei-me dele, e de mansinho, toqueilhe
no ombro: - Bom dia Amor!. Pareces
perturbado neste dia que deveria ser
teu. - Estou entristecido – confessou –
apoquentam-me os homens que me ignoram
todos os dias e fingem lembrar-se de mim
às vezes. E hoje, que dizem ser o meu dia,
mantêm-se tão distantes como nos outros
dias, mas oferecem prendas. Preocupame
que muitas pessoas não me vejam
sempre sentado neste banco de jardim, e
apenas hoje, com sorrisos emprestados,
se aproximem para oferecer flores. Eu sou
Amor todos os dias em todas as formas,
mas muitos não me sentem porque estão
absortos na versão materialista da vida. Por
isso estou triste. Entendi a visão do Amor,
entendi a distância que as pessoas têm
continuamente dele, mas entendi também
que temos de fazer algo para que isso mude.
Temos de espalhar gotas de amor na chuva
que cai e nos raios do Sol, nas flores que
brotam e na terra que se espalha no chão.
- Amor, dá-me a tua mão e caminhemos
no jardim. Não fiques apenas neste banco
porque existem pessoas que só olham para
cima e não te conseguem ver sentado. Fica
junto a mim. Deixa que te apresente aos
que não te conhecem. Verás que amanhã
serão mais os que se juntarão ao teu círculo,
os que aprenderão a viver amor em muitas
formas. - Vem! Passeia comigo e mostra a
tua grandeza dentro deste mundo onde
acordam as flores adormecidas da alma.
O Amor levantou-se e caminhou comigo.
Deixou no banco de jardim um aroma a
céu e a flores. No dia seguinte o jardim já
não tinha flores nem as pessoas passavam.
Uma grande tempestade havia destruído,
também o banco, e apagado o colorido
dos canteiros. Porque o Amor já não estava
presente naquele lugar, toda a Natureza
circundante esmoreceu e fechou-se na
sombra. As pessoas ficaram em casa com os
corações vazios e só depois, muito depois,
lembraram-se que o Amor, sentado naquele
banco, era a essência da vida que haviam
ignorado por muito tempo. Meses depois,
eu e o Amor voltamos àquele jardim, e as
pessoas que encontramos já nos deram a
mão e ofereceram os seus sorrisos. s
32 saber ABRIL 2020