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sempre comentários oportunos e elucidativos. Apercebi-me do que
é ver as paisagens, as aglomerações, os monumentos com olhos
de arquiteto. Gostei muito de visitar Conímbriga. A arte do mosaico
encanta-me e tenho muito interesse pela civilização romana.
Com um pai diplomata, como é que foram a sua infância e adolescência?
M.F.: Houve momentos inesquecíveis. Recordarei sempre um safari
no Krugger Park, na África do Sul, para que fomos convidados por
amigos da comunidade madeirense residente em Durban, onde o
meu pai, Fernão Favila Vieira, foi Cônsul e fez grandes amigos, nomeadamente
por ter promovido a fundação do Clube Português de Natal.
Gostei imenso de ver os animais! Tinha apenas sete anos, a visão próxima
da fauna africana em liberdade, o calor da savana, foram um deslumbramento!
Em Viena de Áustria, gostava de regressar a pé do liceu
francês até à Mayerhofgasse, onde habitávamos, para contemplar as
folhas que douravam o chão, no outono, a visão poética do crepúsculo
no Volksgarten (“Jardim do Povo”) sob a neve, no inverno. Descobri
a sensibilidade e requinte do talento de Klimt, gostava de sonhar no
jardim do Belvedere, quando estava bom tempo… Lembro a abundância
e variedade de conchas na linda praia de Cabo Ledo, onde estive
de férias com os meus cinco irmãos, era o meu pai Cônsul-Geral em
Luanda, no rescaldo da independência. Posso comparar a finíssima
areia coralífera e o quente mar de safira das praias de Varadero e Cayo
Largo, em Cuba, onde passámos a nossa lua de mel, sendo o meu pai
embaixador em Havana, com a areia dourada da praia do Porto Santo!
O mar é sempre um convite ao sonho, à fusão com a Natureza, e
estamos bem servidos na nossa luminosa terra madeirense, seja com
o mar transparente do Garajau, da Madalena do Mar, ou com o mar
batido e fresco do Seixal e do Porto do Moniz. Impressão bem diferente,
foi o choque do desembarque no aeroporto de Luanda, então
patrulhado por militares cubanos.
Arq. Paredes, nasceu em Angola. Que lembranças tem desse país e
em que momento vem para Portugal?
J.P.: Nasci no Lobito (Angola), onde o meu pai, Eng.º António da Cunha
Paredes, trabalhava com o empresário português António Champalimaud,
com quem se dava muito bem. Tinha eu cerca de 1 ano, os
meus pais regressaram a Lisboa, para alegria da minha mãe, saudosa
da família e dos encantos da vida lisboeta. O meu pai era um verdadeiro
“africanista”; fez parte de uma geração que acreditava que o
contributo dos engenheiros mudaria significativamente o mundo português.
Passou longas temporadas em Angola e Moçambique, países
que apreciava imenso e onde regressou frequentemente a convite de
António Champalimaud, para dirigir fábricas de cimento como as do
Lobito e da Beira. A minha mãe acompanhou-o algumas vezes, mas à
medida que os filhos foram nascendo, isso tornou-se mais difícil. Lembro-me
das histórias de África do meu pai: as caçadas, as chuvas torrenciais,
a maneira de viver descontraída, a Natureza abundante de
África... Em Lisboa, completei o ensino secundário, o curso de Design
de Interiores e depois o de Arquitetura. Seguiu-se o mestrado na Universidade
de Glasgow: vivi cinco anos na Escócia. Também frequentei
uma especialização em Urbanismo.
No entanto, regressou a Portugal...
J.P.: Pensei não regressar. Tive convites para trabalhar na Austrália,
na África do Sul, com boas condições de trabalho e remuneração, mas
optei por Portugal, cujo ambiente humano é muito especial. Regressei
a Lisboa, uma cidade que amo, onde conheci a Maria e onde vivemos
os primeiros anos do nosso casamento. Como a Maria é madeirense,
decidimos que a Madeira oferecia melhor qualidade de vida à
nossa família em rápido crescimento. Em Lisboa, o ritmo de trabalho
era intenso, eu chegava a casa noite dentro, as nossas filhas já estavam
a dormir. Optámos por dar-lhes uma infância descontraída e feliz,
com grande proximidade dos pais. Estamos satisfeitos com os resultados,
porque elas estão fazendo o seu percurso de vida com equilíbrio,
dando prova da sua boa formação. Eu pude conciliar vida familiar e
trabalho no meu gabinete de arquitetura, instalado na casa que habitamos
no Funchal. Aqui funcionou o consulado do Brasil, país de que
fui Cônsul Honorário, e irá funcionar em breve o Consulado da Sérvia.
Vivem na Madeira desde quando?
J.P.: Desde 1996. Há 24 anos.
Tendo em conta que é arquiteto, foi o autor do projeto da vossa
casa?
J.P.: Não. Habitamos uma casa de família, herdada pelos meus sogros,
com quem vivemos por períodos alargados, pois eles passavam uma
parte do ano no Funchal, outra em Lisboa. É uma casa histórica: nela
se hospedou Isabella de França na sua visita à Madeira e a Portugal
em 1834/1835. Nela habitaram o dramaturgo Manuel Caetano Pimenta
de Aguiar, os políticos Conselheiro Manuel José Vieira e Major João
Augusto Pereira que eram figuras destacadas do Partido Progressista,
o reitor do Liceu do Funchal, fundador e 1º diretor da Escola do Magistério
do Funchal, Dr. Ângelo Augusto da Silva e sua mulher, D. Berta
Pereira da Silva, que com um grupo de senhoras amigas, incluindo a
mãe do Dr. Alberto João Jardim, fundou e apoiou o Abrigo de Nossa
Senhora de Fátima. O meu sogro, Embaixador Fernão Favila Vieira,
bisneto de Manuel José Vieira, empenhou-se em restaurar esta casa
e eu tive muito prazer em colaborar com ele, projetando a recuperação
e a modernização da casa. Gosto muito de intervir na recuperação
de edifícios antigos, e considero esta casa um bom exemplo deste
tipo de intervenção.
A recuperação de igrejas destaca-se no seu percurso profissional.
Quando e como nasce esse gosto dentro da sua profissão?
saber ABRIL 2020
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