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*Junho/2020 Referência Industrial 219

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COLUNA<br />

O EMPURRÃOZINHO DO CUPIM<br />

HOUVE UMA ÉPOCA EM QUE ERA SÓ FALAR DOS PREJUÍZOS CAUSADOS POR ESSES INSETOS E ROMANTIZAR<br />

SOBRE SEUS HÁBITOS QUE A ATENÇÃO DA MÍDIA ESTAVA GARANTIDA<br />

Flavio C. Geraldo<br />

FG4 MAD - Consultoria em Madeira<br />

Contato: flavio@fg4mad.com.br<br />

O<br />

período de isolamento social proporciona experiências<br />

interessantes. Permite, por exemplo,<br />

um espaço para reflexões. E assim, em<br />

consulta a vários artigos e entrevistas publicados<br />

nos últimos 30 anos, é possível constatar<br />

que o cenário voltado aos assuntos relativos à utilização da<br />

madeira tratada tem a sua dinâmica.<br />

Parece ser uma constante a necessidade da autoafirmação<br />

do setor em relação às vantagens competitivas da madeira<br />

e também a necessidade de reafirmação da mesma<br />

como sendo material de engenharia. Foram marcantes as<br />

reportagens realizadas por grandes veículos de comunicação,<br />

em especial durante toda a década de 1990, motivadas,<br />

é certo, pelas provocações à mídia em geral, sugerindo<br />

pautas relativas aos prejuízos causados pelos cupins.<br />

Aliás, nesse período, foi possível constatar que o cupim<br />

assumiu um papel relevante como um grande marqueteiro.<br />

Era só falar dos prejuízos causados por esses insetos<br />

e romantizar sobre seus hábitos que a atenção da mídia<br />

estava garantida. É claro que o setor teve a percepção para<br />

aproveitar ao máximo esse mote, utilizando como estratégia<br />

complementar o direcionamento para a utilização da<br />

madeira tratada em projetos construtivos e no setor da eletrificação,<br />

ainda um importante segmento de mercado da<br />

madeira tratada à época.<br />

Como consequência desse conjunto de ações de comunicação,<br />

representantes do setor começaram a ser convidados,<br />

com frequência, para participar de eventos dos<br />

setores industrial madeireiro, elétrico e da construção. Ao<br />

mesmo tempo começam a pipocar mensagens e atitudes<br />

em todos os setores produtivos e imagináveis ao redor do<br />

mundo, sobre o tema da sustentabilidade. Chegou até a<br />

virar moda, mas, de qualquer forma, ajudou muito. E foi aí<br />

que nosso querido cupim começou a perder espaço como<br />

principal marqueteiro do setor. O tema “Sustentabilidade”<br />

tinha tudo a ver!<br />

Foto: divulgação<br />

As mensagens foram sendo naturalmente redirecionadas,<br />

criaram-se novos bordões de comunicação, o que foi<br />

fácil, pois, afinal, a utilização da madeira cultivada como<br />

material construtivo estava em sintonia com todos os princípios<br />

da sustentabilidade.<br />

Começou a ganhar as mentes da nossa engenharia<br />

e arquitetura alguns conceitos, lembrando que a fábrica<br />

da madeira é a árvore, que no seu processo de produção<br />

sequestra e aprisiona o dióxido de carbono da atmosfera<br />

e de quebra ainda libera oxigênio puro – além de ser um<br />

recurso natural renovável de ciclo curto, eternamente disponível<br />

graças à tremenda evolução das técnicas de melhoramento<br />

e plantios.<br />

Hoje esses mantras são lembrados e repetidos nas salas<br />

de aula de cursos de várias modalidades da engenharia e<br />

arquitetura, além de palestras, veículos de comunicação, sites<br />

e portais. Esses movimentos motivaram tremendamente<br />

uma maior mobilização de entidades representativas do<br />

setor em direção à elaboração de novos textos normativos<br />

ou à revisão de textos já existentes.<br />

O setor da construção necessitava, com urgência, de<br />

parâmetros que pudessem orientar o uso e garantir a qualidade<br />

de componentes de madeira tratada em seus projetos.<br />

Começou a surgir então, no início dos anos 2000, um<br />

texto contemplando um sistema de categorias de uso que<br />

orientava o construtor sobre o tipo de madeira, sua condição<br />

de uso e os processos e produtos de tratamento mais<br />

adequados a cada situação: surgia assim em 2013, a Norma<br />

Brasileira (NBR 16.143 – Preservação de Madeiras – Sistema<br />

de Categorias de Uso).<br />

Outras de igual importância foram surgindo como, por<br />

exemplo, a NBR 16.201 (Cruzetas Roliças de Eucalipto Preservado<br />

para Redes de Distribuição Elétrica), uma excelente<br />

resposta ao setor elétrico nacional que buscava alternativas<br />

ao uso de cruzetas de madeiras tropicais nativas.<br />

E assim, algumas outras normas já existentes foram<br />

passando por revisões, procurando uma adaptação de seus<br />

textos aos momentos mais atuais. Ainda no início dos anos<br />

2000, foi dado um passo decisivo em direção à busca da<br />

qualidade e da legalidade na produção da madeira tratada.<br />

Durante a realização de um encontro do setor, realizado<br />

na Expointer em Esteio (RS) foi proposto um plano (Plano<br />

de Disciplinamento de Mercado), que foi a base para o<br />

desenvolvimento do Qualitrat, hoje um plano oficial de<br />

autorregulamentação do setor, que garante a qualidade e<br />

a legalidade da madeira tratada oferecida aos mercados<br />

consumidores.<br />

Bem, isolamento social tem dessas coisas, nos remete a<br />

lembranças que permitem uma boa reflexão sobre a necessária<br />

dinâmica do setor de proteção de madeiras no Brasil.<br />

Aproveitando a oportunidade, nosso muito obrigado aos<br />

cupins!<br />

12 referenciaindustrial.com.br JUNHO <strong>2020</strong>

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