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COLUNA<br />
O EMPURRÃOZINHO DO CUPIM<br />
HOUVE UMA ÉPOCA EM QUE ERA SÓ FALAR DOS PREJUÍZOS CAUSADOS POR ESSES INSETOS E ROMANTIZAR<br />
SOBRE SEUS HÁBITOS QUE A ATENÇÃO DA MÍDIA ESTAVA GARANTIDA<br />
Flavio C. Geraldo<br />
FG4 MAD - Consultoria em Madeira<br />
Contato: flavio@fg4mad.com.br<br />
O<br />
período de isolamento social proporciona experiências<br />
interessantes. Permite, por exemplo,<br />
um espaço para reflexões. E assim, em<br />
consulta a vários artigos e entrevistas publicados<br />
nos últimos 30 anos, é possível constatar<br />
que o cenário voltado aos assuntos relativos à utilização da<br />
madeira tratada tem a sua dinâmica.<br />
Parece ser uma constante a necessidade da autoafirmação<br />
do setor em relação às vantagens competitivas da madeira<br />
e também a necessidade de reafirmação da mesma<br />
como sendo material de engenharia. Foram marcantes as<br />
reportagens realizadas por grandes veículos de comunicação,<br />
em especial durante toda a década de 1990, motivadas,<br />
é certo, pelas provocações à mídia em geral, sugerindo<br />
pautas relativas aos prejuízos causados pelos cupins.<br />
Aliás, nesse período, foi possível constatar que o cupim<br />
assumiu um papel relevante como um grande marqueteiro.<br />
Era só falar dos prejuízos causados por esses insetos<br />
e romantizar sobre seus hábitos que a atenção da mídia<br />
estava garantida. É claro que o setor teve a percepção para<br />
aproveitar ao máximo esse mote, utilizando como estratégia<br />
complementar o direcionamento para a utilização da<br />
madeira tratada em projetos construtivos e no setor da eletrificação,<br />
ainda um importante segmento de mercado da<br />
madeira tratada à época.<br />
Como consequência desse conjunto de ações de comunicação,<br />
representantes do setor começaram a ser convidados,<br />
com frequência, para participar de eventos dos<br />
setores industrial madeireiro, elétrico e da construção. Ao<br />
mesmo tempo começam a pipocar mensagens e atitudes<br />
em todos os setores produtivos e imagináveis ao redor do<br />
mundo, sobre o tema da sustentabilidade. Chegou até a<br />
virar moda, mas, de qualquer forma, ajudou muito. E foi aí<br />
que nosso querido cupim começou a perder espaço como<br />
principal marqueteiro do setor. O tema “Sustentabilidade”<br />
tinha tudo a ver!<br />
Foto: divulgação<br />
As mensagens foram sendo naturalmente redirecionadas,<br />
criaram-se novos bordões de comunicação, o que foi<br />
fácil, pois, afinal, a utilização da madeira cultivada como<br />
material construtivo estava em sintonia com todos os princípios<br />
da sustentabilidade.<br />
Começou a ganhar as mentes da nossa engenharia<br />
e arquitetura alguns conceitos, lembrando que a fábrica<br />
da madeira é a árvore, que no seu processo de produção<br />
sequestra e aprisiona o dióxido de carbono da atmosfera<br />
e de quebra ainda libera oxigênio puro – além de ser um<br />
recurso natural renovável de ciclo curto, eternamente disponível<br />
graças à tremenda evolução das técnicas de melhoramento<br />
e plantios.<br />
Hoje esses mantras são lembrados e repetidos nas salas<br />
de aula de cursos de várias modalidades da engenharia e<br />
arquitetura, além de palestras, veículos de comunicação, sites<br />
e portais. Esses movimentos motivaram tremendamente<br />
uma maior mobilização de entidades representativas do<br />
setor em direção à elaboração de novos textos normativos<br />
ou à revisão de textos já existentes.<br />
O setor da construção necessitava, com urgência, de<br />
parâmetros que pudessem orientar o uso e garantir a qualidade<br />
de componentes de madeira tratada em seus projetos.<br />
Começou a surgir então, no início dos anos 2000, um<br />
texto contemplando um sistema de categorias de uso que<br />
orientava o construtor sobre o tipo de madeira, sua condição<br />
de uso e os processos e produtos de tratamento mais<br />
adequados a cada situação: surgia assim em 2013, a Norma<br />
Brasileira (NBR 16.143 – Preservação de Madeiras – Sistema<br />
de Categorias de Uso).<br />
Outras de igual importância foram surgindo como, por<br />
exemplo, a NBR 16.201 (Cruzetas Roliças de Eucalipto Preservado<br />
para Redes de Distribuição Elétrica), uma excelente<br />
resposta ao setor elétrico nacional que buscava alternativas<br />
ao uso de cruzetas de madeiras tropicais nativas.<br />
E assim, algumas outras normas já existentes foram<br />
passando por revisões, procurando uma adaptação de seus<br />
textos aos momentos mais atuais. Ainda no início dos anos<br />
2000, foi dado um passo decisivo em direção à busca da<br />
qualidade e da legalidade na produção da madeira tratada.<br />
Durante a realização de um encontro do setor, realizado<br />
na Expointer em Esteio (RS) foi proposto um plano (Plano<br />
de Disciplinamento de Mercado), que foi a base para o<br />
desenvolvimento do Qualitrat, hoje um plano oficial de<br />
autorregulamentação do setor, que garante a qualidade e<br />
a legalidade da madeira tratada oferecida aos mercados<br />
consumidores.<br />
Bem, isolamento social tem dessas coisas, nos remete a<br />
lembranças que permitem uma boa reflexão sobre a necessária<br />
dinâmica do setor de proteção de madeiras no Brasil.<br />
Aproveitando a oportunidade, nosso muito obrigado aos<br />
cupins!<br />
12 referenciaindustrial.com.br JUNHO <strong>2020</strong>