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REPORTAGEM<br />
NOFEV21 01
PUB<br />
REPORTAGEM<br />
SUMÁRIO<br />
<strong>FEVEREIRO</strong><br />
<strong>2021</strong><br />
05<br />
15<br />
24<br />
36<br />
52<br />
66<br />
ENTREVISTA<br />
À MESA COM RÚBEN PACHECO CORREIA<br />
OPINIÃO<br />
JUVENTUDES PARTIDÁRIAS<br />
REPORTAGEM<br />
BUILDING THE FUTURE|LIFELONG LEARNING<br />
REPORTAGEM<br />
ESCOLA: UMA ESTRUTURA ORIENTADA PARA O<br />
FUTURO<br />
REPORTAGEM<br />
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTOJUVENIL<br />
NO CRESCIMENTO EMOCIONAL DAS CRIANÇAS E<br />
DOS JOVENS<br />
REPORTAGEM<br />
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: SOCIEDADES INCLUSIVAS<br />
78<br />
100<br />
24<br />
106<br />
109<br />
116<br />
118<br />
REPORTAGEM<br />
DEVO INVESTIR EM MARKETING DIGITAL EM ALTURA<br />
DE PANDEMIA?<br />
CRÓNICA<br />
SER ENFERMEIRA (O) NA ILHA DO DRAGÃO<br />
CRÓNICA<br />
LEITURAS DESALINHADAS<br />
CRÓNICA<br />
APROVEITAR O GARANTIA AÇORES JOVEM<br />
DESTAQUE<br />
FRASES DO MÊS<br />
SÁTIRA POLÍTICA<br />
BUILDING THE FUTURE|<br />
ESCOLA: UMA ESTRUTURA<br />
EDUCAÇÃO INCLUSIVA:<br />
LIFELONG LEARNING<br />
ORIENTADA PARA O<br />
SOCIEDADES INCLUSIVAS<br />
24 FUTURO 36 66<br />
02 NOFEV21<br />
NOFEV21<br />
03
EDITORIAL<br />
<strong>2021</strong>, O ANO DOS GRANDES DESAFIOS<br />
No final de 2020, nos<br />
Açores, aconteceu a grande<br />
viragem política que levou<br />
à constituição de uma<br />
plataforma de direita para<br />
governar os Açores nos<br />
próximos 4 anos.<br />
No início de <strong>2021</strong>, a<br />
expectativa das presidenciais<br />
não se ficou pela já previsível<br />
reeleição de Marcelo Rebelo<br />
de Sousa: os resultados<br />
deram sinais do que poderá<br />
ser o ano político em<br />
Portugal.<br />
Ao que tudo indica, o foco<br />
deste ano irá ser desenhado<br />
com foco nas eleições<br />
autárquicas lá para outubro.<br />
A direita ganhou força<br />
com a viragem política nos<br />
Açores, enquadrando-a<br />
como laboratório e ganhou<br />
dimensão com os resultados<br />
eleitorais nas presidenciais,<br />
onde a direita obteve 75.82%<br />
dos votos e a esquerda<br />
21.24%.<br />
A entrada do CHEGA no<br />
panorama político nacional<br />
veio desgastar a esquerda<br />
e a extrema-esquerda, não<br />
tanto por mérito próprio,<br />
mas maioritariamente por<br />
demérito de uma oposição<br />
desastrosa a André Ventura.<br />
Será nesse quadro de<br />
desnorte da extrema<br />
esquerda, assente no BE, que<br />
a direita será beneficiada.<br />
A par deste fenómeno, a<br />
esquerda que sustenta o<br />
Governo socialista não tem<br />
sabido gerir as questões mais<br />
importantes na defesa do bem<br />
comum no parlamento, dando<br />
sinais de, em cada posição,<br />
querer apenas e somente<br />
dividendos políticos em<br />
prejuízo do interesse coletivo.<br />
Em particular nos Açores, a<br />
esquerda, não conformada<br />
com os resultados eleitorais<br />
que lhes retirou a governação,<br />
ainda se apresenta em<br />
estado de negação, ficando<br />
refém dos resultados nas<br />
autárquicas para manter<br />
esperanças de voltar a ser<br />
hipótese governativa.<br />
Na extrema-esquerda<br />
regional, o BE assegura as<br />
dores do PS num ataque<br />
sem princípios à governação<br />
de direita e principalmente<br />
ao partido CHEGA. A<br />
democracia para o BE esgotase<br />
no pensamento único<br />
em desfavor do pluralismo<br />
democrático e num Estado<br />
de direito democrático só<br />
há lugar para uma extrema<br />
definição de autoritarismo.<br />
Tem sido esta postura que o<br />
eleitorado tem rejeitado e irá<br />
manter-se a linha no princípio<br />
da não-discriminação. Dito<br />
isto, as eleições autárquicas<br />
deste ano serão o tira-teimas<br />
na definição da democracia.<br />
Cláudia Carvalho<br />
Diretora Adjunta<br />
FICHA TÉCNICA:<br />
ISSN 2183-4768<br />
PROPRIETÁRIO ASSOCIAÇÃO AGENDA DE NOVIDADES<br />
NIF 510570356<br />
SEDE DE REDAÇÃO RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,<br />
9500-093 PONTA DELGADA<br />
SEDE DO EDITOR RUA DA MISERICÓRDIA, 42, 2º ANDAR,<br />
9500-093 PONTA DELGADA<br />
DIRETOR/EDITOR RUI MANUEL ÁVILA DE SIMAS CP3325A<br />
DIRETORA ADJUNTA CLÁUDIA CARVALHO TPE-288A<br />
REDAÇÃO CHEFE REDAÇÃO RUI SANTOS TPE-288 A,<br />
CLÁUDIA CARVALHO TPE-288 A, SARA BORGES, ANA SOFIA<br />
MASSA, ANA SOFIA CORDEIRO<br />
REVISÃO ANA SOFIA MASSA<br />
PAGINAÇÃO RAQUEL AMARAL E CARINA COELHO<br />
CAPTAÇÃO E EDIÇÃO DE IMAGEM RODRIGO RAPOSO E<br />
MIGUEL CÂMARA<br />
DEPARTAMENTO DE MARKETING, COMUNICAÇÃO E IMAGEM<br />
CILA SIMAS E RAQUEL AMARAL<br />
PUBLICIDADE RAQUEL AMARAL E TÂNIA MACHADO<br />
MULTIMÉDIA RODRIGO RAPOSO, RAFAEL ARAÚJO E MÁRIO<br />
CORRÊA<br />
INFORMÁTICA JOÃO BOTELHO<br />
RELAÇÕES PÚBLICAS CILA SIMAS<br />
Nº REGISTO ERC 126 641<br />
COLABORADORES ANTÓNIO VENTURA, JOÃO CASTRO,<br />
RICARDO SILVA<br />
CONTACTOS MARKETING@AGENDADENOVIDADES.COM<br />
ESTATUTO EDITORIAL:<br />
A NO É UMA REVISTA DE ÂMBITO REGIONAL (NÃO FICANDO<br />
EXCLUÍDOS OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA E<br />
COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPALHADAS PELO MUNDO).<br />
A NO DISPONIBILIZA INFORMAÇÃO INDEPENDENTE E<br />
PLURALISTA RELACIONADA COM A POLÍTICA, CULTURA<br />
E SOCIEDADE NUM CONTEXTO REGIONAL, NACIONAL E<br />
INTERNACIONAL.<br />
A NO É UMA REVISTA AUTÓNOMA, SEM QUALQUER<br />
DEPENDÊNCIA DE NATUREZA POLÍTICA, IDEOLÓGICA E<br />
ECONÓMICA, ORIENTADA POR CRITÉRIOS DE RIGOR, ISENÇÃO,<br />
TRANSPARÊNCIA E HONESTIDADE.<br />
A NO É PRODUZIDA POR UMA EQUIPA QUE SE COMPROMETE<br />
A RESPEITAR OS DIREITOS E DEVERES PREVISTOS NA<br />
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA; NA LEI DE<br />
IMPRENSA E NO CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS.<br />
A NO VISA COMBATER A ILITERACIA, INCENTIVAR O GOSTO<br />
PELA LEITURA E PELA ESCRITA, MAS ACIMA DE TUDO,<br />
PROMOVER A CIDADANIA E O CONHECIMENTO.<br />
A NO REGE-SE PELO CUMPRIMENTO RIGOROSO DAS NORMAS<br />
ÉTICAS E DEONTOLÓGICAS DO JORNALISMO E PELOS<br />
PRINCÍPIOS DE INDEPENDÊNCIA E PLURALISMO.<br />
REPORTAGEM<br />
À MESA COM<br />
Rúben pacheco correia<br />
Escritor, empresário, crítico gastronómico<br />
04 NOFEV21<br />
NOFEV21 05
ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA<br />
Sejam muito bem-vindos ao “À mesa<br />
com” deste mês no restaurante da<br />
Associação Agrícola. Este mês tenho o<br />
prazer de ter comigo Rúben Pacheco<br />
Correia. Ele é um jovem escritor,<br />
empresário, crítico gastronómico e<br />
muitas mais coisas. Rúben, muito<br />
obrigada por teres aceitado o nosso<br />
convite. A escrita tem sido o teu<br />
modo de comunicar de uma certa<br />
forma diferente, foi o gosto pela<br />
gastronomia e também o restaurante<br />
que te fez publicar o Comer à moda<br />
dos Açores?<br />
Muito obrigada, eu é que agradeço.<br />
É um gosto estar aqui contigo e uma<br />
vez mais na NO Revista, já não é a<br />
primeira entrevista, creio que é a<br />
terceira. Sou escritor, sou empresário,<br />
estou na televisão, também como diz<br />
o meu avô “mestre em muitas artes,<br />
burro em muitas partes”, mas sim<br />
realmente. Primeiro, o facto de ser<br />
filho e neto de chefes de cozinha e ter<br />
nascido praticamente no meio das<br />
panelas e no meio de uma cozinha fez<br />
desde muito cedo despertar esse gosto<br />
pela gastronomia, mas só quando abri<br />
o meu primeiro restaurante com 18<br />
anos é que comecei a perceber como<br />
é que funcionam as coisas, ganhar<br />
o gosto pela gastronomia como<br />
uma arte, pela cozinha e a querer<br />
saber mais sobre a gastronomia dos<br />
Açores. Entendi que havia ainda<br />
uma falha muito grave, muito grande<br />
de não termos, digamos assim, um<br />
manual de cozinha açoriana onde<br />
ENTREVISTA EM<br />
VÍDEO NA VERSÃO<br />
DIGITAL<br />
06 NOFEV21 07<br />
NOFEV21
ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA<br />
pudéssemos abordar a história dos<br />
nossos produtos, a história e origem<br />
das nossas receitas de forma a<br />
homenagear as nossas cozinheiras,<br />
as cozinheiras que temos nas nossas<br />
casas que estão longe dos holofotes<br />
e da ribalta, mas que fizeram com<br />
que tivéssemos hoje a riqueza na<br />
gastronomia que temos que é a<br />
gastronomia açoriana. Portanto, o<br />
Comer à moda dos Açores é um<br />
estudo sobre o melhor que temos em<br />
termos de produtos, em termos de<br />
sabor e saberes da nossa terra, mas<br />
é também a minha carta de amor à<br />
minha terra, aos meus Açores.<br />
Rúben, tu também passas um bocado,<br />
se calhar metade da tua vida aqui em<br />
São Miguel, mas a outra metade em<br />
Lisboa. Como é que é conciliar esta<br />
ponte entre Lisboa e os Açores?<br />
Eu acho que passo metade do meu<br />
tempo dentro do avião e a outra<br />
metade é entre Lisboa e Rabo de<br />
Peixe, que é a minha terra. Sim, eu<br />
amo os Açores, nasci nos Açores,<br />
nasci em Rabo de Peixe, tenho a<br />
minha família nos Açores, tenho<br />
negócios nos Açores, tenho o meu<br />
restaurante o “Botequim Açoriano”<br />
em Rabo de Peixe, nos Açores. Por<br />
outro lado, também tenho uma<br />
grande relação com Lisboa, tenho<br />
outras oportunidades em Lisboa<br />
que não tenho nos Açores. Estou na<br />
televisão semanalmente, estou na SIC,<br />
e é uma oportunidade que não tenho<br />
aqui, escrevo para uma revista. Estou<br />
também no meu curso de direito<br />
apesar de ser a coisa que menos prazer<br />
me tem dado agora, mas que é para<br />
acabar e, portanto, a única forma de<br />
conseguir quase ser omnipresente e<br />
manter o melhor dos dois mundos é<br />
conciliando essa ponte que liga Rabo<br />
de Peixe a Lisboa quase todas as<br />
semanas.<br />
Como tu disseste anteriormente,<br />
tu tens participado em projetos de<br />
cariz sociocultural. Como é que tu<br />
consegues conciliar isto tudo, para<br />
além do restaurante, desses projetos e<br />
que projetos é que são esses para além<br />
da televisão?<br />
Antes dos negócios, antes da<br />
gastronomia comecei na escrita. Com<br />
14 anos publiquei o meu primeiro<br />
livro, com 15 anos o segundo, com<br />
16 o terceiro e por aí adiante. Tenho<br />
cinco livros publicados e três com<br />
autorias e, portanto, desde muito cedo<br />
que acordei, digamos assim, para o<br />
mundo da cultura, para o mundo da<br />
escrita, para o mundo da literatura. Só<br />
mais tarde, quando abri o restaurante,<br />
é que comecei também a aprofundar<br />
os conhecimentos na gastronomia,<br />
a conhecer, a aprender, a ler mais<br />
e, portanto, neste momento, tudo<br />
aquilo que eu faço está interligado.<br />
Eu escrevo, gosto muito de escrever<br />
e já agora também escrevo sobre<br />
gastronomia que é outra área<br />
que eu gosto imenso. E depois na<br />
gastronomia comunico gastronomia<br />
nos programas televisivos onde tenho<br />
passado e, portanto, tudo aquilo que<br />
eu faço é quase uma bola de neve, está<br />
tudo interligado, portanto, consigo<br />
fazer com as maiores das facilidades.<br />
E em relação, também não<br />
desvendaste muito, mas também<br />
acho que é uma coisa que tem sido<br />
muito importante pelo menos aqui no<br />
08 NOFEV21 09<br />
NOFEV21
ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA<br />
que toca aos açorianos que têm sido<br />
muito sensíveis a esta parte, é ver-te<br />
na televisão todas as semanas. Como é<br />
que foi aceitar este desafio?<br />
Este desafio nasceu de forma<br />
ocasional. Fui dar uma entrevista para<br />
falar do meu novo livro ao programa<br />
da Cristina, acho que correu bem.<br />
Fui lá cozinhar pela primeira vez<br />
até então não cozinhava, só comia e<br />
aquilo correu bem e surgiu o convite<br />
para regressar na semana seguinte, na<br />
outra semana e na semana depois e já<br />
estou há um ano a ir todas as semanas<br />
ao programa que era o programa da<br />
Cristina, mas com a saída da Cristina<br />
Ferreira ficou a Casa Feliz, com o João<br />
Baião e a Diana Chaves e, portanto,<br />
mantive-me no programa. A Cristina<br />
Ferreira teve uma grande importância<br />
para mim, porque foi a pessoa que<br />
apostou e que me deu a possibilidade<br />
de ter esta visibilidade nacional que<br />
tenho tido agora, mas por sua vez<br />
com a saída da SIC e o Daniel Oliveira<br />
também foi muito importante na<br />
aposta na continuação da minha<br />
participação. Além de ir lá cozinhar e<br />
de falar sobre a gastronomia e muito<br />
em particular sobre a gastronomia<br />
dos Açores, tenho levado dezenas<br />
de Santa Maria ao Corvo. Tenho<br />
também tido a oportunidade de<br />
fazer algumas entrevistas como tu,<br />
de forma mais amadora porque tu és<br />
uma profissional na área, com diversas<br />
figuras como Cavaco Silva, Dom<br />
Duarte e esta rubrica é para continuar<br />
com outros nomes que ainda irão<br />
surgir.<br />
Era precisamente isso que eu ia<br />
perguntar agora. Tu já tiveste a<br />
oportunidade de ir, por exemplo, à<br />
Madeira e entrevistaste Alberto João<br />
Jardim, entrevistaste o professor<br />
Cavaco Silva. Qual é o melhor<br />
momento que tu guardas até então?<br />
Não que seja de alguma entrevista,<br />
mas algum momento particular que te<br />
tenha marcado.<br />
Todos os momentos são marcantes<br />
porque são todos diferentes uns dos<br />
outros. Os convidados são diferentes,<br />
o professor Cavaco Silva e o doutor<br />
Alberto João Jardim são figuras<br />
completamente opostas. Digamos que<br />
o momento mais marcante da minha<br />
passagem pela televisão é ter esta<br />
oportunidade de entrevistar pessoas<br />
de vários quadrantes e diferentes<br />
desde o futebol à política, à cultura,<br />
à arte, enfim. Contudo, além destas<br />
conversas que tenho mantido, dessas<br />
entrevistas que tenho feito a pessoas<br />
para esta rubrica na Casa Feliz,<br />
eu acho que os diretos são sempre<br />
marcantes. Todos os dias que estou no<br />
programa com a Diana Chaves e com<br />
o João Baião sinto que é marcante<br />
porque sinto que é genuíno, tenho<br />
o apoio deles, sinto a amizade deles<br />
comigo e o carinho e sobretudo<br />
a dedicação para que também eu<br />
aprenda a fazer as coisas bem, porque<br />
010 NOFEV21 011<br />
NOFEV21
ENTREVISTA<br />
ENTREVISTA<br />
eles são profissionais também, estão<br />
há muitos anos nesta área e é um gosto<br />
poder estar ao lado deles a aprender.<br />
Em relação aos diretos, nós sabemos<br />
sempre que um direto não é um<br />
programa gravado. A verdade é essa<br />
e é o que tu dizes, tudo acontece. Por<br />
muito mais que nós estejamos bem<br />
preparados para a situação há sempre<br />
coisas que acontecem. Qual foi o maior<br />
desafio que já te aconteceu durante<br />
o tempo todo que já participas na<br />
televisão?<br />
Bem, digamos que se tivesse que ter<br />
uns apanhados dos meus momentos<br />
televisivos até aí recuava mais atrás<br />
antes mesmo da minha participação<br />
no programa da Cristina. Houve uma<br />
vez que foi cozinhar à Praça da Alegria<br />
um bolo de natal dos Açores, na altura<br />
ainda não tinha publicado o livro e<br />
durante o programa o forno explodiu,<br />
rebentou os vidros, partiu tudo, a<br />
cozinha ficou toda partida em direto,<br />
entretanto estava o Jorge Gabriel e a<br />
Sónia Araújo estavam a apresentar o<br />
programa e ouviram aquele estrondo<br />
sem saber o que tinha acontecido<br />
e continuámos o programa como<br />
se nada fosse, fui abrir o forno sem<br />
vidro já a fingir que estava a colocar o<br />
vidro lá dentro. Foi o momento mais<br />
hilariante digamos assim. Depois na<br />
Madeira, não vou fazer piada disso,<br />
mas posso dizer que já tive uma pessoa<br />
que entrevistei e depois acabou no<br />
hospital de ambulância porque se<br />
magoou e, portanto, as coisas vão<br />
acontecendo e no direto ainda mais.<br />
Temos a famosa dança da sorte, não sei<br />
se já ouviste falar do João Baião, que<br />
eu não vou revelar qual é a dança, mas<br />
também surge com aquilo que está à<br />
mão e com a espontaneidade do direto<br />
e, portanto, tudo acontece. Tem sido<br />
uma experiência engraçada e divertida.<br />
E em relação ao palco do futuro do<br />
Rúben Pacheco Correia? Qual é que<br />
é o palco do futuro? É a televisão? É<br />
a escrita? O que é que nós podemos<br />
esperar?<br />
O palco é a vida sobretudo, eu<br />
enquanto me sentir concretizado<br />
a fazer aquilo que eu gosto vou<br />
continuar a apostar e neste momento<br />
sinto-me concretizado em abrir<br />
negócios, em estar envolvido apesar<br />
das contingências atuais ser mais<br />
difícil, é continuar a escrever, publicar<br />
um livro, mais um livro recentemente<br />
talvez e esta participação televisiva é<br />
também uma coisa que me está a dar<br />
gozo, sobretudo, em aprender e em<br />
descobrir estes caminhos da televisão<br />
e era uma coisa que eu gostaria de<br />
apostar nos próximos tempos.<br />
Rúben, muito obrigada, votos de maior<br />
sucesso pessoal e profissional. Quanto<br />
a nós, já sabe, vêem-nos no próximo<br />
mês. Até lá, fique bem.<br />
012 NOFEV21 013<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
OPINIÃO<br />
JUVENTUDES<br />
PARTIDÁRIAS<br />
A NO Revista,<br />
consciente da importância<br />
dos jovens para o contributo de<br />
uma sociedade mais plural, inicia<br />
este mês uma rubrica com os jovens dos<br />
oito partidos com assento parlamentar no<br />
parlamento açoriano. Assim, é dada aos<br />
jovens a oportunidade de expressarem<br />
as suas opiniões e pensamentos sobre<br />
as políticas de desenvolvimento na<br />
região e não só.<br />
014 NOFEV21 015<br />
NOFEV21
OPINIÃO<br />
É frequente questionar<br />
aos mais jovens o que<br />
gostariam de ser ou seguir<br />
para profissão, esta pergunta<br />
é feita por pais, tios, avós<br />
etc. Mas quando os jovens<br />
Açorianos alcançam a idade<br />
de escolher e delinear o<br />
seu futuro a pergunta que<br />
se faz é: “Como é que irei<br />
ser feliz?”. Muitas das<br />
vezes essa felicidade não se<br />
encontra nos Açores, e para<br />
encontrar esta felicidade<br />
é preciso ir para Portugal<br />
Continental ou até mesmo<br />
rumar a outros países.<br />
Mas então, qual é a razão<br />
para que os jovens não<br />
escolham os Açores para<br />
viver? A pouca população<br />
CARLOS VEREDAS<br />
Jovens<br />
Açorianos, que<br />
futuro ?<br />
é um fator dessa não fixação, os<br />
poucos habitantes dão aso à não<br />
necessidade de muitos serviços e<br />
os poucos serviços que existem<br />
não disponibilizam o emprego<br />
necessário para a população.<br />
Ora, se isto é complicado<br />
em ilhas como São Miguel e<br />
Terceira, que são as ilhas de<br />
maior dimensão, imagine-se<br />
como é difícil em ilhas menores.<br />
Outra problemática é que nos<br />
Açores a função pública é<br />
abundante, mas será que em<br />
certos casos os privados seriam<br />
uma boa solução? Mas para isso<br />
é preciso dar a conhecer aos<br />
investidores essa possibilidade.<br />
É verdade que os sucessivos<br />
governos Açorianos têm feito<br />
projetos para a fixação dos<br />
jovens, esses projetos foram<br />
eficientes? Acho que todos já<br />
sabem a resposta, porque se<br />
tivessem sido eficientes eu não<br />
estaria a escrever este texto.<br />
E para mais, os investimentos<br />
públicos na maioria das vezes<br />
não geram lucros, o que faz com<br />
que o dinheiro de todos aqueles<br />
que trabalham e pagam impostos<br />
seja mal gasto.<br />
Outra problemática também será<br />
a mentalidade e infelizmente<br />
alguns maus exemplos que por<br />
cá existem. Não podemos ser<br />
hipócritas e dizer que não existe<br />
RSI mal distribuído e prestações<br />
sociais mal atribuídas porque<br />
existem casos de “contágio”<br />
para se viver com o dinheiro do<br />
Estado. Ao fazer campanha para<br />
as Eleições Regionais presenciei<br />
e participei em conversas em<br />
que jovens da minha faixa etária<br />
diziam que não se colocavam no<br />
mercado de trabalho porque os<br />
pais viviam de prestações sociais<br />
e que se os pais vivem assim eles<br />
também podem viver. É a este<br />
tipo de situações que os jovens<br />
não se podem agarrar.<br />
Com todo este escrito, o que<br />
queremos é alertar as entidades<br />
governativas, mas acima de<br />
tudo, alertar os jovens, dos<br />
quais eu faço parte, para que<br />
lutem para um futuro, mas que<br />
seja um futuro na nossa Região<br />
Autónoma e um futuro risonho,<br />
e é com o esforço e dedicação<br />
de todos o Açorianos neste e<br />
noutros temas que se conseguirá<br />
alcançar estes objetivos para o<br />
bem de todos.<br />
016 NOFEV21 017<br />
NOFEV21
OPINIÃO<br />
NUNO CÂMARA<br />
o que aproveitar<br />
das presidenciais<br />
No passado dia 24, uns saíram para<br />
votar no liberal Mayan, outros no<br />
descansado Professor Marcelo,<br />
outros para votar no humilde Tino e<br />
outros ainda para votar nos extremos,<br />
populistas e socialistas. Mas o que<br />
aproveitar deste último mês de<br />
debates e campanha e o que esperar<br />
para o futuro?<br />
A surpresa foi sem dúvida a liberal<br />
com o desconhecido Tiago Mayan a<br />
apresentar-se perante os holofotes.<br />
Inicialmente, fiquei receoso com<br />
esta candidatura liberal devido à<br />
sua primeira intervenção televisiva<br />
com Miguel Sousa Tavares, onde<br />
se mostrou muito nervoso e pouco<br />
preparado para o que aí vinha. A<br />
verdade é que Mayan conseguiu calar<br />
as vozes liberais e não liberais contra<br />
ele, num espaço de duas semanas.<br />
Mudou a sua postura, mostrando-se<br />
confiante nos debates presidenciais,<br />
nunca deixando de ser educado, calmo<br />
e coerente. Uma das críticas a Mayan<br />
foi a sua postura snobe. Vamos ser<br />
sérios: Perante candidatos com ideias<br />
socialistas, populistas e extremistas,<br />
difícil é não se parecer snobe.<br />
O objetivo de Tiago Mayan com<br />
a sua corajosa candidatura foi de<br />
dar continuidade à Onda Liberal,<br />
espalhando o conteúdo e ideologia<br />
liberal. Objetivo alcançado. Tiago<br />
Mayan ao longo de todos os debates<br />
conseguiu explicar o que um liberal<br />
quer para Portugal. Desde a saúde<br />
até à educação, desde os valores<br />
sociais até aos económicos, Mayan<br />
conseguiu explicar cada aspeto liberal,<br />
desmistificando vários Papões Liberais<br />
que a oposição teima em criar.<br />
Concluo com o excerto do que disse<br />
Mayan no debate com o André Ventura:<br />
“O que é que é o liberalismo?<br />
O liberalismo não é uma utopia.<br />
Liberalismo são políticas concretas<br />
já aplicadas e de sucesso. O que eu<br />
quero para Portugal é o sistema de<br />
saúde da Alemanha. O que eu quero<br />
para Portugal são as políticas fiscais da<br />
Irlanda. O que eu quero para Portugal<br />
é a modernização administrativa da<br />
Estónia. O que eu quero para Portugal<br />
é a defesa dos direitos fundamentais da<br />
Suécia.”<br />
A escrita deste texto de opinião foi<br />
realizado antes de conhecer o resultado<br />
da eleição presidencial, sem saber quem<br />
foi eleito presidente. Apenas sei que<br />
ganhou o liberalismo e que o futuro só<br />
pode ser liberal.<br />
018 NOFEV21 019<br />
NOFEV21
OPINIÃO<br />
Todos nós sabemos que<br />
atualmente a sociedade<br />
portuguesa e os jovens não se<br />
têm revisto nos seus governantes,<br />
nas suas políticas e nos ideais<br />
políticos, deixando um vazio e<br />
desconexão com a população. A<br />
abstenção reflete, na íntegra, o<br />
descontentamento e, em alguns<br />
casos, a revolta que os cidadãos<br />
sentem por falta de soluções<br />
políticas que venham ao encontro<br />
das suas perceções sociais,<br />
culturais e económicas.<br />
O papel das juventudes<br />
partidárias é essencial na<br />
explanação dos valores e<br />
princípios que defendem. A<br />
NUNO SILVA<br />
político<br />
o desinteresse<br />
e o papel das<br />
juventudes partidárias<br />
identidade política tem se perdido,<br />
os jovens estão desconectados e<br />
sem interesse. A solução passa<br />
por termos juventudes partidárias<br />
e jovens, próximos das suas<br />
gerações, no combate à abstenção<br />
e ao populismo que poderá trazer<br />
problemas irrevisíveis. O falhanço<br />
da atuação política junto dos<br />
jovens poderá, no imediato, levar<br />
a abstenções ainda maiores e até<br />
pôr em causa a democracia. A<br />
política tem de deixar de ser tabu,<br />
tem de passar a ser discutida nas<br />
escolas e junto dos jovens, da<br />
mesma forma que se explicam as<br />
correntes artísticas porque não as<br />
correntes e famílias políticas e o<br />
que estas representam?<br />
Na defesa da democracia não pode<br />
nem poderá haver cores políticas,<br />
as juventudes partidárias têm de<br />
unir-se em defesa dos direitos<br />
mais soberanos da sociedade, a<br />
democracia e a liberdade. O debate<br />
ideológico perdeu-se algures no<br />
tempo, vivemos numa sociedade de<br />
“apontar o dedo” e de “backstage”<br />
político e empresarial que leva aos<br />
atos de corrupção ativa e passiva.<br />
O surgimento de partidos anti<br />
sistémicos e populistas invocam<br />
esta realidade ocultando as suas<br />
intenções através deste discurso<br />
e sem apresentarem quaisquer<br />
medidas e soluções reais, cabais<br />
e executáveis. Os jovens terão<br />
de combater este desfecho,<br />
lutar incessantemente pela<br />
cultura política e por melhores<br />
governantes. As juventudes<br />
partidárias terão de ser, sempre,<br />
a voz incessante daquilo que<br />
acreditam, musculando e<br />
mobilizando a sua geração nas<br />
causas do seu tempo sendo<br />
a voz dos jovens juntos dos<br />
partidos políticos. Sem medos,<br />
nem amedrontamentos, da<br />
mesma forma que todo o<br />
político deverá ser transparente<br />
e capaz de demonstrar aquilo<br />
que acredita através das<br />
suas ações e não palavras. A<br />
sociedade açoriana é um perfeito<br />
exemplo do saturamento da falta<br />
de transparência e confiança nos<br />
seus líderes político-partidários, é<br />
preciso MUDANÇA!<br />
A sociedade precisa que todas as<br />
juventudes partidárias e jovens se<br />
envolvam no combate político, de<br />
forma construtiva, debatendo os<br />
seus perfis ideológicos, tentando<br />
ser a voz da razão, consciência e<br />
mudança junto dos partidos “mãe”,<br />
pois não se enganem, as ações de<br />
hoje trarão efeitos, o desfecho é<br />
que será uma incógnita. Portanto,<br />
lutemos por mais e melhor pois o<br />
futuro é hoje.<br />
020 NOFEV21
OPINIÃO<br />
Sendo este o primeiro artigo<br />
de opinião da Juventude Social<br />
Democrata dos Açores publicado<br />
nesta revista, não podia deixar passar<br />
a oportunidade para agradecer o<br />
convite para, a partir deste mês e<br />
que irá prolongar-se pelos próximos,<br />
expor as nossas opiniões e as nossas<br />
propostas para contribuir para<br />
melhorar a qualidade de vida de<br />
todos os Açorianos, em especial os<br />
mais jovens. A NO Revista merece<br />
uma palavra de apreço pelo trabalho<br />
que desenvolve pelos Açores.<br />
Vivemos, desde março passado,<br />
momentos muito difíceis. Não só<br />
nos Açores, como em todo o mundo.<br />
Existiram governos que se preparam,<br />
na fase mais calma do Verão, para<br />
agora nos meses mais complicados<br />
FLÁVIO SOARES<br />
De AGORA<br />
em diante<br />
estarem preparados e reforçados<br />
para combater a pandemia que<br />
vivemos. Infelizmente, não foi o que<br />
aconteceu nos Açores. O anterior<br />
governo não foi capaz de preparar<br />
o futuro e deixou a pandemia<br />
à deriva. O maior exemplo que<br />
podemos deixar é mesmo o caso<br />
da obrigação da realização de<br />
testes das ilhas de São Miguel e<br />
da Terceira para outras ilhas que<br />
o anterior governo aplicou, mas<br />
que não preparou as parcerias/<br />
protocolos com os laboratórios<br />
para a realização desses testes.<br />
Foi este governo que no próprio<br />
dia da tomada de posse resolveu a<br />
situação.<br />
Por outro lado, temos de ter<br />
a clara noção que uma das<br />
gerações mais afetada com esta<br />
crise pandémica é, sem dúvida,<br />
a juventude. Claro que existem<br />
muitos outros também afetados,<br />
mas a juventude está a ver as suas<br />
oportunidades colocadas de parte,<br />
quer seja aquela que iniciou a sua<br />
formação ou aquela que iniciou a<br />
sua experiência profissional. Não<br />
nos podemos esquecer também<br />
que temos várias famílias que<br />
perderam ou viram diminuídos os<br />
seus rendimentos familiares, ou<br />
empresas que lutam diariamente<br />
para ultrapassar esta crise que<br />
ainda agora começou. Temos<br />
de ter a firme convicção de que<br />
somos todos uns para os outros<br />
e estamos todos empenhados em<br />
contribuir verdadeiramente para o<br />
sucesso dos Açores.<br />
O novo governo regional tem tido<br />
uma postura ativa e determinada<br />
em diversas áreas, desde logo no<br />
combate à pandemia e no apoio<br />
às nossas famílias e às nossas<br />
empresas que tanto precisam<br />
de medidas que façam face às<br />
dificuldades que estão a sentir<br />
neste momento. Um governo<br />
que já demonstrou que acima<br />
de qualquer interesse partidário<br />
estão os interesses de todos os<br />
Açorianos.<br />
Por outro lado, não se entende a<br />
posição de alguns partidos, onde<br />
se tenta criar a confusão, alguns<br />
dos quais que já apresentaram<br />
mais requerimentos nos últimos<br />
meses, e ainda bem, do que nos<br />
últimos treze anos. Acredito e<br />
espero que seja para bem da nossa<br />
região e que venham mesmo<br />
com vontade de contribuir em<br />
vez de destruir. Todos os partidos<br />
precisam de perceber que é preciso<br />
muito diálogo e transparência,<br />
quer seja na governação, quer seja<br />
no trabalho parlamentar. Este é o<br />
momento de cada um dar o seu<br />
contributo, com responsabilidade<br />
e seriedade, e não podemos deixar<br />
ninguém de parte ou para trás.<br />
Com isto, iremos enriquecer a<br />
política regional e avançar num<br />
desenvolvimento harmonioso para<br />
todas as ilhas. Vamos todos com<br />
confiança e saúde.<br />
022 NOFEV21 023<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
BUILDING THE FUTURE<br />
L I F E L O N G L E A R N I N G<br />
CLÁUDIA CARVALHO<br />
O evento tecnológico “Building the<br />
Future” (BTF), patrocinado pela<br />
Microsoft e pela iMatch, realizou nos<br />
passados dias 26, 27 e 28 de janeiro<br />
a sua terceira edição, a “mais global<br />
de sempre”, tendo-se focado nos<br />
temas da Sustentabilidade, Economia,<br />
Inovação, Trust, Data, Indústria,<br />
Saúde, Skilling, Impacto e Educação.<br />
024 NOFEV21 025<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Assistiram à transmissão live<br />
dos três dias um total de 21 mil<br />
participantes. Com cerca de 150<br />
mil unique viewers, o evento<br />
juntou mais de 300 oradores em<br />
131 sessões, com 34 parceiros, 20<br />
startups ao longo de mais de 100<br />
horas de transmissão online, 11<br />
mil conexões e 2 mil reuniões.<br />
De acordo com uma nota da<br />
Microsoft Portugal News<br />
Center, foi reunido um conjunto<br />
extraordinário de pessoas com<br />
um único objectivo: “mostrar<br />
que, para cada desafio, existe<br />
uma solução à espera de ser<br />
encontrada. As soluções propostas<br />
e apresentadas aos 21 mil<br />
participantes que acompanharam<br />
estes três dias resultam de<br />
uma visão para Portugal que<br />
pretende contagiar decisores<br />
públicos, privados, empresários,<br />
empreendedores, estudantes,<br />
professores e toda a comunidade<br />
educativa”.<br />
“Building the Future” foi “a<br />
maior reunião do ecossistema<br />
empresarial nacional dedicada à<br />
transformação digital e resultou<br />
num momento de reflexão sobre<br />
os temas que estão a definir o<br />
nosso quotidiano e que impactam<br />
na recuperação económica do<br />
tecido empresarial português,<br />
bem como em novos modelos de<br />
educação e capacitação”, referem.<br />
O último dia do evento (EduDay)<br />
foi dedicado à Educação e<br />
Tecnologia. Os organizadores<br />
prometeram apresentar soluções<br />
para a utilização da tecnologia de<br />
forma a permitir a transformação<br />
digital na educação, “ao mesmo<br />
tempo que olhamos para o<br />
futuro de Portugal, promovendo<br />
a aprendizagem a qualquer<br />
momento, em qualquer lugar”.<br />
Para o EduDay, o BTF associouse<br />
à Fundação José Neves, que<br />
também tem vindo a construir<br />
estratégias para promover uma<br />
sociedade de conhecimento.<br />
No EduDay, António Cunha<br />
e António Murta dedicaram a<br />
sua sessão ao tema “Lifelong<br />
Learning”. António Cunha é<br />
licenciado em Engenharia de<br />
Produção, na Universidade do<br />
Minho e doutorado em Ciência<br />
e Engenharia de Polímeros. É,<br />
desde 2003, Professor Catedrático<br />
do Departamento de Engenharia<br />
de Polímeros.<br />
026 NOFEV21 027<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Foi Presidente da Escola<br />
de Engenharia, Reitor da<br />
Universidade do Minho e<br />
Presidente do Conselho de<br />
Reitores das Universidades<br />
Portuguesas. Atualmente,<br />
é Presidente da Comissão<br />
de Coordenação e<br />
Desenvolvimento do Norte<br />
(CCDR-N), desde outubro de<br />
2020.<br />
António Murta é cofundador<br />
da Fundação José Neves,<br />
Managing Partner, cofundador e<br />
CEO da Pathena. O seu percurso<br />
está ligado há várias décadas ao<br />
empreendedorismo. Cofundou<br />
e foi CEO da tecnológica de<br />
retalho, a Enabler, comprada em<br />
2006 pelo grupo indiano Wipro.<br />
Foi também Sócio Fundador<br />
e Business Angel de várias<br />
empresas de TI e MedTech.<br />
Durante 15 minutos, os dois<br />
oradores criaram uma sessão<br />
dedicada à importância<br />
de encarar a Educação ao<br />
longo da vida como um<br />
novo normal, num Mundo e<br />
mercado de trabalho que muda<br />
a um ritmo “acelerado” e que<br />
“exige uma grande atualização<br />
do conhecimento e das<br />
competências”.<br />
António Murta sustentou,<br />
inicialmente, que é do senso<br />
comum dizer-se “que já não há<br />
empregos para a vida” e, por isso,<br />
“todos nós vamos ter de fazer<br />
diferentes coisas ao longo da<br />
vida”. Aqueles que eram dados<br />
adquiridos, como um trabalho<br />
garantido para o resto da vida<br />
das pessoas, já não o pode ser.<br />
A evolução do Mundo e do<br />
mercado de trabalho obrigam,<br />
assim, a repensar novas formas<br />
de ver o processo da Educação,<br />
sendo que o último nunca<br />
pode ser considerado como um<br />
processo acabado depois de uma<br />
licenciatura.<br />
Por isso, questionou António<br />
Cunha sobre as fragilidades que<br />
existem na sociedade no que<br />
concerne à mudança do entorno<br />
social, de forma a garantir que a<br />
sociedade esteja preparada para<br />
um novo contexto, “muito mais<br />
mutante e agressivo do que há<br />
alguns anos”.<br />
028 NOFEV21 029<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
António Cunha considerou que<br />
estamos, atualmente, no contexto<br />
da revolução – “da tal revolução,<br />
ela própria também acompanhada<br />
por outras transições”, que estão<br />
a dar, paulatinamente, “maior<br />
centralidade às pessoas”.<br />
Conforme referiu, “num contexto<br />
de maior exigência de níveis<br />
de desenvolvimento humano”,<br />
ao dar-se maior centralidade<br />
às pessoas, as máquinas vão<br />
começar a substituir as pessoas<br />
em atividades mais rotineiras<br />
e simples para que as últimas<br />
possam estar envolvidas em<br />
atividades mais interessantes.<br />
“Mas isso significa que tem que<br />
haver maior formação e têm<br />
que haver competências mais<br />
consolidadas”, avisa o Presidente<br />
da CCDR-N. Segundo António<br />
Cunha, para que se proceda<br />
à centralidade das pessoas, é<br />
necessário existir a adaptação<br />
a três níveis – das entidades<br />
formadoras, das empresas e das<br />
pessoas.<br />
Ao nível das entidades<br />
formadoras, António Cunha<br />
entende que é necessária “uma<br />
adaptação muito grande” das<br />
universidades, dos institutos<br />
politécnicos e das novas estruturas<br />
que se venham a criar neste<br />
domínio, “porque as necessidades<br />
de formação são diferentes, são<br />
necessidades de formação curtas,<br />
específicas, que possam ser<br />
montadas de determinada maneira<br />
para se conseguir fazer percursos<br />
formativos”. Conforme explicou,<br />
atualmente, as universidades não<br />
se encontram preparadas para esta<br />
adaptação e, apesar de existirem<br />
entidades que realizam cursos curtos,<br />
“não terão provavelmente o<br />
nível de maturidade formativa<br />
para a exigência em que esta<br />
formação tem que ser dada”,<br />
e sustenta: “tem que ser uma<br />
formação baseada em cursos<br />
curtos, mas isso não significa que<br />
não seja uma formação de alta<br />
qualidade”.<br />
Em relação ao processo de<br />
formação como um elemento que<br />
deve ser contínuo e constante<br />
na vida das pessoas, António<br />
Cunha defendeu que esta é uma<br />
formação para pessoas que estão<br />
empregadas, o que significa<br />
que isso tenha de ser algo que<br />
as empresas tenham de passar a<br />
considerar no seu planeamento e<br />
na sua gestão pessoal.<br />
030 NOFEV21 031<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Por isso, ao nível empresarial, é necessária<br />
essa adaptação. “Isto não são ações<br />
de formação como normalmente são<br />
programadas para determinados gruposalvo.<br />
Isto é para toda a gente. Todas as<br />
pessoas vão ter que ser envolvidas neste<br />
processo”, argumentou.<br />
No último nível de adaptação estão as<br />
pessoas, precisamente, que vão ter “de se<br />
adaptar desde logo, desde muito cedo”.<br />
Para o Presidente da CCDR-N, quando<br />
os jovens ingressarem na universidade<br />
para prosseguirem os seus estudos, devem<br />
entender o processo de aprendizagem<br />
naquela instituição como o início de uma<br />
formação futura. “Depois, ao longo da<br />
vida, têm que gerir o modo como vão<br />
fazer essa formação, podendo ter opções<br />
muito diversas nessa estratégia (…)<br />
pode ser uma estratégia de alargar áreas<br />
de atuação e evoluir para quadros mais<br />
multidisciplinares”, ou até mesmo uma<br />
estratégia face ao desenvolvimento que<br />
está a ter no seu percurso profissional e no<br />
seu emprego, depois de isso acontecer, de<br />
forma a nunca ver a universidade como<br />
um processo estanque por si, em que a<br />
formação termine quando a licenciatura<br />
também terminar.<br />
Depois de o cofundador da Fundação<br />
José Neves ter referido que se devem<br />
formular estratégias híbridas em que se<br />
combinam dimensões orientadas<br />
à manutenção das despesas<br />
diárias com dimensões sociais<br />
ou caritativas, António Cunha<br />
concordou com a tese defendida<br />
por António Murta e acrescentou<br />
que esse desenvolvimento de<br />
competências, em última análise,<br />
“vai ser perspetivado numa lógica<br />
de permitir aprofundar quadros de<br />
criatividade de inovação”.<br />
“A criatividade é um processo que<br />
se aprende, que se aprende com<br />
conhecimento, que se aprende<br />
com exposição a outras realidades,<br />
que se aprende conhecendo<br />
abordagens de sucesso (…) por um<br />
desenvolvimento e uma capacidade<br />
intrínseca de curiosidade e isso é<br />
algo que a formação tem que dar e<br />
é algo que esta formação, ao longo<br />
da vida, tem que complementar”,<br />
acrescentou.<br />
Ainda sobre o tema, António Murta<br />
032 NOFEV21 033<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
lembrou o caso da LEGO que esteve<br />
à beira da falência e que foi salva<br />
por um conjunto de sociólogos.<br />
Segundo explicou, sabiam<br />
muito pouco de brinquedos e de<br />
tecnologia, mas sabiam muito de<br />
observar Homens, “é nisso que são<br />
fortes os sociólogos”.<br />
Esses profissionais, conforme<br />
explicou, falaram com as crianças<br />
e os pais das crianças que lhes<br />
pagavam os brinquedos para<br />
descobrir que “tão importante como<br />
as crianças que eram supostamente<br />
os clientes da LEGO eram os pais<br />
que brincavam também com os<br />
brinquedos e foi assim que nasceram<br />
produtos que começaram por ser<br />
para os pais e que rapidamente<br />
passaram para os filhos”.<br />
Antes de terminar a sessão, António<br />
Cunha lembrou alguns números<br />
em Portugal que podem parecer<br />
“interessantes”, mas que, após<br />
uma reflexão, podem tornar-se<br />
preocupantes. O Presidente da<br />
CCDR-N apontou que no ano<br />
transato Portugal conseguiu, pela<br />
primeira vez, ter 50% do<br />
escalão etário 18-20 anos a<br />
ingressar no ensino superior.<br />
“É uma coisa que nos pode<br />
deixar satisfeitos, mas<br />
significa que há 50% que não<br />
entraram”.<br />
Para além da constatação<br />
inicial, lembrou que, há<br />
15 anos atrás, o número<br />
situava-se na ordem dos<br />
27%-28%. Aos 50% que<br />
ingressaram agora na<br />
universidade, apontam-se<br />
números de dropouts na<br />
ordem dos 10% - “isto quer<br />
dizer que nós podemos ter<br />
um número que é enganador,<br />
porque é interessante terse<br />
50% da população com<br />
18 anos a entrar no ensino<br />
superior, estamos a falar da<br />
universidade, politécnico ou<br />
os CETS”, mas conforme<br />
mostrou preocupação, “os<br />
nossos números comparam<br />
muito mal com os números<br />
europeus” no que respeita à<br />
formação ao longo da vida.<br />
Ou seja, apesar de sermos<br />
dos países, dentro da União<br />
Europeia, com população<br />
estudantil extremamente<br />
jovem, “a maioria dos<br />
nossos estudantes são jovens<br />
que fazem o seu curso na<br />
universidade e que depois<br />
não voltam à universidade<br />
ou ao instituto politécnico e<br />
é este processo que é preciso<br />
inverter”.<br />
António Cunha defendeu<br />
que é preciso que aqueles<br />
que não acabaram o curso<br />
o façam, mas também as<br />
pessoas que fizeram o seu<br />
primeiro curso voltem às<br />
instituições para fazer um<br />
segundo curso, uma pósgraduação<br />
ou os tais cursos<br />
curtos complementares.<br />
“Portugal, nos últimos 10,<br />
20 anos, fez saltos muito<br />
significativos nas estatísticas,<br />
nomeadamente da OCDE,<br />
mas tem aqui um número<br />
que não é interessante e<br />
que nos deve preocupar e<br />
que deve ser alvo da nossa<br />
atenção e é por isso que esta<br />
intervenção neste domínio se<br />
afigura como muito, muito<br />
importante”, considerou.<br />
No final do debate, António<br />
Murta defendeu que um bom<br />
mote para encerrar seria:<br />
“temos de estudar, todos os<br />
portugueses, sem exceção, ao<br />
longo da vida”.<br />
034 NOFEV21 035<br />
NOFEV21
SOFIA CORDEIRO<br />
SCOLA:<br />
UMA ESTRUTURA ORIENTADA PARA O FUTURO<br />
No webinar<br />
“Regressar ao<br />
futuro”, orientado<br />
por Neuza<br />
Pedro, Professora<br />
do Instituto de<br />
Educação da<br />
Universidade de<br />
Lisboa, abordou-se<br />
o assunto da escola<br />
presencial e virtual, não<br />
só as suas diferenças<br />
como também as suas<br />
consequências.<br />
036 NOFEV21<br />
NOFEV21 037
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Assim, foi debatida a<br />
lógica de valorização do<br />
que se aprendeu até hoje e<br />
simultaneamente um olhar<br />
prospetivo em relação<br />
àquilo que se avizinha,<br />
porque às vezes o presente<br />
exige uma esperança para<br />
dias melhores.<br />
Em certa medida, será<br />
importante olhar a escola,<br />
circunscrevendo-a no<br />
momento atual, num<br />
sentido amplificado de<br />
entender que a escola<br />
precisa de se situar no<br />
século XXI e com todos os<br />
desafios do século.<br />
A professora começou por<br />
afirmar que<br />
“<br />
O ano letivo atual é um ano que todos os<br />
adjetivos que queremos aplicar serão diminutos<br />
na sua qualidade e na sua capacidade criativa<br />
“É muito importante ter-se a noção que os<br />
últimos meses ajudaram a perceber que a<br />
‘escola imperfeita’ que nós estamos capazes de<br />
disponibilizar às crianças e jovens é ainda melhor<br />
que a ‘não escola’<br />
Portanto, esta noção<br />
“do pouco que estamos<br />
a conseguir dar sem<br />
qualidade ainda que<br />
numa busca incremental<br />
de correta qualidade não<br />
satisfaz a todos e é bem<br />
melhor do que aquilo que<br />
a ausência de escola nos<br />
proporcionará”.<br />
É verdade que em<br />
Portugal, numa<br />
consciência clara<br />
tomada nos últimos<br />
tempos e abrindo-se a<br />
escola recentemente ou<br />
reabrindo-se o sistema<br />
educativo, existem pontos<br />
importantes que importam<br />
assinalar numa escola<br />
assente na presencialidade.<br />
Em primeiro lugar, “é a<br />
preocupação que temos, a<br />
noção que<br />
“<br />
É um ano que estamos<br />
exatamente a fazer aquilo<br />
que ainda não sabemos<br />
muito bem como fazêlo<br />
e as nossas crianças<br />
a fazer este processo de<br />
aprendizagem connosco<br />
sem que nós tenhamos<br />
muitas esperanças por<br />
aquilo que poderemos<br />
oferecer, mas no momento<br />
de incerteza, de dúvidas,<br />
num momento em<br />
que todos sentimos,<br />
efetivamente, que não<br />
estamos a conseguir<br />
trazer para perto as nossas<br />
crianças e jovens aquilo<br />
que nós gostaríamos<br />
de oferecer e que eles<br />
mereciam”.<br />
No contexto escolar<br />
“<br />
A escola tem uma responsabilidade social e tem<br />
um peso significativo na estabilidade do nosso<br />
sistema económico que vai muito além daquilo<br />
que seria a função primordial da escola”<br />
038 NOFEV21<br />
NOFEV21 039
Seriamente, pode-se discutir se estas<br />
seriam as funções da escola, sem<br />
esquecer que estas são estruturantes<br />
no DNA das escolas de hoje.<br />
A escola hoje garante<br />
uma lógica existencialista<br />
a muitas famílias<br />
carenciadas, esta escola<br />
é um suporte ao mundo<br />
profissional que necessita<br />
que os pais estejam nos<br />
seus locais de trabalho<br />
e, portanto, a ausência de escola<br />
e a incapacidade que se tem, do<br />
ponto de vista social, a encontrar<br />
outros meios em assegurar este<br />
suporte às crianças e jovens pois “é,<br />
efetivamente, uma dimensão que se<br />
tornou clara e que se mantém clara e<br />
que é inequívoca”.<br />
Simultaneamente, a preocupação<br />
de se sentir na pele que as crianças<br />
e jovens necessitavam de ver<br />
reestabelecida a dimensão relacional<br />
do processo educativo que nos<br />
últimos meses alicerçado numa<br />
lógica de ensino à distância,<br />
“eu diria, tão bem conseguido<br />
quanto possível não próximo do<br />
desejável, não próximo daquilo<br />
que ambicionaríamos, mas tão<br />
conseguida quanto foi possível,<br />
não trouxe em sentido pleno, não<br />
trouxe porque também não era<br />
exatamente numa situação de<br />
calamidade pública e de saúde<br />
pública em causa e aquilo que<br />
conseguimos estabelecer no<br />
passado, mas apenas a noção<br />
que antigamente as crianças<br />
e jovens voltavam a desejar a<br />
estar uns com os outros e esta é<br />
a dimensão da presencialidade<br />
que hoje em dia pode ser<br />
efetivamente discutida e com<br />
respeito que estamos no mesmo<br />
espaço sem que isso em si não<br />
precisa ser antónimo da ideia<br />
de que em espaços online não<br />
estamos também próximos uns<br />
dos outros,<br />
“Até que esta dimensão da proximidade<br />
física foi algo que as nossas crianças e jovens<br />
não tinham noção de uma forma diferente de<br />
aprender a não ser alicerçada na sala de aula<br />
efetivamente sentiram algo muito diferente<br />
daquilo que se poderia identificar como fator<br />
determinante do processo de aprendizagem”<br />
040 NOFEV21<br />
NOFEV21 041
REPORTAGEM<br />
3O terceiro ponto assenta na ideia da preocupação que o<br />
trabalho online e o trazer o processo de ensino-aprendizagem<br />
para um ambiente digital, envolvendo outra lógica de pensar<br />
no tempo de forma mais clara e simples.<br />
“Para trabalhar certos conteúdos o tempo de<br />
fazê-lo online não é aquele que o currículo<br />
preconiza de forma até mais incisiva”<br />
Nós iremos ter o currículo na<br />
forma em que está estruturado<br />
para ser presencialmente mesmo<br />
já não contemplando tempo para<br />
tudo”. Se se pensar este mesmo<br />
currículo que foi exercido online,<br />
há, efetivamente, uma noção clara<br />
de que nem todos os conteúdos<br />
se conseguem, adequadamente e<br />
temporalmente, estruturado numa<br />
lógica sedimentada nos meses<br />
que se antecederam, reestabelecer<br />
o sistema educativo na lógica de<br />
recuperar os conteúdos que “do<br />
meu ponto de vista deviam ser<br />
mais incisivamente centrada na<br />
ideia de assegurar aprendizagens,<br />
reestabelecer aprendizagens e<br />
trazê-los para o novo ambiente,<br />
incrementando-as e tornandoas<br />
mais sólidas do que até agora<br />
conseguimos”.<br />
“Este ponto é um elemento<br />
importante, mas diríamos todos<br />
que, olhando para os meses que<br />
se passaram, esta noção de que<br />
realmente ficou em causa mais do<br />
que os conteúdos e muito mais que<br />
as aprendizagens, ficou em causa<br />
o bem-estar dos nossos alunos que<br />
realmente a todos nos toca de forma<br />
bem próxima e bem presente. Os<br />
alunos viveram de forma favorável<br />
quanto possível aquilo que foi o<br />
ensino à distância, estabelecido pela<br />
necessidade de encerrar as escolas,<br />
apesar de as aprendizagens terem<br />
se procurado manter e o contato<br />
entre professores e alunos tentar, em<br />
certa medida, compensar esta lógica<br />
de distanciamento que as tecnologias<br />
impõem uma situação em que no<br />
sentido pleno e íntegro, estes alunos<br />
sentissem que os últimos meses não<br />
foram de bem-estar e o quanto isto é<br />
prejudicial para a aprendizagem dos<br />
nossos alunos”.<br />
Outra ideia fundamental assenta na<br />
tentativa de perceber que a sociedade<br />
futura irá implementar novas condutas<br />
de saúde pública a todos, é chamado<br />
a responder a esta necessidade, este<br />
interiorizar e de utilizar de forma<br />
eficiente e de, muitas vezes, quase<br />
de forma automática novas condutas<br />
de distanciamento social, de higiene<br />
respiratória, de convivência que são<br />
condutas que até agora a sociedade<br />
não tinha adquirido, assim como,<br />
do ponto de vista social da ação de<br />
uma cidade, o que acontece numa<br />
escola como muitas vezes acontece<br />
com expressão no currículo e, por<br />
consequência, “quando temos uma<br />
sociedade que precisa de adquirir<br />
novos hábitos e a entender que<br />
a escola não terá uma promoção<br />
primordial destes mesmos hábitos é<br />
realmente dar à escola um poder que,<br />
efetivamente, está a ganhar promoção<br />
que ela tem”.<br />
042 NOFEV21<br />
NOFEV21 043
REPORTAGEM<br />
“É verdade que com novas<br />
práticas, por exemplo,<br />
no que diz respeito à<br />
reciclagem que vimos que<br />
muitos anos de trabalho,<br />
em ambiente escolar,<br />
conseguiram alcançar<br />
melhores práticas, é verdade<br />
que nos comportamentos<br />
de risco, é verdade que em<br />
relação àquilo que é a saúde<br />
e a melhor alimentação são<br />
bandeiras que têm vindo a<br />
ser erguidas há vários anos<br />
e que agora com as novas<br />
gerações houve mudanças<br />
nas práticas sociais e hoje<br />
precisamos de adquirir<br />
novas condutas e elas têm<br />
que ser trabalhadas nas<br />
escolas, porque a escola está<br />
lá para todas as crianças e a<br />
todos os jovens que nós não<br />
podemos deixar somente nas<br />
mãos das famílias, somente<br />
na mão que é a estrutura<br />
social não estratificada e não<br />
orientada em função de um<br />
sistema educativo, portanto<br />
em certa medida mais<br />
diluída e mais corporizada”.<br />
E, portanto, estas cinco<br />
ideias apresentadas são<br />
importantes para lembrar<br />
que “há valor no regressar<br />
à escola e que também há<br />
custo e que nós notamos<br />
e sentimos na voz dos<br />
nossos alunos e dos nossos<br />
professores este custo que<br />
hoje em dia se lhes<br />
impõe.” E não<br />
só valorizando o<br />
regresso à escola,<br />
há que pensar<br />
também a que<br />
escola se quer voltar<br />
e simultaneamente<br />
para que futuro esta<br />
escola se orienta,<br />
sendo que o futuro<br />
pode ser subjetivo<br />
numa lógica muito<br />
próxima que é o<br />
futuro amanhã, mas<br />
também pode ser<br />
sentido numa lógica<br />
mais distante que<br />
é o futuro dos anos<br />
que se seguem. E<br />
importa também<br />
ter noção que no<br />
contexto escolar,<br />
a escola em si está<br />
estruturalmente<br />
orientada para o<br />
futuro. A escola<br />
orienta-se em torno<br />
da aprendizagem<br />
“sempre a acontecer<br />
hoje e para ser útil<br />
hoje e para ser um<br />
piloto para servir<br />
de base do novo<br />
amanhã e para o<br />
desenvolvimento<br />
de novas<br />
aprendizagens”.<br />
Vale olhar para<br />
aquilo que foram as<br />
lições aprendidas<br />
destes últimos<br />
meses “para extrair<br />
elementos de base<br />
que nos ajudem a<br />
olhar o futuro com<br />
um sentido mais<br />
empedrado num<br />
sentido mais crente<br />
no valor inerente<br />
ao decidir aquilo<br />
que se enxerga”<br />
044 NOFEV21<br />
NOFEV21 045
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
e olhando, recentemente,<br />
para aquilo que as estatísticas<br />
mostram em relação às<br />
práticas estabelecidas durante<br />
o encerramento das escolas<br />
por consequência do covid-19.<br />
Importa ter noção de que as<br />
práticas que se estabeleceram<br />
no mundo inteiro, estando a<br />
falar na representação daquilo<br />
que foram as estáticas que<br />
suportam o ensino à distância<br />
durante o lançamento da escola<br />
nos diferentes níveis do sistema<br />
educativo e nas diferentes<br />
regiões do mundo.<br />
De salientar que no sentido<br />
incremental, desde o pré-escolar<br />
ao ensino secundário, importa ter<br />
noção que foi o trabalho online<br />
que ganhou maior expressão,<br />
nomeadamente, nos níveis<br />
mais elevados de escolaridade<br />
e “naquilo que nós entendemos<br />
que são os continentes com<br />
melhores recursos e com<br />
consequentemente de porão<br />
de sistemas educativos que<br />
também por detrás têm melhores<br />
recursos, nomeadamente,<br />
natureza técnica, mas também<br />
natureza financeira e humana”.<br />
E, portanto, perceber que<br />
não é por acaso que, olhando<br />
para a realidade no mundo,<br />
a dimensão online ganhou<br />
particular expressão pelo que<br />
se consegue fazer com ela e<br />
não se consegue, forçosamente,<br />
numa lógica de aprendizagem<br />
baseada em papel, em<br />
impressão de documentos<br />
que foram entregues nas<br />
famílias ou nas soluções<br />
que como rádio que faculta<br />
na transmissão “puramente<br />
oral” daquilo que são os<br />
conteúdos a serem trabalhados,<br />
também importa entender<br />
que a televisão teve um valor<br />
considerável pela dimensão<br />
unilateral da comunicação.<br />
Também se mostra a<br />
diminuição no envio dos<br />
propósitos do processo<br />
de ensino-aprendizagem<br />
que se entende relacional<br />
e que se deve primar pela<br />
bidirecionalidade senão pela<br />
multidireccionalidade do<br />
processo comunicacional.<br />
Note-se que os dados que<br />
são trazidos pela mesma<br />
entidade em relação ao<br />
mesmo fenómeno em análise<br />
que durante este processo<br />
de suporte à transição da<br />
aprendizagem para o ambiente<br />
online, o trabalho feito pelos<br />
professores para suportar<br />
os alunos no seu estudo<br />
denota-se que a tecnologia<br />
maioritariamente utilizada por<br />
estes professores foi tecnologia<br />
online e a tecnologia alicerçada<br />
em plataformas mobile,<br />
em equipamentos móveis,<br />
mas a preocupação em<br />
perceber que à medida que os<br />
níveis de ensino progridem<br />
crescentemente se verifica<br />
a utilização de tecnologia<br />
online em plataformas<br />
mobile, acabando por ser<br />
determinante na realidade que<br />
se aqui espelha dos sistemas<br />
educativos no mundo inteiro<br />
046 NOFEV21<br />
NOFEV21 047
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
nos diferentes tipos de ensino.<br />
“Não sendo por acaso que<br />
esta tendência mostra ser<br />
global e olhar estes dados no<br />
sentido global para também<br />
perceber em que medida nos<br />
ajudam a definir diretrizes<br />
para a realidade local, mas<br />
para fazê-lo assegurar-se-ão<br />
elementos que são descritivos<br />
da realidade nacional que não<br />
é possível deixar de ignorar,<br />
nomeadamente, a noção clara<br />
de que no contexto português<br />
há uma desigualdade social de<br />
que a escola é vítima” e que<br />
importa assegurar que irá, em<br />
certa medida, ser reduzida,<br />
limitada a preocupação clara<br />
que o sistema educativo<br />
português, ainda muito<br />
frágil no que diz respeito a<br />
infraestruturas tecnológicas,<br />
que disponibiliza aos seus<br />
professores e alunos e que<br />
importa atualizar, “e apesar<br />
de o corpo docente que se<br />
coloca ao serviço da educação<br />
em situações críticas em que<br />
vivemos ainda assim estes<br />
docentes não perdem em si<br />
a confiança no sentido de<br />
competência que os faz viver<br />
em ambiente online e tirar<br />
partido das tecnologias com<br />
confiança e com conforto,<br />
portanto há uma preocupação<br />
em estabelecer mecanismos<br />
que façam os professores<br />
sentirem-se preparados para<br />
atuar pedagogicamente com<br />
tecnologia”.<br />
E depois também uma<br />
consciência importante de que,<br />
muitas das vezes, a apreciação<br />
que se faz da relação do<br />
processo de publicação da<br />
tecnologia como suporte de<br />
ensino de aprendizagem de<br />
barra com crianças que são<br />
negativas e que não abonam<br />
em favor do efeito favorável<br />
das tecnologias, “mas que<br />
muitas vezes são alicerçadas<br />
somente em preconceitos e vivências<br />
negativas em determinados momentos<br />
da vida profissional ou escolar dos<br />
elementos da nossa sociedade e,<br />
portanto, estas crianças em si não<br />
encontram fundamento no que diz<br />
respeito àquilo que é produzido na<br />
área ou aquilo que encontram acaba<br />
por, em certa medida, atuar de forma<br />
contraproducente para as melhorias<br />
que se procuram estabelecer sem<br />
tomar consciência de que melhorias<br />
são estas e que efeitos podem vir a ser<br />
encontrados”. Importa considerar que<br />
no mundo inteiro estes movimentos<br />
de tirar partido das tecnologias móveis<br />
e das plataformas online foi uma das<br />
soluções estabelecidas também no<br />
domínio nacional importa depois olhar<br />
048 NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
para a realidade local e pensar no<br />
que, “apesar de tudo se encontra<br />
na nossa realidade, embora menos<br />
favorável ou pode ser mesmo fator<br />
de limitação e de pouca capacidade<br />
de elencagem naquilo que foram os<br />
sucessos estabelecidos nos últimos<br />
tempos. E na realidade nacional eu<br />
identificaria estes quatro fatores<br />
como acessíveis de estabelecer<br />
efeitos negativos no que diz respeito<br />
à profusão da tecnologia e ambientes<br />
online e no que diz respeito ao<br />
sistema educativo português”.<br />
Ora, ainda assim considerando estes<br />
fatores, “há um que eu escolheria<br />
como predominantemente negativo<br />
que é esta missão daquilo que se<br />
consegue fazer em sala de aula<br />
que é muito determinado pela<br />
capacidade do professor que nesta<br />
sala de aula atua que como um fator<br />
enfático no sistema educativo e<br />
que em si não responde a todas as<br />
exigências e a todas as necessidades<br />
que os nossos alunos trazem para<br />
a sala de aula, mas ele é a porta<br />
de acesso a estes mesmos alunos<br />
e ao desenvolvimento e é também<br />
mediador de todos os fatores que<br />
à volta do sistema educativo o<br />
estruturam e que acabam em certa<br />
medida por ser ali representados pela<br />
sua figura. Há, portanto, que investir<br />
não só nesta classe como também<br />
também na valorização social e no<br />
reconhecimento social desta classe,<br />
sendo um fator determinante que em<br />
todos importa considerar, orientando<br />
esta noção que estamos num sistema<br />
educativo que a cada dia desenha o<br />
futuro”.<br />
050 NOFEV21 051<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
ANA MASSA<br />
052 NOFEV21<br />
No passado dia 15 de janeiro,<br />
a livraria Letras Lavadas<br />
promoveu um webinar intitulado<br />
“Importância da literatura<br />
infantojuvenil no crescimento<br />
emocional das crianças e dos<br />
jovens”, moderado por Patrícia<br />
Carreiro, e que contou com<br />
a participação de Margarida<br />
Fonseca Santos, autora da coleção<br />
A Escolha é Minha, professora,<br />
escritora, música, compositora,<br />
formadora e dramaturga que edita<br />
com a 20|20 e de Sara Almeida<br />
de Leite, autora de O Mundo<br />
da Inês, que edita com a Porto<br />
Editora e é professora no ISEC<br />
Lisboa, onde também coordena<br />
a pós-graduação Arte de Contar<br />
Estórias. Em primeiro lugar e<br />
no âmbito do relacionamento da<br />
adolescência com o crescimento<br />
de sentimentos e da importância<br />
que a literatura tem nesta fase da<br />
vida, Margarida Santos afirmou<br />
que a<br />
NOFEV21 053
REPORTAGEM<br />
“leitura é um ato solitário, mas<br />
é também uma forma de nos<br />
redescobrirmos. Sempre que lemos<br />
estamos a reconstruir a nossa própria<br />
vida e, portanto, é importante que<br />
esteja presente a forma como outras<br />
personagens, não só pessoas vivem as<br />
suas aventuras, desventuras, etc”.<br />
Embora haja muitos miúdos que “fogem da<br />
leitura”, como diz Margarida,<br />
“acho que ainda não<br />
encontraram foi o livro<br />
certo, porque, no momento<br />
em que encontram o livro<br />
certo, a leitura pode ser<br />
realmente uma grande<br />
companhia e um grande<br />
momento de crescimento<br />
interior e pessoal”.<br />
De facto, a coleção A Escolha é Minha<br />
aborda diferentes temas que afetam<br />
diariamente a vida dos adolescentes,<br />
como por exemplo em Reconstruir<br />
os dias que fala da morte da mãe do<br />
protagonista, e no que concerne à<br />
missão específica que este projeto<br />
acarreta, Margarida adiantou que<br />
para já “há uma certa dificuldade de<br />
as editoras aceitarem que se fale de<br />
assuntos complicados”. Relativamente<br />
à escolha do título da coleção, a autora<br />
revela que “nós nem sempre podemos<br />
escolher o que acontece na nossa vida,<br />
mas nós podemos escolher como é<br />
que reagimos ao que acontece.<br />
A ideia é levar a perceber como é que<br />
pessoas diferentes entendem coisas<br />
diferentes”. Em Reconstruir os Dias, a<br />
ação é narrada pelo adolescente e pelo<br />
avô e neste livro, em particular, é feito<br />
um tributo aos avós que “normalmente<br />
quando perdem um filho e há netos,<br />
esquecem-se da sua própria dor<br />
054 NOFEV21<br />
NOFEV21 055
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
para ajudar os netos a<br />
conseguir sobreviver e<br />
só depois quando eles<br />
começam a encaminhar<br />
a sua vida é que os<br />
avós se abandonam ao<br />
luto e isso é importante<br />
também falar-se, mas<br />
como são vistas por<br />
dois prismas, a verdade<br />
é que nós não vemos<br />
uma realidade contada<br />
por um narrador que à<br />
partida é omnipresente<br />
e sabe de tudo e está a<br />
contar de uma forma<br />
algo distanciada, aqui<br />
estamos a viver pelos<br />
olhos subjetivos e<br />
pelo sentir subjetivo<br />
da personagem e isso<br />
eu acho que também<br />
ajuda muito sobretudo a<br />
entender algumas coisas<br />
que nós sentimos”, afirma<br />
Margarida.<br />
Já O Mundo da Inês de<br />
Sara nasceu um pouco<br />
pela necessidade de ler e<br />
escrever para a sua filha,<br />
a parte “acidental da<br />
questão”, pois a autora<br />
afirma que escrevia para<br />
a entreter e no fundo<br />
“o ponto de partida da<br />
coleção acho eu que foi<br />
um bocadinho limitado,<br />
porque ela na altura<br />
gostava muito de ler<br />
aquelas coleções da Enid<br />
Blyton das meninas que<br />
viviam nos colégios<br />
internos” e então decidiu<br />
criar-lhe uma história<br />
única. “Aqui não era mais<br />
do que entretenimento”,<br />
afirma a autora, no<br />
entanto a mesma<br />
acredita que na altura<br />
“tinha a preocupação de<br />
questionar um bocadinho<br />
as questões das relações<br />
humanas, de pessoas que<br />
têm comportamentos<br />
desagradáveis com os<br />
outros e tentar perceber o<br />
porquê, etc.<br />
Já havia ali um explorar<br />
dos sentimentos e<br />
das atitudes e do<br />
questionamento, mas<br />
depois de a coleção<br />
começar a ser publicada e a ter uma<br />
projeção que eu não imaginava,<br />
eu comecei a perceber que tinha<br />
muita gente a ler que gostava dessa<br />
problematização das situações e eu<br />
própria escrevendo para mim porque a<br />
escrita para mim é como uma terapia”.<br />
Embora o Mundo da Inês aborde<br />
diretamente a vida de uma jovem<br />
miúda, a autora afirma não apreciar a<br />
ideia de que “os livros estão limitados<br />
para um determinado público, acho<br />
que os livros são para quem<br />
os quiser ler”. Apesar de Sara<br />
se encontrar mais familiarizada com<br />
o mundo feminino, “porque eu sou<br />
mulher e escrevo mais facilmente<br />
sobre o mundo interior das mulheres<br />
do que o dos homens, mas acho que o<br />
mundo feminino é um mundo muito<br />
interessante para os homens, portanto,<br />
há se calhar rapazes que, querendo<br />
saber como é que as raparigas pensam<br />
e funcionam, podem ter a curiosidade<br />
de ler estes livros”.<br />
Margarida também já escreveu<br />
muito quer para crianças quer para<br />
adolescentes e jovens e agora encontrase<br />
num novo projeto, Re-Word-It, que<br />
056 NOFEV21 057<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
nasce da necessidade<br />
de envolver os alunos<br />
na aprendizagem.<br />
Para a autora, “é<br />
um momento muito<br />
feliz na minha vida,<br />
comecei a trabalhar<br />
na área dos desafios<br />
de escrita, lancei o<br />
blog das 77 Palavras<br />
há 11 anos e de<br />
repente estava-me<br />
a sentir um pouco<br />
sozinha nesta viagem<br />
e então encontrei a<br />
parceira ideal que é a<br />
Isabel Teixeira que é<br />
doutorada em Biologia<br />
Molecular, mas que<br />
agora está ligada a este<br />
mundo das letras e das<br />
histórias e juntámonos<br />
as duas”. Este<br />
projeto visa fazer<br />
lançar a ideia de que<br />
os desafios de escrita<br />
são desafios que levam<br />
à brincadeira com<br />
as palavras, fazendo<br />
os jovens sentirem<br />
mais prazer pelas<br />
mesmas. “Mas, por<br />
outro lado, também<br />
ligamos à leitura<br />
coisas da música que<br />
tem que ver com a<br />
audição interior, com o treino,<br />
tudo isso da música é mesmo<br />
muito importante quando os<br />
miúdos têm dificuldades na<br />
aprendizagem da leitura e<br />
têm uma leitura muito lenta<br />
e muito soletrada e, portanto,<br />
juntámos à leitura e à escrita<br />
a atenção, a parte emocional e<br />
também outra coisa que para<br />
nós é fundamental que é a<br />
metacognição, ou seja, o pensar<br />
sobre a forma como cada um de<br />
nós aprende e faz”.<br />
Este projeto de facto tem<br />
uma referência direta com o<br />
crescimento dos jovens porque<br />
também trabalha a mudança<br />
da educação e investe na<br />
atenção deles. Neste contexto,<br />
Margarida afirma que para além<br />
da leitura, a escrita transforma<br />
os adolescentes. “É engraçado<br />
estar, por exemplo, a recontar a<br />
história da tartaruga e da lebre<br />
sem poder usar a letra R e eles<br />
olham para nós e dizem: Mas<br />
isto é impossível; não é impossível<br />
e então começam a construir e<br />
começam a pensar: Não posso<br />
dizer corrida, não posso dizer os<br />
verbos no infinitivo; e tudo isto<br />
é tão divertido porque andamos<br />
a descobrir caminhos. Neste<br />
processo acontece quase sempre<br />
algo muito interessante que é<br />
quando eles leem o texto que<br />
produziram, muitas vezes chegam<br />
a emocionar-se com os textos e<br />
isto acontece com jovens, com<br />
crianças, com adultos.<br />
058 NOFEV21 059<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
No fundo tudo aquilo que<br />
escrevemos é o que nós somos<br />
e por muito que se esteja a<br />
brincar e a escrever uma lesma<br />
e um lince a correr para a<br />
meta, a verdade é que nós nos<br />
projetamos um bocadinho<br />
naquilo que escrevemos e eles<br />
sentirem que de repente têm<br />
a possibilidade de através da<br />
palavra falarem um pouco<br />
com o mundo, sobre o mundo e<br />
sobre o mundo dos outros isso é<br />
realmente extraordinário.<br />
No fundo, o trabalho<br />
desenvolvido por ambas<br />
autoras contribui para uma<br />
adolescência mais feliz<br />
e para uma vida adulta<br />
realizada. Sara concorda,<br />
constatando que “a ideia da<br />
escrita é poderosíssima e é<br />
uma ideia que eu também<br />
tento transmitir através dos<br />
livros. A Margarida há pouco<br />
dizia que a leitura é uma<br />
atividade solitária e a isso<br />
eu acrescentaria que é uma<br />
atividade privada e muitas<br />
vezes eu sinto que os jovens<br />
apreciam a ajuda que os livros<br />
lhes dão porque precisamente<br />
têm a oportunidade de<br />
refletir sobre problemas<br />
em relação aos quais talvez<br />
não fossem capazes de falar<br />
com ninguém, nem mesmo<br />
com pessoas da família nem<br />
mesmo com os amigos.<br />
Todos nós temos<br />
segredos e alguns<br />
dos nossos segredos<br />
são problemas por<br />
resolver e os livros<br />
nesse sentido são<br />
preciosíssimos porque<br />
nos ajudam porque<br />
nos dão oportunidade<br />
de estarmos a refletir<br />
juntamente com<br />
uma voz e, portanto,<br />
acaba por ter como<br />
confidente que nos<br />
dá conselhos, que nos<br />
transmite que vai ficar<br />
tudo bem.<br />
060 NOFEV21<br />
NOFEV21 061
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
O nono livro d’ O Mundo da Inês<br />
sairá em breve e Sara encontra-se já a<br />
escrever o décimo, sobre a evolução<br />
da protagonista e dos desafios que<br />
a mesma enfrenta, a autora afirma<br />
que tem “cada vez mais entusiasmo<br />
porque de facto isto é um mundo<br />
que se expande e sobretudo com<br />
esta possibilidade de interagir com<br />
os leitores. Quando as pessoas<br />
constantemente me contactam a dizer<br />
que gostam ou porque é que não se<br />
trata também disto ou daquilo, de<br />
facto isso dá-me um estímulo muito<br />
grande e eu própria também me vou<br />
lembrando de temas e de aspetos que<br />
ainda poderia abordar, gosto muito<br />
também de questionar os estereótipos,<br />
de pôr em causa essas ideias préconcebidas<br />
que nós às vezes<br />
abordamos os outros ou julgamos os<br />
outros, a questão do juízo, tudo isso é<br />
uma bola de neve, vai-se criando cada<br />
vez mais e mais assunto e portanto<br />
não há como parar isto, aliás eu até<br />
estou um bocadinho preocupada<br />
porque a Inês vai crescendo de tal<br />
maneira que qualquer dia ela tem 20<br />
anos e depois não sei como é que<br />
eu faço porque depois já não está na<br />
mesma faixa etária das leitoras”.<br />
Por fim, a moderadora, Patrícia<br />
Carreiro, questionou às autoras que<br />
conselhos práticos poderiam dar aos<br />
pais para incentivar os adolescentes<br />
a lerem mais e a tornar esta fase de<br />
crescimento tão difícil mais fácil<br />
através da literatura. Para Sara, há<br />
duas coisas muito importantes, em<br />
primeiro lugar o exemplo, porque<br />
“se os pais não dão o exemplo<br />
dificilmente têm a autoridade para<br />
dizer Lê porque ler é muito<br />
importante porque os filhos dizem<br />
logo Mas tu não lês, portanto o<br />
exemplo é fundamental”. Para<br />
além disso, partilhar a experiência<br />
pessoal de leitura com os filhos é<br />
fundamental, portanto “mostrar<br />
concretamente como é que este ou<br />
aquele livro me marcaram e como<br />
é que eu me emocionei e isso se<br />
calhar resulta porque aí eles não<br />
estão só a ouvir a teoria de ler<br />
porque ler é importante, não estão<br />
só a ver o exemplo mas de uma<br />
forma distanciada, porque eles<br />
podem estar a ver-vos interessados<br />
na leitura, mas eles não sabem o<br />
que é que estamos a retirar dali.<br />
Agora se eu tirar um livro da<br />
prateleira e disser ao meu filho<br />
Olha, este livro emocionou-me<br />
tanto que eu não consigo lê-lo sem<br />
chorar, queres ver? e eu começo a<br />
ler o livro e começo a chorar e se<br />
calhar isto vai dar algum resultado.<br />
As vezes que eu contei histórias aos<br />
meus filhos em que eu realmente<br />
me emocionei e mostrei o quanto<br />
eu gostava daquele livro eu acho<br />
que foram vezes que fizeram<br />
alguma diferença”.<br />
Margarida, por sua vez, admite<br />
que há um erro que todos os pais<br />
cometem que é deixar de contar<br />
histórias a partir do momento em<br />
que os miúdos saem do segundo<br />
ciclo. “Isso é completamente<br />
errado, temos de ler em voz alta,<br />
temos que contar histórias”. A<br />
autora é mãe de dois rapazes,<br />
sendo que o mais novo leu sempre<br />
imenso, mas o mais velho já teve<br />
062 NOFEV21<br />
NOFEV21 063
REPORTAGEM<br />
Uma relação mais complicada com<br />
os livros: ele tinha uma professora<br />
que o obrigava a dizer o que tinha<br />
lido na véspera, e um dia ele<br />
entrou em casa e disse Não tenho<br />
paciência para isto, prefiro não ler,<br />
porque assim ela ralha uma vez<br />
mas não me obriga a dizer o que<br />
eu li; e ele deixou de ler durante<br />
anos e como podem imaginar para<br />
mim aquilo era uma dor incrível<br />
e então eu comecei a armadilhar a<br />
casa, portanto, havia livros abertos<br />
numa página especial pousados no<br />
sofá, havia livros na casa de banho,<br />
havia livros por todo o lado, no<br />
fundo a história de sucesso foi<br />
com o Beco das Sardinheiras do<br />
Mário de Carvalho que agora<br />
está transformado num livro<br />
infantojuvenil, mas na altura era<br />
um livro para adultos e eu lia a rirme<br />
à gargalhada e deixava o livro<br />
aberto e ele olhava de lado e houve<br />
um dia que ele começou a ler e eu<br />
comecei a ouvi-lo rir à gargalhada<br />
e ele voltou a ler.<br />
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064 NOFEV21<br />
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REPORTAGEM<br />
EDUCAÇÃO<br />
INCLUSIVA:<br />
Sociedades<br />
Inclusivas<br />
COMO AS CONSTRUIR?<br />
SARA BORGES<br />
A European Training Foundation é uma<br />
agência da União Europeia, fundada em<br />
1990 e em funcionamento desde 1994,<br />
que visa ajudar a melhorar a formação<br />
profissional em países terceiros, sobretudo<br />
na bacia mediterrânica, na Europa Oriental<br />
e na Rússia. A sua sede localiza-se em<br />
Turim, em Itália.<br />
NOFEV21 067
A ETF oferece a esses países uma visão,<br />
know-how e experiência na formação<br />
de pessoas para novos empregos e no<br />
desenvolvimento de programas de<br />
aprendizagem ao longo da vida. Coopera<br />
estreitamente com a sua agência irmã, o<br />
Centro Europeu para o Desenvolvimento da<br />
Formação Profissional (CEDEFOP), que tem<br />
um mandato sobre a formação profissional<br />
nos Estados-Membros da UE.<br />
No mês que passou a European Training<br />
Foundation (ETF) foi debatida a importância<br />
de construir sistemas de educação e formação<br />
inclusivos e sociedades inclusivas e formas<br />
de proceder a essa elaboração. Esteve<br />
presente no painel Sandra Ribeiro, Presidente<br />
da Comissão Portuguesa para a Cidadania e<br />
Igualdade de Género, Jason Laker, Professor<br />
de Ensino Superior, Assuntos Estudantis<br />
e Desenvolvimento Comunitário na San<br />
Jose State University, Califórnia, e Lida<br />
Kita, especialista da ETF em Educação<br />
Profissional, Treino e Inclusão Social<br />
e Coordenadora para a Sérvia,<br />
Turquia e Israel.<br />
Sendo assim, como podemos<br />
construir sistemas de<br />
aprendizagem inclusivos e<br />
sociedades inclusivas? Estas<br />
são as ideias principais que o<br />
painel de especialistas destacou:<br />
em primeiro lugar é necessário<br />
termos uma perspetiva de género<br />
sobre os impactos da crise<br />
Covid-19; seguidamente, temos<br />
de ter noção que o caminho para<br />
a coesão social envolve diferentes<br />
identidades sociais que foram<br />
afetadas de forma diferente pela<br />
crise; e por último, os elementos<br />
para uma mudança duradoura<br />
incidem no choque do sistema<br />
para desafiar o status quo, na<br />
resiliência e numa ação política<br />
“out of the box”.<br />
Sandra Ribeiro, Presidente da<br />
Comissão Portuguesa para a<br />
Cidadania e Igualdade de Género,<br />
foi quem destacou a necessidade<br />
de se olhar a crise derivada da<br />
pandemia numa perspetiva de<br />
género.<br />
NOFEV21 069
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
“Precisamos de uma reflexão sobre<br />
a COVID-19 numa perspetiva<br />
de género porque o seu impacto<br />
não tem sido neutro em termos<br />
de género”, disse Sandra Ribeiro<br />
que destacou como a Presidência<br />
Portuguesa do Conselho da União<br />
Europeia está a procurar resolver as<br />
desigualdades estruturais de género<br />
que contribuíram para o efeito<br />
desigual nas mulheres durante a<br />
crise. A Presidência Portuguesa está<br />
também a trabalhar no sentido de<br />
impulsionar o apoio ao modelo de<br />
desenvolvimento da União Europeia<br />
e ao seu duplo objetivo de aumentar<br />
a competitividade económica e a<br />
inclusão social, acrescentou Sandra<br />
Ribeiro.<br />
Note-se que entre 1 de janeiro e 30<br />
de junho de <strong>2021</strong>, Portugal assume<br />
a Presidência rotativa do Conselho<br />
da UE. O Conselho (nome informal)<br />
é a instituição que representa os<br />
governos dos países da EU e no qual<br />
reúne os seus ministros ou secretários<br />
de estado para adotar legislação e<br />
coordenar políticas. Nesse semestre,<br />
Portugal vai planear e presidir às<br />
reuniões do Conselho e das suas<br />
instâncias preparatórias e representar<br />
o Conselho nas relações com as<br />
outras instituições da UE.<br />
Portugal sucede à Alemanha e<br />
precede a Eslovénia, países<br />
com os quais integra o trio de<br />
Presidências. Em conjunto,<br />
elaboraram um programa<br />
para 18 meses, a partir do<br />
qual cada Presidência define<br />
o seu programa específico.<br />
O programa da Presidência<br />
Portuguesa do Conselho <strong>2021</strong><br />
apresenta as prioridades e<br />
linhas de ação em detalhe. A<br />
Presidência Portuguesa tem<br />
como prioridades promover<br />
a recuperação, assegurando<br />
a transição verde e digital;<br />
concretizar o Pilar Europeu<br />
dos Direitos Sociais; reforçar<br />
a autonomia de uma Europa<br />
aberta ao mundo. E em relação<br />
às linhas de ação, Portugal<br />
vai atuar no sentido de ter<br />
uma União Europeia mais<br />
resiliente, social, verde, digital<br />
e global.<br />
NOFEV21 071
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Posto isto, Sandra Ribeiro realçou<br />
que as crises têm um maior impacto<br />
nas mulheres em diversos níveis<br />
como resultado da permanência de<br />
estruturas de desigualdade social,<br />
portanto é “urgente combater essas<br />
estruturas e responder a esses<br />
impactos garantindo<br />
que a perspetiva do<br />
género faz parte<br />
das medidas de<br />
recuperação<br />
da crise”.<br />
De modo a<br />
consequências serão fortes”.<br />
No outro lado do mundo temos Jason<br />
Laker, Professor de Ensino Superior,<br />
Assuntos Estudantis e Desenvolvimento<br />
Comunitário na San Jose State<br />
University, que forneceu uma visão<br />
da experiência nos Estados Unidos<br />
sobre a inclusão social de<br />
uma perspetiva de<br />
política pública, os<br />
desafios trazidos<br />
pelo atrito na<br />
mudança de<br />
governo e o<br />
governo terá de ser multifacetado<br />
e agir de forma intensa e rápida<br />
devido à crise, mas destaca que<br />
“para haver cura tem de haver<br />
recuperação e o que vejo muitas<br />
vezes é que as mesmas pessoas<br />
que estão a promover a união e a<br />
cura muitas vezes são as que não<br />
querem admitir as suas ações que<br />
nos levaram a esse ponto para<br />
começar”. Assim, defende que para<br />
os membros da sociedade possam<br />
voltar a ganhar confiança no seu<br />
governo e nas estruturas necessita<br />
haver justiça. E salienta que o<br />
governo formado por Joe Biden<br />
e Kamala Harris menciona esses<br />
aspetos de “forma clara e objetiva”.<br />
Por outro lado, reforça o<br />
que Sandra Ribeiro declarou<br />
anteriormente quando refere<br />
que em momentos de crise as<br />
situações de violência, racismo e<br />
desigualdade de género aumentam<br />
e tornam-se recorrentes.<br />
possibilitar<br />
aumento de<br />
esta<br />
males sociais,<br />
recuperação<br />
como violência<br />
refere que<br />
doméstica e racismo<br />
pretende realizar<br />
causados por crises<br />
estudos e investigações que<br />
económicas e de saúde.<br />
proporcionam reflexões sobre o impacto<br />
O professor universitário recorre à<br />
da pandemia na igualdade de género,<br />
analogia “trying to change a car tire<br />
na participação no mercado laboral,<br />
while the car is moving” para descrever<br />
nos rendimentos e especialmente<br />
a situação política, social e económica<br />
na conciliação entre o trabalho e a<br />
dos EUA e realça que o novo<br />
família, pois afirma que “esta crise<br />
irá se perpetuar no tempo e as suas<br />
072 NOFEV21<br />
NOFEV21 073
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Destaca a existência<br />
de “políticos cínicos”<br />
em diversos países que<br />
exploram esses momentos,<br />
manipulando as pessoas e<br />
criando um “bode expiatório”<br />
em quem possam por as<br />
culpas, normalmente, esta<br />
culpa recai sobre os que<br />
são identificados como<br />
“os outros” no respetivo<br />
país, tornando-os vítimas<br />
das situações mencionadas<br />
anteriormente, portanto há<br />
uma “clara emergência” em<br />
agir de modo a combater<br />
estes cenários.<br />
O painel concordou que a<br />
inclusão social é um domínio<br />
multifacetado e que as crises<br />
na sociedade, particularmente<br />
de natureza económica ou de<br />
saúde, colocam mais pressão<br />
sobre a inclusão, sendo que<br />
são necessários esforços<br />
concentrados e coordenados<br />
de resposta de políticas<br />
públicas.<br />
i n c l u s ã o<br />
egundo Sandra Ribeiro, só<br />
através da educação é que se<br />
pode construir uma sociedade<br />
que seja inclusiva, mas também<br />
sustentável a nível económico<br />
e que permita aceder a níveis mais<br />
altos de produtividade e trabalhos<br />
que sejam decentes para<br />
homens e mulheres. “A<br />
melhor ferramenta para a<br />
mudança é a educação”,<br />
portanto para atingir esses<br />
objetivos que permitem<br />
que haja uma sociedade<br />
mais inclusiva “é fundamental<br />
termos boa legislação, um bom<br />
quadro legislativo para permitir o<br />
direito à educação e combater todas<br />
as formas de discriminação”. Defende<br />
que “para garantir a inclusão, eliminar<br />
disparidades de género e garantir<br />
acesso igual aos diferentes níveis de<br />
educação, os países precisam investir<br />
em educação para todos. Essa é a maior<br />
ferramenta de mudança e a única forma<br />
de garantir um crescimento inclusivo,<br />
sustentável e económico”, disse Sandra<br />
Ribeiro, Presidente da Comissão para a<br />
Cidadania e Igualdade de Género.<br />
NOFEV21 075
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
Jason Laker<br />
acrescenta<br />
que apenas<br />
as políticas<br />
públicas não fazem<br />
tudo acontecer, temos<br />
de ter a noção do que<br />
se passa a nível local e<br />
as diferenças entre os<br />
diferentes territórios.<br />
Em relação à educação<br />
de género ou até<br />
mesmo educação<br />
multicultural refere<br />
que essa tem um lado<br />
que pode eventualmente<br />
ser teórico, mas que<br />
inevitavelmente detém<br />
um lado experimental.<br />
“As políticas sozinhas<br />
não fazem nada<br />
acontecer”, disse<br />
Jason Laker. “Para<br />
serem eficazes, as<br />
políticas precisam de<br />
ações correspondentes<br />
acontecendo no terreno,<br />
incluindo a construção<br />
do conhecimento,<br />
habilidades e<br />
disposições das<br />
pessoas”, continuou ele.<br />
Lida Kita, especialista<br />
da ETF em Educação<br />
Profissional, Treino<br />
e Inclusão Social e<br />
Coordenadora para<br />
a Sérvia, Turquia e<br />
Israel, realça que a<br />
União Europeia possui<br />
uma estratégia de<br />
combate de modo a<br />
fomentar a inclusão,<br />
no entanto salienta<br />
que a ETF trabalha em<br />
países que englobam<br />
diferentes contextos<br />
sociais e históricos e<br />
que interagem de forma<br />
diferente entre si.<br />
Defende que para poder<br />
perceber o que se está a<br />
passar num determinado<br />
país é necessário olhar<br />
para o sistema, mas<br />
também é necessário<br />
haver investigação, nesse<br />
aspeto vai ao encontro<br />
com restantes membros<br />
do painel.<br />
“Há anos que a ETF busca países parceiros e dentro da<br />
habilidades para a inclusão comunidade internacional e de<br />
que se relacionam com todos os desenvolvimento.<br />
níveis de educação que exigem Concluindo a discussão, Sandra<br />
parceria com todos os principais Ribeiro referiu-se aos direitos<br />
interessados, incluindo os setores fundamentais inerentes à inclusão<br />
informal e privado em uma social que devem ser tidos em<br />
perspetiva de toda a vida”, disse consideração quando o género<br />
Kita.<br />
e a inclusão social desafiam as<br />
Refere que as aptidões para a normas culturais. “As discussões<br />
inclusão não devem ser procuradas precisam ser abertas e refletidas<br />
apenas na educação formal, é um para capacitar os indivíduos para<br />
processo de longa duração. Um a mudança social”, disse Ribeiro.<br />
processo que não tem início nem Finalmente, Lida Kita referiuse<br />
à necessidade de eliminar o<br />
fim, e por este motivo defende a<br />
existência de um “ecossistema preconceito das políticas públicas<br />
à volta desde assunto de forma e à necessidade de se afastar<br />
a permitir a existência de uma de uma perspetiva de déficit de<br />
sociedade coesiva”. A ETF trabalha ‘consertar e remediar’ comunidades<br />
para construir um ecossistema e indivíduos. Isso permitirá a<br />
que possa promover e permitir a construção de “solidariedade e apoio<br />
inclusão social, acrescentou Kita, dentro das comunidades”, concluiu<br />
construindo continuamente seu<br />
próprio conhecimento e experiência<br />
para compartilhar com os nossos<br />
GENDER<br />
Jason Laker.<br />
EQUALITY<br />
076 NOFEV21<br />
NOFEV21 077
PUBLIREPORTAGEM<br />
PUBLIREPORTAGEM<br />
DEVO INVESTIR EM<br />
MARKETING DIGITAL<br />
EM ALTURA DE PANDEMIA?<br />
A resposta é: MAIS DO QUE NUNCA!<br />
A pandemia foi responsável por<br />
mudanças no comportamento<br />
dos consumidores e por uma<br />
transformação do digital. Muitas<br />
empresas que não estavam<br />
preparadas para o online viramse<br />
em grandes dificuldades.<br />
Atualmente, reforçar a presença<br />
online tem sido uma das<br />
formas de muitas empresas<br />
conseguirem sobreviver a<br />
esta crise. A realidade é que o<br />
mercado açoriano é pequeno e,<br />
por isso, as nossas empresas têm<br />
de se esforçar ainda mais, para<br />
manter os seus rendimentos.<br />
As pessoas continuam a<br />
comprar. No entanto, evitam<br />
ir às lojas físicas para comprar<br />
através da internet. Até porque<br />
uma grande maioria tem<br />
passado mais tempo em casa e,<br />
por isso, tem mais tempo para<br />
ler, informar-se e pesquisar<br />
online.<br />
E como é que você, como<br />
empresário, pode chegar a estes<br />
milhares de pessoas? Apostando<br />
nos meios digitais.<br />
Hoje em dia, a criação de um<br />
website é fundamental. Se<br />
a sua empresa não aparecer<br />
nas pesquisas do Google,<br />
dificilmente será contatada<br />
pelos clientes. Poderá até ser um<br />
website simples de apresentação<br />
da empresa, dos seus serviços<br />
e da equipa. Ou então poderá ir<br />
mais além e criar um website<br />
com marcações de consultas,<br />
partilhas de artigos de interesse<br />
para o seu público, ou até<br />
NOFEV21 079
PUBLIREPORTAGEM<br />
PUBLIREPORTAGEM<br />
E como é que você,<br />
como empresário,<br />
pode chegar a<br />
estes milhares de<br />
pessoas?<br />
Apostando nos meios<br />
digitais.<br />
mesmo uma loja online, com<br />
produtos exclusivos, descontos e<br />
muito mais.<br />
Outro meio de comunicação digital<br />
muito importante: redes sociais. As<br />
redes sociais, como o Facebook e<br />
o Instagram, ajudam a criar uma<br />
conexão com os seus clientes. Para<br />
criar e provar a sua credibilidade,<br />
é preciso ganhar constantemente<br />
a confiança deles. É um canal<br />
rápido e cómodo e onde as pessoas<br />
se sentem à vontade para colocar<br />
questões, pedir preços, colocar<br />
sugestões e mais.<br />
No entanto, para potenciar ao<br />
máximo as suas publicações e<br />
chegar ao público certo é essencial<br />
criar anúncios, seja no Facebook<br />
ou mesmo no Google. Se tem uma<br />
página no Facebook há algum<br />
tempo, com certeza já deve ter<br />
notado que as suas publicações<br />
já não chegam a tantas pessoas<br />
ou não têm tantas interações. Isto<br />
acontece porque o alcance orgânico<br />
já não é suficiente. Temos mesmo<br />
de criar anúncios pagos dentro da<br />
plataforma.<br />
Ainda assim, apesar de ser<br />
extremamente importante (e<br />
rentável!) um investimento nos<br />
meios digitais, muitos negócios nos<br />
Açores ainda falham neste aspeto.<br />
Seja por falta de tempo, falta de<br />
conhecimento ou por acharem<br />
que a publicidade e marketing não<br />
geram vendas imediatas.<br />
A missão da AcoresPRO é<br />
precisamente ajudar as pequenas<br />
e médias empresas dos Açores<br />
a encarar o mundo digital de<br />
forma profissional e coerente,<br />
esclarecendo as suas dúvidas<br />
e objeções, através da<br />
implementação de estratégias<br />
únicas e altamente rentáveis.<br />
Nunca fez tanto sentido<br />
reforçar esta nossa<br />
missão. Há uma urgência<br />
em criar novas soluções<br />
para as nossas empresas<br />
e acreditamos que estas<br />
soluções passam, sem<br />
sombra de dúvida, pelo<br />
digital!<br />
080 NOFEV21 081<br />
NOFEV21
OPINIÃO<br />
OPINIÃO<br />
A CAPACIDADE DE<br />
MEMORIZAÇÃO É AFETADA<br />
PELOS HÁBITOS MODERNOS<br />
O investigador e neurocientista<br />
luso-descendente Fabiano de Abreu<br />
estudou o impacto das tecnologias,<br />
do quotidiano e de maus-hábitos<br />
na capacidade de armazenar<br />
e usar a memória cerebral. As<br />
conclusões foram agora publicadas<br />
no artigo “Técnicas para uma<br />
melhor memorização: Levando<br />
em consideração as nuances da<br />
personalidade”.<br />
Fabiano de Abreu explica que<br />
“temos um cérebro que age, a priori,<br />
pela sobrevivência e recompensa.<br />
Armazenamos memórias com base na<br />
emoção para que possamos sobreviver<br />
e evoluir melhor. Por essa razão, os<br />
traumas nunca são esquecidos. No<br />
mínimo, ficam no nosso inconsciente,<br />
na região mais primitiva do cérebro”.<br />
“Deste modo, o cérebro utiliza muita<br />
energia para armazenar tudo o que<br />
precisa, e tende a ‘economizar’ em<br />
alguns momentos, para que possa<br />
usá-la em procedimentos instintivos”,<br />
afirma.<br />
O cérebro humano também<br />
procura alcançar objetivos<br />
para aumentar a produção de<br />
neurotransmissores que causam<br />
sensações de prazer. “O mais comum<br />
é o da felicidade e recompensa, como<br />
a dopamina. Sem recompensa não<br />
há motivação, sem motivação não<br />
teríamos meios para seguir adiante e<br />
sobreviver”, destaca.<br />
Com o advento da tecnologia,<br />
sobretudo do uso constante<br />
da internet, a capacidade de<br />
memorização tem sofrido impactos,<br />
que, a longo prazo, podem trazer<br />
consequências. Por isso, Fabiano<br />
de Abreu alerta que “a sobrecarga<br />
de informações dificulta a retenção<br />
de novas memórias. Há excesso de<br />
distrações, que geram ansiedade<br />
e estresse, o vício em dopamina<br />
e, consequentemente, a disfunção<br />
nos mensageiros químicos do<br />
cérebro”. “Além disso, a falta de<br />
leitura, o sedentarismo, os alimentos<br />
industrializados, as drogas, maushábitos,<br />
o uso excessivo da televisão<br />
ou o vício na dopamina são uma<br />
forma de o cérebro pedir conquistas<br />
mais imediatas, o que causa, além de<br />
disfunções, desperdício do tempo<br />
que poderia ser utilizado para<br />
aprofundarmos mais nos conteúdos”,<br />
afirma.<br />
Para amenizar os efeitos nocivos que<br />
os maus-hábitos da vida moderna<br />
podem causar ao cérebro, Fabiano<br />
de Abreu salienta que é importante<br />
adotar velhas medidas, sobretudo<br />
na infância, quando o cérebro ainda<br />
está em desenvolvimento. Estas são<br />
algumas das medidas apontadas:<br />
· Dieta com alimentos que supram<br />
as nossas necessidades básicas e que<br />
compensem as faltas que sentimos.<br />
Por exemplo, se há falta de atenção<br />
e pouca memorização, deve ser<br />
reforçado o consumo de alimentos<br />
que promovam uma melhor atenção e<br />
memória, como os que contêm ómega<br />
3, luteína, complexo B, vitamina C e<br />
gorduras boas, como azeite e frutos<br />
secos, chá, entre outros;<br />
· Dormir 8 horas por dia, e não de<br />
082 NOFEV21<br />
NOFEV21 083
OPINIÃO<br />
madrugada, mas sim à noite;<br />
· Exercícios físicos matinais;<br />
· Plasticidade cerebral com mudança<br />
de hábitos rotineiros;<br />
· Uso da inteligência emocional para<br />
definir, de forma consciente,<br />
comportamentos que possam trazer<br />
uma melhor saúde mental, assim<br />
como o controlo para uma melhor<br />
atenção e memória mediante a ação.<br />
Técnicas e ginásticas cerebrais são<br />
interessantes para este processo. Ao<br />
reforçar as sinapses, melhoramos a<br />
capacidade de fixação nos engramas<br />
neuronais.<br />
No caso das crianças, os pais e<br />
responsáveis podem incentivar<br />
e promover uma cultura de<br />
conhecimento e aprendizagem.<br />
Fabiano de Abreu refere que tal pode<br />
ser feito ao “determinar o que os<br />
filhos vão ver na internet e o tempo<br />
de consumo”. Além disso, as crianças<br />
precisam de ter atividades lúdicas que<br />
promovam a psicomotricidade para o<br />
desenvolvimento cognitivo. Por isso,<br />
é importante “encontrar maneiras<br />
e ferramentas para o conhecimento<br />
com recompensas que incentivem este<br />
estilo de educação. A cultura também<br />
se faz a partir da observação e da<br />
cópia. Se os pais leem, se os pais têm<br />
hábitos que sirvam de exemplo, os<br />
filhos tendem a copiá-los”.<br />
GRUPO<br />
9600-549 Ribeira Grande<br />
geral@grupoideal.pt<br />
084 NOFEV21<br />
NOFEV21 085
ESTUDO<br />
LITERACIA E CONFIANÇA<br />
SÃO FUNDAMENTAIS PARA O<br />
SUCESSO DA TRANSFORMAÇÃO<br />
DIGITAL NA INDÚSTRIA<br />
SEGURADORA<br />
O relatório “Indústria Seguradora:<br />
O Futuro das Seguradoras nas<br />
Experiências Mobile” foi recentemente<br />
lançado pela Xpand IT. A propósito<br />
deste estudo, a Xpand IT promoveu<br />
uma conversa sobre o futuro da<br />
indústria seguradora, os principais<br />
desafios e as principais tendências<br />
tecnológicas.<br />
A Xpand IT, tecnológica portuguesa<br />
especializada em Big Data, BI &<br />
Analytics, Data Science, Middleware,<br />
Digital Xperience e Soluções de<br />
Colaboração, realizou, em parceria<br />
com o grupo AGEAS, um estudo<br />
dedicado à indústria seguradora. A<br />
conversa contou com a participação<br />
de Sérgio Viana, Partner & Digital<br />
Xperience Lead da Xpand IT; Ângelo<br />
Vilela, Country Head Digital do<br />
Grupo AGEAS; e Diogo Garrido,<br />
Head of Digital Delivery da Médis.<br />
Relativamente ao impacto da<br />
pandemia, Ângelo Vilela considera<br />
que “a indústria mostrou uma<br />
maturidade enorme, mostrandose<br />
bastante sólida e resiliente. Por<br />
outro lado, mostrou uma grande<br />
preocupação com as pessoas. Isso é<br />
importante, porque a essência dos<br />
seguros é devolver à sociedade”. Diogo<br />
Garrido realçou a importância de<br />
funcionalidades como o Médico<br />
Online, que “ganharam ainda maior<br />
relevância, sendo uma ferramenta<br />
muito usada e valorizada pelos nossos<br />
clientes, com índices de satisfação<br />
altíssimos”.<br />
“Vivemos uma altura de grande<br />
transparência. Esta é uma ótima<br />
altura para cimentar a relação de<br />
confiança entre indústria e cliente. Os<br />
dados servem para melhorar ainda<br />
mais a oferta que queremos dar, cada<br />
vez mais personalizada”, destaca<br />
Diogo Garrido. Sobre a questão dos<br />
dados, “há o desafio das novas fontes<br />
(como, por exemplo, os wearables<br />
– como destaca Sérgio Viana), mas<br />
também o de criar uma estrutura<br />
forte, sobretudo para as empresas que<br />
não são nativamente tecnológicas, de<br />
forma a garantir que a personalização<br />
é feita de forma exemplar”, salienta.<br />
Um dos temas da conversa<br />
introduzido por Sérgio Viana foi<br />
a importância da automação, que<br />
Ângelo Vilela considera que se<br />
trata de uma “oportunidade de<br />
melhorar processos, poupar em<br />
custos e por as pessoas a fazer<br />
trabalho inteligente, servindo<br />
melhor os clientes”. Relativamente<br />
ao blockchain, uma tecnologia que,<br />
como afirmou Sérgio Viana, terá um<br />
papel importante na rastreabilidade<br />
e na transparência dos processos<br />
em inúmeras indústrias, a opinião<br />
foi unânime. Diogo Garrido afirma<br />
que se trata de uma tecnologia com<br />
“potencial infindável, não só para a<br />
indústria seguradora”, mas que ainda<br />
não é o momento certo para apostar a<br />
100%.<br />
Ângelo Vilela realça que “a literacia<br />
e a confiança estão a par, não vivem<br />
086 NOFEV21<br />
NOFEV21 087
REPORTAGEM<br />
REPORTAGEM<br />
PUB<br />
uma sem a outra. Se olharmos para<br />
os mercados em que a transformação<br />
digital é mais desenvolvida, em que<br />
tem mais relevância do ponto de vista<br />
de peso de mercado, são mercados<br />
profundamente transparentes e em<br />
que a literacia financeira é muito mais<br />
elevada”.<br />
A indústria seguradora é uma das<br />
mais reguladas e Ângelo Vilela afirma<br />
que a “regulamentação é pensada<br />
tendo como foco a salvaguarda do<br />
cliente”, sendo que a regulamentação<br />
através do Open banking e PSD2<br />
“permite uma maior abertura à banca”.<br />
“É uma oportunidade para os seguros<br />
apresentarem uma melhor experiência<br />
aos clientes e serem mais relevantes<br />
na perspetiva dos clientes num<br />
ecossistema bancário”, salienta.<br />
Em relação ao cliente do futuro, na<br />
opinião do Digital Xperience Lead<br />
da Xpand IT, o consumidor mudou,<br />
bem como os seus comportamentos,<br />
e a exigência com as empresas e,<br />
consequentemente, com as suas<br />
aplicações, é cada vez maior. Para<br />
Ângelo Vilela, o principal desafio do<br />
setor na próxima década passa pelo<br />
“desafio da relevância na vida dos<br />
clientes. Para se manterem relevantes,<br />
as seguradoras têm de manter-se na<br />
linha da frente do contacto com o<br />
cliente”. “Se não quiserem passar para<br />
um patamar de irrelevância, em que<br />
simplesmente pagam indemnizações,<br />
as seguradoras têm de resolver os<br />
problemas em concreto, resolver os<br />
problemas das pessoas”, assinala.<br />
PRATOS<br />
GEOTERMICOS<br />
U M A E X P E R I Ê N C I A Ú N I C A<br />
I N S P I R A D A N A N A T U R E Z A<br />
RESTAURANTE CALDEIRAS DA RIBEIRA GRANDE<br />
088 NOFEV21 089<br />
NOFEV21
REPORTAGEM<br />
ESTUDO<br />
REFEIÇÕES DO DOMICÍLIO:<br />
QUEIXAS DOS CONSUMIDORES<br />
DISPARAM 190%<br />
O Portal da Queixa identificou uma<br />
subida significativa do número de<br />
reclamações dirigidas aos serviços<br />
de entrega de refeições ao domicílio.<br />
A Uber Eats e a Glovo são as marcas<br />
na mira dos consumidores. Atraso<br />
na entrega, pedido de reembolso e<br />
produtos em falta são os principais<br />
motivos de reclamação. Em 2020,<br />
as queixas ultrapassaram as 3.300,<br />
um aumento quase de 200% face a<br />
2019. Um cenário que ainda deverá<br />
piorar, vaticina a plataforma online de<br />
comunicação entre consumidores e<br />
marcas.<br />
Entre 1 de janeiro e 31 de dezembro<br />
de 2020, chegaram ao Portal da<br />
Queixa 3.314 reclamações. Um<br />
aumento de 190%, comparativamente<br />
com o período homólogo, em que<br />
foram registadas 1.144 queixas.<br />
A análise da equipa do Portal da<br />
Queixa permitiu evidenciar que,<br />
ao longo do ano passado, os meses<br />
com mais reclamações registadas<br />
foram: abril (392), novembro (393) e<br />
dezembro (488). Março, mês em que<br />
foi declarado o Estado de Emergência,<br />
foi onde se verificou a maior variação<br />
de crescimento face a 2019: 617%.<br />
Relativamente às marcas com o maior<br />
volume de reclamações, lideram<br />
a Uber Eats, com 77% do total de<br />
queixas e a Glovo com 21%.<br />
Enquanto vigorar o confinamento -<br />
que obriga os restaurantes a fechar<br />
portas e a funcionar apenas em regime<br />
de take-away ou entregas -, o Portal<br />
da Queixa prevê que a insatisfação<br />
dos portugueses face aos serviços de<br />
entrega de refeições ao domicílio se<br />
agrave, não só, com base nos motivos<br />
relatados pelos consumidores ao<br />
longo de 2020, mas também, pela<br />
crescente diminuição da resposta e<br />
qualidade do serviço prestado.<br />
A análise resulta do recente travão do<br />
Governo às comissões cobradas por<br />
estes serviços aos restaurantes (que<br />
não podem ser superiores a 20%).<br />
Os serviços que cobrem, atualmente,<br />
comissões inferiores a 20%, estarão<br />
impedidos de aumentá-las, também<br />
por decisão do Governo.<br />
Uma medida à qual a Uber Eats já<br />
reagiu, avisando que estas limitações<br />
tornam o serviço menos acessível.<br />
“As limitações impostas ao nosso<br />
modelo de negócio, incluindo à<br />
nossa taxa de serviço, vão forçar-nos<br />
a alterar a forma como operamos,<br />
prejudicando todos os que utilizam<br />
a nossa aplicação e que queremos<br />
apoiar. Estas medidas tornam o<br />
serviço menos acessível para os<br />
consumidores, o que limitará<br />
a procura dos restaurantes e<br />
consequentemente as oportunidades<br />
dos milhares de pessoas que fazem<br />
entregas com a nossa aplicação.<br />
Vamos agora analisar as alterações<br />
necessárias, procurando minimizar<br />
o impacto negativo que esta<br />
alteração terá para todos neste novo<br />
confinamento”, refere fonte oficial da<br />
Uber Eats.<br />
Na opinião de Pedro Lourenço, CEO<br />
e fundador do Portal da Queixa by<br />
Consumers Trust, “o verdadeiro<br />
problema da qualidade do serviço<br />
destas empresas não está relacionado<br />
com as taxas de comissões, mas sim,<br />
com os problemas que são relatados<br />
pelos consumidores. Mais uma vez, os<br />
responsáveis governativos reagiram<br />
aos potenciais problemas económicos<br />
e não foram proativos a solucionar<br />
os problemas do lado do consumidor<br />
e com isso potenciar a economia de<br />
escala.”<br />
090 NOFEV21<br />
NOFEV21 091
REPORTAGEM<br />
ESTUDO<br />
Principais motivos das reclamações de 2020:<br />
Número de reclamações por mês e respetiva variação:<br />
As marcas com o maior volume de reclamações nesta categoria em 2020:<br />
Dados atuais das marcas no Portal da Queixa:<br />
092 NOFEV21<br />
NOFEV21 093
REPORTAGEM<br />
OPINIÃO<br />
HOME OFFICE: SETE DICAS<br />
PARA UM TRABALHO MAIS<br />
DESCONTRAÍDO<br />
O teletrabalho massificou o conceito<br />
de Home Office, mas é necessário<br />
adaptar o espaço de trabalho para<br />
assegurar um ambiente tranquilo e<br />
produtivo.<br />
A Engel & Volkers partilha algumas<br />
sugestões para melhorar o espaço<br />
de trabalho em casa.<br />
A crise da COVID-19 está a<br />
impulsionar o conceito de home<br />
office. As mais recentes restrições<br />
impostas para enfrentar a crise do<br />
coronavírus obrigaram muitos a<br />
adotar novamente o teletrabalho.<br />
Mas são diversos os fatores que<br />
influenciam a concentração no home<br />
office e é importante assegurar que o<br />
espaço de trabalho em casa seja livre<br />
de distrações e permita um trabalho<br />
mais eficiente. A Engel & Volkers,<br />
imobiliária alemã líder na mediação<br />
de imóveis de luxo, partilha algumas<br />
sugestões que ajudarão a tornar o<br />
local de trabalho em casa num espaço<br />
funcional e personalizado.<br />
1. Separe o espaço de trabalho da<br />
zona de estar<br />
Se possível, procure assignar uma<br />
divisão da casa unicamente para o<br />
trabalho. Quando se trabalha em casa<br />
é vital que haja uma divisão entre as<br />
zonas de trabalho e de lazer. Escolha<br />
um espaço de trabalho longe das<br />
distrações diárias. O ideal é optar por<br />
uma zona calma, preferencialmente<br />
que não seja um local de passagem<br />
dos restantes membros da família.<br />
2. Limpe seu escritório em casa<br />
Uma mesa arrumada é essencial para<br />
o trabalho bem-sucedido. Invista<br />
em recursos de organização, como<br />
caixas de armazenamento, bem como<br />
um bloco de notas. Evite ao máximo<br />
acumular papel e incontáveis post-its.<br />
3. Seja criativo<br />
Um escritório em casa oferece a<br />
oportunidade de projetar o espaço<br />
de trabalho de acordo com o seu<br />
próprio gosto pessoal. Aproveite esta<br />
oportunidade e dê uma nova vida<br />
ao espaço de trabalho, adicionando<br />
adereços decorativos, obras de arte e<br />
novas cores. Crie um espaço interior<br />
único e totalmente personalizado.<br />
4. Conte com a luz natural<br />
A luz desempenha um papel<br />
importante no design de espaços<br />
residenciais. O mesmo é válido para o<br />
seu espaço de trabalho. Escolha uma<br />
área de trabalho que seja agradável<br />
e iluminada durante o dia, sobretudo<br />
se trabalha com um computador. Em<br />
dias sombrios, os candeeiros<br />
com abajour fornecem uma luz<br />
agradavelmente quente.<br />
5. Traga a natureza para sua casa<br />
Plantas em vasos são ideais para<br />
tornar o espaço mais acolhedor,<br />
proporcionam um agradável toque de<br />
cor, sem muito esforço, e melhoram<br />
a qualidade do ar. Escolha plantas<br />
de meia-sombra e, acima de tudo,<br />
espécies fáceis de cuidar.<br />
6. Mantenha lanches saudáveis à<br />
mão<br />
Ataques de fome são frequentemente<br />
uma razão para deixar o local de<br />
trabalho à procura de comida. Evite<br />
distrações desnecessárias reservando<br />
perto de si alguns petiscos saudáveis,<br />
como nozes ou frutas secas. Dessa<br />
forma, o seu fluxo de trabalho não é<br />
interrompido desnecessariamente.<br />
7. Preste atenção à limpeza<br />
A limpeza básica é essencial,<br />
especialmente no que diz respeito a<br />
um trabalho eficiente. Uma zona de<br />
trabalho limpa origina a realização<br />
de tarefas com sucesso e sem<br />
perturbações. Reserve alguns minutos<br />
todas as noites e prepare o seu local<br />
de trabalho para o dia seguinte, para<br />
assim encontrar sempre uma mesa<br />
arrumada pela manhã.<br />
094 NOFEV21<br />
NOFEV21 095
REPORTAGEM<br />
OPINIÃO<br />
Esporão do calcanhar:<br />
conheça os fatores de risco<br />
O esporão do calcanhar é uma das<br />
mais de 300 condições patológicas<br />
que podem afetar os nossos pés e<br />
consiste numa protuberância óssea<br />
que se forma no osso do calcanhar,<br />
o calcâneo. Esta patologia é mais<br />
comum no sexo feminino, muito<br />
em virtude de uma má escolha do<br />
calçado, e em pessoas com excesso de<br />
peso, sobretudo acima dos 40 anos,<br />
devido ao desgaste natural.<br />
Consequência de um processo<br />
fisiológico causado pela calcificação<br />
dos tecidos, este problema tem origem<br />
numa inflamação resultante de uma<br />
elevada e repetida pressão na planta<br />
do pé. Normalmente, o esporão do<br />
calcanhar manifesta-se por uma dor<br />
intensa nesta zona, semelhante a uma<br />
picada, uma vez que a este se associa a<br />
inflamação da fáscia plantar (fasceíte<br />
plantar), uma banda de tecido fibroso<br />
que liga o calcanhar aos dedos, que<br />
tipicamente se faz sentir quando nos<br />
levantamos da cama pela manhã e<br />
damos os primeiros passos.<br />
Ainda que, muitas vezes, as<br />
inflamações que levam à formação<br />
desta pequena projeção de osso<br />
provoquem dor aguda, principalmente<br />
ao caminhar, correr ou saltar, cerca<br />
de 27% da população portuguesa<br />
sofre deste problema de forma<br />
assintomática.<br />
Entre os fatores de risco que<br />
propiciam o desenvolvimento<br />
do esporão do calcanhar e da<br />
fasceíte plantar incluem-se a idade<br />
(faixa etária acima dos 40 anos), a<br />
obesidade, a utilização de calçado<br />
inapropriado, a presença de pé plano<br />
ou pé cavo, bem como a prática de<br />
atividades desportivas que implicam<br />
tensão sobre o calcanhar, como a<br />
corrida.<br />
O diagnóstico do esporão do<br />
calcanhar é realizado com recurso a<br />
uma radiografia ou a uma ressonância<br />
magnética, sendo também importante<br />
fazer uma avaliação morfológica do<br />
pé, realizada por um Podologista,<br />
para um tratamento adequado e<br />
atempado. Este pode passar pelo<br />
uso de palmilhas personalizadas,<br />
fisioterapia e anti-inflamatórios, com<br />
o objetivo de reduzir a dor. Quando<br />
estes métodos não se revelam eficazes,<br />
a cirurgia é o tratamento que permite<br />
eliminar definitivamente a saliência<br />
óssea.<br />
Para evitar o surgimento desta<br />
patologia é recomendável a realização<br />
de um correto aquecimento, antes da<br />
prática de exercício físico, contudo,<br />
a carga de atividade física deve<br />
também ser controlada. Além disso,<br />
é importante escolher o calçado<br />
adequado ao tipo de pé e apoio<br />
plantar, bem como à atividade do<br />
utilizador, sendo que os sapatos de<br />
salto alto e bicudos à frente devem<br />
ser evitados. O controlo do peso é<br />
também fundamental, de modo a que<br />
não se verifique uma sobrecarga dos<br />
membros inferiores, o que agrava a<br />
dor e a inflamação.<br />
Cuide dos seus pés, tenha atenção<br />
à escolha do calçado e, em caso de<br />
suspeitar deste problema, consulte um<br />
Podologista. Assegure a sua qualidade<br />
de vida.<br />
096 NOFEV21<br />
NOFEV21 097
OPINIÃO<br />
Barriga inchada depois<br />
As épocas festivas são, de um modo<br />
geral, propícias a excessos alimentares.<br />
Ou não fizessem parte da mesa dos<br />
portugueses os bolos, os salgados e<br />
os pratos típicos tão caraterísticos<br />
da nossa gastronomia. Os horários<br />
das refeições são alterados e a mesa<br />
passa a ser o lugar rei, onde passamos<br />
grande parte do tempo. Depois<br />
pensamos: novo ano, novos hábitos<br />
alimentares.<br />
Mas nem sempre corre como<br />
desejamos e a sensação de barriga<br />
inchada, obstipação ou flatulência<br />
manifestam-se, trazendo com elas<br />
mal-estar e sentimentos de culpa.<br />
Mas esses sintomas podem não ter<br />
uma relação direta com os excessos<br />
cometidos. Por vezes, ingerimos<br />
alimentos sem conhecer o mal que<br />
nos fazem.<br />
E se lhe dissessem que esse<br />
desconforto pode estar relacionado<br />
com intolerâncias alimentares ou<br />
das festas?<br />
ainda com o desequilíbrio da sua<br />
flora intestinal (mais conhecida como<br />
disbiose)? Provavelmente já ouviu<br />
falar deste termo, mas nunca teve<br />
tempo para tentar compreender do<br />
que se trata nem do seu impacto no<br />
nosso corpo.<br />
A intolerância alimentar é uma<br />
reação exagerada (hipersensibilidade)<br />
do organismo a um determinado<br />
alimento, que se estima que afete<br />
20 a 35% da população de forma<br />
crónica. A eliminação dos alimentos<br />
aos quais o indivíduo apresenta<br />
hipersensibilidade alimentar melhora<br />
os sintomas associados. Os alimentos<br />
podem voltar a ser inseridos, de forma<br />
gradual. As manifestações clínicas<br />
são variadas e apresentam-se sem<br />
gravidade, tornando o diagnóstico<br />
difícil e demorado.<br />
Já na disbiose, ocorre um<br />
desequilíbrio da flora intestinal<br />
bacteriana - denominada de<br />
microbiota intestinal - que reduz a<br />
capacidade de absorção dos nutrientes<br />
e pode induzir a carência de vitaminas<br />
e minerais. A microbiota intestinal<br />
desempenha um papel fundamental<br />
na nossa saúde, regulando o sistema<br />
imunitário, pelo que a sua fragilidade<br />
tem repercussões negativas. Na<br />
origem deste desequilíbrio estão,<br />
muitas vezes, fatores alimentares,<br />
como determinados alimentos,<br />
aditivos, conservantes ou pesticidas.<br />
Os sintomas de intolerância alimentar<br />
e de disbiose são muito idênticos,<br />
podendo resultar em excesso de<br />
peso e perturbações digestivas,<br />
como diarreia, cólicas ou distensão<br />
abdominal. A nível dermatológico<br />
é comum ocorrer acne, irritação e<br />
manchas na pele ou psoríase. Queda<br />
de cabelo, dor de cabeça permanente<br />
ou ainda cansaço extremo e ansiedade<br />
são outros dos sintomas associados.<br />
Agora que está a par do que cada uma<br />
destas complicações trata, já pensou<br />
que todo esse mal-estar e até o excesso<br />
de peso podem estar relacionados<br />
com estes problemas? Não desespere,<br />
porque a conclusão tem um lado<br />
positivo: há solução!<br />
Os laboratórios SYNLAB acabaram<br />
de lançar o estudo de saúde intestinal<br />
BiotA200, uma análise que permite<br />
conhecer os alimentos aos quais<br />
desenvolveu intolerância alimentar,<br />
assim como da composição da sua<br />
microbiota intestinal. Pode ser<br />
efetuada a partir dos 5 anos, através<br />
de uma amostra de sangue e de<br />
fezes, sendo necessário um jejum<br />
de 6h na colheita de sangue. Para<br />
que saiba como atuar depois de<br />
receber o resultado, este teste inclui<br />
uma consulta de Interpretação<br />
de resultados online com um<br />
nutricionista.<br />
098 NOFEV21<br />
NOFEV21 099
CRÓNICA<br />
CRÓNICA<br />
Enfermeira Elisabete Cardoso<br />
A ilha de São Jorge, também<br />
conhecida como a ilha do dragão,<br />
fica situada no Grupo Central no<br />
Arquipélago dos Açores, sendo a ilha<br />
mais central do arquipélago. A sua<br />
grande singularidade são as fajãs,<br />
sendo a mais conhecida a Fajã da<br />
Caldeira de Santo Cristo.<br />
Todas as ilhas possuem as suas<br />
particularidades, que as tornam<br />
únicas e peculiares.<br />
O que tem São Jorge de tão especial?<br />
Como filha da terra que sou, esta<br />
ilha é especial, pois viu-me nascer e<br />
crescer, foi ela que me incutiu todos os<br />
valores que hoje me tornaram a cidadã<br />
que sou. Para obter o conhecimento<br />
Ser enfermeira (o)<br />
na Ilha do Dragão<br />
profissional, tive que sair por<br />
alguns anos, contudo ao concluir a<br />
licenciatura em enfermagem regressei<br />
por forma a tentar contribuir para<br />
o desenvolvimento desta, onde<br />
ingressei num centro de saúde com<br />
internamento, o Centro de Saúde de<br />
Velas (CSV).<br />
O centro de saúde é uma unidade<br />
prestadora de cuidados de saúde<br />
primários ou essenciais, tendo por<br />
objetivo a promoção e vigilância da<br />
saúde, a prevenção, o diagnóstico e o<br />
tratamento da doença e a reabilitação,<br />
dirigindo a sua atividade ao<br />
indivíduo, à família e à comunidade<br />
e privilegiando a personalização da<br />
relação entre os profissionais de saúde<br />
e os utentes. (Capítulo I Artigo 1.º<br />
do Decreto Regulamentar Regional<br />
3/86/A).<br />
O que se faz num centro de saúde de<br />
uma ilha dita pequena?<br />
A prevenção está na linha da<br />
frente dos cuidados, e somos nós<br />
enquanto enfermeiros dos cuidados<br />
de saúde primários que educamos<br />
para a prevenção de doenças, que<br />
promovemos estilos de vida saudáveis<br />
e que ajudamos a lidar com a doença<br />
crónica. Cuidamos com o simples<br />
objetivo de proteger ao máximo a<br />
saúde do nosso utente.<br />
A nossa área de atuação como<br />
enfermeiros deveria ser de cuidados<br />
de saúde primários, pois a principal<br />
função dos centros de saúde é<br />
promovê-la, contudo nesta e noutras<br />
ilhas “ditas pequenas”, a nossa atuação<br />
vai além disso, pois prestamos<br />
também cuidados diferenciados.<br />
Temos que criar mecanismos/formas<br />
de contornar o nosso isolamento<br />
geográfico e deste modo os utentes<br />
terem o mesmo direito e as mesmas<br />
oportunidades. Para tal há que<br />
estabilizar os doentes e encaminhálos,<br />
quer por via aérea, quer por<br />
via marítima para as unidades de<br />
referência.<br />
Citando Pedro Soares, Presidente<br />
do CDR da Ordem dos Enfermeiros<br />
dos Açores,” ... não podemos ter<br />
um hospital em cada ilha, mas por<br />
outro lado, temos de criar todas<br />
as condições de acesso ao SRS dos<br />
Açores, independentemente da ilha,<br />
um Açoriano é um Açoriano”.<br />
Trabalhar numa ilha pequena é ainda<br />
dar mais significado à citação de<br />
Wanda Horta “somos gente que cuida<br />
0100 NOFEV21<br />
NOFEV21 0101
REPORTAGEM<br />
CRÓNICA<br />
de gente”.<br />
A unidade básica de urgência<br />
funciona também como sala de<br />
tratamento, onde os utentes se<br />
deslocam para fazer penso e injetáveis.<br />
Esta dinâmica de trabalho faz<br />
confusão e é desconcertante para<br />
alguns dos colegas que começam a<br />
trabalhar no CSV, pois não conseguem<br />
assimilar que, enquanto se faz um<br />
penso e se der entrada a um utente<br />
urgente/emergente temos que socorrer<br />
este utente, passando aquele para<br />
segundo plano, uma vez que somos o<br />
único enfermeiro ao serviço. Ou seja,<br />
temos que estar preparados para tudo,<br />
pois nunca sabemos o que nos “entra<br />
pela porta dentro”. Contudo, é isso que<br />
nos torna enfermeiros tão peculiares,<br />
não nos permitindo ser especialistas<br />
numa determinada área, pois como<br />
se diz na gíria temos que ser “pano<br />
para toda a obra”, somos polivalentes,<br />
temos que ser enfermeiros de urgência<br />
quando estamos de SAP, enquanto que<br />
no dia anterior fomos enfermeiros em<br />
Saúde Infantil, isto quer dizer temos<br />
que fazer um reset do serviço que<br />
tivemos no dia anterior e um upload<br />
para o serviço em que estamos hoje.<br />
Simplificando, se der entrada um<br />
utente com uma fratura, temos<br />
que ser enfermeiros de ortopedia e<br />
pensar como tal; um edema agudo do<br />
pulmão ou suspeita de enfarte agudo<br />
do miocárdio vestimos a pele de um<br />
enfermeiro de cardiologia; uma crise<br />
asmática e logo somos enfermeiros<br />
de pneumologia; uma hemorragia<br />
digestiva alta e adivinhem o que<br />
somos? Enfermeiros de gastro.<br />
Sendo assim, nestas ilhas proferidas<br />
de “pequenas “o mesmo enfermeiro<br />
percorre todas as etapas do ciclo da<br />
vida, porque tanto assiste um utente<br />
com 6 dias de vida como a um utente<br />
centenário.<br />
Posso afirmar de viva voz que sou<br />
apenas uma simples enfermeira,<br />
mas quando é necessário sou essas<br />
vertentes todas que mencionei. Nós<br />
somos grandes embora pequenos,<br />
fazemos tanto com tão pouco e<br />
muitas vezes mal compreendidos<br />
pelos colegas que não sabem o<br />
que é ser enfermeiro de “todas as<br />
especialidades” numa ilha sem<br />
hospital.<br />
Fazemos pequenos milagres, mas<br />
para quem não conhece a realidade<br />
da ilha são uma insignificância e eu<br />
compreendo muito bem o porquê.<br />
Porque dentro dum serviço somos<br />
bons naquele serviço, mas fora dele<br />
às vezes somos como “peixe fora de<br />
água”. Nós, enfermeiros desta ilha no<br />
meio do arquipélago, fazemos tantas<br />
vezes o impossível para que tudo<br />
corra pelo melhor, para o bem dos<br />
nossos utentes.<br />
Temos a plena noção que quando<br />
nos deparamos com um utente em<br />
estado grave, temos que prestar todo<br />
o socorro necessário, juntamente<br />
com médicos e auxiliares, como se<br />
de um hospital se tratasse, por forma<br />
a providenciar a sua recuperação<br />
ou estabilizar o mais possível até à<br />
chegada da ajuda diferenciada, que<br />
por vezes é tardia, tendo em conta<br />
a dispersão geográfica, condições<br />
climatéricas e disponibilidade dessas<br />
equipas. Durante essa espera sentimonos<br />
muitas vezes impotentes sem<br />
poder fazer mais, tendo em conta<br />
a nossa pequenez de recursos e de<br />
meios, deixando-nos angustiados e<br />
psicologicamente afetados, algo que<br />
infelizmente não é contabilizado.<br />
Perante situações como as descritas<br />
0102 NOFEV21<br />
NOFEV21 0103
CRÓNICA<br />
REPORTAGEM<br />
PUB<br />
anteriormente e caso apareça no<br />
SAP uma situação aguda ou um<br />
utente no internamento tenha uma<br />
involução do seu estado, temos que<br />
socorrer esse utente e “abandonar”<br />
a essência do cuidar e desamparar<br />
temporariamente os outros utentes.<br />
Ao longo destes 18 anos de serviço<br />
no CSV tenho assistido a um<br />
triste e contínuo empobrecimento<br />
das instalações/condições de<br />
trabalho, quando comparado<br />
com o início de carreira, numa<br />
espiral agoniante de insegurança<br />
sobre o futuro, especialmente<br />
neste último ano. Atualmente no<br />
serviço de internamento temos 8<br />
camas, sendo 4 de internamento<br />
e 2 de observação. No serviço de<br />
SAP temos 2 camas de observação.<br />
Esta redução deve-se às obras de<br />
melhoramento do centro de saúde,<br />
mas que infelizmente se encontram<br />
paradas.<br />
Com a chegada da Covid-19<br />
verificou-se um aumento das<br />
nossas tarefas, nomeadamente<br />
as colheitas. Veio ainda reforçar/<br />
demonstrar o quanto somos<br />
insulares, pois ao vermos a<br />
realidade continental leva-nos a<br />
pensar “e se fosse cá?”, ou seja, se<br />
o surto que assola o território de<br />
Portugal continental fosse em S.<br />
Jorge, ou em qualquer outra ilha<br />
de “pequena dimensão”, como seria<br />
o seu combate. Aí sim, seremos<br />
todos poucos para a quantidade de<br />
cuidados necessários a providenciar<br />
à população infetada.<br />
A todos os enfermeiros que<br />
trabalham na USISJ e os que já<br />
trabalharam, um bem-haja.<br />
Que o ano que começa nos<br />
traga uma nova esperança na<br />
enfermagem!<br />
0104 NOFEV21<br />
NOFEV21 0105
CRÓNICA<br />
CRÓNICA<br />
Por Ricardo Silva<br />
Bernardh Sclink - O Leitor, Edições ASA, 1999<br />
Só houve oportunidade agora. Ler “O Leitor”<br />
(1995) só aumentou a minha culpa por não o ter<br />
feito mais cedo. E é um romance em que a culpa<br />
está presente noutros moldes. Mais um livro<br />
que deu um bom argumento para o cinema. Foi<br />
adaptado, em 2008, pelo realizador britânico<br />
Stephen Daldry permitindo a Kate Winslet uma<br />
interpretação memorável que a fez vencer o<br />
Óscar de Melhor Atriz desse mesmo ano.<br />
A história é contada em três partes distintas<br />
sendo que na primeira assistimos ao início e<br />
desenvolvimento da relação amorosa entre o<br />
adolescente Michael Berg, 15 anos, e Hanna<br />
Schmitz, de 36 anos. Vivem, a partir de um<br />
acaso, um período de descoberta sentimental<br />
e afetiva, sobretudo, para o jovem Michael<br />
considerando a sua idade.<br />
Numa narrativa na primeira pessoa, na<br />
personagem de Michael, e com uma escrita<br />
sóbria, em que diálogos e descrições são<br />
suficientes é na Alemanha do pós-guerra, anos<br />
60, que tal história se desenvolve. Esta primeira<br />
parte é marcada pela contextualização do<br />
jovem Michael em termos familiares, sociais e<br />
académicos. Neste tripé de espaços, Michael,<br />
consegue arranjar sempre tempo para se<br />
encontrar com Hanna, passear com<br />
ela e ter uma experiência afetiva –<br />
tanto física e emocionalmente – que<br />
o torna mais forte, distanciando-o<br />
dos amigos e amigas neste capítulo e<br />
marcando-o indelevelmente para o<br />
resto da vida.<br />
A curiosidade está no analfabetismo<br />
de Hanna que não sabendo ler e<br />
escrever, oculta esta falha – para ela<br />
um ferrete estigmatizador – de forma<br />
sábia nunca a revelando ao jovem<br />
Michael. Contudo, revela-se uma<br />
atenta e profunda ouvinte pedindo<br />
ao jovem que leia cada vez mais<br />
num deleite que ele próprio também<br />
experimenta. Ele torna-se o leitor e ela<br />
a ouvinte!<br />
A segunda parte do livro é a mais<br />
bonita e reflexiva. Nela se faz a grande<br />
introspeção que a Alemanha viveu<br />
depois do nazismo, designadamente<br />
a geração que nasce no fim da guerra<br />
e que nos anos 60 confronta os seus<br />
ascendentes – pais e avós – pela<br />
implicação e responsabilidade em tal<br />
horrendo regime. Para estupefação<br />
de Michael, Hanna é acusada como<br />
criminosa de guerra, por ter sido<br />
guarda num campo de concentração<br />
com responsabilidades na morte<br />
de muitas mulheres. A admiração<br />
de Michael é de toda uma geração.<br />
São questões com que uma geração<br />
se debate. Como foi possível o<br />
extermínio de judeus, ciganos,<br />
adversários políticos, experiências<br />
médicas bárbaras, etc.? Como<br />
ficamos nós para além do espanto,<br />
emudecidos pelo horror e carregados<br />
pela vergonha e culpa? Temos direito<br />
a compreender e a não aceitar; temos<br />
força para rebelar-nos contra pais,<br />
familiares e instituições; temos de<br />
viver com esta ignomínia e com<br />
esta culpa, conquanto não fomos<br />
responsáveis por uma guerra que nos<br />
envergonha; ou somos, hoje, aqueles<br />
que podem repensar a Alemanha<br />
de um futuro diferente? Todas estas<br />
questões foram discutidas, debatidas<br />
e vividas em movimentos académicos<br />
e sociais e que estão presentes no<br />
processo judicial de Hanna Schmitz.<br />
São as questões da geração alemã dos<br />
anos 60, mais vigorosas, certamente,<br />
0106 NOFEV21<br />
NOFEV21 0107
REPORTAGEM<br />
CRÓNICA<br />
REPORTAGEM<br />
que a contestação europeia à guerra<br />
americana no Vietname.<br />
Michael Berg está presente no<br />
julgamento como aluno de Direito<br />
empenhado em compreender as<br />
questões atrás enunciadas. Conceitos<br />
como Ordenar e Obedecer num tempo<br />
de guerra; Condenar e Compreender<br />
e qual o espaço que se consegue entre<br />
estes dois atos, Aceitar ou Recusar<br />
princípios que se traduzem entre Vida<br />
ou Morte, entre o Sim e o Não a uma<br />
ditadura brutal! As respostas não são<br />
fáceis a cada momento e muitos até<br />
nem tempo tiveram de responder.<br />
Foram apenas subjugados.<br />
A terceira parte dá-nos um epílogo<br />
surpreendente: a prisão e o suicídio de<br />
Hanna; a vida fracassada de Michael<br />
a nível familiar e afetivo e a aceitação<br />
de que a mesma girou à volta de um<br />
amor de juventude que foi mais longe<br />
do que era suposto. Após o divórcio de<br />
um casamento que se desgasta, com<br />
pena de Michael, este conhece várias<br />
mulheres, mas, Hanna feita imagem<br />
e memória, imponha-se sempre ao<br />
Michael feito homem.<br />
Continuou a ler para ela – nunca<br />
lhe escreveu – enviando-lhe cassetes<br />
gravadas durante anos. Descobriu mais<br />
tarde, com entusiasmo, que ela tinha<br />
aprendido na prisão a ler e a escrever!<br />
Como? A partir da audição fez nos<br />
livros o reconhecimento das letras e<br />
das palavras num esforço libertador<br />
daquilo que lhe oprimia o ser. Expiava<br />
os seus crimes, mas ao mesmo tempo<br />
queria ler para melhor compreender o<br />
mundo.<br />
O fim de pena aproxima-se. Michael<br />
reencontra-a sem grande aparato na<br />
prisão e a preparação da Liberdade<br />
de Hanna é feita com afinco – arranja<br />
casa e ocupação – para depois ser<br />
confrontado com o choque do seu<br />
suicídio: recusa um mundo que<br />
nunca a compreendeu. Ela própria<br />
o disse: “Sempre tive a sensação de<br />
que ninguém me compreende, que<br />
ninguém sabe quem eu sou e o que<br />
me levou a fazer isto e aquilo. E, sabes,<br />
quando ninguém, te compreende, então<br />
ninguém pode exigir-te nada.”<br />
Michael, por fim, depois de algum<br />
tormento, ódio até, aceitou que a sua<br />
vida era o que era, nem triste nem<br />
alegre, mas era verdadeira. Dentro das<br />
opções possíveis tentou ser inteiro na<br />
esperança de ser melhor.<br />
A leitura vale a pena!<br />
Ricardo Silva<br />
Ribeira Grande, 25 de janeiro de <strong>2021</strong><br />
TIAGO MATIAS<br />
EDITOR<br />
Aproveitar o<br />
Garantia Açores<br />
Jovem<br />
Se o desemprego é sempre uma preocupação, ainda o é mais para<br />
os jovens. Principalmente para aqueles que saindo do seu percurso<br />
escolar, com maior ou menor sucesso, se encontram numa fase<br />
definidora das suas vidas.<br />
Onde trabalhar? O que fazer? O que é que me faz feliz? Onde me<br />
enquadro no mercado de trabalho? Onde me posso sentir valorizad@?<br />
Por onde começo a desenhar uma carreira de sucesso? Estas são<br />
perguntas que afligem os nossos jovens, essencialmente antes dos 30<br />
anos.<br />
0109 NOFEV21<br />
0109<br />
NOFEV21
CRÓNICA<br />
REPORTAGEM<br />
Ainda que, de acordo com o relatório “Estado da Educação<br />
2019”, divulgado em dezembro passado, se tenha verificado<br />
uma diminuição a nível nacional dos jovens “nem-nem”<br />
ou NEET (aqueles que não estudam, não trabalham, nem<br />
frequentam formação), os dados não devem deixar-nos<br />
descansados.<br />
O estudo demonstrou que a proporção de jovens dos 15 aos 34<br />
anos, a nível nacional, foi de 9,5% em 2019, quando em 2014<br />
era de 15,2%. Nos Açores, esta proporção situou-se nos 16,4%.<br />
A nível mundial, de acordo com um relatório da Organização<br />
Mundial do Trabalho, existirão cerca de 267 milhões destes<br />
jovens, em idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos.<br />
Preocupado com esta realidade, o Governo da República criou<br />
em 2013 a Garantia Jovem, que se transpõe para a nossa Região<br />
como “Garantia Açores Jovem”, um programa que tem por<br />
objetivo encontrar uma oportunidade de formação, estágio ou<br />
mesmo de emprego, de acordo com os interesses e ambições<br />
profissionais de cada jovem Açoriano.<br />
Por isso, recomendo a todos os jovens Açorianos à procura<br />
de rumo, uma visita a www.garantiajovem.azores.gov.pt, pois<br />
lá encontrarão orientação e qualificação profissional, bem<br />
como ofertas de estágio e de emprego. E claro, não deixem<br />
de procurar ativamente e pelos seus próprios meios “aquela”<br />
oportunidade, que pode abrir horizontes e que pode estar<br />
mesmo ao virar da esquina. Olho aberto.<br />
0110 NOFEV21 NOFEV21 0110<br />
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www.iroa.pt<br />
facebook.com/iroaazores<br />
Ricardo Silva<br />
Presidente do Conselho de<br />
Administração da IROA,<br />
S.A.<br />
Um projeto de<br />
futuro - O reforço do<br />
abastecimento e do<br />
armazenamento de água<br />
do POA da Bacia Leiteira<br />
de Ponta Delgada<br />
Com cerca de 9890 ha o Perímetro de Ordenamento<br />
Agrário da Bacia Leiteira de Ponta Delgada é o mais<br />
importante e produtivo dos 16 existentes (49 500 ha) nos<br />
Açores. A sua área é tão só um 1/5 de toda a consignada<br />
a POAs na Região. Contudo, possui um problema de<br />
fundo que urge responder quanto antes: o abastecimento<br />
de água com regularidade e normalidade em todas<br />
as épocas do ano. Também importa referir que nem<br />
todo o abastecimento é feito pela IROA, S.A., mas o<br />
mesmo é fundamental para as cerca de 800 centenas de<br />
explorações em atividade naquele POA. O problema<br />
reside num sistema de abastecimento que vive da<br />
incerteza da pluviosidade e o armazenamento principal<br />
tem o seu coração na Lagoa do Caldeirão Grande,<br />
construída em 2007, com uma reserva de 30 000 m3.<br />
Chegados ao Verão ou nem isso começa a incerteza!<br />
A necessidade aguça o engenho e a ideia de ir buscar um<br />
caudal de água de 1650 m3 por dia, que poderão suprir<br />
até mais de 500 000 m3 por ano, e que normalmente são<br />
descarregados pelo túnel das lagoas das Sete Cidades a<br />
caminho da ribeira dos Mosteiros, criou uma esperança<br />
enorme na resolução deste grave problema. É um caudal<br />
diário, com variações curtas na sua quantidade, mas é<br />
de um potencial enorme ao serviço da lavoura. Grande<br />
parte do mesmo é desaproveitado e terá uma extrema<br />
utilidade na vida da pecuária de Ponta<br />
Delgada. As alterações climáticas,<br />
infelizmente, continuarão a fazeremse<br />
sentir num futuro breve, com mais<br />
acuidade e durante ainda algum<br />
tempo.<br />
A execução deste projeto é de uma<br />
prioridade absoluta e um anseio<br />
muito positivo para todos aqueles que<br />
vivem da agropecuária, sobretudo, os<br />
residentes na zona noroeste da ilha<br />
de São Miguel, o mesmo é dizer da<br />
ponta dos Mosteiros à ponta de Santo<br />
António tendo as Capelas como seu<br />
limite. São muitas pessoas!<br />
A qualidade da água responde aos<br />
princípios básicos insertos no Guia<br />
da Direção Geral da Alimentação<br />
e Veterinária, exigindo apenas<br />
desinfeção, e não um tratamento mais<br />
complexo a nível físico e químico.<br />
Contudo, se tal situação se colocar, há<br />
toda a possibilidade de se partir para<br />
este tratamento através da Estação de<br />
Tratamento de Água (ETA) prevista<br />
em projeto. A solução proposta passa<br />
por captar, elevar, transportar e tratar<br />
água num percurso de 12 km de<br />
0112 NOFEV21<br />
NOFEV21 0113
no | www.norevista.pt<br />
no | www.norevista.pt<br />
condutas adutoras com a possibilidade<br />
de no futuro, havendo necessidade,<br />
instalar condutas distribuidoras paras<br />
as freguesias da zona noroeste de<br />
São Miguel. O sistema contará com 3<br />
estações elevatórias para transportar<br />
a água até ao reservatório do Pico da<br />
Cruz, e deste até ao Reservatório do<br />
Carvão de forma gravítica, mas será,<br />
sem dúvida, a Lagoa do Caldeirão<br />
Grande o verdadeiro coração do<br />
abastecimento futuro, agora, com<br />
um fornecimento estável, menos<br />
dependente e mais resiliente face<br />
irregularidade pluviométrica sazonal.<br />
Este projeto estruturante para a Bacia<br />
Leiteira de Ponta Delgada, pela sua<br />
envergadura, terá apoio comunitário,<br />
num investimento base de 2,5 milhões<br />
de euros. A sua execução poderá ser<br />
enquadrada entre <strong>2021</strong>-23 e dará em<br />
termos futuros uma segurança na<br />
atividade agropecuária do concelho.<br />
É certo que a agricultura exige água<br />
e teremos cada vez mais de ser<br />
ponderados na sua utilização, mas<br />
este projeto é, sem dúvida, o melhor<br />
aproveitamento de um recurso que<br />
neste momento corre em direção ao<br />
mar.<br />
Todos, sobretudo, os agentes da<br />
atividade agropecuária de Ponta<br />
Delgada devem estar envolvidos na<br />
sua execução. A defesa do futuro<br />
próximo constrói-se hoje.<br />
0114 NOFEV21<br />
0114<br />
NOFEV21<br />
NOFEV21 0115
REPORTAGEM<br />
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FRASES DO MÊS<br />
“Não procuramos o pioneirismo e a<br />
diferença, mas sim a assertividade e<br />
humilde aconselhamento que recebemos”<br />
José Manuel Bolieiro, Presidente do Governo Regional<br />
“Estamos ao lado daqueles que defendem que temos<br />
de mobilizar todos os recursos, toda a vontade<br />
individual e coletiva para fazer frente a esse desafio”<br />
Vasco Cordeiro, deputado do PS/Açores<br />
“Este não é o tempo para hesitações. Este é o tempo em<br />
que a urgência das respostas eficazes tem de prevalecer<br />
sobre as ideologias e as disputas partidárias”<br />
Catarina Cabeceiras, deputada do CDS-PP/Açores<br />
“A SATA foi usada e abusada ao<br />
longo dos últimos quase 30 anos”<br />
Nuno Barata, deputado da IL/Açores<br />
0116<br />
NOFEV21<br />
NOFEV21 0117
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0118 NOFEV21 0119<br />
NOFEV21
0120 NOFEV21<br />
REPORTAGEM