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Revista Aquaculture Brasil - 22ed

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JAN/MAR 2021

Roberto Bianchini Derner

Laboratório de Cultivo de Algas

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Florianópolis, SC

roberto.derner@ufsc.br

Na Coluna desta Edição apresento um texto elaborado

pelo Professor Leonardo Rörig e pelo

Pesquisador (Pós-Doc) Eduardo de Oliveira Bastos,

ambos do Laboratório de Ficologia (LAFIC) da Universidade

Federal de Santa Catarina. Tanto os efluentes domésticos

como os da Aquicultura, mesmo depois dos

tratamentos convencionais, geralmente apresentam níveis

elevados de nutrientes inorgânicos e micropoluentes,

que podem causar eutrofização e outros efeitos

ambientais nocivos. Para a remoção desses poluentes

se faz necessário o tratamento terciário, que envolve o

uso de processos químicos dispendiosos ou de sistemas

com seres vivos (plantas e algas).

Os efluentes da crescente e estratégica atividade

de Aquicultura muitas vezes não recebem tratamento

adequado, apesar de suas elevadas cargas poluidoras,

entretanto, há diversas iniciativas de pesquisa no Brasil

envolvendo tratamento terciário ou polimento de

efluentes com sistemas de macrófitas aquáticas (plantas),

que são excelentes alternativas sustentáveis para

esse fim. Porém, o emprego das algas para essa finalidade

revela que essas são até dez vezes mais eficientes na

remoção dos poluentes/nutrientes (N, P e C, p. e.) de

efluentes do que as plantas, logo, seu potencial merece

ser explorado, a exemplo de países como os EUA, China,

Índia, Austrália etc.

O desenvolvimento de abordagens de ficorremediação

utilizando sistemas de tapetes algais biofiltrantes

(TAB) ou Algal Turf Scrubbers (ATS) promete ser uma solução

altamente eficiente e de baixo custo. Os ATS são

sistemas de engenharia ecológica que exploram a atividade

metabólica de algas fixadas a substratos (malhas)

para remoção de nutrientes/poluentes. Nesses sistemas,

inicialmente desenvolvidos nos EUA por Walter Adey, a

água carregada de nutrientes/poluentes flui sobre leitos

cobertos com telas (calhas) que favorecem a adesão de

algas e, é depurada à medida que passa pelo tapete de

algas através da assimilação dos nutrientes inorgânicos,

BIOTECNOLOGIA DE

ALGAS

Algal Turf Scrubber – uma solução simples e

barata para auxiliar no tratamento dos efluentes

em sistemas de Aquicultura

gerando o crescimento de uma biomassa com diversos

potenciais de uso. Assim, no final da calha, a água é liberada

de volta ao corpo de água, com menor concentração

de nutrientes e maior concentração de oxigênio

dissolvido. Vale esclarecer que as taxas de crescimento

fotossintético em um ATS estão entre as mais altas já

registradas para ecossistemas naturais ou gerenciados.

Atualmente, a tecnologia original de ATS nos EUA

é comercializada pela empresa HydroMentia, Inc., que

tem unidades na escala de hectares, entretanto, a ampliação

dos sistemas ATS para tratamento de esgotos

começou em meados da década de 1990 com uma

unidade de tratamento em Patterson, Califórnia, onde o

emprego das águas residuais secundárias da estação de

tratamento de esgoto da cidade, em uma série de pulsos

com fluxo médio de 600.000 L dia -1 , levou à produção

média anual de 35 kg m -2 de biomassa e elevadas

taxas de remoção de nutrientes/poluentes. Nesse caso,

a biomassa algal resultante mostrou-se um excelente

biofertilizante, cuja comercialização permitiu compensar

grande parte do investimento no Sistema.

Diversos cientistas e operadores afirmam que à medida

que os ATS forem ampliados para aplicação em bacias

hidrográficas inteiras, a tecnologia catalisará uma “economia

verde”, com geração de empregos e estímulo a

empresas derivadas que usariam a biomassa algal. Estudiosos

relatam que, em muitas regiões dos EUA, p. e., a

produtividade das algas em ATS é principalmente limitada

pela baixa oferta de luz solar e pela temperatura, entretanto,

esses aspectos seriam problemas menores em países

de clima predominantemente tropical como o Brasil.

Uma iniciativa de colaboração entre o LAFIC/UFSC

e o Departamento de Engenharia de Biossistemas da

Universidade de Auburn – um dos grupos pioneiros na

pesquisa em ATS -, possibilitou uma série de experimentos

visando padronizar os sistemas ATS para as

condições brasileiras, especialmente no que se refere a

águas eutrofizadas (rios, lagos, estuários) e efluentes de

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PARCEIROS NA 22° ED:

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