Revista Aquaculture Brasil - 22ed
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interessantes e reforçaram minha visão a respeito.
Argumentei que não existe “a” espécie ideal. Parece
que é isto o que estamos buscando há anos no Brasil.
Como se fosse uma “bala de prata”! Isto não existe.
E o problema não é só a falta de ração específica
para peixe marinho, como alguns podem pensar. Isto
se resolve na medida da demanda. Temos muitos problemas.
Nosso entrave é o que chamamos de “custo
Brasil”. Não existe um “ambiente de negócio” favorável
para a implantação de uma indústria de piscicultura
marinha. São dificuldades de licenciamento ambiental,
financiamento, impostos, burocracia etc. E como
é uma atividade nova, há evidentemente um risco, que
é maior em qualquer atividade produtiva que dependa
da natureza (como na agrícola). Na situação atual,
seria importante que os riscos fossem atenuados, com
ações coordenadas entre setor privado, governo e pesquisa.
Que a atividade fosse estimulada. Isto é papel
do Ministério e Secretarias estaduais. O país precisa
fazer escolhas. Queremos importar cada vez mais pescado
marinho de alta qualidade (leia-se basicamente
salmão) e/ou explorar cada vez mais nossos estoques
pesqueiros já debilitados? Ou queremos incrementar
a oferta deste produto através da piscicultura?
O que ainda falta realizar?
“Eu creio que um pesquisador de qualquer área
nunca pode se considerar satisfeito! O que nos move é
a busca de conhecimento. A minha contribuição sempre
foi no sentido de conhecer as espécies para poder
controlar o ciclo de vida. O francês usa o verbo “maîtriser”,
ao invés de controlar. A gente se torna mestre
na medida que conhece e valoriza. Bem, não tendo
formação em engenharia, tentei aprender com os engenheiros,
os agrônomos principalmente. Pois a nossa
“engenharia” (ou seja, transformar a natureza a nosso
favor) é a de recursos biológicos. Então, meu olhar inicial
é o do oceanólogo, buscando as espécies “em dificuldade”
por exemplo, e depois vem o viés da engenharia,
buscando como intervir para resolver o problema.
Antes dos projetos com sardinha e tainha, já pensava
que a pescada-amarela (boa de mercado, ameaçada
em alguns locais, com a bexiga gasosa supervalorizada
no mercado asiático, ...) mereceria a nossa atenção.
Infelizmente, não conseguimos juvenis nem reprodutores.
Então, é um sonho ainda por concretizar”.
Coordenadores da Rede Catarinense de Pesquisa em
Piscicultura Marinha apresentando os resultados de seus
projetos no CNPq em Brasília, 2012
Três espécies de peixes marinhos para o Brasil
“Três é pouco! Eu creio que primeiro temos que
pensar em qual sistema de produção, depois nas espécies.
Para suplantar de forma mais fácil as dificuldades
mencionadas há pouco, penso que devemos começar
incentivando a piscicultura “estuarina”. É um sistema
semi-intensivo, que pode usar as mesmas estruturas de
engorda do camarão. E neste caso, com as espécies
que se adaptam bem neste ambiente: tainha, robalo,
carapeva, pescada, corvina, miragaia, talvez até linguado
e cioba. Isto existe na Europa até hoje. E acho
que estamos deixando escapar esta oportunidade há
pelo menos 15 anos. Mas, na medida em que consigamos
produzir em sistemas mais intensivos e com custo
mais elevado (tanque-rede e RAS, por exemplo), apostaria
em espécies com valor de mercado alto como
robalo, cioba, pescada-amarela, linguado e garoupa.
Onde vamos encontrar o professor Vinicius daqui
a 10 anos?
“Em muitos lugares!. Mas certamente vou ter
mais tempo para estar com minha esposa, meus filhos
e sobretudo netos. Também cuidando das minhas
coisas, como as plantas, a aquaponia, os
peixes, e também viajar, escrever meus textos; e
quem sabe sobre tempo para trabalhar em um
projeto de piscicultura de algum ex-aluno?
JAN/MAR 2021
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