CRÓNICADO NOSSO CANTINHO PARA O VOSSO CANTÃOARAGONEZ MARQUESQueroapresentaruma autoraNeste recomeço, com final amargo defim de férias, resolvi apresentar aqui,nesta minha crónica uma autora portuguesa,com um filho emigrado na Suíça.Cedo-lhe agradavelmente este meuespaço e espero que Manuel Araújo, onosso homem das grafias se não zanguecom este trabalho de composição que oobrigo a fazer.A todos vocês, leitores, desejo um bomregresso ao trabalho. Ao pessoal da revista,diretor e colaboradores uma saudaçãoespecial por se aguentarem nestaaventura do nosso Lusitano.Deixo-vos com Graça Amiguinho.GRAÇA AMIGUINHO12Lusitano de Zurique - Setembro 2021 | www.cldz.eu
CRÓNICACORAÇÃO EMIGRANTEPartiste, meu amor,Com o coração angustiado.Para trás deixaste,As recordações do passado.Um novo mundo te esperava,Que tão bem te acolheu!Esqueceste quem te exploravaE tanta coisa bonita, aconteceu!Ver partir um filho, para um país desconhecido, sozinho,embora apoiado por amigos, não é fácil para nenhumaMãe.Vivi essa experiência há 7 anos, quando Portugal atravessavauma grande crise e o trabalhador não se sentiamotivado, porque o seu esforço não era devidamente recompensado.Pode parecer uma contradição, alguém saber quanto vaidoer a separação e tudo fazer para que ela aconteça.Eu fui a primeira impulsionadora, para que a vida do meufilho mudasse e ele pudesse ter um futuro mais risonho etranquilo.Porque acredito que está escrito no destino, o caminho aseguir e apenas temos que saber ler os sinais, interpretá--los e agir.Ouvia as suas lamentações sem eu as poder resolver, masmesmo que pudesse, o temperamento independente e lutadordo meu filho, não se conformaria.Começámos a enviar os seus CV, pois ele estava sempretão sobrecarregado de trabalho, que não lhe restava tempopara fazer pesquisas na internet.Porém, como já atrás referi, quando os caminhos estãopreparados para neles caminharmos, algo vem ao nossoencontro para que esse processo se inicie.Como gosto de abraçar novos projectos, criei em 2013,um pequeno grupo musical com jovens, tendo entre eles,filhos de antigas alunas minhas.Aconteceu que, numa das actuações, uma dessas jovensfaltou. Ao indagar a razão da sua ausência, fiquei sabendoque a mãe tinha ido à Suíça, onde o pai estava a trabalhar.Essa notícia foi o descobrir de uma luz que iluminaria ocaminho, que eu tanto queria que o meu filho percorresse.Como os laços de amizade verdadeira, nunca o tempoos desfaz, de imediato essa família veio a minha casa, lheapresentei o meu filho e a minha nora, e o nosso amigofoi o portador de CV dele para entregar em alguns locaisrelacionados com a sua actividade profissional.Contudo, verificámos que essa não seria a estratégia maiseficiente.O meu filho teria que ir pelo seu próprio pé e procurarfazer os contactos necessários a uma possível contratação.Esse dia foi o mais comovente das nossas vidas. Vê-lopartir para o desconhecido, na incerteza de encontrartrabalho, provocou nos nossos corações uma profundaansiedade.Mas, por detrás das lágrimas que queriam aflorar aos nossosolhos, existia uma grande esperança de que portas seiriam abrir e com a sua capacidade e qualidade de trabalho,conseguiria alcançar o que mais desejava.Assim partiu, de mala feita, pensando ser fácil mudar a suavida. Aproveitou umas pequenas férias para dar esse passo.Como tinha conhecimentos suficientes da língua, fez todosos contactos possíveis, perto e longe da residência doamigo que o acolheu.Levara bilhete de ida e volta, porque nada estava garantido.Não era tão fácil como prevíamos. Teve que regressar paranão perder “o saco e o atilho”, como se costuma dizer.Regressou ao seu local de trabalho, na esperança de quealguém de longe, o viesse a contactar.E aconteceu. Duas entidades patronais da Suíça o chamaram,ao mesmo tempo, para locais diferentes.Fui eu que acertei as condições do seu primeiro contractode trabalho, para que não houvesse dúvidas, telefonicamente.Já conheci a amável senhora que o aceitou e ondeiniciou a sua vida como trabalhador emigrante.Aceitou a proposta mais próxima do local onde tinhaamizades e aí encontrou quem o recebesse em sua casa,num quarto que alugou.A segunda proposta chegou de um local mais evoluído,com outro género de clientela. Agiu cautelosamente ehoje, por voltas e mais voltas do destino, é nesse lugarque trabalha.Sente-se feliz, tem uma vida confortável e tranquila, apesarda saudade da família e do seu país.O emigrante português é bem recebido, neste país tãobonito, porque o seu trabalho é honesto.A todos desejo as maiores felicidades.Lusitano de Zurique - Setembro 2021 | www.cldz.eu13