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Edição digital da revista do Centro Lusitano de Zurique

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3 8

anos

LUSITANO

de

ZURIQUE

[ MARÇO 2022 | Edição Nº. 286 | ANO XXVIII | Director: Armindo Alves | Director-adjunto: Manuel Araújo | Publicação mensal gratuita ]

LURDES

BESSA

EMBAIXADORA

EXTRAORDINÁRIA E

PLENIPOTENCIÁRIA

DE TIMOR-LESTE

Pág. 12 a 15

Pág. 40

COVID-19

Suíça e Portugal,

suspendem quase

todas as

restritiçõeas!

Edição

digital

© timorlestemission.ch

editorial

CULTURA

ACTUALIDADE

ÓBITO

O futuro, continuará a ser pintado

de negro. Evitemos o medo!

Pág. 3

Se há vítima maior do AO90,

não sendo o único dos seus

“muitos males”, é sem dúvida a

fonética. Pág. 6

Ucrânia - perguntas e respostas

disparadas por uma... guerra.

Pág. 20

Morreu o “Padre Mário da Lixa”

vítima de acidente.

Pág. 40


LUSITANO

de

ZURIQUE

EQUIPA EDITORIAL

EDITORIAL

Evitemos o medo!

Editorial

Director: Armindo Alves

Jornalista CC15 A

Director-adjunto: Manuel Araújo

Jornalista 3000 A

Email: lusitano@gmail.com

COLABORADORES

Alice Vieira, Aragonez Marques, Carlos Matos Gomes,

Carmindo de Carvalho, Costa Guimarães,

Cristina F. Alves, Daniel Bohren, Euclides Cavaco,

Ivo Margarido, Joana Araújo, Joaquim Galante, Jorge

Macieira, Luís Osório, Manuel Araújo, Maria dos

Santos, Maria José Praça, Nelson Lima, Nelson Mateus,

Paulo Marques, Pedro Nogueira, Rosa Moreira.

EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E PAGINAÇÃO

Joana Araújo

Jornalista CC 11 A

Email: joanaaraujo@protonmail.ch

PUBLICIDADE

Tel.: 079 222 09 14

Email: pub.lusitano@gmail.com

IMPRESSÃO

Diário do Minho - Braga

Tiragem: 3000 exemplares

Periodicidade: Mensal

ARQUIVO DIGITAL:

https://tinyurl.com/gavetao

Distribuição gratuita

NOTA IMPORTANTE:

Os artigos assinados reflectem tão-somente

a opinião dos seus autores e não vinculam

necessariamente a direcção desta revista.

Apoio

Por discordância, esta publicação

não adopta, nem respeita as normas

do novo inútil Acordo Ortográfico.

MARIZA

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Centro Lusitano de Zurique

1984 - 2022

38

anos

Faça parte da família. Torne-se associado.

Armindo Alves

DEPARTAMENTO DE FUTEBOL

Tel.: 079 222 09 14

Email: armindo.alves@garage-

-mutschellen.ch

RANCHO FOLCLÓRICO

Tel.: 079 549 99 10

Email: rancho@cldz.eu

RESTAURANTE (reservas)

Tel.: 044 241 52 15

CURSO DE ALEMÃO

Tel.: 076 332 08 34

PROPRIEDADE

& ADMINISTRAÇÃO

CENTRO LUSITANO

DE ZURIQUE

Risweg, 1

8041 Zurique

Tel.: 044 241 52 15

Email: info@cldz.eu

2 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

3

Director

Jornalista CC15 A

Desde há dois anos, o nosso dia-a-dia

mudou completamente!

Foram as restrições que cresceram em

espiral diariamente, havia medo de

uma doença a apavorar-nos e a fazer

de nós prisioneiros dentro de quatro

paredes. O medo fez que deixássemos

de fazer férias quando nos apetecia

e deixamos de ir aonde nos apetecia.

Deixamos de socializar e conviver e deixamos

de ser livres. O medo imperou!

Felizmente, como num passe de mágica,

o Covid 19 no Mundo parece ter

deixado de ser prioridade. Já poucos

falam na “Pandemia”, tendo a Suíça e

Portugal levantado várias restrições.

Além dos eventos de grande escala e

das reuniões privadas terem sido totalmente

liberalizados, o uso de máscara

deixou de ser obrigatório em ambientes

públicos, onde também não é mais

necessário apresentar o passe sanitário.

Segundo o governo, o uso de máscaras

e a apresentação do certificado de

vacinação não serão mais necessários

para entrar em lojas, restaurantes, cinemas

e teatros.

Também as restrições para reuniões

privadas e a necessidade de obter licença

para grandes eventos, foram

também suspensas.

Segundo o Conselho Federal de Saúde

da Suíça, por enquanto, o uso de

máscara será exigido apenas nos transportes

públicos e em instituições de

saúde, até o final de Março. Além disso,

continua em vigor o isolamento obrigatório

por cinco dias, para as pessoas

que testarem positivo para Covid-19.

Também em Portugal acaba a maioria

das restrições sanitárias impostas durante

a pandemia. Cinco medidas foram

actualizadas e vão estar em vigor

até se verificar uma “queda significativa”

dos óbitos por covid-19.

A primeira novidade é o fim do confinamento

para contactos de risco. Só

terá de cumprir isolamento quem testar

positivo ao coronavírus, tendo ou

não sintomas;

O governo português deixa também

de recomendar o tele-trabalho, aplicado

desde Março de 2020;

Nos estabelecimentos comerciais,

caem os limites de lotação;

O certificado digital deixa de ser exigido,

excepto para entrar no país;

E quem quiser frequentar grandes

eventos, recintos desportivos, bares ou

discotecas já não vai ter de apresentar

um teste negativo para entrar.

O Governo, por considerar que o número

de óbitos é “muito elevado”, o uso

de máscaras no interior de espaços públicos

ou com grandes concentrações

de pessoas, como, por exemplo, em estádios

de futebol é obrigatória, assim

como será obrigatório a apresentação

de um teste negativo nas visitas a lares

e a pacientes internados.

Quando estas notícias verdadeiramente

animadoras nos encorajam, algo de

péssimo e medonho apareceu entretanto

na Europa: a guerra!

Todas as guerras são más, estúpidas e

injustificáveis e esta, provocada pelo

tresloucado presidente Putin, também

é. O que pretenderá este homem com

esta invasão à Ucrânia? Seguir-se-ão

outros países, como aconteceu com o

também louco assassino Hitler, ou, isto

foi apenas um “acerto de contas”?

Vivemos numa sociedade de líderes

mundiais com mentes curtas e doentias.

Jean-Paul Sartre escreveu um dia,

que “quando os ricos fazem a guerra,

são sempre os pobres que morrem”.

Não concordamos. Isso podia ter sido

na antiguidade, mas hoje é diferente.

Caso o uso do arsenal nuclear que os

americanos e russos têm ao dispor, seja

posto em prática, o pior pode acontecer

à humanidade. Corremos o sério

risco de sermos todos aniquilados.

Acredito que o futuro continuará a ser

pintado de preto, onde o medo, causado

por pandemias, guerras ou outros

cataclismos reinará. Agora, não há

nada que cada um de nós possa fazer,

por isso, o melhor é tentarmos ignorar

as notícias do medo, ser solidário com

as vítimas da guerra e viver a vida possível.

Na esperança da Paz, evitemos o medo!



Motores

Baterias eléctricas

É assim que a investigação visa melhorar as baterias de carros eléctricos

Armindo Alves

A electro-mobilidade

começa a dar nas vistas

e a pressionar os motores

a combustão. O seu

sucesso depende muito

das baterias.

Obtenha uma visão geral de como a

investigação e a indústria Automóvel

trabalham para melhorar a capacidade

da bateria, a gama, a reciclagem e

a segurança.

Na Suíça, está a emergir um crescimento

súbito nos carros eléctricos.

No ano passado, foram colocados em

funcionamento cerca de 34.000 carros

novos “pluggable”. Actualmente, estes

representam uma quota de mercado

de 18% das novas matrículas (carros

puramente eléctricos a bateria: 9,9 por

cento). Conforme as estimativas, a percentagem

de modelos de “plug” deverá

crescer para 40% até 2025 e até 91%

até 2035.

Para avançar com a electro-mobilidade,

são necessárias baterias adequadas

– são consideradas um factor-chave na

redução do CO2.

Baterias eléctricas:

Os pontos de fixação

As chamadas baterias de tracção de

iões de lítio são actualmente utilizadas.

Remontam às baterias desenvolvidas

para a electrónica de consumo

portátil no início dos anos 90. Apesar

de terem sido melhorados continuamente

ao longo dos anos, incluindo o

triplo da densidade energética, mantiveram-se

alguns pontos de fixação.

A produção de baterias ainda é complexa

e representa mais de 40% das

emissões de CO2 geradas no fabrico

de automóveis. Além disso, são utilizadas

matérias-primas valiosas, nomeadamente

lítio, cobalto, níquel, manganês,

cobre, alumínio e grafite. A sua

degradação deixa sempre uma pegada

ecológica. Especialmente no que se

refere à extracção do cobalto, há uma

falta de normas sociais e de segurança

aceitáveis em certos países de origem.

Além disso, perderam-se demasiados

materiais valiosos na reciclagem das

baterias de tracção.

Um espírito de optimismo

na investigação

Os investigadores tentam optimizar as

características das baterias e torná-las

mais duráveis, mais leves, mais baratas,

mais poderosas e amigas do ambiente.

O mercado é alimentado pela grande

quantidade de fundos para a investigação.

Porque: “O que está a ser investigado

neste país pode eventualmente

levar a desenvolvimentos de produtos

de alta rotatividade por start-ups e

grandes empresas no valor de vários

biliões de dólares”, concluiu recentemente

o Handelszeitung.

Por exemplo, a União Europeia fundou

a iniciativa de investigação Battery

2030+ e a European Battery Alliance.

O objectivo declarado destes círculos:

trazer a Europa ao topo do mundo no

desenvolvimento e produção de baterias

inovadoras.

Entre os esperançosos estão, por

exemplo, baterias bipolares. Nele, as

células individuais já não são alinhadas

em pequenas partes separadamente

próximas umas das outras, mas empilhadas

em cima umas das outras sobre

uma grande área. O novo conceito de

embalagem destina-se a aumentar a

gama de carros eléctricos até 1000 km

Outros organismos de investigação,

incluindo o Empa, dependem de baterias

em estado sólido, nas quais líquidos

tóxicos e inflamáveis são eliminados.

Este tipo deve tornar possível uma

longa vida útil com alto desempenho e

ser recarregável mais rapidamente. As

pilhas de magnésio-enxofre também

estão em discussão. As suas matérias-

-primas seriam mais baratas, e a tecnologia

poderia teoricamente armazenar

o dobro da energia que as baterias de

iões de lítio. E eléctrodos de película

fina feitos de silício e lítio, por sua vez,

poderiam um dia encolher as baterias

e tornar-se mais leves. “A investigação

está em pleno andamento, e as expectativas

são enormes”

Segunda vida útil para

baterias

Após cerca de 120.000 a 180.000 quilómetros

percorridos ou após seis a dez

anos de funcionamento, as baterias de

tracção só atingem cerca de 70-80%

da sua capacidade original.

Como resultado, o intervalo

diminui, as possibilidades

de aceleração tornam-se

menores, o tempo de carregamento

é prolongado.

Consequentemente, as pilhas

envelhecidas devem

ser resolvidas. Se as pilhas

estiverem no fim do seu ciclo

de vida e não estiverem

danificadas, é-lhes dada

uma segunda vida útil. Porque

as suas capacidades encolhidas

ainda são grandes

o suficiente para alimentar

e-scooters ou empilhadores,

por exemplo. São também

adequados como armazenamento

intermédio para

sistemas fotovoltaicos em

casas unifamiliares, armazenamento

intermédio para

estabilização da rede ou

como armazenamento para

postos de carregamento rápido.

Cada grama de

material conta

No entanto, as pilhas defeituosas

devem ser eliminadas

profissionalmente e de

forma ecológica. Na Suíça, a

primeira fábrica de reciclagem

especializada em baterias

de automóveis está actualmente

a ser preparada

no cantão de Solothurn. A

fábrica é operada pela start-up

Librec: entrará em funcionamento

em 2023 e processará

os resíduos gerados

na Suíça. Librec usa tecnologias

de ponta na reciclagem.

Isto permite filtrar quase todos

os materiais das pilhas

descartadas e devolvê-los ao

ciclo de produção. A taxa de

reciclagem é bem superior

a 90%. Outros procedimentos

têm de ser modestos a

70%. Isto não só poupa recursos

valiosos, como também

elimina os transportes

para países vizinhos. Estas

são caras e perigosas, porque

as baterias críticas de

lítio podem queimar muito

rapidamente e devem ser

aceleradas em recipientes

refratários.

A partir de 2023, a

taxa de recuperação

de 90% é tornar-se

o padrão

As instalações ecologicamente

operadas, como as

que o librec quer operar

em Oensingen ou biberista,

estão previstas em muitos

países europeus. A União

Europeia decidiu adoptar

também regras mais rigorosas

neste domínio. A partir

de 2023, a taxa de recuperação

de 90% deverá tornar-se

a norma. Além disso, a partir

de 2030, as baterias de

tracção recém-produzidas

devem conter proporções

mínimas de materiais reciclados.

Uma medida que

apoia a economia circular

desejada e torna a electromobilidade

mais sustentável.

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4 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

5



Opinião

Acordo Ortográfico

Lá vai um, lá vão dois, três

“acordos” a pairar – e a falhar

Nuno Pacheco (*)

Se há vítima maior do

AO90, não sendo o único

dos seus “muitos

males”, é sem dúvida a

fonética.

Pelo título, podia ser um texto sobre a

Ucrânia, a Rússia e o fogo que nunca

parou – apesar dos “cessares”, declarados

só para entreter. Mas não. É uma

resposta, já algo atrasada, a um desafio

lançado por um leitor que, comentando

a crónica onde se falava de Brel

e do advento da rosa por via eleitoral

(Costa acabara de vencer por maioria

absoluta), deixou, em clara defesa do

Acordo Ortográfico de 1990, esta sugestão:

“O AO segue e seguirá o seu

caminho. […] Um tema para a próxima

crónica: os AOs, todos, pois parece

que apenas houve este último, culpado

de todos os males.” É uma boa

sugestão, que hoje sigo. É, aliás, muito

fácil fazê-lo.

Em primeiro lugar, convém dizer que

a existência de acordos ortográficos

é uma originalidade da língua portuguesa,

não há notícias deles em qualquer

outro idioma – e não são poucos

os que têm reconhecidas variantes

ortográficas, basta conferir (é fácil) a

lista no “corretor [sic] ortográfico” do

programa de texto Word. Em segundo

lugar, os “AOs todos” são apenas dois:

o de 1945 e o de 1990. O que houve

antes disso foram reformas ortográficas:

o Brasil aprovou uma, em 17 de

Agosto de 1907, ainda Machado de Assis

presidia à Academia Brasileira de

Letras (ABL); e Portugal aprovou outra,

a 1 de Setembro de 1911, instaurada a

República e assinada por António José

de Almeida, para que se adoptasse “a

ortografia proposta pela comissão” –

onde pontuavam Gonçalves Viana, Leite

de Vasconcelos ou Adolfo Coelho.

Cada um tratou da sua, ponto final.

Assim continuou o Brasil, que em

1943 aprovou, de novo na ABL, um

Formulário Ortográfico para a organização

de um Vocabulário Ortográfico.

Mais uma vez, antes de Portugal que,

em 1945, tentou pela primeira vez um

Acordo Ortográfico com o Brasil. Já

era demasiado tarde, mas ninguém

quis saber. Lá se fizeram as cerimónias

do costume, num texto de pendor “lusitanista”

que o Brasil só aceitou no

papel, rasgando-o dez anos depois.

Na Base VI, lia-se: “Conservam-se [cç,

ct, pc, pç, pt], após as vogais a, e e o,

nos casos em que não é invariável o

seu valor fonético e ocorrem em seu

favor outras razões, como a tradição

ortográfica, a similaridade do português

com as demais línguas românicas

e a possibilidade de, num dos dois

países, exercerem influência no timbre

das referidas vogais: acção, activo,

actor, afectuoso, arquitectura, colecção,

colectivo, contracção, correcção”,

etc.” Tudo teria acabado ali, se em lugar

de “conservam-se” se tivesse escrito

“conservam-se nos países onde for

comprovada a sua utilidade”: Portugal

e Brasil seguiriam a norma consoante

a comprovada utilidade local. Mas a

obsessão de uma ortografia “unificada”

afundou tudo.

E chegamos ao segundo Acordo Ortográfico

(AO90), “culpado de todos os

males”, para citar a observação irónica

do leitor. Que males serão esses, afinal?

Um brasileiro explicou-os bem,

numa extensa entrevista em vídeo

publicada no YouTube em 2014. Trata-se

de Sergio Pachá, antigo Lexicógrafo-Chefe

da Academia Brasileira de

Letras e afastado depois da promoção

gongórica do Acordo Ortográfico. Vale

a pena ouvir toda a entrevista (tem

quase 49 minutos). Porém, o excerto

que para aqui interessa surge aos

7m14s: “Tentaram, uma vez mais, promover

esta quase utopia da unificação

gráfica de realidades fónicas distintas

e deram com os burros n’água.

Não só deram com os burros n’água

como pioraram uma coisa que tinha

defeitos, mas que não era tão má assim.

Isso foi mau para nós, brasileiros,

e foi muito mau para os nossos irmãos

portugueses.” Realidades fónicas distintas,

eis o ‘x’ do problema (para citar

de novo um brasileiro, esse magnífico

criador de canções que foi Noel Rosa).

Ou seja, o acordo que se diz pautado

pela fonética é o primeiro a tentar erguer-se

sobre as cinzas da fonética, sacrificando-a

no Brasil (adeus, idéia) e

muito mais em Portugal, desprezando

as especificidades da fala.

Vejamos: com a “norma” de 1990, e suprimidos

os antigos sinais diacríticos (o

das consoantes ditas “mudas”), o som

das vogais em substantivos morfologicamente

semelhantes fica ao sabor

da memória dos falantes: aspeto (è) e

espeto (ê); fação (à) e nação (â); fator

(à) e favor (â); diretriz (è) e meretriz (e

mudo); coleta (è) e colete (ê); corretor

(è) e corretor (e mudo); senhor (e

mudo) e setor (è); doação (uâ), coação

(uâ, acto de coar) e coação (uà, acto de

coagir); redação (à) e relação (â); vetor

(è) e temor (e mudo). Os exemplos são

às centenas, mas esta curta amostra

justifica a cegarrega do título. Se há

vítima maior do AO90, não sendo o

único dos seus “muitos males”, é sem

dúvida a fonética. Só ouvidos moucos

poderão ignorá-lo.

(*) Jornal Público

Capitalismo e crime

6 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

7

https://reisebuerofelix.ch

João Mendes

Credit Suisse, uma das maiores e mais poderosas instituições

bancárias do planeta, é o centro do Suisse Secrets, o

novo escândalo ético-financeiro que foi hoje revelado.

Segundo a investigação do Süddeutsche Zeitung, o banco

suíço terá servido de esconderijo para os milhões de criminosos

ligados ao tráfico de droga, a violações gravíssimas

de direitos humanos, a corrupção e lavagem de dinheiro.

CRÉDITOS

PESSOAIS

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TO ACTUAL

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CRÉDITO

CONNOSCO EM QUAL-

QUER SITUAÇÃO.

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Se não servir para outra coisa, que sirva para que nunca

nos esqueçamos que os bancos têm poder a mais para

que os deixemos sem escrutinio. E enquanto permitirmos

que instituições da dimensão do Credit Suisse sejam

albergue das fortunas de ditadores e mafiosos, não

manchadas, mas a pingar sangue, argumentando que os

Estados não podem interferir no sector privado, a nossa

capacidade de dar lições de moral aos regimes autoritários

está e estará comprometida.

E não é só na banca, e muito menos se resume ao Credit

Suisse. É na energia, nas telecomunicações, nos fundos de

investimento, na têxtil, na automóvel, na aviação e, claro,

no futebol.

Quem pactua com este estado de coisas escolhe um lado,

e não é o lado da democracia.

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DESPORTO

Foco na subida à 3.Liga

Jorge Macieira

A equipa masculina sénior da quarta divisão do Centro

Lusitano de Zurique capitaneada por Louro, voltou a treinar

em 3 de Fevereiro após uma pausa rotineira de Inverno

que durou quase dois meses.

Sabendo que a equipa portuguesa lidera o Grupo 3 com

8 pontos de vantagem sobre o FC Turkuaz Zürich que é

segundo, regressa com o objectivo de subir à 3ª Liga.

Dois amistosos estão marcados para a pré-temporada

um, no dia 5 de Março contra o FC Brasil Suisse e outro

no dia 13 de Março contra o FC Oerglatt em casa do Juchhof

2 Schlieren.

Centro Lusitano de Zurique

38anos

1984 - 2022

Faça parte da família.

Torne-se associado.

De 16 a 20 de Março a equipa treinará em Barcelona (Espanha)

com treinos e competições.

A bola voltou oficialmente a rolar em 3 de Abril no NK

Hajduk para o campeonato.

O plantel foi reforçado com os espanhóis, Jesus Rodriguez

do FC Meisterschwanden, Márcio Martins do exFC

Wiedikon e Marcelo Rodrigues de Portugal.

Segunda equipa de Juniores A+

Jorge Macieira

Após uma paragem de quase 2 meses, motivada pela pausa

de Inverno do campeonato os juniores A do Centro Lusitano

de Zurique voltou aos treinos agora com duas equipas após

o departamento de futebol ter criado a segunda equipa de

Juniores A.

Depois de terminado a primeira fase do campeonato em

segundo lugar com os mesmos pontos que o primeiro, o

objectivo volta a ser o mesmo de ser campeão e o foco está

traçado.

Os grupos das duas equipas já são conhecidos e a equipa de

Juniores A a vão defrontar as seguintes equipas; FC Unterstrass

FC Glattal Dübendorf, FC Regensdorf b, FC Effretikon

b, FC Oberglatt, FC Oerlikon/Polizei ZH, FC Dielsdorf b, SV

Seebach ZH, FC Embrach e FC Pfäffikon a iniciando em casa

contra o FC Unterstrass no dia 17 de Março.

Já no grupo do Juniores A b terão como adversário o FC

Altstetten, FC United Zürich b, FC Engstringen, Benfica Clube

de ZuriqueFC Hausen a/A, FC Industrie Turicum, Team

Limmattal Süd b, FC Dielsdorf a, FC Wädenswil, FC Kosova

e FC Schlieren b, com o primeiro jogo a realizar-se no dia 27

de Março em casa contra o Team Limmattal Süd b.

PORTUGUESES

RESIDENTES NO ESTRANGEIRO

NÃO IMPORTA

ONDE ESTÁ.

COM A CAIXA

FICA MAIS PERTO.

Escritório de Representação da CGD - Suíça

Rue de Lausanne 67/69, 1202 Genève

Tel: Genève - 022 9080360 I Tel: Zurique - 078 6002699 I Tel: Lausanne – 078 9152465

email: geneve@cgd.pt

A Caixa Geral de Depósitos, S.A. é autorizada pelo Banco de Portugal.

8 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

9



Religião

CRÓNICA

OPUS DEI

Private Credit

Paulo Marques

O Opus Dei apesar de fazer parte da

Igreja Católica funciona um pouco à

sua margem, constituindo uma espécie

de “uma igreja dentro da igreja”,

já que tem regras próprias, uma

grande autonomia e uma enorme

influência junto do Vaticano. Tendo

sido fundada em 1928 pelo sacerdote

espanhol Josemaría Escrivá, em

1982, transformou-se numa Prelatura

Pessoal, ou seja, numa instituição

da Igreja Católica composta por um

clero próprio e por leigos, estruturada

de forma hierárquica, tendo no

topo um Prelado.

O primeiro centro do Opus Dei abriu

no nosso país em 1946, com o apoio

da pastorinha Lúcia e o aval do cardeal

Cerejeira. Atualmente o seu chefe

máximo em Portugal é o vigário

Rafael Espírito Santo que vive com os

restantes dez membros do seu executivo

num imponente palacete, de

acesso restrito, no Lumiar.

Os numerários

Ser sócio numerário da Obra significa

viver num dos seus centros, depois

de obtido o consentimento do

líder mundial (que durante anos foi

o seu fundador, Josemaría Escrivá, e

desde 2017, é Monsenhor Fernando

Ocáriz); obedecer aos fundamentos,

regras e práticas religiosas da organização,

nomeadamente: não namorar,

não casar, ser celibatário para o resto

da vida, viver longe da família e dos

amigos, ter contactos limitados com

elementos do sexo oposto; desprender-se

dos bens materiais; deixar em

testamento todos os seus bens para

a Obra; fazer mortificações corporais

(uso de cilício e de chicote), exames de

consciência, rezar, meditar, confessar-

-se, dedicar-se aos estudos teológicos

e filosóficos (e tirar um curso superior

civil numa universidade pública ou

privada); ler ou ver exclusivamente filmes

autorizados e aconselhados; ter

acesso à Internet, à televisão, a jornais

e a revistas restringido; estar proibido

de assistir a peças de teatro, cinema,

concertos, jogos de futebol ou outros

eventos que não estejam diretamente

relacionados com a organização. Em

suma, apesar de praticarem o laicado,

na realidade, fazem vida de padres e

de freiras…

Aos que trabalham na organização

(as numerárias auxiliares, mulheres

que prestam serviços domésticos)

é-lhes pago um ordenado mensal –

aproximadamente o salário mínimo

nacional – que vai, todavia, diretamente

para os cofres da Prelatura; os

numerários que exercem profissões

no exterior têm a obrigação de entregar

à instituição o total do salário que

recebem. São depois os membros da

direção que fazem a gestão financeira

das verbas relativamente às despesas

pessoais dos seus membros e aos

gastos da residência.

Agregados, supranumerários e cooperadores

Na organização existem também os

agregados, que apesar de celibatários

dormem nas suas próprias casas, e os

supranumerários, que podem casar,

procriar e viver fora das residências.

Porém, quer uns quer outros, ficam

obrigados a submeter-se às diretrizes

da Obra e a ajudá-la financeiramente.

Além disso, enquanto os agregados

são oriundos de famílias mais pobres

e desfavorecidas, muitos sem formação

superior, os supranumerários, na

sua maioria, são pessoas abastadas

que doam pequenas fortunas que

ajudam a financiar a Obra. São, por

esse motivo, os membros mais poderosos

e influentes do Opus Dei.

Existem ainda os cooperadores que

não sendo considerados membros

colaboram com a instituição e/ou

contribuem financeiramente, podendo

pertencer a diferentes confissões

e religiões e até serem agnósticos ou

ateus.

Património

O Opus Dei em seu nome tem apenas

três jazigos, tudo o resto (colégios,

moradias, prédios, apartamentos, lojas,

armazéns, terrenos, residências

para estudantes universitários, um

hotel, uma escola superior e até uma

sociedade de capital de risco) é propriedade

de cooperativas, associações,

fundações e outras estruturas

geridas por membros do movimento

religioso. Calcula-se que tudo somado

serão no mínimo dezenas de milhões

de euros. Só a Fundação Maria Antónia

Barreiro, uma milionária divorciada

que deixou a herança à Obra, tem

um valor atribuído pelas Finanças superior

a 40 milhões de euros.

Algumas figuras públicas que pertencem

ou pertenceram à organização:

Adelino Amaro da Costa (ministro

da Defesa do Governo de Sá Carneiro

que morreu na polémica queda de

avião em Camarate), João Bosco Mota

Amaral (ex-deputado do PSD e ex-presidente

da Assembleia da República),

Francisco Oliveira Dias (fundador do

CDS e ex-presidente da Assembleia

da República), Smitá Coissoró (filha

do antigo deputado do CDS, Narana

Coissoró), António Sarmento (diretor

do Colégio Planalto e presidente

do ISU – Instituto de Solidariedade e

Cooperação Universitária, ambos com

ligação à Obra), Jardim Gonçalves (ex-

-presidente do BCP), Carlos Câmara

Pestana (ex-presidente do BPI e atual

presidente do banco brasileiro ITAÚ) e

muitos outros…

Algumas figuras públicas que participam

ou participaram em eventos da

Obra, mas que não pertencem à organização:

António Guterres, Marcelo

Rebelo de Sousa, Cavaco Silva, Miguel

Beleza, Roberto Carneiro, João Rebelo

(deputado do CDS), Rui Machete,

Freitas do Amaral, Arlindo Cunha,

Zita Seabra, Maria José Nogueira Pinto,

Narana Coissoró, Maria Barroso,

António Lobo Xavier, Ramalho Eanes,

Manuela Eanes, dois dos ex-presidentes

do BCP: Carlos Santos Ferreira e

Paulo Teixeira Pinto, e muitos, muitos

outros…

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10 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

11



“Do Nosso Cantinho para o Vosso Cantão”

Entrevista

EMBAIXADORA

LURDES BESSA

O CAMINHO É LONGO E

CHEIO DE OBSTÁCULOS

MAS, COMO DISSE O POETA

ANTÓNIO MACHADO, ESTE

FAZ-SE CAMINHANDO.

© timorlestemission.ch

Aragonez Marques

ão sou um jornalista, muito

menos um poeta (a quem

invejo), mas apenas um contador

de histórias refletidas

nos meus livros, ou mesmo nas crónicas

que escrevo nesta revista. É a segunda

vez que me acontece, ainda por

cima consecutivamente, guardar uma

crónica e substituí-la por uma entrevista.

A primeira, no passado mês, onde a

candidatura das Festas do Povo foram

reconhecidas como Património Cultural

e Imaterial da Humanidade pela

UNESCO, que me levou a guardar para

outra ocasião a crónica que escrevi e a

substituí-la por uma entrevista ao Exº

Sr. Presidente da Câmara de Campo

Maior, Luís Rosinha. Agora, passou-se

o mesmo, mas foi mais fácil, pois logo

que, no dia 13 de Agosto, o Presidente

da República de Timor-Leste, Francisco

Guterres Lú-Olo, deu posse a quatro novos

embaixadores, e um deles, a quem

esta revista quer dar as boas vindas,

era a Dr.ª Lurdes Bessa, nomeada como

Embaixadora na Suíça, Embaixadora

não residente no Mónaco e Representante

Permanente para o escritório das

Nações Unidas e Outras Organizações

Internacionais em Genebra, comecei

logo a escrever um conjunto de histórias

para transformar numa crónica de

afetos a publicar no Lusitano. A capa

que me foi apresentada pela magnífica

equipa que mantém de pé este projeto

editorial, para os emigrantes portugueses,

“O Lusitano de Zurique”, não

se coadunava com a crónica que tinha

escrito, onde contava como a conheci,

a esperança que fez nascer nos professores

portugueses espalhados pela

Ilha Feiticeira, o seu pragmatismo, humildade

e coragem ao tomar as rédeas

dos destinos da educação, algumas

histórias com humor e reveladoras

do seu caracter e muito mais, mesmo

muito mais, como a amizade, feitiço

da Ilha, que quando é feita em Timor

é para sempre. Depois da sua saída do

Governo, foi chamada para Assessora

Pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República

Lú-Olo. Guardarei essa crónica

para outra altura, pois Lurdes Bessa assume

neste instante funções de muito

relevo e responsabilidade, representando

não uma área ministerial, mas

todo um País.

Quando do massacre do cemitério de

Santa Cruz, muitos dos portugueses

hoje emigrantes na Suíça participaram

nas vigílias, noite dentro, velas como

corações acesos nas longas noites de

solidariedade.

Como formiguinha, sei que o sector da

educação lhe correrá sempre nas veias

como luzes de Natal.

Em 11 de Outubro vi uma notícia que

dizia que a Embaixadora de Timor-Leste

na Suíça, Dr.ª Lurdes Bessa no âmbito

de uma passagem, realizada a nível

particular, por Portugal, visitou o Instituto

Politécnico de Viseu, visando uma

futura colaboração entre esta Instituição

e o país que representa.

Formiguinha, sempre formiguinha, levando

para casa tudo o que tenha a

ver com as necessidades do seu amado

País.

Timor-Leste e Portugal, como aqueles

amigos longe, separados por oceanos,

às vezes cruzam-se, destinos de

irmãos, como foi a entrega do Prémio

Nobel ao Dr. Ramos-Horta e ao Bispo

Ximenes Belo no mesmo ano em que,

pela primeira e única vez, foi atribuído

o Nobel da Literatura a um Português,

José Saramago.

Também curiosamente, o reconhecimento

a Campo Maior das suas Festas

do Povo por parte da Unesco foi no

mesmo dia em que o “Tais” de Timor-

-Leste, tecido em pequenos teares artesanais

e muitas vezes improvisados,

foi também reconhecido como Património

Cultural da Humanidade em

Necessidade de salvaguarda urgente.

Lurdes Bessa tem um grande, enorme

mesmo, trabalho pela frente.

Disse Lú-Olo, o Chefe de Estado, garante

do equilíbrio entre a pobreza e

a riqueza estrema, fiel de uma balança

gerida por uma democracia ainda frágil,

na cerimónia de posse dos novos

quatro embaixadores:

- Estou convencido de que cada um de

vós dará o seu melhor ao serviço da

nossa Nação.

Eu tenho a certeza que sim.

Afinal, quem é Lurdes Bessa?

A diplomata Lurdes Bessa trabalhou,

desde muito jovem, para a causa timorense

no exterior. Viajou intensamente

e deu a conhecer os anseios da luta do

povo timorense pela independência.

Foi deputada, tendo presidido a uma

bancada. Desempenhou recentemente

funções governativas na área delicada

e crucial da educação e nos últimos

três anos exerceu funções de assessoria

ao Presidente da República. Hoje é

a Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária

de Timor-Leste na Suíça,

Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária

não residente no Mónaco

e a Representante Permanente para os

escritórios das Nações Unidas e outras

Organizações Internacionais em Genebra.

Deixando a crónica de afetos para outro

momento, passarei à entrevista.

Senhora Embaixadora, que objetivos

tem para este seu novo Serviço?

E chamo-lhe serviço por ser assim

que encara todos os cargos que

aceita. Um Serviço a ser prestado

ao seu País.

— De facto eu encaro esta minha nova

missão como um serviço que presto

ao meu País. Além de representar Timor-Leste

na Suíça, Mónaco e junto

dos Escritórios das Nações Unidas e

outras Organizações Internacionais

em Genebra, há dois objetivos muito

importantes no imediato e que ocupam

a maior parte do meu trabalho

por estas terras: a candidatura de Timor-Leste

a Membro do Conselho dos

Direitos Humanos, para o período de

2024 a 2026; e o processo de Adesão

de Timor Leste à Organização Mundial

do Comércio (OMC).

É importante referir que em ambos

os processos, o meu País conta com

o apoio total e incondicional de Portugal

e dos restantes Países irmãos da

CPLP. É neste espírito de solidariedade

e irmandade que o Embaixador Rui

Macieira, Representante Permanente

de Portugal para as Nações Unidas e

outras Organizações Internacionais

em Genebra, preside o Grupo de Trabalho

para a Adesão de Timor-Leste

à OMC.

O meu País está também empenhado

em tornar-se membro da ASEAN

e tem feito progressos notáveis nesse

sentido. Este é mais um processo que

exige trabalho e empenho contínuo,

pelo que está sempre presente na minha

agenda.

A pandemia da COVID-19, à semelhança

do que aconteceu no resto do

mundo, teve um impacto sério e grave

na economia do meu País. É, por isso,

importante e urgente a recuperação

da economia. Nesse sentido, apostarei

também na diplomacia económica

tentando despertar o interesse de

companhias Suíças para a possibilidade

de investimento em Timor-Leste

em áreas como o turismo e o café,

entre outras.

A causa que me está mais perto do

coração pela sua crucial importância

para o desenvolvimento harmonioso

e sustentável de Timor-Leste, como

bem sabe, é a educação. A formação

de cidadãos com conhecimentos, habilidades,

valores e responsabilidade

é a base para o desenvolvimento humano

e físico de qualquer País. Por

isso, estarei sempre atenta a todas

as oportunidades que possam surgir

para contribuir para a formação de recursos

humanos.

12 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

13

N



Entrevista

São os timorenses excelentes trabalhadores

e por isso espalhados por

vários países da Europa. Não estando

a Suíça na Comunidade Europeia,

presumo que seja mais difícil a sua

presença como emigrantes nesse

país. Existe alguma comunidade,

mesmo que pequena, na Suíça?

— Existe, sim. De facto a comunidade

Timorense na Suíça é pequena. Temos

alguns estudantes e alguns trabalhadores,

sendo que alguns já se encontram

na Suíça há décadas, tendo os

seus filhos nascido e constituído família

por cá. Há outros mais recentes. O

número de Timorenses na Suíça é de

cerca de 15 pessoas.

Qual a avaliação que pode fazer do

curto tempo em que exerce estas

funções?

— Muito positiva. Mesmo com todas as

restrições impostas pela pandemia,

desde novembro até agora (quatro

meses) já recebi em Genebra duas delegações

de Timor-Leste a nível ministerial

em missões relacionadas com o

processo de adesão à OMC e com a

promoção e salvaguarda dos direitos

humanos. Preparo-me agora para receber

uma outra delegação liderada

pela Ministra dos Negócios Estrangeiros

e Cooperação de Timor-Leste, que

participará no Segmento de Alto-Nível

da 49ª Sessão do Conselho dos Direitos

Humanos, que terá início a 28

de Fevereiro. Isto demonstra o compromisso

de Timor-Leste com as suas

responsabilidades internacionais e o

valor que dá ao multilateralismo.

Acalenta o Exmo. Cônsul de Zurique,

Dr. Paulo Maia e Silva, o sonho

de criar uma biblioteca de livros em

Português. Começou mesmo a tentar

criá-la, mas a pandemia e a distância

têm atrasado esse processo.

Sendo a Embaixada de Timor-Leste

na Suíça a representação de mais

um país com o Português como língua

oficial, estaria disponível para

contribuir logisticamente para esse

objetivo, num plano conjunto com

a Embaixada de Portugal, do Brasil

e de outras que desconheço, que

tenha o Português como Língua

Oficial? Pelo menos, contactos conjuntos

com livrarias onde livros em

Português pudessem ser adquiridos

pelos emigrantes? Editoras e escritores

com quem tenho contactos

estão na disposição de os entregar

em consignação, pese o preço do

transporte, muito mais caro do que

para qualquer país da Comunidade

Europeia ou até mesmo para os Países

da CPLP.

— Penso que é uma excelente iniciativa

e com toda a certeza estarei disponível

para apoiar da forma que me

for possível. Aqui em Genebra, as missões

permanentes de Angola, Brasil,

Cabo-Verde, Moçambique, Portugal e

Timor-Leste trabalham sempre juntas

na defesa e divulgação da Lusofonia.

Entre outras iniciativas, destaco o Festival

de Cinema da CPLP. A ideia do Dr.

Paulo Maia e Silva parece-me excelente

e tenho a certeza que será bem

acolhida por todos! Agora que as medidas

de restrição relacionadas com a

pandemia vão aliviando é tempo para

deitarmos mão à obra!

Hoje democrático e seguro, Timor-

-Leste necessita de investimento

externo, como país em crescimento

rápido. Está prevista alguma ou

algumas atividades junto dos empresários

portugueses e suíços,

mas também dos países limítrofes

desse País, no sentido de mostrar

o magnífico território e as suas potencialidades

e recursos, não só em

termos de turismo paisagístico, mas

também histórico, cultural e de biodiversidade

única, sem esquecer outras

oportunidades de investimento

pela imensidão de recursos naturais?

— Uma das prioridades da política

externa do País atualmente é a diplomacia

económica. A CPLP é uma

mais-valia para Timor. Além de nos

unirem uma Língua e uma História

em comum, a CPLP abre-nos as portas

para os vários continentes. Damos

prioridade ao nosso processo de adesão

à OMC, ao processo de adesão à

ASEAN, porque queremos estar integrados

no Mundo e na Região. O meu

País tem grandes potencialidades no

setor do turismo, da agricultura, das

pescas, na indústria de processamento

e é importante darmos a conhecer

essas mais-valias ao resto do Mundo.

Como referi acima, é prioritário investir

na diplomacia económica.

Neste sentido temos vindo a trabalhar

internamente para tornar o País mais

atrativo ao investimento estrangeiro.

Aprovámos uma Lei do Investimento

Privado, criámos o Serviço de Registo

e Verificação Empresarial – SERVE,

uma espécie de Balcão Único – One-

-Stop-Shop, para ajudar a promover a

criação de novos negócios de maneira

mais rápida e fácil e criámos ainda a

Agência de Promoção de Exportações

e Investimentos, que facilita e apoia o

potencial investidor que queira entrar

no mercado de Timor-Leste – a TradeInvest.

Temos procurado construir infraestruturas

de apoio à atividade económica

no setor elétrico, no setor aeroportuário,

no setor das infraestruturas rodoviárias,

no setor da água, etc...

Entre outros destaco aqui a construção

do Porto da Baía de Tibar, que

brevemente possibilitará que Timor-

-Leste possa servir de plataforma de

acesso ao mercado da região, pois irá

permitir o movimento de embarcações

de maiores dimensões, com uma

zona logística de apoio.

Irei certamente trabalhar neste setor

aqui na Suíça. Pretendo visitar companhias

de cá, como por exemplo a

NESTLÉ e outras. Neste esforço de promover

o investimento externo no meu

País, trabalhamos em estreita colaboração

com a TradeInvest e estaremos

atentos a possíveis oportunidades

para promovermos as oportunidades

de dar a conhecer as potencialidades

de Timor-Leste aos Suíços e à comunidade

internacional, no geral.

Estão completamente curadas as

feridas da guerra que tanto mal causou

ao povo timorense?

— Claro que não. Qualquer guerra deixa

feridas abertas que levam tempo, e

por vezes mais do que uma geração,

para sarar. Timor-Leste não é exceção.

Optámos pelo caminho da reconciliação

e, a meu ver, essa foi uma decisão

certa, embora difícil.

Reconhecemos os nossos erros e estamos

empenhados em construir um

Estado de direito democrático, pacífico,

solidário e fraterno. O caminho

é longo e cheio de obstáculos mas,

como disse o poeta António Machado,

este faz-se caminhando.

Sente a Senhora Embaixadora saudades

de casa, como emigrante que

é também?

— Muitas. Tenho saudades da família,

do marido e dos filhos. Muitas saudades.

Eu vivi em Portugal dos 3 aos 26 anos

(1976 a 1999), aí fui criada e aí estudei.

Em Portugal cresci e formei-me.

Aí deixei família, amigos e memórias.

Regressei a Timor a 28 de novembro

de 1999. Em Timor formei família, fiz

novos amigos, criei novas memórias.

Quando regresso a Portugal sinto

imensa alegria e sou sempre bem recebida

e acolhida com muito carinho

pela família e pelos amigos.

Cada vez que deixo Timor sinto saudades

de casa ! Saudades da ilha! Do

sol e do mar.

Tenho saudades de dar o « bom dia » a

literalmente toda a gente com quem

me cruzo na rua. É difícil passar incógnito

nas ruas da minha cidade, onde

toda a gente conhece toda a gente!!!

É em Timor que está o meu coração. É

a Timor que eu regresso!

Mas também gosto deste País, a Suíça,

com toda a sua beleza paisagística;

gosto da neve (embora não goste do

frio) ; gosto das pessoas, simpáticas,

simples e diretas; gosto da eficácia do

sistema de transportes públicos…

Estou sempre disposta a aceitar novos

desafios, desde que estes tenham

como objetivo final servir o meu País!

Quer a Senhora Embaixadora deixar

algumas palavras de esperança e futuro,

a todos os emigrantes de língua

oficial portuguesa, de que esta

revista é o exemplo de um grande

abraço?

— Eu sempre admirei muito a coragem

que os Portugueses têm quando imigram

em busca de um futuro melhor!

Eu sei que estar num País que não é o

nosso, que fala outra língua, que tem

outros costumes, não é fácil.

Nos últimos anos tem sido ainda pior

com a pandemia a negar-nos momentos

importantes para estarmos juntos

daqueles que nos são queridos em

épocas como o Natal, as sempre tão

ansiadas férias do verão, outros dias

especiais...

Aqui em Genebra cruzo-me com uma

portuguesa ou com um português em

cada esquina. No supermercado, no

autocarro, no centro comercial... Os

meus restaurantes preferidos são portugueses!!!

Até encontrei uma pastelaria

chamada “Bessa”, onde comprei

um maravilhoso Bolo Rei no Natal e

faço questão de ir, sempre que posso,

tomar um café e comer um pastel

de nata. Ao domingo de manhã vou

à “Bom Gosto” tomar um cafezinho e

comprar a regueifa... e que belas memórias

me traz o cheiro do pão quente

com o café!!! Quando tenho que almoçar

fora, a escolha geralmente recai no

Zé do Pipo.

É muito bom poder falar Português

Entrevista

por estas bandas, até porque o meu

francês ainda está um pouco enferrujado.

A Suíça é o segundo país do mundo

com mais imigrantes portugueses. A

todas as Portuguesas e a todos os Portugueses

imigrantes na Suíça, quero

deixar um abraço fraterno, com a certeza

de que melhores dias nos esperam

e dizer que onde quer que esteja

um Português está um pouco de Portugal.

Em Portugal o Timorense sente-

-se em casa!

A revista “Lusitano de Zurique” deixa-lhe

aqui uma janela de comunicação

aberta que poderá utilizar, sempre

que a Embaixada de Timor-Leste

na Suíça o necessite.

Muito obrigado, Sr.ª Embaixadora

Lurdes Bessa.

É EM TIMOR QUE ESTÁ O

MEU CORAÇÃO. É A TIMOR

QUE EU REGRESSO

14 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

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© timorlestemission.ch



Opinião

Opinião

maridos matam as esposas e ex-

-companheiras.

mais amorosos e racionais que este

tipo de seres humanos.

ALGUNS SINAIS DE POSSIVEL VIO-

LENCIA

Maltratados por quem

lhes devia dar Amor

Podia servir-me de palavras da Bíblia,

para enunciar aquilo que nos

ensinam “ Honra o teu pai e mãe,

para que se prolonguem os teus

dias na terra”, e não estou apenas a

basear-me na Cristã, pois todos os

livros sagrados de qualquer religião

dizem o mesmo. Podia também servir-me

de variadíssimos ditados populares,

“ Não faça aos outros o que

não queres que façam aos teus” ou

até, “ Filho és pai serás”.

Infelizmente, não é apenas no seio

familiar que a violência predomina,

também em lares onde supostamente

os idosos estariam para serem

cuidados, acarinhados e amados,

são muitas vezes maltratados e

violentados por quem é pago para

cuidar.

Nas escolas, nas creches e até no

seio da catequese, onde as crianças

deviam receber educação, amor e

carinho, muitas vezes são violentadas

e até violadas por seres sem escrúpulos

a quem não se pode apelidar

de ser humano, mas chamá-los

de animais seria igualmente maltratas

os seres irracionais muitas vezes

Mas será que a justiça dita tão justa

para uns, mas injusta para a maioria

se preocupa com estas situações?

Serão as penas adequadas ao tipo

de crimes praticados? Será que a justiça

é igual para todos?

È um facto que a violência doméstica

existe, é um facto que mulheres

continuam a ser assassinadas às

mãos de seres horrorosos e criminosos.

É um facto de idosos continuam

a ser maltratados no seio familiar e

naqueles que adotaram como seus

lares de fim de vida, por pessoas

sem o mínimo de capacidade para

estes cuidados mínimos, idosos que

morrem desidratados, muitas vezes

á fome, porque os seus cuidadores

continuam sem se interessarem por

eles e dedicam-se mais a conversas

sem nexo ou a ver telenovelas. Diretores

que em vez de controlar sentam-se

atrás de secretárias comodamente

esperando apenas o final

do mês para receberem os seus salários.

Será isto que queremos para

os nossos pais? Este pode ser o nosso

fim no futuro se não mudarmos

mentalidades.

Nos Idosos

- Lesões sem explicação, e com a

desculpa do idoso ou criança por

medo de represália de que caíram

- Lentes ou armações de óculos partidos,

com a desculpa de que lhes

caíram ao chão

- Sinais de amarrado, com marcas

nos pulsos por cordas.

- O idoso isolasse, tem medo de outras

pessoas.

- Quando acamado, apatia, emagrecimento

constante e rápido, sinal de

desidratação e fome.

Nas Crianças

- Medo de ir para a escola, pode ser

buylling dos colegas e educadores

associados a violência

- Reações violentas

- Lesões com a explicação que caíram

- Dor ao toque..

José Maria Ramada

Existem cada vez mais famílias que

vivem com esta triste realidade de

maus tratos por parte dos filhos.

Alguns destes comportamentos

têm origem em pequenos desentendimentos,

na maioria sem grande

importância, mas que revelam

sinais de agressividade que podem

passar a insultos verbais, emocionais

e em casos extremos físicos

que em algumas situações levam á

morte como muitas vezes vem sendo

noticia nos órgão de comunicação

social.

Existem temas que, mais do que polémicas

acendem emoções contraditórias

no interior do ser humano,

e tornam este mesmo ser humano

animalesco ao ponto de violentar e

até matar.

A violência, seja de que tipo for, mas

especialmente contra grupos mais

vulneráveis como crianças, mulheres

ou velhinhos, é das mais indignas

praticadas por seres humanos e que

mais indignação suscita, mas que

muitas vezes assistimos impávidos

e serenos sem nada ou pouco fazer.

Violência doméstica é um crime público

e é um dever do mais comum

do cidadão denunciar, mesmo sabendo

que nos pode causar dissabores.

Muitas vezes vimos que há violência

perpetuada contra os mais velhos,

porém não por qualquer pessoa,

mas sim pelos próprios filhos. Tal

violência como a violência contra as

mulheres e crianças acontece, maioritariamente,

no âmbito doméstico,

o mesmo sucede na violência contra

os idosos. São os filhos os principais

agressores e causadores de sofrimento

dos próprios pais nas situações

sinalizadas e não só, pois muitos

casos acontecem no anonimato,

sem que ninguém saiba, apenas os

intervenientes.

As mães são na maioria dos casos as

principais vitimas, pois devido aos laços

afetivos mais próximos, tornam-

-se alvos fáceis de serem manipuladas

e que, dificilmente, retribuem,

acontecendo o mesmo com as

crianças violentadas pelos próprios

progenitores, muitas vezes sem uma

causa aparente apenas pelo simples

desejo de descarregar violência em

cima de indefesos.

Um estudo recente, indica que são

os filhos que agridem as mães que

mais tarde têm maior probabilidade

de, em adultos, virem a agredir

a própria companheira e posteriormente

os filhos, mas afinal somos

seres humanos racionais ou simplesmente

animais da pior espécie.

As famílias que vivem este drama,

acabam por ser assoladas pela vergonha

e optam por esconder e ocultar

o que se passa. Para resolver este

problema, temos de começar por

admiti-lo. E de nada adianta fazer

de conta que está tudo bem, porque

isso só adia o inevitável, podendo vir

a ter consequências graves como,

infelizmente, temos visto tantas notícias

nos meios de comunicação social,

em que os filhos muitas vezes

matam os pais e até avós, em que

AVISO IMPORTANTE

Paulo Marques

No Antigo Testamento

não há uma

palavra sobre o Inferno

ou sobre o

Diabo. Isto é, não há

uma palavra sobre

o Inferno ou sobre o

Diabo tal como hoje

são concebidos.

Fala-se de Sheol, a

morte física, a sepultura

ou o mundo

dos mortos, e fala-se

num Satã adversário,

opositor ou inimigo.

Foi a Igreja católica

que os inventou.

Para que as pessoas

acreditassem

no Céu, precisou

de criar um Inferno.

Para que as pessoas

acreditassem em

Deus, precisou de

criar um Diabo.

Uma estratégia eficaz:

o medo visando

a obediência.

Nem há lugar onde

os mortos em pecado

sofrem uma

pena eterna, nem há

um anjo rebelde, demoníaco,

que tendo

sido expulso do Céu

foi precipitado no

abismo do Inferno.

Graças a Deus!

Bem nos bastam os

infernos e os diabos

16 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

17



Retratos contados...

Diário de uma avó e de um neto

Alice

Vieira

Nélson

Mateus

Cultura

Descansar em

paz.

V NELSON MATEUS (*)

Querida avó.

Agora que o António Costa ganhou as eleições

(com maioria absoluta), rasgou com a geringonça,

está prestes a formar governo e, para felicidade de todos

nós, em contagem decrescente para anunciar o fim da

maldita Pandemia … achas que com tudo isto já dorme

mais descansado?

Eu acho que quem governa um país nunca dorme descansado!

Por falar em dormir descansado resolvi trocar de colchão.

Já andava para o fazer há imenso tempo. Como

tal, chegou a hora de reformar o velho colchão e dar

lugar a um novo.

Os meus avós nunca tiveram dificuldades em comprar

colchões. Lembro-me dos seus colchões de palha.

Quando começavam a ficar com muito uso, bastava fazer

uma abertura lateral, colocar mais palha, fechar a

abertura e ficavam com um colchão como novo.

Agora existem inúmeras opções. Com molas, sem molas,

com molas ensacadas, de espuma, viscoelástico, látex

… os que precisamos de girar no sentido dos ponteiros

do relógio, ou que viramos consoante as estações do

ano, os que não precisamos de virar… Todas estas opções

dão-me uma soneira.

Só quero um colchão, bom, para dormir bem e descansado,

e já agora que não custe uma fortuna e seja de

fabrico nacional.

Como boa avó que és estás-me sempre a dar-me dicas.

Que a tua psiquiatra aconselha a manter rotinas, a desligar

os ecrãs, a preparar o corpo e a mente para desligar

Faço tudo isso e nem sequer tenho problemas em adormecer.

O problema é acordar a meio da noite e ter dificuldade

em voltar a dormir.

Optei por um colchão Koala rest. De produção nacional,

que efectivamente me tem deixado dormir melhor.

Sinto-me mais descansado, o que me permite ter mais

qualidade de vida. Não tive que gastar os olhos da cara

e ainda tem a vantagem de ter tecnologia que isola o

movimento da outra pessoa, imagina.

Espero que as minhas noites de sonho comecem aqui.

Depois conto-te tudo.

O pai do António Costa não era teu amigo? Ou fui eu

que sonhei?

Bjs

V ALICE VIEIRA (*)

Querido neto,

Efetivamente nada como uma noite descansada!

Como sabes não tenho problemas nenhuns em dormir.

Mas confesso-te que fiquei com muita vontade de conhecer

esses colchões. A tua avó já não vai para nova e precisa

de dormir como uma princesa.

Ainda bem que falaste do António Costa.

Aliás, tenho pensado muito no meu amigo Orlando da

Costa. De resto eu lembro-me sempre muito dele e faz-

-me muita falta. Se ele ainda cá estivesse, o que nós não

teríamos conversado nestes últimos dias…

De ascendência goesa, Orlando da Costa era comunista,

foi preso, foi um dos escritores portugueses com mais livros

apreendidos pela censura—e sempre o vi com aquele

sorriso, aquela tranquilidade-- e aquele cachimbo pendurado

na boca

O Orlando da Costa foi um grande escritor, premiadíssimo-

—e hoje ninguém se lembra dele!! Por isso eu faço aqui um

apelo às editoras para que reeditem os seus livros!! Durante

muito tempo escreveu sobretudo poesia (para mim

ele é um grande poeta, lembro-me sempre de um grande

poema que ele dedicou à minha prima Maria Lamas, que

começa “amiga te chamamos/ mãe te chamaríamos…”)—

mas depois dedicou-se mais ao romance e ao teatro—muito

bom em todos os géneros. Pelo menos editem os mais

conhecidos: “O Signo da Ira”, o “Podem Chamar-me Eurídice

“ e “A Como estão os Cravos Hoje?”

O Orlando da Costa passava muito tempo em nossa casa.

Tinha imensa paciência para os meus filhos, então miúdos,

e eles gostavam muito dele, porque ele contava-lhes

histórias… Mas um dia o meu filho André, ia ele a meio de

uma história, interrompeu-o e disse-lhe, apontando para

o cachimbo “não sabe que isso faz mal? Não sabe que

pode morrer?”

E ele, “tens razão, meu filho, tens razão!”

E a partir desse dia, em nossa casa ele nunca mais fumou.

Nestes últimos dias tenho-me lembrado muito dele. E

onde quer que ele esteja, tenho a certeza que está a sorrir

para nós, muito feliz por ver o seu filho António chegar a

primeiro-ministro com maioria absoluta.

(*) Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico

(**) Jornalista - (***) Jornalista e Escritora

www.retratoscontados.pt

https://bit.ly/3dvDigl

https://bit.ly/3dvi3Li

https://bit.ly/3tyuFXN

info@retratoscontados.pt

18 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

19

Bjs



CRÓNICA

Ucrânia

perguntas e respostas

disparadas por uma... guerra

Costa Guimarães (*)

Os europeus estão a financiar a

Rússia para agredir a Ucrânia.

Eh, pá. Não digam isso, muito

menos o escrevam. Mas é verdade.

A Europa não aprende com

os seus erros. Depois de se colocar

de cócoras perante a China,

para onde as suas maiores empresas

transferiram a sua produção

de bens essenciais, agora

fica de rastos porque consome

40% do seu gás oriundo da Federação

Russa e volta a ficar em

maus lençóis. Vai ser, mais uma

vez, vítima por sua única responsabilidade.

Nem a China nem a

Federação Russa têm qualquer

responsabilidade primeira. A

primeira responsabilidade é da

Europa e dos seus líderes: afinal,

são representantes de um gigante

com pés de barro. Sobre a

China, continuamos a não ter na

Europa produção de bens essenciais

(para a saúde, por exemplo,

sem falar de chips ou outras peças)

por causa da ganância das

suas grandes empresas que foram

à procura de lucros obscenos

à custa de trabalho selvagem.

O mundo poderá enfrentar a pior

guerra europeia em mais de 75 anos,

e os EUA não fizeram tudo o que era

possível para tentar encontrar uma

solução diplomática para o que poderia

ser um conflito enormemente

destrutivo.

Não podemos isentar Putin de responsabilidade

pela crise, mas Moscovo

tem preocupações legítimas com

a expansão da OTAN para o leste em

direcção à Rússia e que a rejeição das

preocupações russas por parte dos

EUA era “hipócrita”.

O reconhecimento das raízes complexas

das tensões na região é fundamental

para promover uma resolução

pacífica da crise e o Ocidente

revelou ignorância da História. É bom

conhecer alguma história… A invasão

pela Rússia não é uma resposta; nem

a intransigência da OTAN. Também

é importante reconhecer que a Finlândia,

um dos países mais desenvolvidos

e democráticos do mundo, faz

fronteira com a Rússia e escolheu não

ser membro da OTAN.

Putin pode ser um mentiroso e um

demagogo, mas é hipócrita para

os Estados Unidos insistir que não

aceitamos o princípio de ‘esferas de

influência’. A longa tradição da política

externa dos EUA ser baseada na

Doutrina Monroe diz que os EUA podem

essencialmente fazer o que quiserem,

especialmente no continente

americano e ela tem sido usada para

derrubar pelo menos uma dúzia de

governos.

Mesmo que a Rússia não fosse governada

por um líder autoritário corrupto

como Wladimir Putin, o governo

russo ainda teria interesse nas políticas

de segurança de seus vizinhos. Alguém

realmente acredita que os Estados

Unidos não teriam algo a dizer

se, por exemplo, o México formasse

uma aliança militar com um adversário

norte-americano?

Os países deveriam ser livres para fazer

suas próprias escolhas de política

externa, mas fazer essas escolhas sabiamente

requer uma séria consideração

dos custos e benefícios. O facto é

que os EUA e a Ucrânia, entrando em

uma relação de segurança mais profunda,

provavelmente terá alguns custos

muito sérios para ambos os países.

E o que é a Ucrânia? —

pergunta o leitor.

A Ucrânia é o “celeiro da Europa” devido

à fertilidade de suas terras. Em

2011, o país era o terceiro maior exportador

de grãos do mundo, com uma

safra muito acima da média. A Ucrânia

é uma das dez regiões mais atraentes

para a compra de terras agrícolas no

mundo.

O país é um Estado unitário composto

por 24 oblasts (províncias), uma república

autónoma (Crimeia) e duas cidades

com estatuto especial: Kiev, a capital

e maior cidade, e Sebastopol, que

abriga a Frota do Mar Negro da Rússia

sob um contrato de leasing. A Ucrânia

é uma república semipresidencial com

separação dos poderes legislativo, executivo

e judiciário. Desde a dissolução

da União Soviética, o país continua a

ter o segundo maior exército da Europa,

depois da Rússia. O país é o lar

de 42 milhões de pessoas, 77,8% dos

quais são ucranianos, com minorias de

russos (17%), bielorrussos e romenos.

O ucraniano é a língua oficial e o seu

alfabeto é cirílico. O russo também é

muito falado. A religião dominante é o

cristianismo ortodoxo, que influenciou

fortemente a arquitetura, a literatura e

a música do país.

No caso presente, da Federação Russa

(que o nosso Partido Comunista continua

a apoiar, sabe-se lá porquê) demos

a Wladimir Putin todos os trunfos. Ele

podia escolher: ou a negociação ou a

prova de força. Preferiu jogar e os russos

são muito bons no xadrez.

Ele, ao longo de duas semanas recebeu

e falou com toda a gente — Macron,

Scholz, Biden, Johnson, etc. — a

prometer a negociação e colocou a

sua torre (Labrov) a defender a primeira

hipótese. Quando se anunciava

uma cimeira entre Joe Biden e Wladimir,

ele faz o que fez, na noite de 24

de Fevereiro: um ato de agressão sem

precedentes contra um país soberano

e independente. O alvo dos russos não

é apenas Donbass, o alvo não é apenas

a Ucrânia, o alvo é a estabilidade na

Europa e toda a ordem internacional

de paz. A Europa assiste de braços cruzados

ao massacre de idosos, crianças

e mulheres e à destruição de um país

livre e soberano, limitando-se a anunciar

um pacote de sanções.

As sanções enfraquecem a base económica

da Rússia e atingem os russos,

em primeiro lugar sem culpa de serem

liderados por um oligarga que sonha

ser Czar.

O GÁS QUE ALIMENTA A

GUERRA

Putin está a tentar fazer o relógio voltar

aos tempos do Império Russo porque

os grandes da Europa, a começar

pela Alemanha, deixaram.

Nenhum país tem capacidade para

substituir o fornecimento de gás russo

à Europa por gás natural liquefeito

(GNL) em caso de interrupção devido à

guerra entre Rússia e Ucrânia. Com a

maioria da produção presa a contratos

de longo prazo, sobretudo para compradores

asiáticos, a quantidade que

pode ser desviada para a Europa é de

apenas 10 a 15%.

A Rússia é responsável entre 30 e 40%

do fornecimento para a Europa. O Catar

tem a maior parte de suas remessas

comprometidas sob contratos de

longo prazo, com compradores asiáticos,

e só pode redirecionar 10 a 15% de

suas exportações para a Europa.

As sanções podem afetar o fluxo de

gás natural russo à Europa.

Na terça-feira (22 de Fevereiro), a Alemanha

suspendeu o projeto de gasoduto

Nord Stream 2, na região do Mar

Báltico, projectado para duplicar o fluxo

de gás russo ao país. Com efeito, os

20 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

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21



CRÓNICA

CRÓNICA

HISTÓRIA DO PLANETA TERRA

(CONTADA ÀS CRIANÇAS)

preços do gás natural subiram consideravelmente

de imediato (cf. https://

tinyurl.com/4z2zsyts).

A dependência europeia do gás russo

é “um problema gravíssimo”, para

o qual não se antevê “solução no curto,

nem no médio prazo”, numa altura

em que os preços da energia dispararam

na zona euro.

Depois, existe o impacto de toda a política

ambiental de descarbonização

da Europa acelerada em relação ao

resto do mundo, a qual implica que

neste período de transição de 20 ou

30 anos tem de ser assente em grande

parte no consumo de gás natural.

A guerra desencadeada esta semana

pode introduzir limitações no abastecimento

de gás natural, se a Rússia

decidir suspender o trânsito de gás

para a Ucrânia, que é a via de passagem

deste combustível para a Alemanha.

EFEITOS EM PORTUGAL

A exposição de Portugal ao gás russo

é relativamente limitada. A principal

consequência é que sendo o gás uma

matéria-prima cujo preço é fixado internacionalmente

e muito volátil, um

eventual corte no fornecimento via

Ucrânia pode voltar a agravar a cotação

do gás, obrigando a generalidade

dos países europeus, Portugal incluído,

a pagar mais por este recurso

energético (e também a incorrer em

maiores custos de geração de eletricidade,

já que as centrais de ciclo combinado

são alimentadas a gás).

Portugal tem duas vias de importação

de gás natural. Uma é por via terrestre,

através dos gasodutos que ligam

Campo Maior a Badajoz e Valença do

Minho a Tuy. A outra é o terminal de

GNL que a REN opera em Sines, e que

tem assumido crescente importância.

Nesse terminal todas as semanas descarregam

um a dois navios com metano.

Em 2021, segundo dados da Direção-

-Geral de Energia e Geologia (DGEG),

Portugal importou da Rússia 572 milhões

de metros cúbicos (0,7 BCM)

de gás, ou seja, 10,2% das nossas importações.

A Nigéria (49,5%) e os Estados

Unidos (33,3%) foram os nossos

maiores fornecedores. Todavia, em

novembro e dezembro Portugal nada

importou de gás russo e em janeiro de

2022, de acordo com a REN – Redes

Energéticas Nacionais, também não:

no primeiro mês do ano 60,2% do gás

que entrou no país veio da Nigéria,

29,1% da Nigéria e 13,2% de Trinidade

e Tobago.

A Rússia era um dos fornecedores de

petróleo de Portugal, mas em 2020,

último ano com dados detalhados

pela DGEG, o nosso país não importou

petróleo russo (os nossos maiores

fornecedores foram, por esta ordem,

Brasil, Nigéria, Arábia Saudita e Angola).

Os russos não querem ver a Ucrânia

pender para a OTAN e posicionaram

cerca de 160 mil soldados e muito armamento

em torno da fronteira, além

de posicionar sua esquadra no Mar

Negro para bloquear qualquer ajuda

que pudesse chegar ao país.

O resultado está à vista: a Ucrânia não

pode decidir o seu destino (nem sequer

aderir à União) e a Europa deverá

ter uma recessão se as sanções de que

se fala forem aplicadas.

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia

mostra a ingenuidade europeia. Primeiro,

porque a Europa pensa que

pode continuar a viver, do ponto de

vista militar, sob o guarda-chuva americano.

Segundo, porque do ponto de

vista energético, a Europa pôs-se nas

mãos dos russos por causa das importações

de gás.

Havia uma saída que ninguém preferiu:

acordo nem/nem. Nem a Rússia

invade a Ucrânia, nem a Ucrânia entrará

na NATO.

Putin tem mais cartas na mão e a Europa

tem mais fragilidades. Está de

mãos atadas e, ao consumir tanto gás

que paga aos russos, está a contribuir

para esta guerra que dizima os ucranianos.

(*) António Costa Guimarães, é

Jornalista, foi Capelão Militar e

Director do jornal Correio do Minho.

Escreve segundo o AO

Paulo Marques

Vou contar-vos uma história muito,

muitíssimo antiga: a história do

planeta Terra. Peço-vos, no entanto,

para terem sempre presente que, ao

contrário do Homem que se mostra

sempre muito apressado, tudo no

Universo acontece calma e majestosamente.

Imaginem vocês, que se

escrevêssemos um livro sobre a história

da Terra, e para cada cem anos

dedicássemos só uma página, para

ler esse livro seria necessário toda

uma vida humana. Esse livro teria

200 milhões de páginas e alguns 2

quilómetros de espessura. Mas vamos

ao que interessa...

Há muito que geólogos, paleontólogos

e outros cientistas se ocupam do

estudo do planeta Terra, porém, torna-

-se quase impossível conhecermos fidedignamente

a sua história, que tem

milhares de milhões de anos de existência.

Por exemplo, não só ignoramos

em absoluto como a Terra se formou,

como não sabemos com exatidão a

sua idade e pouco conhecemos do

longuíssimo período que vai do seu

surgimento até ao aparecimento das

primeiras formas de vida, que seria

como a “pré-história” do nosso planeta.

Sabemos que no início a Terra era um

globo de incandescente matéria, girando

no Espaço, que lentamente foi

esfriando. De onde surgiu essa matéria

em brasa é coisa que ninguém até

hoje descobriu. Muitas teorias sobre o

assunto têm aparecido, mas todas elas

baseadas em meras conjeturas. Uma

dessas teorias defende que houve

uma «Grande Explosão» cósmica, em

inglês «Big-Bang», resultante da compressão

de energia e que daí se tenha

formado o Universo, incluindo a Terra.

Prossigamos: durante cerca de 500 milhões

de anos, o planeta foi arrefecendo,

de fora para dentro, tendo-se formado

a crosta que o envolve, enquanto

o seu centro, ou interior, continua a

elevada temperatura – a essa massa

pastosa de minerais em fusão dotada

de notável fluidez chamamos magma,

matéria muito semelhante à lava expelida

pelos vulcões em atividade.

Com o passar do tempo – milhões de

anos, à medida que o calor ia diminuindo,

a crosta foi-se tornando mais

espessa e consistente. Simultaneamente,

e também em virtude da redução

da temperatura, o interior do planeta,

o seu núcleo, começou a comprimir-se,

tendo-se tornado, deste modo,

a crosta que o envolvia demasiado

grande. Assim sendo, esta encrespou-

-se, dando origem a cadeias de montanhas.

Tal como a pele de uma maçã

assada, quando arrefece, fica cheia de

rugas.

Nesses primeiros tempos a Terra era

quente e estéril, árida e rochosa; grandes

vulcões libertavam imensas quantidades

de gases que se condensavam

em espessas nuvens que impediam a

Terra de receber a luz do Sol; não chovia,

visto que qualquer água que caísse

se transformava, de novo, em vapor;

não existiam os oceanos; não existiam

plantas; aliás, não existia vida de espécie

alguma. Em suma, um cenário

aterrador…

Finalmente, quando o arrefecimento

da crosta terrestre permitiu que a água

aprisionada nas nuvens se libertasse,

vieram o que se chamou as «Grandes

Chuvas», muito violentas e intensas,

grandes tempestades que duraram

meses, anos, séculos, talvez milénios.

Essa água espalhou-se, enchendo as

partes mais fundas da superfície da

Terra, assim nascendo os oceanos. Só

quando cessaram essas «Grandes Chuvas»

é que o Sol pode estender os seus

raios até ao nosso mundo, que se preparava

para receber a vida.

Uma vez que o ar existente na atmosfera

era irrespirável – maioritariamente

composto por dióxido de carbono

– não espanta que tenha sido no mar

que tenham aparecido os primeiros

seres vivos de que temos notícia: era o

ambiente mais favorável ao surgimento

da vida. Naquela época, os oceanos

não só eram quentes, como muito menos

salgados e muito mais límpidos

do que agora. Neles já existiam algumas

algas que, logo que o ambiente

se propiciou, começaram a alastrar-se

pela terra: primeiro, junto à costa, depois,

para locais cada vez mais afastados

do mar.

O grande efeito do desenvolvimento

das plantas foi a total transformação

da atmosfera, na medida em que

transformaram o dióxido de carbono

em oxigénio. Tenham em conta que

não existiam ainda as árvores, que são

a forma mais desenvolvida das plantas,

nem as flores a alegrar o cenário,

nem a erva, nem tão-pouco os frutos.

Tudo isso só apareceria muito depois…

Tudo começou por minúsculos e rudimentares

seres marinhos que foram

evoluindo até darem lugar aos primeiros

peixes. Posteriormente, algumas

espécies de peixes foram sofrendo

mutações de tal ordem que se metamorfosearam

em anfíbios. Por sua vez,

os anfíbios, vertebrados de sangue-frio,

de pele nua e viscosa, começaram a

deslocar-se para terra e aí transformaram-se

gradualmente em répteis.

Com o passar do tempo, os répteis foram-se

agigantando, de tal modo que,

ao pé dum desses seres monstruosos

um elefante dos nossos tempos

pareceria um anão. Mais tarde, esses

monstros – entre eles, os famosos dinossauros,

que vocês tanto apreciam –

desapareceram para dar lugar às aves,

aos mamíferos e, finalmente, na chamada

Idade Quaternária ou Neozóica,

ao Homem: o único ser animal dotado

de razão.

E pronto, está contada a história. A

partir daqui, dos primeiros seres humanos

que habitaram o planeta, a

história já é outra, não aquela que me

propus contar-vos.

Resta-me dizer que esta história que

aqui vos trago li-a eu, com imenso

prazer, num livro fantástico intitulado

«História da Terra», escrito em 1956, por

um astrónomo britânico de nome Patrick

Moore. Daqui por uns anos, quando

dominarem bem a leitura, podem

(e devem!) ler vocês próprios esse livro

ou outros que mais vos convierem sobre

esta matéria. Certamente que não

darão o vosso tempo por perdido…

22 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

23



AGENDA

Cidadania

Informações

MAPS (*)

Caros leitores, um certificado

de Covid é exigido para muitos

eventos. É importante que você

continue a seguir as medidas de

proteção contra o coronavírus.

Você pode encontrar uma visão

geral das medidas atuais em vários

idiomas em www.stadt-zuerich.ch/coronavirus.

Por favor,

informe-se antes de participar

de um evento. Apesar de tudo,

a equipe da MAPS deseja a você

um bom momento!

TERÇA-FEIRA

(*) Escrito na variante brasileira

da Língua Portuguesa

8.3.

EXPERIÊNCIAS NA ETH

Uma pesquisa em engenharia civil

requer experimentos em larga escala.

Hoje o “Institut für Baustatik und

Konstruktion” da ETH Zurique apresenta

seu material de pesquisa. Inscrição

requerida até 02.03 em tours@

services.ethz.ch uo 041 44 63 36 223.

18:15-19:15. Entrada livre.

ETH de Zurique Hönggerberg. Gebäude

LIS. Eingang Campus De Informações.

Stefano-Franscini-Platz 5.

Ônibus 37/69/80 bis “ETH Hönggerberg”.

www.ethz.ch

QUARTA-FEIRA

9.3.

PEÇA DE TETARO

Esta noite, o teatro “sogar” mostra

uma peça “Und dann fing das Leben

um / Ve ou após hayat başladı”. Ela

conta sobre a imigração turco-suiça.

Uma mãe, uma filha e uma neta se encontram

para beber um chá e levam o

álbum de família. Eles se sentem mais

suíças uo turcas? Que esperanças elas

têm? Às 19:00. O escritório da MAPS

sorteia 1×2 entradas gratuitas para os

espetáculos em 09.03 e 10.03. Basta ligar

para: 044 415 65 89 uo enviar um

e-mail para maps@aoz.ch.

sogar teatro. Josefstr. 106.

Bonde 4/6/13 und Barramento de 32

bis “Limmatplatz”.

www.sogar.ch

QUARTA-FEIRA

9.3.

DIA INTERNACIONAL

DA MULHER NO MUSEU

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher.

O “América do Norte Nativa Museu

de Zurique” (NONAM) está organizando

uma visita guiada especial para

marcar a ocasião. O curador fala sobre

as mulheres na América do Norte. Por

exemplo, você aprenderá algo sobre

a vida real da famosa “Pocahontas”.

19.00-20.00. Entrada gratuita com

KulturLegi (ou então adultos CHF 12.-,

crianças de CHF 4.-).

NONAM. Seefeldstr. 317.

S-Bahn (comboio ou Eléctrico 2/4 bis

“Bahnhof Tiefenbrunnen”.

www.nonam.ch

QUINTA-FEIRA

10.3.

TREINAMENTOS ES-

PORTIVOS GRATUITOS

Uma associação Sportegration oferece

treinamentos esportivos gratuitos

para os refugiados. Os treinadores

esportivos oferecem treinos em diferentes

disciplinas como vôlei, ioga,

basquete e muitas outras. Hoje, por

exemplo, você joga futebol das 18:00

às 19:00 horas. Grátis.

Sportegration. Gotthardstr. 52.

Bonde 6/7/13/17 bis “Tunnelstrasse”.

www.sportegration.com

QUINTA-FEIRA

10.3.

CONCERTO DE JAZZ

O “Kanzlei Clube” está realizando uma

série de concertos “All about Jazz” de

hoje à noite. Quatro bandas diferentes

tocam uma seleção de peças de jazz.

Às 20:00. Entrada livre.

Kanzlei Clube. Kanzleistr. 56.

Eléctrico 8 oder Barramento de 32 bis

“Helvetiaplatz”.

www.stadt-zuerich.ch

SEXTA-FEIRA

11.3.

NOITE DE DANÇA ELE-

TRÔNICA

Você gosta de música eletrônica alternativa?

Então que venha por para

o “Clubraum” da “Roten Fabrik” e dançar

junto. A música moderna é garantida!

Como bebidas no bar são baratas.

Às 23:00. Entradas entre CHF 5.- e

CHF 15.-. Basta entrar em contato com

SPAZ www.sans-papiers.ch com uma

semana de antecedência para obter

compra de bilhetes gratuitos para

pessoas com permissão de estadia N

uo F.

Rote Fabrik. Seestr. 395.

De eléctrico 7 bis “Pós Wollishofen”

oder Ônibus 161/165 bis “Rote Fabrik”.

www.rotefabrik.ch

SÁBADO

12.3.

CAMINHADA

SIHLWALD

NÃO

O “Sihlwald” é o lugar ideal para escapar

da pressa da cidade. Uma trilha

encontra-se indicada na estação

“Sihlwald” e continua pelo bosque.

Além disso, o museu do “Wildnispark

Zurique” encontra-se a apenas 5 minutos

a pé da estação. Aqui você encontrará

informações interessantes

sobre o bosque. Entrada livre.

Wildnispark Zurique, Besucherzentrum.

Alte Sihltalstr. 13.

S-Bahn (comboio urbano) bis “Bahnhof

Sihlwald”.

www.wildnispark.ch

DOMINGO

13.3.

CONCERTO DE JOVENS

MÚSICOS

Todos os anos, um júri composto por

especialistas avalia os alunos da “Musikschule

Konservatorium Zurique”

(MKZ). Como actuações estão preparados

para pessoas com deficiências

ao público. Apareça e veja com os

seus próprios olhos o impressionante

talento destes jovens! 11:00. Entrada

livre.

Humor. Schiffbaustr. 6.

Bonde 4/8 oder Ônibus 33/72 bis

“Schiffbau”.

www.moods.ch

TERÇA-FEIRA

15.3.

NOTÍCIAS SIMPLES

Deseja manter-se informado, mas considera

as notícias demasiado difíceis de

entender? No site www.infoeasy-news.

ch encontra todas as notícias numa

linguagem acessível. Deste modo, fica

informado e ao mesmo tempo está a

aprender alemão.

QUARTA-FEIRA

16.3.

APRENDER ALEMÃO NO

LETZIPARK

À quarta-feira, no centro comercial

“Letzipark”, pode frequentar um curso

rápido de alemão para principiantes e

obter informações sobre outros cursos

de alemão em Zurique. Serviço gratuito

de acompanhamento de crianças entre

os 2-8 anos. Necessário apresentar certificado

3G. À quarta-feira 09:30-11:00.

Participação gratuita. Informações

através do telefone 079 930 97 15.

Einkaufszentrum Letzipark. Baslerstrasse

50.

Tram 2 bis “Kappeli” oder Bus 31/89 bis

“Letzipark”.

www.aoz.ch/introdeutsch

QUINTA-FEIRA

17.3.

WORKSHOP NO VIVEIRO

MUNICIPAL

Hoje pode aprender como encontrar e

identificar flores de Primavera. Haverá

uma visita guiada pelo “Park der Stadtgärtnerei”.

Exigido certificado digital

Covid. Necessário fazer inscrição online.

17:30-18:30. Gratuito.

Stadtgärtnerei. Sackzelg 27.

Tram 3 oder Bus 33/89 bis “Hubertus”.

www.stadt-zuerich.ch

SEXTA-FEIRA

18.3.

ALUGUER GRATUITO DE

BICICLETAS

Em diversos locais da cidade Zurique,

crianças e adultos têm bicicletas à sua

disposição. O aluguer é gratuito durante

o dia (caução de CHF 20.-), à noite

custa CHF 10.-. A bicicleta pode ser

devolvida em qualquer um dos postos

“Züri rollt”. Basta mostrar um documento

de identificação e pode começar

a pedalar! Horário de funcionamento

e localização dos vários postos em:

www.aoz.ch/veloverleih.

Hauptbahnhof (Velostation Europaplatz).

S-Bahn bis “Zürich Hauptbahnhof”

www.aoz.ch/zuerirollt

SÁBADO

19.3.

FEIRA DA LADRA

Anda à procura de novos artigos de

decoração? Gostaria de comprar roupa

nova para a Primavera? Então tem de

ir à feira da ladra fazer “GZ Accu”, onde

encontra um ambiente muito agradável.

Também há um café e bolos para

venda. 14:30-17:00. Entrada livre. Se

desejar alugar um espaço de venda,

deverá contactar culture.accu@zentrumelch.ch.

Zentrum ELCH Accu. Otto Schütz-Weg

9.

S-Bahn (comboio urbano) bis “Zurich

Oerlikon”.

www.zentrumelch.ch

SEGUNDA-FEIRA

21.3.

CHINAGARTEN

Hoje é o primeiro dia de Primavera!

Aproveite-o bem, dando um passeio

pelo maravilhoso”, Chinesischen Garten”

em Zurique, um jardim chinês com

templos. Horário: seg-dom 11:00-17:00.

Entrada: adultos e jovens a partir dos 15

anos de CHF 5.-. Crianças a partir dos 6

anos de CHF 1.-.

Chinagarten Zurique. Bellerivestr. 138.

Bonde 2/4 oder Ônibus 33 bis “Fröhlichstrasse”

oder Ônibus 912/916 bis

“Chinagarten”.

www.stadt-zuerich.ch/chinagarten

QUARTA-FEIRA

23.3.

FESTIVAL DE CINEMA

No cinema “Kosmos” decorre, até 27.03.,

o “Swiss Youth Film Festival”, um concurso

nacional para jovens realizadores

de cinema entre os 12 e os 30 anos.

Assisten hoje à cerimónia de abertura!

Os filmes são apresentados ao público

e um júri. Além dos filmes a concurso,

há ainda diversos workshops sobre cinema.

19:00. CHF 10.-. para jovens com

menos de 20 anos e com KulturLegi.

Entrada livre para portadores de documento

N uo F.

Kosmos. Lagerstr. 104.

Ônibus 31/32 bis “Militär-/Langstrasse”.

www.jugendfilmtage.ch

QUINTA-FEIRA

24.3.

ARTE

NEA

CONTEMPORÂ-

O “Migros Museum für Gegenwartskunst”

mostra arte contemporânea

internacional. Até 23.03. visite a exposição

“Aus den Fugen - Momente der

Störung”, que conduz a uma reflexão

sobre a sociedade. À quinta-feira das

17:00h às 20:00h. Entrada gratuita.

Migros Museum für Gegenwartskunst.

Limmatstr. 270.

Bonde 4/8/11/13/15/17 oder Ônibus

33/72/83 bis “de Escher-Wyss-Platz”.

www.migrosmuseum.ch

SÁBADO

26.3.

REPOUSO NOS ESPAÇOS

VERDES

Na Primavera de um descontraído passeio

nos espaços verdes é particularmente

estimulante. Relaxe num piquenique,

num passeio a pé uo praticando

desporto na natureza. Panorâmica geral

dos jardins e espaços verdes na cidade

de Zurique: www.stadt-zuerich.

ch/gsz.

DOMINGO

27.3.

ELÉCTRICO-NOSTALGIA

Já se questionou como era o eléctrico

há 100 anos? Nenhuma último fim-

-de-semana de cada mês pode andar

num antigo eléctrico conduzido por

um condutor vestido com um uniforme

histórico. Apanhe o eléctrico 21. Qualquer

título de transporte da rede ZVV

é válido. Se desejar saber mais sobre os

eléctricos em Zurique, visite também o

Museu do Eléctrico (sem uo local on-

-line)!

www.tram-museum.ch

TERÇA-FEIRA

29.3.

APRENDER TEATRO

Aprecia teatro e gostaria de melhorar

o seu alemão? O “FlüchtlingsTheater

Malaika” procura novos actores e actrizes!

Não são necessários conhecimentos

de alemão nem experiência teatral.

Inscrições em zoe.jaeggi@fluechtlingstheater-malaika.ch

uo 079 214 97 82.

Terça-feira 13:00 às 17:00. Participação

gratuita.

www.malaika-kultur.ch

24 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

25



Crónica

Neno “fez” 60 anos

© António Pedro Santos

Luís Osório

1.

Hoje o Vitória de Guimarães joga em casa – é o segundo

jogo em casa depois das bonitas celebrações

do aniversário póstumo de Neno – teria feito

60 anos no final de janeiro.

O que aconteceu na cidade de Guimarães foi especial.

No seu aniversário, mas também nos dias a seguir à

sua partida.

Por isso, costumo dizer que não devemos estar

sempre a proclamar que as coisas são especiais

quando não o são – especial foi ver uma

cidade inteira a despedir-se de alguém que

amava, de alguém que respeitava, um

símbolo.

Quem não o conheceu compreendeu

mal a razão que levou Guimarães

a sair à rua.

“Mas quem era esse tal Neno?

Que exagero!”

E o mesmo poderia dizer

de quem apenas o conheceu

do futebol.

“Foi assim um guarda-redes

tão importante

para que uma

cidade tenha saído à

rua para se despedir?”

2.

A resposta é não.

Neno não era apenas

um antigo jogador de

futebol.

Neno não era apenas

um dirigente do Vitória

de Guimarães.

Neno não era apenas um

homem simpático ou um

ídolo ou alguém que defendia

a cidade que, a

partir de determinada

altura da sua vida, o

apadrinhou.

Era tudo isso, mas

tudo isso não é suficiente

para o explicar.

Neno, o homem

a quem o coração

deixou violentamente

de

bater era um

homem bom.

Uma pessoa

boa.

3.

Nas maiores tempestades do futebol, quando gente

se guerreava de um lado e do outro, Neno aparecia

sempre com o seu sorriso, a sua capacidade de fazer

pontes, o talento de abraçar os que estavam em

guerra, de ouvir os que se recusavam a ouvir, de falar

no seu jeito cantado de dizer as palavras.

Neno, era alegria onde os outros eram crispação.

Neno era simpático para a senhora da limpeza, para

o roupeiro, para o tratador de relva, para o menino

de oito anos que acabava de chegar ao treino, para

o Presidente da República ou para o mais baixo dos

baixos na malfadada hierarquia da vida.

Neno era a gargalhada.

O que cantava canções românticas no balneário.

O que tinha sempre boas palavras.

O que não sabia onde pôr as mãos quando as coisas

azedavam.

O que nessas situações esperava que todos explodissem

para depois aparecer armado de sorriso e sempre

de braços prontos a abraçar.

“Vamos ao que interessa, vamos comer e beber, vamos

falar e abraçar a vida”.

Neno adorava viver.

Adorava estar vivo e acordar todas as manhãs para os

amigos, para os que o desejavam, para os que queriam

desabafar.

Aos intolerantes obrigava-os à tolerância.

Aos macambúzios obrigava-os a um sorriso.

Aos violentos obrigava-os à paz.

Aos fanáticos obrigava-os a ver mais do que apenas a

vitória ou a derrota.

4.

Não, meus amigos.

A cidade de Guimarães não saiu à rua por ele ter sido

um grande futebolista.

Aquelas largas centenas de pessoas choraram a partida

de um homem diferente da maioria, um homem

que fez do seu sorriso a arma mais poderosa contra

as sombras de um tempo tão zangado.

Neno, era isso.

Uma espécie de anjo.

Um tipo que não parecia daqui.

Feliz, alegre.

Que gostava de ver felicidade e alegria à sua volta.

Um tipo sem inimigos.

Alguém que voltou ao lugar a que pertence, um anjo

com um sorriso em vez de asas.

Um sorriso inesquecível que nos faz acreditar que

não há maior poder do que o Bem, só ele é mais forte

dos que as sombras e o ressentimento.

Obrigado, Neno.

E parabéns pelos 60 anos.

Que faças muitos mais, que dures a eternidade.

26 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

27



Saúde

Infarmed licenciou 18 empresas

de canábis medicinal.

Como Garcia de Orta distinguiu

cânhamo de canábis em 1563

Laura Ramos

O Infarmed confirmou hoje ao Cannareporter

que já recebeu 97 pedidos de licenciamento

para as actividades de cultivo, fabrico,

importação e exportação de canábis

para fins medicinais, tendo já licenciado 18

empresas. No entanto, a Autoridade Nacional

do Medicamento encontra-se a aguardar

o pedido de vistoria às instalações de

mais 80, estando ainda a analisar mais sete,

o que pode fazer subir o número de empresas

licenciadas em Portugal para mais de

100.

Apesar do elevado número de empresas a tentar obter

uma licença do Infarmed, existem apenas dois pedidos

de ACM (Autorização de Colocação no Mercado)

de preparações e substâncias à base da planta da

canábis em Portugal.

Em resposta às questões do Cannareporter, via e-mail,

o Infarmed, diz que “relativamente aos pedidos de licenciamento

para as actividades de cultivo, fabrico,

importação e exportação da planta da canábis, informamos

que na totalidade, para o território nacional

foram recepcionados 97 pedidos, dos quais:

– 7 pedidos encontram-se em análise;

– 10 pedidos o INFARMED encontra-se a aguardar resposta

a pedidos de elementos por parte das entidades

requerentes;

– 80 pedidos o INFARMED encontra-se a aguardar o

pedido de vistoria às instalações por parte das entidades

requerentes”.

Isto significa que pelo menos 80 empresas já receberam

uma pré-licença do Infarmed e estão agora na

fase de construção das suas unidades de fabrico.

Há apenas dois pedidos de ACM a decorrer no Infarmed

As empresas já licenciadas em Portugal têm optado,

quase exclusivamente, pela exportação. Segundo

o Infarmed “actualmente encontram-se em curso 2

(dois) pedidos de autorização de colocação no mer-

Leia estes e outros artigos em

WWW.CANNAREPORTER.EU

cado (ACM) de preparações e substâncias à base da planta

da canábis, um relativo a flor seca para inalação por vaporização

e outro relativo a uma solução oral. Ambos os pedidos

aguardam respostas por parte das entidades requerentes”,

esclarece, não especificando se são de CBD, THC ou ambos.

Actualmente, apenas uma empresa (a Tilray) obteve uma

ACM do Infarmed para um derivado da canábis, nomeadamente

flor seca com 18% de THC. O Sativex (da GW Pharmaceuticals)

já se encontrava disponível em Portugal desde

2012.

O CannaReporter é um projecto independente e completamente

suportado pela comunidade. Para continuar

a desenvolver este projecto, o apoio dos leitores

é fundamental. Torne-se apoiante do CannaReporter

desde 3€ por mês!

www.patreon.com/cannareporter

© Infografia: João Xabregas

Luís Torres Fontes / João Carvalho

Por improvável que pareça, os europeus

lidaram com a canábis durante

séculos, sem se darem conta dos seus

poderes psicoactivos — aliás, até ao

século XVI era-lhes completamente

estranho o conceito de droga, entendida

como agente alterador da consciência.

Mas as coisas começaram a

mudar devido à curiosidade e livre espírito

de Garcia de Orta, que em 1534

viajou até Goa, então a capital do império

português na Índia.

Garcia de Orta (1499-1568) foi um

médico judeu português

que viveu na Índia, autor

pioneiro sobre botânica,

farmacologia, medicina

tropical e antropologia.

O livro que publicou em

1563 inclui referências ao

cânhamo e à canábis, na

altura conhecida como

“bangue”.

Nas três décadas seguintes

à sua chegada ao

Oriente, Garcia de Orta,

nascido em Castelo de

Vide cerca de 1499 e falecido em Goa

em 1568, compilou uma exaustiva relação

das plantas “medicinais e úteis”

indianas, publicada em Goa em 1563

sob o título Colóquios dos Simples e

Drogas e Cousas Medicinais da Índia.

Considerada uma das primeiras manifestações

da ciência experimental

moderna, esta obra foi aclamada na

Europa renascentista como a mais

importante sobre a flora medicinal

desde o compêndio de botânica de

Dioscórides, que fazia escola há 1500

anos — por esta razão, hoje os Colóquios

de Garcia de Orta são talvez a

única obra portuguesa a haver alcançado

estatuto universal.

Mas o que torna os Colóquios um marco

fundador da ciência moderna é o

facto de a obra espelhar a crença, então

pioneira, de que a verificação e a

experiência são as fontes verdadeiras

da aprendizagem e do conhecimento.

Diz Orta: “Eu não tenho ódio senão

aos errores; nem tenho amor senão à

verdade”.

E, em parte, este espírito científico de

observação desapaixonada é mais notável

do que quando Garcia de Orta

se debruça sobre as drogas visionárias

usadas na Índia, como o ópio, a datura

e o bangue, um preparado psicoactivo

de canábis — as considerações que o

naturalista português faz sobre estas

substâncias e os seus efeitos revelam

tal ausência de preconceito que, hoje

em dia, mais do que notáveis, elas

dificilmente encontrariam paralelo.

Quanto ao bangue, Orta dedica-lhe

um capítulo, o Colóquio Oitavo do

Bangue, no qual explica “que cousa

he (…) e pera que se toma, e como se

faz” esta droga cujo uso, informa, era

generalizado na Índia: “E crede que

pois isto [o bangue] he tanto usado e

de tanto numero de gente, que nam

he sem mysterio e proveito” (fica-se

mesmo a saber que o bangue se vendia

“na botica feito”).

Como Garcia de Orta distinguiu cânhamo

de canábis

Apesar de ter notado as semelhanças

da planta do bangue com o cânhamo,

Orta considerou “nam ser isto linho

alcanave”, não só porque “a semente

he mais pequena e mais não he alva

como a outra”, mas principalmente

devido ao facto da planta do bangue

não ser usada na Índia para produzir

o linho “de que fazemos as nossas camizas”.

Orta não podia saber que estava

a comparar as duas variedades

de canábis, a sativa, o familiar cânhamo,

e a indica, que descobrira na Índia

— essa classificação só seria feita

no século XVIII, precisamente a partir

de dados compilados pelos primeiros

cientistas da natureza, como Orta.

Estátua de Garcia de Orta em frente

ao Instituto de Higiene e Medicina

Tropical, em Lisboa, Portugal

Para nossa desgraça (de Portugal), o

posfácio da história de Garcia de Orta

é tristemente familiar. Segundo as

crónicas, após a morte do naturalista,

a sua mulher confessou à Inquisição

que, apesar de ser católico confesso,

Orta sempre praticara em segredo a

religião judaica. (Os pais de Orta eram

cristãos-novos, tendo renegado a fé

judaica para escapar ao exílio

quando D. Manuel I expulsou

os judeus de Portugal.) E, fazendo

jus aos seus sinistros

pergaminhos, a Inquisição

ordenou não só que o cadáver

de Orta fosse exumado e

queimado na praça pública,

mas que todos os exemplares

dos Colóquios fossem destruídos

pelo fogo.

Afortunadamente para o património

da humanidade, porém,

o obscurantismo vigente

em Portugal não conseguiu reduzir a

cinzas “o fruto daquela Orta” (na expressão

de Camões). Dado que para lá

dos Pirinéus o conhecimento deixara

de ser considerado obra do Demónio,

logo no ano da morte do naturalista,

os Colóquios haviam sido traduzidos

para latim por um botânico francês.

Nas décadas seguintes, surgiram edições

em italiano, francês e inglês e, no

século XVII, o tratado de Orta tornara-se

já obra de referência obrigatória

da jovem comunidade científica europeia.

Em Portugal, os Colóquios só

seriam reeditados em 1895.

_____________________________

__________________

Este texto, da autoria de Luís Torres

Fontes e João Carvalho, foi originalmente

publicado na edição portuguesa

do livro “O Rei vai nú”, de Jack

Herer, e reproduzido no #3 da Cannadouro

Magazine.

28 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

29



CÂNHAMO

Infarmed reforça que o CBD

é proibido em cosméticos

“A canábis é classificada no território nacional como estupefaciente,

encontrando-se incluída na tabela I-C, anexa

ao Decreto-Lei n.o 15/93, de 22 de Janeiro, na sua actual

redacção. No âmbito deste enquadramento, é proibida a

utilização da planta canábis para outros fins que não medicinais,

à excepção da utilização de fibras (caules) e sementes

de variedades com baixo teor de THC de canábis

para fins industriais (cânhamo)”, insiste o Infarmed.

Segundo a Autoridade do Medicamento, “a inclusão de

CBD ou outros canabinóides, que existem naturalmente

na planta de canábis, não é permitida, por serem obtidos

através da preparação de extratos ou tinturas de Cannabis

ou da sua resina”.

Infarmed reforça que CBD é uma

substância controlada

A circular informativa do Infarmed afirma ainda que “relativamente

aos vários canabinóides que fazem parte da

resina de canábis e nomeadamente à substância canabidiol

(CBD), é entendimento expresso do Órgão Internacional

de Fiscalização de Estupefacientes (INCB – International

Narcotic Control Board), que a mesma está abrangida

pela Convenção Única sobre os Estupefacientes de 1961,

enquanto extracto/preparação da planta canábis, encontrando-se

incluída na Tabela I anexa à referida convenção.

Assim as referidas substâncias, designadamente a substância

canabidiol (CBD), enquanto resina ou preparação

de canábis, encontram-se incluídas na Tabela I-C, anexa

ao Decreto-Lei n.o 15/93, de 22 de Janeiro, na sua atual

redacção, encontrando-se sujeitas às medidas de controlo

aplicáveis às substâncias nelas previstas”.

temente do seu teor em tetrahidrocanabinol (THC)”:

Cannabis e resina de Cannabis;

Extratos e tinturas de Cannabis;

Folhas e sumidades floridas/flores ou frutificadas da planta

Cannabis.

A inclusão de CBD ou outros canabinóides, que existem

naturalmente na planta de canábis, não é permitida, “por

serem obtidos através da preparação de extratos ou tinturas

de Cannabis ou da sua resina”.

“Estão incluídas nesta proibição as substâncias CANNABI-

DIOL -DERIVED FROM EXTRACT OR TINCTURE OR RESIN

OF CANNABIS e CANNABIS SATIVA LEAF EXTRACT”. Estas

designações surgem no CosIng – a base de dados da

Comissão Europeia para informações sobre substâncias e

ingredientes. Um ingrediente listado no CosIng não significa

que a sua utilização em produtos cosméticos esteja

aprovada” – refere a circular em nota de rodapé – “mas a

sua inclusão em produtos cosméticos não está autorizada”.

Autorizado apenas o óleo de sementes

de cânhamo

Exceptua-se desta proibição a utilização de “substâncias/

preparações obtidas a partir de sementes de plantas com

teor em THC ≤ 0,2%, como por exemplo o óleo de sementes

de canábis de variedades inscritas no Catálogo Comum

de Variedades de Espécies Agrícolas”.

Laura Ramos

O Infarmed – Autoridade do Medicamento

I.P. divulgou uma circular

informativa onde reforça que a

utilização de CBD (canabidiol) extraído

da “canábis para fins industriais”

(cânhamo) é proibida. Citando

a Convenção Única de 1961

sobre os Estupefacientes, o Presidente

do Infarmed, Rui Santos Ivo,

deixa claro que “os produtos cosméticos

não podem assim conter

as seguintes substâncias/preparações

relacionadas com a planta

de canábis, independentemente

do seu teor em tetrahidrocanabinol

(THC)” – “na qual se inclui (sic)

as variedades de cânhamo industrial”

(em nota de rodapé).

CBD proibido nos cosméticos

O Infarmed salienta que a colocação no mercado dos produtos

cosméticos “obedece aos requisitos estabelecidos

pelo Regulamento (CE) n.º 1223/2009 do Parlamento Europeu

e do Conselho de 30 de Novembro de 2009”.

Este Regulamento “proíbe a inclusão em produtos cosméticos

de todas as substâncias que constam das tabelas I e

II da Convenção Única sobre Estupefacientes de 1961, através

da entrada 306 do Anexo II. Adicionalmente, a nível

nacional, estas substâncias são consideradas controladas,

nos termos do disposto do Decreto-Lei n.º 15/93 de 22 de

Janeiro, na sua redacção actual”.

Neste sentido, diz o Infarmed que “os produtos cosméticos

não podem assim conter as seguintes substâncias/preparações

relacionadas com a planta de canábis, independen-

O Infarmed alerta que “existem outras origens de CBD que

não são abrangidas pelo anexo II do Regulamento (CE) n.º

1223/2009, mas que estão em análise na União Europeia

e na Organização Mundial de Saúde”. A utilização destas

substâncias em cosméticos deve ser analisada caso a caso

e carece sempre de uma avaliação de segurança.

A circular termina dizendo que “a adequação da composição

dos produtos cosméticos que são colocados no

mercado à legislação em vigor é obrigação da Pessoa Responsável,

que deve assegurar o cumprimento da legislação

aplicável e a segurança dos produtos cosméticos nas

condições de uso previstas ou razoavelmente previsíveis.

As pessoas responsáveis ou distribuidores que operem em

Portugal devem assegurar que a composição dos produtos

que disponibilizam no mercado cumprem estes requisitos”,

termina.

LER MAIS: https://cannareporter.eu/2022/02/16/infarmed-

-cbd-proibido-cosmeticos/

30 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

31



Saúde

Associações de todo o mundo

unem forças pelo cânhamo,

contra a proibição do CBD

Laura Ramos

A “guerra” ao CBD (canabidiol)

parece não ter fim à

vista, mas associações de

todo o mundo, desde a Austrália

à França e ao Reino

Unido, da Colômbia à Mongólia

ou ao Japão, prometem

lutar juntas pelos seus

direitos. A EIHA – European

Industrial Hemp Association

alertou ontem para o

facto de o cânhamo ser um

“produto agrícola” e não

uma “substância controlada”

pela Convenção de Narcóticos

de 1961.

Espera-se que o mercado do CBD venha

a valer milhares de milhões de

euros nos próximos anos, portanto

não é de espantar que a indústria farmacêutica

e o sector agrícola tenham

interpretações tão diferentes no que

respeita à legislação existente no que

respeita ao CBD. Associações de cânhamo

de todo o mundo unem forças

para rebater a tendência de proibição

generalizada do CBD, com a adopção

de uma posição conjunta.

“Em palavras claras: SIM, o IDCC (International

Drug Control System) impõe

regulamentações rígidas sobre o

cultivo da planta Cannabis para investigação

com fins medicinais e uso directo

na medicina e no sector farmacêutico,

mas NÃO, essas disposições

não se aplicam ao cultivo e a todas as

actividades ligadas ao cânhamo – usos

industriais não relacionados com as

substâncias controladas da planta de

Cannabis” — pode ler-se no documento

emitido ontem pela EIHA.

O documento de posição conjunta baseia-se

em dois instrumentos jurídicos

internacionais: a Convenção Única de

1961 (C61), alterada pelo Protocolo

de 1972, e a Convenção de 1971 sobre

Substâncias Psicotrópicas (C71). A

Convenção foi ratificada há quase 60

anos por 180 estados e ainda determina

as actuais legislações nacionais de

controlo de drogas em todo o mundo.

“As Convenções Internacionais de Controle

de Drogas (IDCC) não regulamentam

o cânhamo. No entanto, elas podem

afectar as políticas relacionadas

com o cânhamo, em particular por

causa de incertezas legais e zonas cinzentas,

devido ao baixo nível de definição

de “Cannabis” pelo IDCC”, refere o

documento. E continua:

O IDCC é composto por

3 tratados principais:

© Foto: EIHA

1 – Convenção Única das Nações Unidas

sobre Estupefacientes (1961), alterada

em 1972. Trata principalmente

de plantas medicinais tradicionais e

produtos farmacêuticos. Frutas/Flores

da planta de Cannabis, resina de

cannabis (haxixe) e extratos e tinturas

de Cannabis são hoje controladas por

esta Convenção;

2 – A Convenção das Nações Unidas

sobre Substâncias Psicotrópicas (1971),

que aborda substâncias psicoactivas e

drogas de uma perspectiva mais química.

O THC é hoje controlado por

esta Convenção;

3 – A Convenção das Nações Unidas

contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes

e Substâncias Psicotrópicas

(1988), que reforça as duas anteriores,

em particular no aspecto da aplicação

da lei.

Estas Convenções tratam apenas de

medicamentos e sectores medicinais,

embora façam um apelo ao sistema

de justiça criminal para aplicar penalidades

relacionadas ao desvio e uso

inapropriado desses produtos médicos

controlados.

Os IDCC são instrumentos jurídicos-

-quadro que regulam os mercados farmacêuticos

de produtos, substâncias,

plantas e fungos controlados. No entanto,

existem muitos outros usos não

relacionados com a medicina desses

mesmos produtos, substâncias, plantas

e fungos. Por isso, o IDCC possui

cláusulas, que isentam totalmente as

actividades não médicas e não cientí-

ficas relacionadas com a investigação.

Para o cânhamo, embora a planta Cannabis

sativa seja colocada sob os auspícios

da Convenção sobre Narcóticos de

1961, isenções claras permitem que os

países implementem políticas e regulamentos

de cânhamo que desrespeitam

completamente o IDCC. Os mais

notáveis ​são:

1 – Isenção por finalidade de uso:

Isenção geral por finalidade. Contemplado

no Artigo 2(9) da Convenção de

1961, declarando que os países ratificantes

“não são obrigados a aplicar as

disposições desta Convenção aos medicamentos

que são comumente usados

​na indústria para outros fins que

não médicos ou científicos” e o Artigo

4(b) do Convenção de 1971 que explica

que os governos “podem permitir […]

o uso de tais substâncias na indústria

para o fabrico de substâncias ou produtos

não psicotrópicos”;

Isenção específica por finalidade para a

planta de Cannabis. Toda a planta está

totalmente isenta de todas as disposições

da Convenção, quando utilizada

para fins “industriais” e/ou “hortícolas”,

no Artigo 28(2) da Convenção de 1961.

2 – Isenção por partes botânicas da

planta Cannabis:

Independentemente da “finalidade”

de uso descrita acima, a Convenção de

1961 também isenta explicitamente

sementes de Cannabis, fibras (Artigo

28(2)) e “folhas quando não acompanhadas

dos topos” (Artigo 1(b))

A explicação oficial da Convenção (Comentário)

explica que, além das partes

que são explicitamente mencionadas

nestes artigos, todas as partes da planta

de Cannabis que não são “topos floridos

ou frutíferos” não se enquadram

nos termos da Convenção se usadas

em ambientes industriais para fins não

médicos.

Convenções sobre Drogas não se aplicam

ao Cânhamo

Em palavras claras: SIM, o IDCC impõe

regulamentações rígidas sobre o cultivo

da planta Cannabis para investigação

com fins medicinais e uso directo

na medicina e no sector farmacêutico,

mas NÃO, essas disposições não se

aplicam ao cultivo e a todas as atividades

ligadas ao cânhamo (usos industriais

não relacionados com o grupo da

planta de Cannabis).

Desde 2016, a Organização Mundial da

Saúde (OMS) foi mandatada para avaliar

e actualizar a colocação de Cannabis

dentro do IDCC. Embora esse

processo apresente um número importante

de oportunidades positivas

(em particular para esclarecer e isentar

mais explicitamente os produtos

de cânhamo e CBD das disposições do

IDCC), também existem alguns riscos

ligados à complexidade da planta de

cannabis e seus derivados. Este processo

também foi a ocasião de um diálogo

renovado entre o sistema das Nações

Unidas e a União Europeia actualmente

a passar pela sua própria revisão das

políticas de cânhamo e CBD.

Relatório da OMS: CBD é

seguro e não causa dependência

A OMS recomendou oficialmente, a 14

de dezembro de 2017, que o composto

canabidiol (CBD) não fosse tratado

internacionalmente como substância

controlada. Na sua reunião de Novembro

de 2017, o Comité de Especialistas

da OMS sobre Dependência de Drogas

(ECDD) concluiu que, “no seu estado

puro, o canabidiol não parece ter

potencial de abuso ou causar danos”.

Como tal, como o CBD não é actualmente

uma substância programada

por direito próprio (apenas como componente

de extractos de canábis)”.

“O CBD natural é seguro e bem tolerado

em humanos (e animais) e não está

associado a nenhum efeito negativo na

saúde pública”, refere a OMS.

Os especialistas afirmaram ainda que

“o CBD, um produto químico não psicoactivo

encontrado na canábis, não

induz dependência física e “não está

associado ao potencial de abuso”. A

OMS também escreveu que, ao contrário

do THC, as pessoas também não

ficam “pedradas” com o CBD.

“Até à data, não há evidências de uso

recreativo de CBD ou quaisquer problemas

relacionados à saúde pública

associados ao uso de CBD puro”, escreveu

a OMS. “De facto, as evidências sugerem

que o CBD mitiga os efeitos do

THC”, de acordo com este e outros relatórios.

O CBD “foi demonstrado como

um tratamento eficaz para a epilepsia”

em adultos, crianças e até animais, e

existem “evidências preliminares” de

que o CBD pode ser “útil no tratamento

da doença de Alzheimer, cancro, psicose,

doença de Parkinson e outras condições

graves”, pode ler-se no relatório

da OMS.

Em Dezembro de 2019, a OMS recomendou

à Organização das Nações

Unidas (ONU) remover a canábis da Categoria

IV, a mais restritiva da tabela da

Convenção Única de Estupefacientes

de 1961, assinada por países de todo

o mundo. A OMS deixou claro que as

preparações focadas no canabidiol

(CBD) não contendo mais do que 0,2%

de THC “não deverão estar sob controle

internacional”. Anteriormente, o CBD

não estava previsto nas convenções internacionais,

mas esta nova recomendação

pretendeu tornar as referências

ao CBD ainda mais claras.

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é fundamental. Torne-se apoiante do CannaReporter desde 3€ por mês!

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33



Espectáculo

Espectáculo

PROJECTO RESISTÊNCIA

30 anos de recordações musicais e do tempo que passa rápido

JOAQUIM GALANTE (*)(*)

Músicas que me acompanham desde a adolescência, me

fazem sentir jovem mas que trazem muita nostalgia.

No dia de S. Valentim, o Coliseu de Lisboa apresentou o

concerto dos Resistência, um grupo de amigos que se juntaram

há 30 anos e que aproveitaram a data para assinalar

tão grande longevidade.

O projecto Resistência nasceu de uma união de vários

músicos, provenientes de diversas bandas, cantam maioritariamente

temas dos grupos que integram mas com

uma nova orquestração, mais acústica, onde a voz é o elemento

em destaque

Nos Resistência pontificam Tim (Xutos&Pontapés), Miguel

Ângelo (Delfins), Fernando Cunha (Delfins), Olavo Bilac

(Santos&Pecadores), Alexandre Frazão (Bateria), Fernando

Júdice (Baixo) e José Salgueiro (Percussão) todos estes

membros fundadores e Pedro Joia (Guitarra). Com esta

formação em palco o concerto só poderia ser bom. Miguel

Ângelo recordou ainda Pedro Ayres de Magalhães

(Ex-Madredeus), Yuri Daniel (Baixo) e Fredo Mergner (Guitarra)

elementos que fizeram parte da formação inicial

dos Resistência.

Durante mais de 2h a banda presenteou todos os que se

deslocaram ao Coliseu, que quase encheram esta emblemática

sala de espectáculos, com um repertório de 24

canções, um alinhamento extenso mas que ainda assim

soube a pouco tal a qualidade musical dos intervenientes.

O concerto terminou já perto da meia-noite com o público

de pé, a cantar, dançar, a confraternizar enquanto

Olavo Bilac, circulando pelo palco, abanava a bandeira de

Portugal, os resistentes portugueses terminavam assim

uma actuação que ficará com certeza na memória de todos

os presentes.

“Extra concerto”, Miguel Ângelo, senhor de uma voz melodiosa

e única, depois de anunciar o final do grupo em

2009, o último concerto foi em Cascais nas Festas do Mar

nesse ano, o regresso aconteceu no mesmo local 10 anos

depois, prometeu um tour de celebração dos 40 anos da

banda, estamos a aguardar impacientemente por esse regresso

pois vocalistas como Miguel Ângelo deviam estar

proibidos de se retirarem.

Alinhamento: Fado (Todos) – Sete Naves (Miguel Ângelo)

– Cantiga de Amor (Olavo Bilac) – Se Te Amo (Fernando

Cunha) – Vai Sem Medo (Tim) – Traz Outro Amigo (MA) –

Liberdade (MA+T) – Aquele Inverno (OB) – Deitar a Perder

(FC) – Perigo (Todos) – Timor (T+FC) – Esta Cidade (OB) – Prisão

em Si (FC) – Circo de Feras (T) – Só no Mar (MA) – Um

Lugar ao Sol (MA+OB) – Não Voltarei a Ser Fiel (MA+T+OB)

– Chamaram-se Cigano (MA+OB) – A Noite (T+FC)– Não Sou

o Único (FC)

Encore: Amanhã É Sempre Longe Demais (TODOS) – A

Gente Vai Continuar (MA) – Marcha dos Desalinhados (OB)

– Nasce Selvagem (Todos)

focusmsn.pt

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V PAULO FREIXINHO

25 de Abril

de 1974

Procure as 16 palavras relacionadas

com o 25 de Abril de 1974.

Há uma palavras na diagonal.

CULTURA

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Doutoramento Honoris Causa para

Rui

Nabeiro

Questões laborais

(*)

A Universidade de Coimbra (UC), sob proposta da Faculdade

de Economia (FEUC), vai atribuir o Doutoramento

Honoris Causa ao comendador Rui Nabeiro. A

cerimónia realiza-se dia 9 de Março, pelas 11h00, na

Sala dos Grandes Atos (Sala dos Capelos).

Segundo uma nota da Faculdade de Economia, esta homenagem

pública “evidencia o compromisso entre os

princípios de gestão que se ensinam na Universidade de

Coimbra (em particular nos vários ciclos de estudos da

FEUC) e a sua concretização nos processos de liderança

empresarial e na dimensão humana das relações de trabalho.

Estamos diante de um admirável empreendedor,

de espírito solidário e de grande humanismo, qualidades

que soube incutir no grupo empresarial que fundou

há mais de seis décadas e que tem projectado uma marca

e uma região no plano nacional e internacional”.

Na cerimónia de Doutoramento Honoris Causa, o Padrinho

de Rui Nabeiro será Carlos Fortuna, sociólogo e

professor catedrático jubilado da FEUC, ficando as apresentações

a cargo de António Martins (elogio do Doutorando)

e de Margarida Mano (elogio do Padrinho), ambos

Professores Auxiliares da mesma Faculdade.

“Com esta justa homenagem ao comendador Rui Nabeiro

retomamos a tradição centenária dos Doutoramentos

Honoris Causa, posta em suspenso há demasiado tempo

pelas circunstâncias pandémicas, que todos conhecemos.

Retomá-la com uma personalidade deste calibre,

um empresário de perfil humanista, com um rico

contributo para a sociedade portuguesa nas mais diversas

áreas, é particularmente significativo para a Universidade

de Coimbra”, afirma o Reitor da UC, Amílcar Falcão.

(*) agências

Grávida: Eu tenho de

mencionar a gravidez

na entrevista de emprego?

Candidatei-me a um posto de trabalho.

Agora descobri que estou grávida.

O que fazer se na entrevista o meu potencial

novo chefe me fizer perguntas

sobre uma possível gravidez? Tenho

de lhe dizer que estou grávida?

Não é precisa mencionar uma gravidez.

Myriam Muff: Não. É verdade que tanto

a senhora quanto o seu potencial

empregador estão sujeitos ao princípio

da boa fé desde o primeiro contacto,

ou seja, mesmo antes de assinarem

um contrato de trabalho. Têm,

por isso, o dever de se comportarem

de forma leal e correcta. Existe um

dever de informação baseado neste

princípio. Se o princípio for violado

(por exemplo, porque uma pessoa

deliberadamente forneceu informações

falsas sobre a sua formação), isso

pode levar a exigências de indemnização

por danos. Saber até onde vai

o dever de fornecer informações pelo

candidato a um emprego, é uma

questão difícil e não pode ser respondida

de forma generalizada. Porém, a

empresa só tem direito a informações

relacionadas com o posto de trabalho.

O limite é a proteção da personalidade

dos candidatos. Não empregar alguém

devido a uma gravidez constitui

geralmente uma discriminação de

género de acordo com o Artigo 3.º da

Lei de Igualdade na vida profissional.

Por isso a empresa não pode durante

o processo de candidatura sequer

fazer perguntas sobre uma possível

gravidez. Se ela mesmo assim o fizer,

a senhora pode responder à pergunta

negativamente. Trata-se de uma

„mentira de emergência”. Por seu

lado, a senhora não precisa de mencionar

a sua gravidez por iniciativa

própria. Uma excepção seria um emprego

como manequim ou dançarina,

por exemplo. Nesse caso, a questão

da gravidez seria justificável.

(Work, 20.08.2021)

Ser inquilino do chefe:

Ele pode deduzir o aluguer

do salário?

Trabalho há 5 anos como pedreiro

para uma construtora que também

possui um prédio de apartamentos.

Consegui alugar lá um apartamento

relativamente barato. A minha mulher

e eu separamo-nos recentemente

e tenho de pagar pensão alimentícia.

Por isso estou atrasado com o aluguer.

Agora o meu chefe quer retirar o valor

em falta do meu próximo salário. Assim

não vou receber salário. Ele pode

fazer isso?

Regula Dick: Não. O seu chefe só pode

retirar do seu salário valores devidos

se isso não significar que o senhor fique

abaixo do nível de subsistência

segundo a lei de execução de dívidas.

Ele só poderá cobrar na totalidade

custos de danos que tenham sido

causados intencionalmente. Mas o senhor

não causou nenhum dano intencionalmente.

Portanto, é ilegal o seu

chefe não lhe pagar qualquer salário.

O senhor deve pedir ao escritório de

execução de dívidas no seu local de

residência para calcular o valor do seu

nível de subsistência mínima e, em

seguida, descrever a situação legal ao

seu chefe.

(Work, 03.09.2021)

Rescisão: Devo ir para o

fundo de desemprego

antes do meu 61.º aniversário?

Trabalho como vendedor numa loja

de produtos eletrónicos há muitos

anos. Faço 61 anos no dia 3 de Dezembro.

No entanto, não estou com vontade

de comemorar. A empresa entrou

com o pedido de falência e os trabalhadores

receberam a carta de despedimento

para o final de outubro. Tenho

medo de não voltar a encontrar

emprego na minha idade. Um colega

aconselhou-me a me apresentar imediatamente

ao fundo de desemprego,

para que não haja nenhuma lacuna

nos meus rendimentos. É um bom

conselho?

Regula Dick: Não. Vale a pena esperar

até ao seu aniversário para se inscrever

no fundo de desemprego. Se o

senhor se inscrever quatro anos antes

da idade normal da reforma, serão

adicionados 120 dias de subsídio ao

seu direito normal. O senhor trabalhou

durante os últimos dois anos

antes do despedimento e, portanto,

pagou os meses de contribuição necessários

para ter direito a 520 dias de

subsídio. Com os 120 dias adicionais, o

seu direito a subsídio será de 640 dias

e o senhor pode receber subsídio até

chegar à idade da reforma. Mais informações

sobre despedimentos e desemprego

estão disponíveis na Caixa

de Desemprego do Unia ou em https:

//www.unia.ch/de/arbeitslosenkasse/haeufig-stellen-fragen

ou https: //

www.arbeit.swiss/secoalv / de / home

/ menue / unternehmen.html

(Work, 3.9.2021, adaptado)

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SÃO

PAULO

Mamadou

Ba

Paulo Marques

Advertência: Sou cristão, creio em

Cristo, tenho-o como referência

modelar, mas não sou católico, sendome

indiferentes os cultos religiosos,

assim como as teorias e os dogmas da

Igreja.

E de entre os cristãos reconheço São

Paulo (5 – 67), de quem sou homónimo,

como uma referência incontornável do

cristianismo. Polémicas e contradições

à parte, erros históricos – ou mesmo,

ausência de referências – jogados

para trás das costas, considero-o um

exemplo para todos nós: um herói a

imitar.

De pequena estatura e de aspeto

enfermiço, São Paulo era um

homem de ação, determinado, com

uma coragem admirável. Possuía

uma energia inesgotável, uma

espantosa resistência tanto física

como moral. Além disso, era um

sábio argumentador, um profundo

conhecedor da psique humana.

São Paulo aceitou com alegria as

maiores provações, desafiou a própria

morte, porque o ideal da sua vida a

partir da sua conversão passou a ser

imitar o Cristo crucificado. Daí ter dito

aos Coríntios: «Imitai-me, como eu

imito a Cristo», e aos Gálatas: «Estou

crucificado com Cristo; já não sou eu

que vivo, é Cristo que vive em mim».

Nascimento e morte

Não se conhece a data exata do

nascimento e morte de Paulo, ou

melhor, de “Saulo de Tarso”. É que

Paulo, a par do nome de origem latina

pelo qual ficou conhecido, usava o seu

nome de nascimento: Saulo, de origem

hebraica, já que era judeu, filho de

judeus. Além disso, nascera em Tarso,

uma cidade helenizada da Ásia Menor,

antiga capital da província romana de

Cilícia (região que hoje corresponde

à Turquia), sendo por isso, por

nascimento, cidadão romano: o que

significa que gozava dos privilégios da

cidadania romana.

Supõe-se que terá nascido poucos

anos antes ou depois de Jesus

– que, de resto, nunca chegou a

conhecer pessoalmente – e vivido

até aos sessenta e cinco anos, ou

possivelmente até mais tarde. Acabou

sendo degolado em Roma durante

a perseguição promovida pelo

imperador Nero aos cristãos, entre os

anos 64 e 68 (a tradição fixa o ano de

67).

Quase tudo quanto sabemos de S.

Paulo, o Apóstolo de Jesus, sabemolo

através da segunda parte do Novo

Testamento, que nos conta a história

da Igreja primitiva e que é constituída

pelos Actos dos Apóstolos (escritos

por S. Lucas, um dos primeiros

missionários cristãos, que durante

muitos anos acompanhou Paulo nos

seus trabalhos e peregrinações, e que

foi um dos seus maiores amigos) e

pelas cartas, ou Epístolas, escritas por

ele próprio.

A conversão

Paulo, como hebreu convicto que

era, começou por ser um violento

adversário do Cristianismo (que

ameaçava a autoridade religiosa do

Judaísmo) até ao momento da sua

conversão. A partir daí, transformou-se

radicalmente, passando a defender a

religião de Cristo com o mesmo ardor

e veemência com que antes a tinha

combatido.

A história conta-se em poucas linhas:

pretendendo extinguir a religião

nascente – o Cristianismo – oferece-se

para ser enviado a Damasco (capital da

Síria, situada ao norte de Jerusalém)

no sentido de capturar os cristãos que

encontrasse, para os trazer presos, a

fim de serem julgados.

Na estrada de Damasco tem um

encontro com Jesus de Nazaré,

ou antes, com o espírito de Jesus

ressuscitado, em que este lhe revelou

a missão que lhe estava reservada no

futuro: tornar-se um fiel servidor de

Cristo, prestando auxílio a quem dele

necessitasse, espalhando a palavra de

Deus pela Terra e convertendo outros

para a religião cristã.

Esta «visão de luz» provocou uma

transformação miraculosa no seu

carácter: converteu um homem de

ódio num homem de amor.

De opressor a oprimido

Em virtude de ter devotado a sua

vida ao Cristianismo teve de suportar

grandes tormentos: foi perseguido,

apedrejado, apanhou pancada, passou

fome e sede, frio e calor, perdeu os seus

bens, sofreu o exílio, a prisão, esteve

na iminência de ser morto… todavia,

nada nem ninguém o demoveu do

propósito de levar por diante a sua

missão evangelizadora.

O sofrimento, em vez de o fazer desistir,

pelo contrário, ampliou-lhe o espírito.

Assim, ao princípio primitivo de fé,

acrescentou outros dois: a esperança e

o amor. E dessas três virtudes, «a maior

– escreveu (na sua Primeira Epístola

aos Coríntios) – é o amor.»

Luís Osório

1.

Estive presente nos primeiros tempos do SOS-Racismo.

Entre os 19 e os 22 anos militei no PSR e aprendi muito

com muita gente.

O José Falcão – que todos chamávamos Bolch (de

bolchevique) – empenhou-se com a sua generosidade

e talento para que nascesse uma estrutura de combate

contra o racismo.

Vi o meu/nosso amigo José Carvalho ser morto na Rua da

Palma por um grupo de skinheads. Por ser “comunista”

como eles o chamaram antes de o apunhalarem. Mas se

fosse negro seria a mesma coisa, como aliás aconteceu

poucos anos mais tarde com Alcindo Monteiro que foi

assassinado/executado por ser “preto”. Assassinado num

bárbaro ato de iniciação de fascistas sedentos de sangue

e ódio.

O SOS Racismo nasceu desse caldo, dessa necessidade.

E tenho orgulho de ter participado em algumas das

conversas iniciais, ficou-me para sempre.

2.

Não conheço pessoalmente Mamadou Ba.

Mas a liderança radical que imprimiu ao SOS-Racismo

choca-me profundamente.

O combate contra o racismo faz-se com coragem,

resistência e ideias. Mas quando o combate ao racismo se

faz com apelo à violência e a uma profunda intolerância

transforma-se infelizmente na outra face da mesma

moeda.

Quando Mamadou BA chama “suínos” aos deputados

do Chega e mete os deputados da Iniciativa Liberal no

mesmo saco – “… assumidos camuflados fascistas-racistasneoliberais

que entraram na Assembleia da República”,

percebe que está a criar as condições para que o tema

seja falado nos seus termos.

E quando na mesma publicação avisa que “a luta contra

o racismo e o fascismo não se fará no Parlamento”, mas

terá de ser travada “uma luta sem quartel, custe o que

custar”, está a incentivar à violência e à agressividade na

rua.

3.

Nas caixas de comentários sou atacado por gente de

extrema-direita.

E hoje serei certamente atacado por gente que se assume

de esquerda.

Dirão que sou de uma esquerda fofinha.

Dirão também que sou cobarde, traidor, burguês/vendido

ou filho da puta.

Mas ouvir Mamadou Ba dizer o que diz.

E ouvi-lo dizer da forma brutal e agressiva como o diz,

apenas afasta antirracistas de um combate que é hoje

mais urgente do que nunca.

O combate contra o radicalismo populista não se faz

com ameaças físicas ou estratégias parecidas com as

estratégias fascistas.

O combate por uma sociedade mais justa e tolerante não

se faz com discursos de ódio que apenas despertam mais

intolerância e mais racismo.

O combate por uma ideia de justiça, quando se acredita na

democracia, faz-se com ideias, com força programática,

com a capacidade de isolar os discursos de ressentimento

e de ódio.

Sou de esquerda, mas Mamadou Ba não é da minha

esquerda.

40 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

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CRÓNICA - Abraços de Palavras

Por Terras de Portugal

Graça Foles Amiguinho

tória para as raparigas.

Devido a isso, o meu Pai fez a quarta

classe, mas a minha Mãe ficou apenas

com a segunda classe. Muitas

pessoas da minha Aldeia, da idade

da minha Mãe e do meu Pai, nascidos

em1920, nunca puseram os pés

na escola, nem aprenderam, sequer,

a escrever o seu nome.

Igual estado de iliteracia era o dos

meus avós e tios, assim como o de

muitas famílias pobres de Portugal.

Eu tirei um curso, porque consegui

obter uma Bolsa de estudo da Fundação

Calouste Gulbenkian. Mas,

muitos rapazes e raparigas, muito

inteligentes, ficaram pelo caminho,

porque as famílias, pobres, precisavam

do dinheiro do seu trabalho para

sobreviverem

Na década de 50 e 60 do século passado,

a emigração foi a solução encontrada

por muitos portugueses,

atravessando oceanos, serras e vales,

para encontrarem o pão de cada dia.

Muito sofreram nessa aventura para

alcançarem uma vida melhor, que o

seu Portugal lhes negava!

Antes do 25 de Abril de 1974, na

maioria das escolas e nos liceus, as

turmas não eram mistas.

Antes do 25 de Abril, as mulheres não

tinham direitos iguais aos homens!

Para certos actos sociais, necessitavam

de autorização dos maridos.

Eu, como professora, quando me

casei, em 1969, tive que pedir autorização

ao Ministério da Educação e

o meu futuro esposo teve que apresentar

um atestado de bom comportamento

moral e cívico e o recibo de

ordenado, que tinha que ser igual ou

superior ao meu. Imagine-se o drama,

se não correspondesse às exigências

de Salazar!

As associações de estudantes eram

interditas e, quando algum estudante

fosse preso era obrigado a cumprir

serviço militar e ser integrado nos

contingentes de tropas que iam para

a Guerra Colonial. Muitos tiveram que

desertar. Só regressaram, após a Revolução

dos Cravos!

Os jovens de hoje poderão perguntar

aos seus avós, se os seus bisavós

tinham um salário mínimo ou se,

quando chegavam à velhice, tinham

direito a uma reforma!

Muitos poderão ainda confirmar quais

as profissões que os seus antepassados

tinham que abraçar e ficarão a

saber que em crianças, descalços e

matando a fome com um pedaço de

“pão seco”, tinham que trabalhar nos

campos ou em casas de senhores ricos,

porque, no Alentejo, nem trabalho

fabril havia.

Podem perguntar, quantos automóveis

havia nas nossas aldeias, quem os

Opinião

poderia, alguma vez, sonhar comprar!

Talvez fosse bom recordar como eram

as nossas casas, sem água canalizada,

sem esgotos, sem luz, com um quarto

e uma cama, sabe Deus, para quantas

pessoas, sem quarto de banho, sem

um sofá, sem bons colchões para

dormir, pois muitos dormiam em colchões

cheios de palha dura.

E por que é bom recordar o que foi a

vida, no passado, antes do 25 de Abril

de 1974?

Para a podermos comparar com todas

as regalias que hoje temos, com

os Direitos que nos são garantidos,

com as condições de vida que tanto

mudaram e melhoraram, que só um

governo, em Democracia, nos pode

garantir.

Esse Partido Político, que está seduzindo

muitos portugueses, quer precisamente,

voltar ao passado, roubar

todas as conquistas que hoje são o

garante de estabilidade e respeito pelos

Direitos Fundamentais de Liberdade,

Justiça e Igualdade.

É preciso acordar e não beber desse

veneno que querem oferecer aos incautos,

aos insatisfeitos e inocentes,

porque os há, nessa fileira, onde o

fascismo não está morto e precisa de

sangue novo para tomar vigor.

Fascismo, nunca mais!

Numa primavera antecipada, com

todas as bermas das nossas estradas

enfeitadas com o lindo amarelo

das mimosas, o Parlamento da Assembleia

da República mudou de

colorido.

O rosa do Partido Socialista predomina,

porque o Povo Português lhe deu

uma “maioria absoluta” e o poder para

governar o País durante os próximos 4

anos, haja o que houver, confiando na

governação dirigida por António Costa,

durante este período tão conturbado,

que o mundo atravessa.

Para tristeza de alguns, um partido que

foi co-fundador da Democracia, embora

sendo apoiado por uma Direita que

se designa de Democrata- Cristã, cujo

fundador foi Diogo Freitas do Amaral,

juntamente com outros liberais, desaparece

das cadeiras da Assembleia, ao

fim de 46 anos, por não ter conseguido

eleger qualquer deputado, votos perdidos,

certamente, a favor de uma Extrema-Direita

Anti – Democrática, que

ocupou o seu lugar na cena Política

Portuguesa.

A segunda maior força política do País,

partido fundado por Sá Carneiro, surge

enfraquecido, perdendo deputados e

dando de “mão beijada” parte dos seus

eleitores, também, a esse partido de

Extrema- Direita, que é uma verdadeira

ameaça à Democracia e cujo nome,

sinto, sinceramente, repugnância de

pronunciar.

A sua sigla é de tal forma estranha,

CHEGA, que não sei dizer o que significa,

mas os seus predicados são bem

esclarecedores. É um partido político

“populista, de direita radical, nacionalista,

conservador e economicamente

liberal”.

O seu assustador crescimento vem, em

grande parte, do Distrito a que pertenço,

Portalegre, e isso deixa-me deveras,

admirada e preocupada.

Conceder poder a quem tem ideias

que não se coadunam com os Ideais

Democráticos é o mesmo que procurar

“lenha para se queimar”!

Muitos estudos serão feitos para uma

análise mais profunda, sobre quem são

os eleitores desse partido, que cresceu

a olhos vistos, e hoje é a terceira força

política do País.

Ao saber que na Aldeia onde nasci, a

linda Santa Eulália, no concelho de

Elvas, esse partido foi a segunda força

política mais votada, fiquei, verdadeiramente

estupefacta, e na minha

mente surgem contradições tão grandes,

que gostaria de conseguir entender.

As pessoas da minha geração não podem

ter esquecido o que foi a vida do

nosso povo, nos anos de Fascismo e

essas são ainda o baluarte que dá ao

Partido Socialista, a maioria, mas não

souberam passar o seu testemunho de

vida aos seus descendentes.

Quem são, então os apoiantes de um

Partido de Extrema Direita?

Os seus filhos, os seus netos?

Uma geração nascida, após o 25 de

abril de 1974, e que não se apercebeu

do que fora a vida dos seus pais e dos

seus avós, que “comeram o pão que o

diabo amassou”?!

A distância não me permite uma intervenção

direta e mais viva, mas usando

os meios que tenho ao meu dispôr, farei

uma reflexão sobre o que foi esquecido

e hoje, nada significa para os mais

novos.

De norte a sul de Portugal, antes do

Dia Glorioso que nos restituiu a liberdade,

o panorama era este:

Após a instauração da Ditadura do Estado

Novo, em 1926, no tempo em que

os meus pais frequentaram a escola

primária, a escolaridade obrigatória

baixou de quatro para três anos e, durante

um tempo, deixou de ser obriga-

42 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

43



Humor - ”Quem não sabe rir, não sabe viver” Passatempo

Entre amigos: - Vai ali um homem

que tem feito imenso para levantar

o povo. - É algum revolucionário

ou agitador? - Não, é fabricante de

despertadores!

- A minha mulher fugiu com o meu

melhor amigo. Diz o outro: - Com

quem? - Sei lá. Só sei que agora é o

meu melhor amigo.

Está um rapaz em casa da namorada.

Pergunta-lhe então a mãe da

namorada: - O senhor está com frio?

- Não, porquê? - É que o senhor está

com pele de galinha! - Ora essa! A

senhora também tem cara de vaca

e eu nunca lhe disse nada!

Estágio da selecção, os jornalistas

estavam a fazer uma reportagem

sobre os tempos livres dos jogadores.

Chegou a vez do nosso querido

J. Pinto. Quando lhe perguntaram o

que ele costumava fazer nos tempos

livres do estágio, ele “inteligentemente”

diz: “Costumo fazer (isto),

(aquilo), (aqueloutro), ver TV, ler...”.

Vai daí, o jornalista pergunta-lhe:...

então e o que costuma ler?... Jornais?

J.P. - Sim. Jornalista - E livros,

não lê?... J.P. - Sim... CLARO! Por acaso,

ando a ler agora um, que até

tenho em cima da mesinha de cabeceira...

Jornalista - Ah sim, então

e qual é o titulo do livro? J.P. - (um

pouco embaraçado) Hum... Hum...

Não me lembro...

Ouve-se no estádio, algum público

a gritar: “Ó Pinto da Costa, vai pró

ca._.”. Diz Gabriel Alves, no mesmo

instante: “O público entusiasmado...

a apoiar as duas equipas...”

Há um canibal que apanha um

avião. Durante o voo, vem a hospedeira

e pergunta-lhe: - O senhor deseja

a ementa? - Não, traga-me antes

a lista dos passageiros!

Uma cigana chega ao registo civil

para registar a sua filha. Pergunta-

-lhe a empregada: - Então qual é o

nome que vai dar à sua filha? - Cravo

Biciclete! - O quê?! Isso lá é nome

que se dê a uma criança? - Então?! Vocês

têm uma Rosa Mota, nós também

podemos ter uma Cravo Biciclete!...

Uma mulher vai ao médico... -Senhor

Dr., tenho um grave problema: tenho

um seio maior que o outro! -Então dispa-se

lá. E a mulher cumpre a ordem. E

de repente desenrola-se um dos seios

pelo consultório fora! -É realmente estranho!

A senhora é casada? -Sou sim.

-Há algum hábito que o seu marido tenha,

assim mais....estranho? -Bom, ele

gosta de dormir com a mão no meu

seio. -Mas isso também eu faço com a

minha mulher! -Pois é, mas tente dormir

em quartos separados!

Um homem vai ao psiquiatra: - Qual é

o seu problema? - Perguntou o doutor.

- Bem... é que eu tive uma discussão

com a minha sogra e ela disse-me que

não falaria comigo durante um mês. E

o psiquiatra: - Para muitos, isso não é

problema. Muito pelo contrário... - Só

que para mim é um grande problema!

- Mas porquê? - Quis saber o psiquiatra.

- É que o prazo termina hoje!

Água? Nem vê-la!

Paulo Marques

Na Europa cristã a água era mal-afamada.

Evitava-se o banho porque

dava prazer, era um ato de luxúria

que incitava ao pecado.

Nos tribunais da Santa Inquisição, banhar-se

com frequência era sinal de

heresia de Maomé. Nos seus registos

era comum a frase: «o acusado era conhecido

por tomar banho».

O asseio do corpo era visto com suspeita

e tomar banho era uma prova de

abjuração para judeus e muçulmanos.

Para o Santo Ofício as pessoas limpas

não tinham de se lavar. Monges, eremitas

e santos viviam em «estado de

não ter sido banhado».

Assim era para a religião, assim era

para a ciência: os médicos juravam a

pés juntos que a água provocava a dilatação

dos poros da pele, por onde

a saúde escaparia e o mal penetraria,

nomeadamente a peste negra e a

bubónica, males terrivelmente mortais.

À vista disso, era raríssimo tomar-se

banho. Nas famílias pobres, quando

acontecia, em ocasiões muito especiais,

talvez na Páscoa ou no Natal,

a mesma água servia para banhar a

família inteira: primeiro os homens,

depois as mulheres e por último as

CULTURA

crianças. Nem aristocratas nem família

real escapavam à imundície. Mudavam

de roupa, punham perfume,

porém não se lavavam. Disfarçavam

a falta de higiene, mas não se livravam

dela. Os livros de saúde e civilidade

aconselhavam só a toilette seca,

lavagem das partes visíveis do corpo,

aquelas que o vestuário deixava a descoberto,

rosto e mãos, com um pano

húmido. O branco do colarinho e punhos

converteu-se num código social,

cabendo-lhes sugerir o que não se via.

A roupa branca, limpa como a água,

mas sem os perigos dela.

Passavam-se meses e meses sem se

pôr um pé numa banheira, sem uma

ablução completa. Conta-se que Isabel

I (1451 – 1504), a mui católica rainha

de Castela, se terá banhado duas

vezes na vida: no dia em que nasceu

e no dia anterior ao casamento; que

o elegante Rei Sol, de França, Luís

XIV (1638 – 1715), tomou banho uma

única vez, e por receita médica; que

D. João VI de Portugal (1767 – 1826)

ficou espantadíssimo quando se deu

conta que os índios brasileiros tomavam

banho todos os dias; que quando

a rainha Vitória (1819 – 1901) subiu ao

trono, em 1837, não eram só os seus

súbditos que não tinham local em

casa para tomar banho, o próprio palácio

de Buckingham não o possuía.

Baptista Soares

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45



POESIA

CULTURA

Doce Primavera

EUCLIDES CAVACO

Doce Primavera

Que o tempo fizera

Bela e colorida

P'la sua beleza

É na Natureza

A mais preferida.

Doce Primavera

Tão breve quimera

Como a mocidade

Que após a partida

Deixa bem sentida

Na alma a saudade.

Romântica Primavera

Dos amantes sonhadores

Que perfuma a atmosfera

Ao dar vida e cor às flores.

Primavera que a andorinha

Ao ressurgir anuncia

Com virtude de rainha

É dela simbologia !...

Primavera é melodia

Da vida feita canção

Nos versos duma poesia

De suave inspiração.

Primavera sempre doce

Que a alegria prolifera

Ai que bom se a vida fosse

Uma eterna Primavera !...

Toque de dedos

Carmindo

de Carvalho

Dedos que se tocam

São fios que se ligam

A instantes

Que marcam

Registam e guardam

Quero falar-te

de amor

José Maria Ramada

O melhor de cada momento

Tocado pelo teu encanto.

Olhares são faróis

Bravos heróis

Linhas de luz

Que desbravam

Indicam e guiam

Em caminhos

Em tudo que nos seduz.

E o mundo torna-se mais belo!

30, maio, 2021

O meu mar

revolto

Manuel António

Ai, de mim...

Maria José Praça

Confins de eira com beira

polígonos com vibração

à luz da cor-energia

entre o infinito multiplicado pelas cores do arco-íris

(rotação),

e os aléns de Florbela, trapézio trémulo (à nascença)

de linhas, pontos seguidos (sem fim),

que o fim é tão p’ra cá (aquém),

da nossa mais-que-santa finitude

que, corrente,

vai nos passos indestinados do santinho-do-destino

(palma da mão),sina, cristais, videntes, bruxas e um

tostão para o Sto António

p’ra semear a maresia

da maré-com-corrimão,

seja a circunferência aberta,

p’ra eu entrar no círculo dos murados,

que a linha curva, equidistante do centro,

fechava a rodinha toda mal murada me apanhasse

e eu quero é espigas ao vento e chuvadas resvaladas

do pão que o diabo amassa...

Quero voar,ser ausência,

mesmo em confins de estar sempre

a ver o Sol a nascer e a Estrela d’Alva a olhar

as rimas do meu lugar.

Ou seja, a mesma fechada

p’ra eu ficar em tangente

a gemer como a guitarra

em som veloz, mais que a luz,

que o grito sopra no vento e entra nos vendavais

dos cantos que não se enterram

nos confins dos meus sinais.

Hão-de voar mais além,

jorrando o mar que há em mim

deste manto sem ter xaile;

- memórias de sal com espuma

e rimas d’acordeão

que tecem estrelas e luas, mais bolinhas de sabão

romarias tão de mim,

cobertores de solidão.

Maria José Praça (“Pedras do meu andar “ )

Queria falar-te de amor

Da saudade que me magoa,

Do tormento que me afoga,

E do amargo sabor de não estares aqui

Como dói não saber de ti

Quando me invade a saudade.

Eu queria amor, que soubesses

Talvez seja da idade

Como a vida fica dura,

Quando acordo e estou só

Será isto, loucura?

Esta solidão que me envolve,

Na garganta, magoa-me um nó.

Corrói, seca como pó

Não te ter, mas desejar-te

Nos meus braços o teu corpo,

O teu cabelo e o teu cheiro, sentir.

Saber que não morreria

Nesta saudade vazia,

Sem te acariciar primeiro.

Por isso, aqui sozinho, magoado, sofrido

Confundindo os meus desejos

Entre o sonho e o real,

Sentindo até os teus beijos

Quero… Quero falar-te de amor

Os dias passam, o tormento aumenta

Esquecer-te, não consigo

Apenas o desalento, sentir que te não tenho

Pouco a pouco, esta saudade corrói

O meu amor por ti, dói

Sentir que não te tenho

Sem ti, estou a morrer.

Querer e não te ter…

Fica o amargo sabor, calado, sofrer

Por te querer falar de amor

Olho pela janela e não vejo o mar,

a não ser um oceano sem fim,

colorido pela imensidão de flores.

qual quadro, pintado por vários pintores,

que o conceberam para mim,

para que nele possa navegar!

Pela escotilha do meu navio,

espreito essa imensidão,

vendo nela a vida passar,

nas ondas revoltas do meu mar,

arrastando com ela a paixão,

deixando o meu corpo vazio!

Tal como o mar, a vida tem marés,

tem ventos, tempestades e tormentos,

ilusão, mistério e saudade,

angústia, infortúnio e liberdade,

um sem fim de sentimentos,

que me fazem esquecer quem tu és!

Também eu já não sei quem sou,

nem o que me faz remar contra a corrente,

em sentido ao horizonte sem fim,

que sempre foge de mim,

e me impede se ser gente,

aqui neste barco onde estou!

Vou levantar âncora e vela,

para encontrar o meu caminho,

rumando em direção ao norte,

para tentar encontrar a sorte,

porque me sinto sozinho,

atrás da minha janela!

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Seg. a Sexta. — 08h00 às 20h00

Sábado — 08h00 às 19h00

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Sagitário

Você vai se empenhar para cumprir

metas profissionais: use a

sua criatividade! É bom tomar

cuidado com gente de má-fé.

Talvez se envolva com um colega

do serviço. A união vai melhorar

com o diálogo e diplomacia.

Agarre as oportunidades profissionais,

confiando sempre no

seu talento. Talvez faça as pazes

com pessoa querida. Astral

acolhedor em casa. Na paixão, o

período será radiante, com bons

diálogos e sintonia.

Você poderá ter uma ideia para

lucrar com algo feito em casa:

explore sua criatividade! Talvez

ganhe novas amizades. A sua

popularidade vai bombar na conquista.

Faça planos com seu par

e evite o ciúme.

Touro

Fase agitada no trabalho: você

vai se destacar graças à sua imaginação

e poder de entrosamento.

Chegou a hora de investir forte

nos estudos. Cuidado com o

imprevisto em viagem. Momentos

bons no amor.

Virgem

A sorte estará ao seu lado para

jogos e sorteios. Chegou a hora

de revisar os seus gastos. Aceite

convites para festas e reveja

gente querida. No romance, abra

o seu coração e nada de medir

forças com quem ama!

Capricórnio

Negócio de família deverá render

um bom dinheiro. Aposte

nos estudos para se aperfeiçoar

na sua área. Talvez conheça alguém

disputado no romance. Na

relação afectiva, não faltarão romantismo

e sedução.

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o mundo numa só casa!

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Se pintar o desafio, saberá

contornar com bom humor. Fase

positiva para mudar de casa ou

começar reforma. Existe sintonia

no romance, mas o momento

também será de decisões.

Confie na sua experiência para

concluir tarefas no seu emprego.

Com jogo de cintura, saberá driblar

as tensões com familiares.

A dois, relembrar bons momentos

será prazeroso. Cuidado com

atracção proibida.

Com imaginação afiada, saberá

lucrar. Para melhorar o seu currículo,

que tal encarar um curso?

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poder de sedução estará arrasador.

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arrumar emprego. Notícia de

gente de longe talvez mexa com

a sua rotina. Tudo azul na vida a

dois. No romance, procure compartilhar

afinidades.

Aplique suas boas ideias no seu

serviço e até para facturar um

extra. Tenha cautela com discussões

e mal-entendidos: melhor

não confiar em qualquer um. Sinal

verde para a paixão, mas regule

as cobranças.

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apesar dos desafios. Não confie

em qualquer um. Poderá fazer

contacto com gente que mora

longe. Romance cheio de cumplicidade.

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Faça parte da família.



Lei suíça de sigilo bancário cala

liberdade de expressão

O Credit Suisse tem estado na linha de fogo das reportagens da mídia sobre clientes ricos, mas os denunciantes

e jornalistas também poderiam enfrentar sanções. Ennio Leanza/Keystone

Adaptação: Fernando Hirschy, swissinfo.ch

O Credit Suisse tem estado na linha de fogo das reportagens

da mídia sobre clientes ricos, mas os denunciantes

e jornalistas também poderiam enfrentar sanções.

Ennio Leanza/Keystone

Os jornalistas que publicam dados vazados de clientes

do banco Credit Suisse podem enfrentar até cinco anos

de prisão pela lei suíça. O medo de sanções penais impediu

a mídia suíça de participar da investigação dos

"Suisse Secrets" e levantou questões sobre a liberdade

de expressão na Suíça.

"O fato de que os dados bancários estão sendo vazados na

mídia estrangeira hoje, enquanto há uma proibição de investigação

na Suíça, é um absurdo que deve ser abolido",

escreveu Arthur Rutishauser, editor-chefe do maior grupo

de mídia da Suíça, Tamedia, sediado em Zurique.

Violar a confidencialidade dos clientes tem sido um crime

qualificado para os banqueiros na Suíça desde 1934. Uma

série de vazamentos de dados para a Alemanha e outros

países viu as leis bancárias serem ampliadas em 2015 para

tornar uma infração o uso de tais informações roubadas,

incluindo jornalistas.

Isto colocou a mídia suíça, como o jornal Tages Anzeiger,

em uma situação incômoda quando um denunciante

ofereceu detalhes de clientes do Credit Suisse, incluindo

ditadores e criminosos. Enquanto a mídia de uma variedade

de outros países peneiraram as provas, os jornalistas

suíços decidiram que o custo potencial era alto demais.

"Os jornalistas podem ser processados se publicarem

dados sobre uma pessoa que receberam em violação do

sigilo bancário", disseLink externo a Secretaria de Estado

de Finanças Internacionais ao jornal.

Interesse público versus sigilo bancário

Irene Khan, Relatora Especial da ONU para a promoção

e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão,

disse que apresentará o assunto ao governo suíço. "Acusar

jornalistas por publicar detalhes bancários de interesse

público violaria a lei internacional de direitos humanos",

disse ela.

Vários denunciantes de bancos já foram presos por vazamento

de dados na Suíça. A clássica defesa da mídia de

"interesse público" nunca foi questionada nos tribunais

suíços e o Tages Anzeiger não quis ser o primeiro caso em

potencial.

O jornal britânico The GuardianLink externo, que analisou

os dados, ficou perplexo com um potencial "ataque descarado

à liberdade de expressão, sobretudo em um país

como a Suíça, que está entre os dez principais países do

Índice Mundial de Liberdade de Imprensa".

A organização Repórteres sem Fronteiras, com sede em

Paris, condenou a lei bancária suíça como uma "ameaça

intolerável à liberdade de informação" e pediu às autoridades

suíças que se abstivessem de processar judicialmente

os jornalistas que receberam os dados bancários.

"Desde que as informações reveladas pelo vazamento de

dados bancários sejam verdadeiras e contribuam para

um debate de interesse geral, sua publicação pela mídia

deve ser protegida pela liberdade de imprensa, garantida

tanto pela Constituição Federal Suíça quanto pela

Convenção Europeia sobre Direitos Humanos", declarou

Denis Masmejan, Secretário Geral dos Repórteres sem

Fronteiras Suíça.

Os partidos políticos socialista e verde, de esquerda, pediram

que a lei fosse emendada para evitar que ela amordaçasse

a imprensa.

O Credit Suisse emitiu uma declaração dizendo que o

banco "continuará a analisar os casos e tomará medidas

adicionais se necessário", mas recusou-se a confirmar se

isso poderia incluir queixas penais contra a pessoa que

vazou os dados ou qualquer pessoa que os recebeu.

Rastreamento da evasão fiscal

A ampliação da lei de sigilo bancário em 2015 teve como

objetivo punir terceiros que lucraram com o roubo de informações

bancárias. Isto se seguiu a uma série de vazamentos

que foram vendidos aos estados alemães para

ajudá-los a rastrear as fraudes fiscais.

Um antigo funcionário de tecnologia da informação do

banco privado HSBC em Genebra, Hervè Falciani, também

passou dados confidenciais para as autoridades

francesas. Ele foi condenado a uma pena de cinco anos

de prisão, mas não compareceu ao julgamento e continua

foragido.

Desde julho de 2015, qualquer pessoa ativamente envolvida

na fuga de dados de clientes pode ser punida com

até três anos de prisão, subindo para cinco anos se lucrar

com este empreendimento.

A lei entrou em vigor, apesar de ter sido reconhecido durante

os debates parlamentares que os jornalistas poderiam

ser implicados como criminosos. Nenhum jornalista

foi processado por estes motivos até o momento.

Em 2017, a Suíça começou a trocar automaticamente dados

bancários de clientes com uma série de outros países

para fins fiscais. Mas o sigilo bancário ainda se aplica dentro

da nação alpina, apesar dos esforços para reforçar o

código penal para infratores fiscais no país.

* Autor escreve segundo a variante

Brasileira da Língua Portuguesa

52 Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MARÇO 2022 | www.cldz.eu

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Óbito

Morreu o Padre Mário

Manuel Araújo

O Padre Mário de Oliveira, conhecido

como “Padre Mário da Lixa”, esteve quase

um mês internado devido a um violen-

to acidente de viação. No dia seguinte à

alta da unidade de cuidados intensivos, já

no quarto, fonte do hospital garantiu-nos

que o seu estado era “estável”, com evo-

lução clínica “lenta mas favorável”. No dia

seguinte, depois de uma “recaída”, padre

Mário morreu às 9 horas da manhã!

O padre é conhecido pela sua luta contra

a ditadura, tendo mesmo sido preso pela

PIDE durante o Estado Novo.

Natural da freguesia de Lourosa, Santa

Maria da Feira, viveu em Macieira da Lixa,

foi ordenado sacerdote em 1962, pouco

depois de ter sido enviado como capelão

do exército português para a Guiné-Bis-

sau.

As suas posições públicas contra a guerra

colonial foram mal recebidas pelas estruturas

eclesiásticas da época, mas também

pela PIDE, que o prendeu duas ve-

zes e mais tarde levou-o à justiça, tendo

sido absolvido.

Expulso da Igreja Católica na década de

1970, o Padre Mário desde então dedi-

cou-se ao jornalismo, dirigindo o jornal

“Fraternizar” e escrevendo livros, dos

quais o mais polémico é “Fátima, nun-

ca mais”. Nele, ele tenta desfazer o que

sempre considerou um mito e apresenta

evidências que refutam as aparições de

Fátima.

Os estudos bíblicos dominam a sua obra,

que inclui 52 livros, a maioria dos quais

concentra-se em denunciar o que ele

considera uma completa perversão da

mensagem de Jesus Cristo.

Numa das suas últimas entrevistas, con-

cedida em 2019 à “Notícias Magazine”,

manteve o discurso crítico sobre as estru-

turas eclesiásticas e embora defendendo

que ainda vivemos numa sociedade cleri-

cal, defende que esta influência tem um

limite: “O século XXI é pós-cristão, pós-ca-

tólico e pós-religioso”.

Pode vê-lo aqui nesta entrevista:

https://tinyurl.com/padre-mario-oliveira

Foto da sua página

de Facebook

54

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