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MAIO - DIGITAL

Edição de Maio 2022, do Lusitano de Zurique - DIGITAL

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LUSITANO

de

ZURIQUE

[ MAIO 2022 | Edição Nº. 288 | ANO XXVIII | Director: Armindo Alves | Director-adjunto: Manuel Araújo | Publicação mensal gratuita ]

Filipa

Foto: José Novais

Menina

MORREU

Caso EINSIEDELN

“Não aceitamos, que de

repente e sem pré-aviso,

nos tirem o “tapete”.

Página 4

editorial

Crónica

Espectáculo

Necrologia

Antes do 25 de Abril, “a falta de

virgindade da mulher ao tempo

do casamento” podia ser motivo

de anulação do mesmo.

Pág. 3

MENTIRA: a atracção mortal da

democracia Pág. 10

Festival Compact Records

com bandas de luxo em três

dias de música. Pág. 18

Tonio, Eunice Muñoz e Filipa

Menina.

Pág. 5, 26 e 27


EQUIPA EDITORIAL

Director: Armindo Alves

Jornalista CC15 A

Director-adjunto: Manuel Araújo

Jornalista 3000 A

Email: lusitanozurique@gmail.com

COLABORADORES

Alice Vieira, Aragonez Marques, Carlos Matos Gomes,

Carmindo de Carvalho, Costa Guimarães,

Cristina F. Alves, Daniel Bohren, Euclides Cavaco,

Ivo Margarido, Joana Araújo, Joaquim Galante, Jorge

Macieira, Luís Osório, Manuel Araújo, Maria dos

Santos, Maria José Praça, Nelson Lima, Nelson Mateus,

Paulo Marques, Pedro Nogueira, Rosa Moreira.

EDIÇÃO, COMPOSIÇÃO E PAGINAÇÃO

Joana Araújo

Jornalista CC 11 A

Email: joanaaraujo@protonmail.ch

PUBLICIDADE

Tel.: 079 222 09 14

Email: pub.lusitano@gmail.com

IMPRESSÃO

Diário do Minho - Braga

Tiragem: 3000 exemplares

Periodicidade: Mensal

Distribuição gratuita

ARQUIVO DIGITAL:

https://tinyurl.com/gavetao

NOTA IMPORTANTE:

Os artigos assinados reflectem tão-somente

a opinião dos seus autores e não vinculam

necessariamente a direcção desta revista.

Apoio

LUSITANO

de

ZURIQUE

Por discordância, esta publicação

não adopta, nem respeita as normas

do novo inútil Acordo Ortográfico.

Sábado, 25 de Junho de 2022, 12h, Central Zurique

Manifestação

Nacional da

Construção Civil

Este ano vai ser renegociado o contrato nacional de trabalho (CNT) dos trabalhadores da

construção civil. Os trabalhadores da construção merecem mais protecção para a saúde, dias de

Este

trabalho menos

ano

longos

vai

e o fim

ser

do roubo

renegociado

das horas de trabalho em

o

caso

contrato

de deslocação e

nacional

mau tempo! Contudo, de trabalho em vez disto, a associação (CNT) de dos empreiteiros trabalhadores da construção civil exige a da

semana de trabalho de 50 horas e dumping salarial!

construção civil. Os trabalhadores da construção

Lutemos merecem pelos nossos mais protecção direitos – juntos para a somos saúde, fortes dias !

de trabalho menos longos e o fim do roubo das

horas de trabalho em caso de deslocação e

mau tempo! Contudo, em vez disto, a associação

de empreiteiros da construção civil exige

a semana de trabalho de 50 horas e dumping

salarial!

Lutemos pelos nossos direitos

– juntos somos fortes !

EDITORIAL

Armindo Alves

DEPARTAMENTO DE FUTEBOL

Tel.: 079 222 09 14

Email: armindo.alves@garage-

-mutschellen.ch

RANCHO FOLCLÓRICO

Tel.: 076 369 85 00

Email: rancho@cldz.eu

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PROPRIEDADE

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CENTRO LUSITANO

DE ZURIQUE

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8041 Zurique

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2 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

3

Director

Jornalista CC15 A

Quando eu era criança cresci numa pequena aldeia

rodeado de idosos, os quais, sem grandes estudos, digamos

mesmo, quase sem saberem ler nem escrever,

tinham enormes conhecimentos sobre a vida e sobre

o futuro.

Nesse tempo disseram mesmo que a minha geração,

irá ter muitas regalias, até em excesso, mas, por outro

lado, referiam, que não será sempre assim e que a situação

dos nossos filhos, já não será igual. Os nossos

filhos iriam ter mais obstáculos na vida que a minha

geração.

A “premonição”, infelizmente está a desenhar-se no

horizonte a passos largos, basta olhar a crise mundial

provocada por pandemias sem-fim e agora esta guerra

que tende de alastrar na Europa e quem sabe no

Mundo.

Nestes últimos anos, a Pandemia gerou uma reviravolta

nos nossos usos e costumes, que causou imensos

danos, alguns dos quais são perfeitamente visíveis.

Desde o passado dia 2 de Maio a Suíça decidiu ignorar

o Covid-19, voltando dessa forma as nossas vidas quase

na totalidade ao normal.

Somos apenas peças pequeninas

de um xadrez Mundial

Vamos ter que nos habituar a este mundo medonho,

mercantilista, controverso e cheio de incertezas.

Não acredito que o Covid já está definitivamente vencido,

porque estaria a mentir. Basta ver as notícias

preocupantes vindas principalmente da China, onde o

aumento das infecções é alarmante, estando já várias

restrições activas, inclusive a quarentena para prevenir

o surto da doença.

E nós, cá na Europa, somos também notícia pela pior

das razões. Fomos manchete em alguns meios de comunicação

Social que “Portugal e Espanha são os

únicos países da UE onde a Covid-19 aumenta entre

idosos”.

Por outro lado, a Organização Mundial de Saúde recomenda

“fortemente” o uso dde mais um medicamento,

um comprimido anti-covid desenvolvido pela farmacêutica

Pfizer para “pacientes com sintomas leves

ou moderados” da infecção pelo SARS-CoV-2, mas “em

risco de hospitalização”.

Muito mais gostaria de falar sobre o que penso sobre

as farmacêuticas, mas fico por aqui, afirmando apenas

que isto não vai acabar. Vamos ter que nos habituar

a este mundo medonho, mercantilista, controverso e

cheio de incertezas.

Porque somos apenas peças pequeninas de um xadrez

Mundial, resta-nos viver em paz um dia de cada vez,

respeitar o próximo e sobretudo, tentar ser feliz!



Não aceitamos que de repente

sem pré-aviso, nos tirem o“tapete”.

Armindo Alves

Nestes últimos dias nas redes sociais foi noticiado que uma das maiores peregrinações

da Suíça terminará ao fim de três décadas de culto.

Mosteiro de

Einsiedeln

A razão invocada para acabar com esta magnífica e única tradição, seria a segurança.

Após várias décadas, as autoridades alegam que o Santuário só tem

capacidade para 1500 pessoas e que neste dia, as pessoas excedem os 4000 peregrinos

no seu interior e cerca de 30 000 no exterior!

Compreende-se que para o país de acolhimento é uma preocupação ver tanto

peregrino pacífico junto!

Já tinha conhecimento desta decisão, mas sempre pensei, que o nosso banimento

do local, fosse temporário, apenas este ano. Todos pensamos que para o

próximo ano podíamos dar continuação à linda “peregrinação dos portugueses”!

No meu ponto de vista o Sr. Padre Lorenz Moser, deveria pensar numa solução

mais favorável à comunidade e evitar extremismos e não nos "cortar as pernas".

Sabemos que a segurança está primeiro e estas normas já existiam. Se querem

cumprir o evento a rigor, acho muito bem, mas devem dar-nos outras possibilidades

de organizar uma peregrinação neste local especial, direi mesmo, que

quando entramos neste recinto "protegidos" estamos como em Fátima, com

Deus, pois junto dEle não há nacionalidades nem fronteiras!

Tenho a certeza que se houver boa-vontade, não faltarão ideias para se realizar

este evento, ou, por exemplo, uma missa campal e muito mais. Basta que para

isso nos dêem tempo para nos organizarmos. Conheço bem o povo português e

tenho a certeza que ideias não faltarão agora e fique claro, não aceitamos que

de repente, sem pré-aviso, nos tirem o “tapete”.

Caríssima comunidade, mais que nunca temos que nos unir e lutar pelos nossos

objectivos. Aguardaremos mais algum tempo, pois, sei também, que os responsáveis

já tomaram algumas decisões e as negociações continuam...



Motores

Exposição

José Salgueiredo expõe no

Centro Lusitano de Zurique

O que será o futuro dos

automóveis?

José Salgueiredo, artesão, natural de

Aveiro e a residir na Suiça, no dia 22 de

Maio, irá expor alguns dos seus trabalhos

no Restaurante do CLZ.

Armindo Alves

Hoje em dia a tecnologia avança a uma

velocidade fulminante, e a área automóvel

não é excepção. Todos os anos

vemos modelos novos, ouvimos falar de

funcionalidades antes impensáveis e somos

levados pela curiosidade a especular

sobre os carros do futuro A situação

actual tem travado um pouco o fornecimento

dos novos modelos, a indústria

Automóvel está bastante parada, digamos,

que a produção está limitada. A

globalização é um dos problemas, pois

estar dependente dos outros têm algumas

desvantagens!

Como estou sempre a especular, pergunto?

O que será o mundo automóvel

daqui a uma ou duas épocas? Condução

autónoma? Comunicação entre carros?

Será que só vão existir só carros eléctricos?

Duvido!

Quer saber mais sobre as previsão para

os carros do futuro, embarque nesta viagem

e aperte o cinto de segurança.

O que nos espera?

Sabemos que estão para chegar; só não

sabemos exactamente quando e como.

Uma coisa é certa, tendo em conta a velocidade

a que temos assistido na evolução

tecnológica, em geral, e do ramo

automóvel em particular, estas são algumas

características das quais já vemos

desenhadas e que se vão tornar cada

vez mais reais e presentes ao longo dos

próximos anos . Só nos resta esperar o

que nos espera! Só nos resta esperar que

a situação acalme e esperar pelas novidades,

Condução autónoma

Um carro conduzir sem condutor é o

sonho de muitas pessoas. A condução

autónoma será uma evolução do futuro,

claro que tudo depende dos automóveis

assim como das estradas. Uma coisa

posso garantir os novos automóveis já

estão preparados. A interacção entre os

condutores e os carros do futuro é um

dos tópicos mais interessantes da evolução

que se prevê para os próximos anos.

De momento os carros lançados actualmente

já estão equipados com componentes

capazes de correr diagnósticos

do veículo, no futuro prevê-se que estes

computadores consigam controlar os

veículos.

Aluadamente os veículos já estão equipados

de vários assistentes, o cruise-

-control, o estacionamento automático

ou a travagem de emergência, falamos

de veículos autónomos, capazes de fazer

uma viagem do início ao fim, teoricamente

no futuro a carta de condução

não será necessária. Podemos mesmo

dizer que pode fazer uma viagem a dormir

ou até com a presença de álcool no

sangue, seria uma inovação muito útil?

Novas Tecnologias

As modernices já invadiram as estradas:

cada vez mais os carros vêm equipados

com acesso a aplicações que permitem

navegar, ouvir música e fazer pesquisa

por voz, entre outras funcionalidades.

Nos próximos anos prevê-se uma evolução

desta forma de comunicação.

Para tudo isto funcionar, nem tudo depende

dos Automóveis, como também

os semáforos e a sinalização rodoviária

vão poder comunicar entre si para

melhorar a gestão do tráfego. As novas

tecnologias trarão muitas vantagens,

poupar energia, prevenir acidentes a

ajudar as autoridades a manter a organização

e a garantir a segurança do condutor,

dos passageiros e de todos ao seu

redor - dentro ou fora do carro.

Carros Eléctricos

Em breve o número de carros eléctricos

em circulação continuara a aumentar e

tudo indica que esta será a energia rodoviária

predominante. Já há vários os

países que anunciaram a proibição de

venda de carros a combustível ou diesel

durante a próxima década, e tudo indica

também que esta tendência se alastre,

principalmente nos países desenvolvidos.

Um futuro mais ecológico está cada vez

mais presente, uma meta para os carros

do futuro é a mesma da própria sociedade:

diminuir a poluição e conseguir mais

qualidade de vida e segurança.

Por estes motivos, nos próximos anos

assistiremos ao lançamento de cada

vez mais modelos de carros futuristas,

que funcionam com energias limpas. Os

postos de abastecimento de combustível

não vão desaparecer subitamente,

mas vamos começar a ver cada vez mais

dispositivos de recarga eléctrica para

automóveis.

Menos mecânica

Como podem constatar temos uma

evolução nos interiores dos carros eléctricos,

esta evolução continuará evoluir

tanto nos interiores como nos exteriores.

A revolução dos motores eléctricos

permitirá que os veículos sejam mais

compactos, favorecendo um design minimalista.

Vários mecanismos deixarão de ser necessários

por ex. O de arrefecimento do

motor de combustão, assim como os

espelhos laterais, que serão substituídos

por câmaras e sensores. Cada vez mais,

os vários componentes dos carros futuristas

vão ser desenhados com o objectivo

da multi-funcionalidade: janelas com

um controlo flexível da luz que entra no

veículo, ecrãs versáteis que favorecem o

entretenimento ou o trabalho, e espaços

que se transformam para acomodar as

necessidades dos passageiros.

Ficou curioso com os carros do futuro?

Quais as características que mais o entusiasmam?

Imagina-se deixar-se conduzir

por um veículo autónomo? São

questões que nos deixam a pensar. Cada

vez mais o futuro é incerto, mesmo no

mundo automóvel, por isso, só nos resta

esperar e ver acontecer.

O Tonio morreu

Lamentamos muito a perda

inesperada de um amigo

cheio de vida, sempre

com muito humor e alegria.

Amigo do amigo e

com um enorme coração.

Ficamos muito tristes, pensativos

e sem palavras ao

conhecer esta notícia chocante.

Aos inúmeros amigos

e em especial a toda

a familia, enviamos as

mais profundas condolências.

Descansa em Paz

grande amigo!

Vamos todos sentir a

tua falta Tonio.

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7

D.R.



Desporto

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Desporto

A um passo da final

Joge Macieira

A equipa dos veteranos +30, do Centro

Lusitano confirmou a passagens

às meias de final da med&motion Regional

Cup Senioren 30+, após vencer

em casa do Team Herrliberg-Küsnacht

nos penáltis por 5 – 6 depois do

empate a uma bola nos 80 minutos.

A equipa lusitana entrou a perder

logo aos 4' minutos de jogo, com o

Bispo aos 43' minutos de jogo com o

resultado a não ter alteração até ao

final do jogo, indo assim directo para

a decisão em penáltis.

No sorteio da taça para as meias de

final, o Centro Lusitano de Zurique

vai visitar no FC Wald no dia 31 de

Maio, a equipa que eliminou FC Wädenswil

por 4 bolas a uma, o outro jogo

da meia de final FC Red Star ZH contra

FC Wettswil-Bonstetten

A final da taça está marcada para dia

24 de Junho nos campos de Kloten,

local já habitual das finais das taças

regionais dos vários escalões.

82.ª edição do Torneio

Passo a passo, rumo à subida

Blues Stars FIFA

Joge Macieira

Está de volta após três anos sem se realizar o torneio

Blue Stars/FIFA Youth Cup, tendo este a 82.° torneio, a

organização dividida entre a equipa e a FIFA, como habitualmente

nos campos de Buchlern.

O FC Blues Stars fundado em 1989 criou o torneio no ano

de 1939 e em 1991 a FIFA juntou-se à organização e deu

ainda mais notoriedade a este torneio.

Conta no total com 16 equipas de juniores até aos 20

anos, 8 masculinas e 8 femininas divididas em dois grupos.

As equipas femininas são 4 equipas suíças; Grasshopper

Club Zürich, FC Zürich, BSC YB Frauen, FC Basel 1893,

juntamente com Valencia CF(Espanha), Olympique Lyonnais(França)

FC Rosengård(Suécia) VfL Wolfsburg(Alemanha).

As equipas masculinas que vão participar no torneio

são a equipa organizadora, FC Blue Stars Zürich, com

3 representantes suíços, o FC Basel 1893, Grasshopper

Club Zürich e FC Zürich, conta também com FK Austria

Wien(Austria) CF Valencia (Espanha) 1. FSV Mainz 05

(Alemanha) e novamente uma equipa portuguesa, o SL

Benfica.

O representante português venceu a competição em

1996, depois disso ocuparam o pódio 2 vezes em 2° lugar

e 3 vezes no 3° lugar da competição.

Joge Macieira

A equipa da 4 ª Liga visitou a casa

do último classificado o NK Hajduk

ZH no passado dia 20 de Abril no

jogo de atraso da primeira jornada da

segunda volta, conseguindo uma vitória

por duas bolas a zero.

O jogo de atraso deveu-se às más

condições meteorológicas sentidas

em Zurique no fim-de-semana de 3

de Abril com grande nevão que caiu.

A vitória da equipa Lusitana num jogo

bastante renhido e físico começou a

construir já na segunda parte com o

goleador de serviço sendo o médio

criativo Cristiano que bisou no jogo

e dando os três pontos importantes

para o objectivo da época.

Igualando o número de jogos do segundo

classificado, o FC Turkuaz ZH o

Centro aumentou a vantagem para 11

pontos uma vantagem bastante considerável

na luta pela subida à 3ªLiga

um regresso esperado após três

épocas na 4ª Liga.

Ao momento do fecho da revista(24/4)

com menos um jogo devido à equipa

do Hellas não poder jogar devido a

motivos religiosos deles, o Centro Lusitano

mantém.se isolado no primeiro

lugar no campeonato

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Carlos Esperança

A eleição do/a PR em França assume enorme importância. O

regime semipresidencial, onde o PR tem competências próprias,

nomeadamente a responsabilidade exclusiva da política externa,

faz do/a eleito/a responsável pela arquitetura da União Europeia.

Hoje, em França, esteve em jogo o futuro da UE. Sem a França

ou a Alemanha, sem um destes países, este espaço em que me

revejo, desintegrar-se-ia. Seria trágico, quando se torna urgente

o seu aprofundamento, que os nacionalismos voltassem e as

fronteiras de cada país ficassem de novo em risco.

Espanha, Itália e Bélgica podiam ser os primeiros países a desintegrar-se

e, com eles, a arquitetura europeia e a força necessária

para exigir aos estados que a compõem respeito pelos direitos

humanos e pelas regras democráticas.

Hoje, em França, a Espada de Dâmocles, posta à prova pelo voto,

esteve suspensa sobre a cabeça das democracias.

Há um alívio nos resultados. A maioria votou na democracia,

mas é perturbador que a escolha se tivesse reduzido à direita e à

extrema-direita. Era como se em Portugal, para sermos governados,

tivéssemos de escolher entre o líder do PSD e o do partido

fascista. E que brutal foi a percentagem de votos contra a democracia!

Mais de 40% segundo as sondagens â boca das urnas.

O alívio que ora sinto é a preocupação que me atormentará no

futuro. As democracias estão em risco e o êxito económico de

algumas ditaduras podem conduzir o Planeta a uma nova vaga

de regimes autoritários.

É tempo de reflexão para os que se tornam indiferentes a opções

que não sejam as suas, capazes de se absterem ou de se

vingarem, e votarem em quem, quanto pior for, melhor, com a

esperança de futuros radiosos.

Com um nó na garganta,

Viva Macron!

E de pé,

Viva a França!

Resultado:

Emmanuel Macron: 58,8%

Marine Le Pen: 41,2%

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A minha pessoa de contacto na GC24 em português

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email: geneve@cgd.pt

AVISO LEGAL: A CONCESSÃO DE CRÉDITO É PROIBIDA CASO CONDUZA A UM ENDIVIDAMENTO EXCESSIVO

(ART.º 3.º DA UWG (LEI RELATIVA À CONCORRÊNCIA DESLEAL)).

UM PRÉ-REQUISITO PARA A CONCESSÃO DE CRÉDITO É UMA VERIFICAÇÃO DE CRÉDITO BEM SUCEDIDA.

A Caixa Geral de Depósitos, S.A. é autorizada pelo Banco de Portugal.

10 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

11



CRÓNICA

Eric Zemmour teve a complacência

de uma estação de televisão — a

CNews — que o candidato de extrema

direita começou a ter a auréola

de grande conhecedor da História de

França, apesar de apenas ter estudado

Ciência Política. Durante dois anos,

Zemmour pôde dizer o que queria

através desta televisão, durante uma

hora em horário nobre. Fez-se passar

por estudioso da literatura francesa,

invocando Victor Hugo e Napoleão,

para atacar imigrantes, muçulmanos,

feministas, a esquerda, a Justiça

e a classe política. Os olhos dele brilhavam

quando aludia à grandeza passada de

França para ter o direito de fazer julgamentos

sobre o presente.

MENTIRA:

a atracção mortal

da democracia

COSTA GUIMARÃES (*)

Pilatos diante de Jesus:

«Que é a verdade?»

João 18,38

As recentes eleições presidenciais

em França demonstraram, de forma

sustentada, que a mentira se está a

transformar numa atracção mortal

da política em democracia. Trata-

-se de um fenómeno que alastra um

pouco por toda a Europa, depois de

ter vingado nos Estados Unidos sob

a governação de Donald Trump que

encontra nas Redes sociais o terreno

fértil para medrar.

A invasão da Ucrânia pela Federação

Russa não escapa, mas as guerras

sempre mataram a verdade no primeiro

dia. A mentira chegou ao ponto

de ciar uma capa falsa para a revista

Time, a qual associa Putin a Hitler,

para denunciar a guerra na Ucrânia.

Era apenas uma montagem feita por

um designer gráfico na rede Twitter,

mas correu o mundo como sendo verdadeira.

Em França, nos últimos seis meses, as

atenções centraram-se num político

que faz da política um caminho demolidor.

Ouvir Éric Zemmour é aprender a ter

medo, ao ponto dos opositores políticos

perderem a serenidade nas resposta

e esse não é o caminho.

Eric Zemmour só encontrou quem lhe

fizesse frente quando 16 historiadores

decidiram responder-lhe através da

ciência histórica, com o folheto “Zemmour

contra a História”, de 64 páginas,

lançado no começo de Fevereiro, através

da Editora Gallimard.

Com este folheto — de grande sucesso

editorial, diga-se — os historiadores

demonstraram “por A + B” como Zemmour

distorce as fontes, as provas documentais

e a pesquisa histórica, para

ancorar a sua ideologia política de

direita em raízes alegadamente centenárias.

“Ele mente sobre o passado para fazer

com que as pessoas adoeiem mais o

presente” — afirma-se no prólogo de

“Zemmour contra a História”.

O Folheto assegura-nos também que

a Ciência se cansou de assistir, calada,

como grande parte da comunicação

social onde as redacções vão sendo

esvaziadas de memória, às tentativas

de Eric Semmour de reescrever a história

de França.

Já há uns oito anos, o candidato que

se colocou mais à Direita que Marine

Le Pen, afirmara que o Regime de

Philipe Pétain tinha salvado os judeus

franceses durante a II Guerra Mundial

(em troca de judeus refugiados para a

Alemanha). É mais grave porque, em

2014, Eric apresentava-se como jornalista

mas hoje ele é candidato presidencial

e as suas mentiras não mudaram,

mantendo-as com a mesma

sobranceria.

Em Setembro passado, recorda o Suddeutsche

Zeitung, de Munique, Zemmour

voltou a lembrar: “Vichy protegeu

os judeus franceses e entregou

os estrangeiros”. Ora isto é uma velha

rábula apenas para absolver a França

da sua responsabilidade no genocídio

dos judeus, mesmo depois de Jacques

Chirac a ter reconhecido.

Ele pretendeu re-escrever a narrativa através de

uma visão inspirada em Pétain, para libertar o

Marechal colaboracionista das suas responsabilidades.

Tentou reabilitar o Regime (de Pétain) que promoveu

a deportação de 36 mil judeus entre

Julho e Novembro de 1942 para fundamentar

a sua proposta de deportar dois milhões de estrangeiros

que hoje vivem em França.

Apenas pretende normalizar a violência do passado

para justificar a violência de hoje, seguindo

este raciocínio: “Pétain protegeu aqueles judeus

que estavam integrados na comunidade

francesa. Assim. Eric Zemmour só atacará os

estrangeiros que se recusem a assimilar a realidade

social, cultural e política francesa” (cf. Suddeutsche

Zeitung).

Os historiadores não deixaram. A brochura

“Zemmour contra a História” começa no longínquo

século V. “Não. Clóvis não foi atirado

para o caixote do lixo da História pelos historiadores.

Não, a primeira cruzada, no século

XI, não resultou numa vitória francesa e o

massacre de S. Bartolomeu, em 1572, não foi

uma reacção católica legítima ao fundamentalismo

protestante (Huguenote)” e “não foi

por culpa das vítimas que o exército francês

recorreu à tortura de civis na Argélia”.

O director da estratégia digital de Zemmour

limitou-se a dizer, perante estes factos: “não

tenho a certeza de que estes historiadores

sejam muito escutados pelos franceses”.

OUTROS ZEMOUR's

A invasão da Ucrânia pela Federação Russa

está a demonstrar que — depois da política — a

verdade é sempre a primeira vítima. Estamos a

olhar para um palco onde os combates da propaganda

têm sido tão intensos quanto os que

ocorrem nos campos de batalha.

Trata-se de uma guerra justificada, como outras,

por razões históricas — re-escrita pelos líderes

nacionalistas a seu bel-prazer. O revisionismo

histórico e a censura regressaram com

o mesmo estrondo destruidor dos mísseis de

longo alcance.

Ao longo de dois meses vimos imensos casos

de desinformação e de manipulação dos meios

de comunicação social. Aparecem oportunistas

a tentar passar vídeos históricos e até jogos de

vídeo como se fossem imagens desta guerra

em curso, mas também é verdade que as falsificações

digitais estão a ser desmascaradas

em tempo real num trabalho incansável de um

batalhão de investigadores profissionais quer

nas redacções quer em organizações de voluntários.

12 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

13



CRÓNICA

No entanto, observa Eliot Higgins,

do site Belingcat, “houve momentos

em que parecia que a guerra da informação

seria ganha, pela primeira

vez, pelos combatentes da desinformação.

Este site começou a sua atenção

na Rússia e na Ucrânia, desde 2014,

quando começaram a investigar a

queda, no Leste deste país, em Donetsk,

de um avião da Malaysia Airlines.

Este avião que partir de Amsterdão

para Kuala Lumpur, foi abatido por

um míssil da 53.ª Brigada Antiaérea

do Exército Russo, em Kursk, a 400

quilómetros da fronteira com a Ucrânia.

O ataque matou 283 passageiros

e 15 tripulantes.

Foi uma surpresa ter-se descoberto

que o aparelho de propaganda e influência

militar da Rússia não era tão

sofisticado como se pensava. A prova

está na primeira tentativa de retratar

a Ucrânia como uma nação de

neonazis que “não passou de uma

preguiçosa reciclagem de material

obsoleto” — observa Eliot Higgins.

Há depois outra face da mentira: a

guerra de informação que a Rússia

está a travar contra os seus cidadãos

que se mostra difícil de avaliar com

rigor.

A invasão russa e as imagens angustiantes

de destruição de cidades

ucranianas criaram uma crise global

e um consenso moral que não é habitual

na era da Internet. Esta parece

ser já a primeira derrota da ofensiva

de Wladimir Putin.

NEONAZIS? TALVEZ

EM MOSCOVO

Os historiadores militares dizem que

Putin está a seguir a malfadada cartilha

de Hitler em pelo menos três

áreas. E isso é estarrecedor: afinal

não é Kiev que está pejada de neo-

-nazis.

O presidente russo, Vladimir Putin,

evoca muitas vezes a derrota épica

que a União Soviética impôs à

Alemanha nazi durante a Segunda

Guerra Mundial para justificar a invasão

da Ucrânia pelo seu país. No

entanto, segundo explicam académicos

e historiadores militares, Putin

está a cometer alguns dos erros

que condenaram a invasão alemã da

URSS em 1941 — enquanto usa “truques

e tácticas de Hitler” para justificar

a sua brutalidade.

Esta é a ironia selvagem por detrás da

decisão de Putin de invadir a Ucrânia,

que fica clara quando a guerra entra

no seu terceiro mês: o líder russo, que

se apresenta como um estudante de

História, está a tropeçar nos seus próprios

pés de barro porque não prestou

atenção suficiente às lições do

"Grande Guerra Patriótica" de que é

admirador reverente.

“Estou a tentar entender isto há um

mês, porque, por mais terrível que

Putin seja, nunca poderia dizer que

ele era ilógico”, afirma Peter T. De-

Simone, professor associado de História

da Rússia e do Leste Europeu

na Universidade de Utica, em Nova

Iorque, citado pela CNN, no dia 3 de

Abril.. “Tudo isto é ilógico, e isso é

assustador”, acrescenta. “Isto não é

normal em face do ele fez no passado.

Isto não faz sentido nenhum

a muitos níveis, e não apenas em

relação à Segunda Guerra Mundial”.

E a Ucrânia não faz

propaganda?

É claro que a Ucrânia tem os seus

objectivos de propaganda e as contas

dos seus governantes nas redes

sociais ajudam a ampliar histórias

de veracidade questionável, como

aquela notícia — comprovadamente

falsa — de treze soldados ucranianos

a defender a ilha de Zmiinyi, no Mar

Negro que teriam sido mortos por

militares russos.

O mesmo se pode dizer da foto da

primeira piloto de caça ucraniana

morta durante a agressão russa. Afinal,

a aviadora Nadia estava viva e a

foto era de Olesya, vencedora de um

concurso de beleza do Ministério da

Defesa Ucrânia, em 2016.

de oito anos, apresentada como sendo

ucraniana, a ameaçar um soldado

armado? A cena é verdadeira, mas

ocorreu na Cisjordânia, há dez anos,

quando a jovem palestiniana enfrentou

um soldado israelita.

E querem mais? Um vídeo anunciou

um dos “primeiros atentados na

Ucrânia” e foi visto por mais de dez

mil pessoas no Facebook. A Agência

AFP estudou o caso e confirmou que

era um vídeo publicado em 2021, na

rede Tiktok, mas retratava uma forte

tempestade numa cidade da Rússia,

em Voljsk.

Mas há mais. A 1 de Março, Volodymyr

Zelensky acusou a Rússia de

ter bombardeado o Memorial Babi

Yar, onde 33 mil judeus ucranianos

foram assassinados, em 1941. Começou

a circular a notícia de que aquele

local tinha sido destruído. Mas não.

Os obuses atingiram a torre de televisão

e o parque ficou intacto, como

se observou depois numa visita de

jornalistas da Agence France-Presse

e do Le Monde.

Concluindo: há muito que a censura

e a propaganda são armas de guerra

tão importantes como os canhões,

os aviões e as bombas ou mísseis. Tenhamos

consciência disto. É um belo

princípio para percebermos melhor

o que está a acontecer.

Sim, ajuda-nos a entender um discurso

desordenado, incoerente e furioso,

difícil de entender que veicula

uma visão sombria de renovação da

glória nacional da grande Rússia. Foi

o que fez Wladimir Putin, a 21 de Fevereiro,

quando anunciou a invasão

da Ucrânia.

Putin ainda pensa que é possível

controlar a História, misturando

meias-verdades, fantasias e mentiras,

por omissão.

Mas esta — tal como Eric Zemmour

— é mais uma versão simplista do

futuro: uma versão em que todos os

chamados russos, incluindo os ucranianos,

são obrigados a curvar-se perante

o poder de um império (que já

foi e não é) e de um imperador que

não é (e não foi).

Perante os factos que vivemos, a melhor

pergunta a fazer ainda é a de

Pilatos, há dois mil anos, no Sinédrio

de Jerusalém: “Que é a verdade?”

A verdade é que Pôncio Pilatos ficou

sem resposta.

João Nabais:

“É necessário que todos os intervenientes

da justiça tenham

presente que o cânhamo é uma

planta diversa da canábis”

Laura Ramos

João Nabais é um nome incontornável

da advocacia em Portugal e assumiu

a defesa de Patrick Martins,

fundador da Green Swallow e presidente

da ACCIP – Associação dos Comerciantes

do Cânhamo Industrial

de Portugal, no processo em que foi

constituído arguido pelo “crime de

tráfico de estupefacientes”. Patrick

vendia na sua loja produtos derivados

do cânhamo industrial, com menos

de 0,2% de THC. O processo foi

arquivado por “não existirem indícios

suficientes da prática de um crime” e

o Ministério Público não recorreu da

decisão instrutória do Juiz do Tribunal

de Instrução Criminal, Carlos Alexandre.

Nascido em 1955, João Nabais trabalhou

em alguns dos casos mais mediáticos

da Justiça portuguesa, entre eles

o processo das FP-25 ou o da queda da

ponte Hintze Ribeiro. Foi presidente da

DECO — Associação Portuguesa para a

Defesa do Consumidor — e fundou, em

1993, a sociedade de advogados João

Nabais e Associados, com escritórios

em Lisboa, Porto e Algarve. Participa

ainda, pontualmente, como comentador

em programas televisivos, sendo,

por isso, bastante reconhecido pelo

público português.

Falámos com João Nabais para perceber

melhor o que representa esta decisão

instrutória, determinada pelo Juiz

Carlos Alexandre a Patrick Martins.

O que representa o arquivamento

deste processo, tendo em conta que

o cânhamo é uma questão que tem

gerado bastante controvérsia?

Esta decisão tem uma enorme importância,

não só para o nosso cliente, mas

também para o sector do cânhamo industrial,

uma vez que configura uma

primeira apreciação, que tenhamos

conhecimento, de um juiz de instrução

do Tribunal Central de Instrução

Criminal de Lisboa acerca da licitude

do comércio destes produtos em Portugal.

Aliás, a decisão é absolutamente

clara e vai para além das questões processuais

levantadas no requerimento

de abertura de instrução, pronunciando-se

no sentido de considerar que a

legislação comunitária é plenamente

acolhida em Portugal e, como tal, deverá

ser cumprida.

Na sua opinião, isto abre um precedente?

Ou seja, fez-se jurisprudência

em relação a outros casos idênticos?

Não é possível fazer jurisprudência de

uma decisão instrutória, que apenas

vincula o caso concreto. Não obstante,

não deixa de ser importante para outros

processos-crime, em tudo idênticos

a este, na medida em que se verifica

existir uma apreciação prévia de um

tribunal sobre esta mesma matéria, independentemente

das vicissitudes de

cada caso em concreto. Esta decisão é,

além do mais, importante para firmar

a convicção das autoridades judiciárias

em Portugal de que estas situações

não podem ser, pura e simplesmente,

reconduzidas aos crimes consignados

na Lei 15/93, de 22 de Janeiro e da Portaria

94/96, de 26 de Março, porquanto

se trata de produtos efectivamente

distintos, muito diferentes dos estupefacientes

sancionados no âmbito daqueles

diplomas legais.

CRÓNICA

Direito

João Nabais, Advogado de Patrick Martins no caso da Green Swallow. Foto: D.R

relativas ao cânhamo e produtos derivados

no futuro?

Em termos jurídicos, as questões relacionadas

com a venda, comercialização

e importação de produtos derivados

de cânhamo deveriam ser tratadas

e apreciadas à luz dos normativos europeus,

que já se encontram em vigor,

e que, além do mais, definem esta

espécie de planta como uma espécie

agrícola, introduzida no âmbito da

Política Agrícola Comum. Como tal, é

necessário que todos os intervenientes

da justiça tenham presente que se

trata de uma planta diversa da planta

canábis e, como tal, obedece a uma

regulamentação específica, cujo cultivo

e venda se mostram permitidos e,

nessa medida, afastá-la do catálogo

dos denominados produtos estupefacientes.

Por fim, iure condendo, considero

que seria mais fácil terminar com

toda esta controvérsia se o legislador

português estiver disposto a publicar

um diploma claro e explícito que, à

luz da regulamentação europeia, defina

e estabeleça as regras de cultivo

e comercialização de cânhamo industrial,

uniformizando assim a legislação

aplicável no âmbito deste sector

e permitindo aos produtores competir

de forma equiparada com os restantes

mercados europeus.

Acha que isso é possível? O que é necessário

fazer em Portugal para que

se chegue a esse ponto?

Possível é, aliás é esse caminho que o

sector tem promovido junto dos partidos

políticos e das entidades que intervêm

directamente com este ramo

de actividade. Mas certamente não

será um caminho fácil e menos célere

do que desejaríamos.

(*) António Costa Guimarães, é

E que dizer da foto daquela menina Jornalista, foi Capelão Militar e

Numa perspectiva jurídica, como deveriam

ser tratadas estas questões

Director do jornal Correio do Minho.

Escreve segundo o AO

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15



“Do Nosso Cantinho para o Vosso Cantão”

Literatura

Aragonez Marques

Este mês ofereço uma história das

minhas aventuras pelo Oriente que

faz parte do livro de contos “O Que

Foste lá Fazer?” sobre Timor-Leste.

As

Freiras

Aragonez Marques

As cadeiras de bambu têm sobre elas,

almofadas compradas perto. Vendem-

-se na plantação de casitas de artesanato

ao lado das gigantes bananeiras

de fruto pequeno e doce que aproveitam

os passantes, ou passeantes que

param, frente à fortaleza portuguesa,

canhões enferrujados virados para o

vasto e ritmado azul. O mar, esse mar

incomensurável, arrastava-se até às

ilhas indonésias que se avistavam e

mudava de cor, azul petróleo, álcool

ou céu, às vezes verde, tons escuros,

raiados pelo branco das ondas baixas

mas fortes, como os homens, embrulhando-se

cadenciadamente nas pedras

soltas da praia de areia negra mas

suave, como os cabelos das crianças,

mexendo-se na insegurança dos corais

cortantes, cores vivas e abrigo de peixes

pintados de arco-íris, como os “tais”

coloridos das mulheres da ilha.

Do lado de cá do baile do mar com a

praia, antes das casitas, atravessa-se a

estrada, passa-se a fortaleza, a montanha

sobe sem alcatrão e visita o café,

a canela e o ananás, que o Avô Serra

metia na mesa, servido de histórias e

de palavras de tempo, que confundem

o homem velho e sábio, com a história

de Timor, o homem (hoje já falecido)

com raiz portuguesa que chegou

há muito e ficou, como o crocodilo da

lenda.

Carlos Novais tinha ido de Liquiçá a

Maubara, numa “microlete” que mandou

parar e que não gritava “Díli, Díli,

Díli” mas “Bara, Bara, Bara”, pequenina,

peluches cobrindo o tablier tapando

o vidro da frente, já só meio, pelo autocolante

do Barcelona que cobria a

metade superior e rivalizava com um

Cristiano Ronaldo pintado nos laterais

exteriores. Porta aberta com dois

rapagões de bronze, cabelos atados e

chinelos, meio dentro meio fora, pendurados,

porque dentro iam senhoras

tímidas, peles sofridas pelo sol e

trabalho, dentes vermelhos da última

masca, “tais” sujos de pó, mas pés com

asseio, unhas cortadas e bicos de galinhas

que espreitavam por baixo dos

assentos.

“Bara, Bara, Bara” e parou como um regaço

fresco na estrada quente. Carlos

entrou e com ele o colega com quem

tinha combinado visitar Maubara, romper

a clausura da ilha em que sentia

a sua escola e respirar, outro ar, longe

das obras poeirentas que atravessavam

a localidade onde estava, desde

que o avião o deixou naquela aventura,

e só regressaria para o levar, com

os reis magos, pelo natal, para poder

estar a horas no presépio da sua casa.

Tinha Maumeta, o suco onde morava,

praia também, baleias à vista algumas

vezes, golfinhos quase sempre, crocodilos

não se pensava nisso, mas estava

muito próximo da escola onde estava

há pouco mais de um mês, a gosto

quando o trabalho era a gosto, forçado

quando lhe começaram a forçar o

gosto. Mesmo o amor passa a desamor

quando obrigado sem obrigado, e não

precisava que lhe agradecessem, bastava

que o deixassem fazer o que sabia,

aliás, julgo que a única coisa que

julgava saber fazer, ser professor, dar e

receber todos os dias. Despistar nortes,

emprestar rumos e receber outros saberes,

emprestar uma bússola, falar da

estrela polar, e receber, nem que fosse

um sinal de fumo ou de bandeiras,

compensada com a visão do cruzeiro

do sul. Afecto só sentia o de alunos,

pais e funcionários, porque os nortes

que eram dados por quem levava o

leme, afastava a nau da terra, no convencimento

de que os instrumentos de

orientação de bordo, porque importados,

eram seguros, infalíveis mesmo,

e o pior, inquestionáveis, e se falhavam

as velas pelo óbvio, tudo a remar,

transformando a nau em galé. Ambos

estavam a precisar de sentir a parte de

fora, aquela outra vida que não parava,

diferente, desconhecida para eles,

misteriosa, feiticeira, como alguém lhe

chamara. Saíram assim para a parte de

fora da galé, sem tambores, e soube-

-lhes bem o ar, o mar e as gentes que

falavam de outras coisas que nunca tinham

ouvido, de outra forma, línguas

que nunca tinham escutado, de outras

maneiras de sentir, formulários que tinham

necessidade de preencher sem

ser os outros, aqueles que faziam cumprindo,

e a que nem sequer, se atreviam

a perguntar para que serviam?

Talvez agora, não repetissem aqueles

coelhinhos de uma Páscoa, celebrada

ali de outra forma, feitos de embalagens

vazias de iogurte e de saberes de

rua, importados para uma escola de

um país, onde os coelhos são tão conhecidos

como os pinguins em África.

Claro que se tinham que misturar, de

conhecer cheiros e risos e descobrirem

que a lua ali não é mentirosa, porque

naquela tarde a viram em forma de

barco e na anterior de fatia de melão,

quais quartos crescentes e minguantes?

Qual quê? E as fichas? A praga das

fichas? Com feiras e carrosséis, meninos

loiros e algodão doce nas mãos? E

os exames? Fechados e dignos, desenhados

em segredo por adultos “especialistas”

para terem um resultado de

espionagem secreta para saber o que

os meninos não sabem em vez de os

estimularem pelo que aprenderam?

Demasiado fechados, policiados, ritualistas.

- Estamos a falar de crianças Carlos?

- Pois, o problema é esse, é que estamos

a falar de crianças.

Estava decidido, tinham que começar

a sair! A estrada de Liquiçá para Maubara

é uma língua recente, salpicada

de animais que dão cor ao alcatrão

novo como o novo país, animais que

estavam antes das máquinas lhes tirarem

o espaço e agora, que as máquinas

partiram, o reocuparam, e usam-

-no, com tempo, com todo o tempo do

dia e da noite.

- Olha Carlos, a Lagoa.

À esquerda, uma manta líquida, espelho

de uma família de pelicanos que se

duplicavam no reflexo da água, limpa

hoje, outrora manchada de vermelho,

que a metralha castigava com a vida,

um povo que queria ser país.

_ É por isso que se chama Lagoa Vermelha?

O silêncio respondeu que sim, o espelho

de água reflectiu a paz, e o voo dos

pelicanos mostrou um país. Maubara

apareceu de repente, com as suas casotas

de artesanato, a fortaleza de canhões

enferrujados apontando para o

mar, hoje sem medo do que as ondas

lhes trazem. A microlete parou, Carlos

perguntou a que horas havia uma

de regresso, em português, nada, em

inglês, igual, gestos, dedo indicador

apontando o relógio, mão aberta para

dizer cinco horas, arranhou tétum,

também não. O timorense pequenino

mostrou os dentes brancos num sorri-

16 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

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Literatura

Literatura

so de entendimento, sim, disse, Carlos

Novais mão aberta e dedos esticados,

cinco horas, ele respondeu sim

de novo, e tornou a responder sim a

tudo, sempre com um sorriso de que

finalmente entendera. Gustavo, olhar

de observador soltou, parece que percebeu,

vem às cinco. Carlos Novais fez-lhe

adeus, o timorense também e a

microlete envolta em fumo de escape

voltou para trás. Missionariamente (o

adjectivo existe porque o criei na liberdade

que a escrita me dá para inventar)

Carlos comentou: Acabamos

sempre por nos entender - e ficou a

olhar o mar. A tarde passou, cinco,

cinco e meia, seis horas e Gustavo na

estrada suspirou com ironia: Acabamos

sempre por nos entender – Carlos

não respondeu, apenas pensava

que a noite estava a chegar e tinham

que regressar.

- Vem aí uma Toyota de caixa aberta,

nova, aposto que tem ar condicionado.

Nasceu a esperança e fizeram sinal

para que parasse, ao longe, bem antes

de estar junto deles.

- Eh pá, espera, não a mandes parar,

porra, vem carregada de freiras!

Era tarde por um lado, mas por outro

parecia que estava a abrandar. E

abrandou. E parou, não por eles, mas

porque três homens carregados com

um enorme cacho de bananas também

lhes fez sinal.

- Para as meninas do orfanato.

Começaram a atar o cacho pendurado

na traseira.

Carlos Novais contou sete freiras na

parte cabinada e cinco, bem mais

novas, juvenis até, na parte aberta da

carrinha.

- Vamos lá?

- Não temos nada a perder.

Aproximaram-se da madre e perguntaram

se podiam ir com elas para

Liquiçá. Desconfiadas, dois homens,

um corpulento, o outro barbudo, a

sorte parecia perdida quando uma

delas com sotaque espanhol disse:

_ Está cheio!

Carlos Novais puxou dos galões de

homem sério, casado, pai de filhos,

professor, honesto, incapaz de uma

má palavra, muito menos de um mau

gesto.

_ A irmã é espanhola? A minha esposa

também. Vem a Timor em Agosto…

Milagre.

A sua ordem também era, iam receber

a visita de uma sua superiora,

que bom era mulher do Carlos ser

espanhola… Aproveitando a embalagem

Gustavo disse “espanhola e professora,

até podia ensinar castelhano

enquanto aqui estiver, de forma voluntária,

às meninas do orfanato, ou

às irmãs que quiserem”. Carlos olhou

para ele, que nem tão pouco a conhecia,

mas com a noite a cair, confirmou,

que sim, poderia fazê-lo e também

chinês e grego e latim, por favor, que

os tirassem dali.

_ Têm é que ir atrás, com os mantimentos.

_ Não faz mal, muito obrigado (lembrou-se

que eram freiras) Deus vos

pague.

Gustavo, ágil, saltou para a caixa, já

Carlos Novais teve que ser puxado,

julga mesmo que também empurrado,

pelos três homens que tinham

acabado de atar as bananas. Deu-se

conta que estava dentro quando caiu

redondo e com estrondo no meio

dos sacos de batatas, hortaliças, duas

galinhas, um cabrito de patas atadas

com arame e ele ali, agora sentado,

cabelos ao vento, com as noviças

rindo do espectáculo que se lhes

oferecia. A Toyota avançou, as freiras

mais velhas na cabina, atrás na caixa

Carlos, Gustavo, e as freiras novinhas

que riam, com as mãos na boca, e falavam

tétum entre elas, entremeado

com gargalhadas, que tudo indicava,

seriam de gozo perante aqueles “malaes”,

que se tinham junto aos mantimentos.

Carlos Novais tentou colocar

ordem na viagem e perguntou:

_ Vamos cantar?

_ Sim, Sim…

Puxou então das suas memórias religiosas,

de quando se vestia de acólito,

aos Domingos, na sua paróquia

de S. Lourenço em Portalegre, as namoradas

que não sabiam que eram,

apenas desconfiavam, lindas e vestidas

de novo, as gentes perfumadas

esperando a saída para o encontro

na porta da igreja, naquela missa do

meio-dia que marcava a Cidade como

um ritual. O padre como rei, ele como

pajem branco, levando-lhe as armas

para aquele enorme campo de prisioneiros

arrependidos, de joelhos, mãos

postas, mas perdoados quarenta minutos

depois para brilharem no alto

da escadaria da igreja, naquele ritual

de cores, de sorrisos de festa culminante

de uma semana, passada no

cinzentismo de sete dias iguais, onde

nada acontecia. Em segundos percebeu

que nenhuma canção desse

tempo, com cheiro a incenso, medo e

bafio, era apropriado perante religiosas

tão novas e lembrando-se de anos

mais tarde, pensou em canções mais

modernas, de quando um concílio

lhe mudou os Domingos, arrumando

os véus negros, o órgão queixoso que

nem parecia instrumento de música

e trazendo as guitarras (nada tenho

contra os órgãos, o Toy Eustáquio

que me perdoe, embora tenha optado

pelas cordas nos últimos tempos),

as palmas, os abraços e a festa, para

dentro da mesma casa, com as velhas

beatas a resmungar, mas cantando,

tentando acompanhar as ordens do

tempo, embora continuassem a cheirar

a velas e a azeite e a imprimir lentidão

nas melodias.

Foi então que Carlos Novais ganhou

coragem e começou cheio de esperança,

voz bem colocada, festivo, com

palmas a acompanhar:

_ Tenho um Amigo que me ama, que

me ama, que me ama…

Correu bem, todas cantaram, mas

sem muita alegria.

Carlos começou logo outra:

_ Sou Pescador, do mar da Galileia,

deixa o teu barco …

_ Não, Não, Não…

Ó diabo, se calhar a letra não era

aquela, as freirinhas não gostavam e,

só entendeu o motivo, quando uma

disse alto:

_ Júlio Iglésias, Júlio Iglésias… - e as

outras em coro e alvoroço:

_ Sim, Sim, Sim…

Antes que o Sol se

apague

Antonio Manuel Ribeiro

Não consegui continuar a leitura do

livro “Não Em Nome de Deus”. Por

duas vezes tentei, viajou comigo até

França, assustou a jovem a meu lado

no regresso, tanto ou mais que o Airbus

ao entrar no corredor que cruza

o Tejo e sobre as sete colinas abanou

as asas (e o resto) por via dos reflexos

diferenciados da pressão atmosférica

que as construções sobre a cidade

produzem: ontem fartei-me do

livro, estava a mastigá-lo.

Esperava algo diferente, mas é uma

estória interpretativa (e bem documentada)

sobre a história do judaísmo,

cristianismo e islão. Parte

do princípio que ‘Abraão falava com

Deus e dele recebia indicações’ e

tudo se resume à civilização conforme

a conhecemos e às diferenças

sociológicas (afirmação minha) que

determinam o (ainda) combate entre

alguns. Há partes interessantes,

mas o resto é dogma e destes estou

cansado.

Agarrei no “Dispersos I – Literatura”,

do José Cardoso Pires, uma edição

de 2005 que me foi oferecida (por

quem não me lembro), da Dom Quixote.

E assim regresso às aulas sobre

bem pensar e bem escrever (ainda

me lembro de o ver na ‘minha mesa’

ao fundo a olhar o mar no restaurante

Carolina do Aires – o António Lobo

Antunes também por lá aparecia,

até que um falhado plano Polis arrasou

o edifício icónico de madeira

e normalizou os restaurantes nos actuais

caixotes)

(Chove maravilhosamente por estes

lados)

Últimas aquisições:

Música: CD Eros Ramazzotti – “Duets” (2017); CD – Placebo – “Never

let me go” (2022)278963032_10220411891586755_330210199453614

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18 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

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Espectáculo

Espectáculo

Festival Compact Records

com bandas de luxo em três dias de música

UHF.

TAXI

dEUS

EDITORS

Joaquim Galante

GIFT

LAST

INTERNATIONALE

OMD

HUMAN

LEAGUE

Legendary

Tigerman

MÃO

MORTA

O festival Compact Records Fest’22

trouxe à Maia, três dias de música, de

18 a 20.03, e um alinhamento de luxo

no que a bandas diz respeito. Sem

esquecer o conflito na Ucrânia, a organização

do festival doou parte das

receitas para ajudar os refugiados em

Portugal.

A celebrar 25 anos de actividade comercial,

a Compact Records quis assinalar

a data com concertos de música

pop/rock trazendo bandas do topo nacional

e internacional.

Em cartaz, formações que foram Top

no anos 80, estou a falar de Human League,

banda formada por Philip Oakey

que nos traz logo à memória as canções

‘Mirror Man’, ‘Fascination’ ou ‘Human’,

entre muitas outras, e a sua parceria

com Giorgio Moroder em ‘Together In

Electric Dreams’, e dos OMD (Orquestral

Manoeuvres in the Dark) com Andy

McCluskey e Paul Humphreys, membros

fundadores da banda em palco,

lembrando canções como ‘Enola Gay’

ou ‘Souvenir’, ambas bandas britânicas

formadas no final dos anos 70.

O que sobressaiu nestes dois concertos

foi a (ainda) qualidade vocal, jovialidade

e agilidade que os intérpretes destes

dois grupos demonstraram em palco,

levando a plateia ao rubro, onde a

maioria nem sequer era nascido quando

estas bandas atingiram o auge do

sucesso.

Os Human League e os OMD fecharam

o primeiro e o segundo dia do festival

Compact Records que contou ainda no

primeiro dia com os The Gift, banda de

Alcobaça, com quase 30 anos de carreira,

liderada por Sónia Tavares e que

dispensa apresentações, que tocaram

temas de sucesso como ‘Fácil de Entender’,

‘Driving You Slow’, ‘Clássico’ e

muitas outras.

O segundo dia abriu com os americanos

The Last Internationale, um grupo

de hardrock, liderada por Della Paz,

que estenderam a passadeira a duas

bandas que marcaram a história do

rock em Portugal, estou a referir-me

aos TAXI e aos UHF, dia que fechou com

os OMD. Adiante iremos falar detalhadamente

sobre este momento, para

mim, histórico.

No último dia estiveram em palco os

‘The Legendary Tigerman’, banda formada

por Paulo Furtado, precisamente

há 20 anos, que conta com inúmeros

sucessos comerciais, numa mistura de

vários géneros musicais que vão desde

o pop/rock, ao blues rock.

Em seguida os Mão Morta, liderada

por Adolfo Luxuria Canibal, com quase

40 anos de carreira, conta ainda com

Miguel Pedro como membros fundadores,

depois da saída do mentor do

projecto Joaquim Pinto em 1990, com

um estilo pós-punk/death rock, sempre

bem expresso pelo vocalista, com as

suas coreografias em palco, dando-nos

a imagem de um zombie.

Os britânicos Editors, banda consagrada,

com duas décadas de actividade e

inúmeros sucessos musicais, num estilo

indie/pos-punk, trouxeram inúmeros

fãs que lotaram o pavilhão do complexo

desportivo para ouvir ‘Papillon’ ou

‘Sugar’, por exemplo. A fechar o festival

estiveram os belgas dEus, um grupo de

indie/art rock com mais de trinta anos

de palco e que tocou temas como ‘Roses’

ou ‘Instant Street.

A actuação dos TAXI mostrou um João

Grande em boa forma, os anos não passaram

por ele, a agilidade e irreverência

em palco, sempre foi a marca do

vocalista portuense, fora do palco é o

oposto, um homem calmo, metódico

e concentrado, sendo acompanhado

pelo baixista Rui Taborda, também ele

membro fundador e mais três músicos

que compõe o grupo.

Os TAXI são quanto a mim um fenómeno,

não tanto de popularidade, mas

de musicalidade. Quem acompanhou

a história do grupo sabe dos problemas

que, inerentes ao sucesso, foram

acontecendo no seu trajecto, chegaram

a pensar em desistir, felizmente

não aconteceu. No sábado durante

a sua actuação, e num regresso a um

grande palco, transmitido em directo

na rádio M80, no alinhamento apenas

constavam canções que foram êxitos

há 40 anos atrás, o público que enchia

o pavilhão, sabia as letras de todas as

canções, fazendo coro com o vocalista.

Impressionante como a sonoridade

destes músicos virtuosos atravessou

gerações mesmo sem serem presença

assídua nas rádios.

Num alinhamento que contou com os

principais êxitos dos TAXI, onde faltou a

‘Hipertensão’ e um tema ou outro ao álbum

‘The Night’, estou a lembrar-me de

‘Dance, dance, dance’ um grande trabalho

discográfico dos TAXI que teve pouca

divulgação, mas com apenas uma

hora de palco não se podia pedir mais.

Destaque ainda para a homenagem às

vítimas da guerra na Ucrânia, feita por

João Grande, com a bandeira deste país

enrolada ao corpo na apresentação em

palco, assim como o lançamento de

papelinhos azuis e amarelos durante a

canção ‘Chiclete’ a encerrar o concerto.

20 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

focusmsn.pt

21



Espectáculo

Alinhamento: Cairo – TVWC – Queda

de um Anjo (Rosete) – É-me Igual – Não

Sei Se Sei – 1, 2, Esquerdo, Direito – Sozinho

– Fio da Navalha – Sing Sing Club

– Meu Manequim (c/Francisca Oliveira)

– Ás dos Flippers – TAXI – Vida de Cão

– Chiclete

Os TAXI deram então lugar aos UHF

no palco do complexo desportivo da

Maia. Cheios de predicados, não tenho

adjectivos que cheguem para classifica-los,

os UHF superam-se em cada

grande concerto que dão. Com a saída

de Luis Simões ‘Cebola’, baixista da

banda, foi a estreia de Nuno Correia

num grande concerto dos UHF e esteve

em grande nivel.

Os UHF abriram as ‘hostilidades’ com

a música ‘Ucrânia Livre’, em homenagem

às vítimas da guerra na Ucrânia,

‘parece uma ofensa ao povo ucraniano

estarmos aqui a divertirmo-nos enquanto

eles sofrem, mas a música leva

mensagens de paz, harmonia e união.

É a pensar neles este concerto’, disse

AMR no palco da Maia.

No alinhamento, onde faltaram inúmeros

sucessos musicais, numa hora

era impossível cantar todos, não faltaram

os ‘Cavalos de Corrida’ e ‘Rua

do Carmo’ temas emblemáticos que

marcaram o início da carreira. Sempre

sóbrio, comunicativo e interventivo,

AMR tocou a todos com a sua voz forte,

com um timbre diferenciado e único,

colocando os fãs, que encheram o

espaço, a cantar, saltar e vibrar com as

suas músicas.

Apoiado pela guitarra de Sergio Côrte-Real,

que deu um espectáculo em

palco, um pouco em contraste com o

baixista Nuno Correia, não na qualidade

que é muita, mas na exuberância,

talvez mais contido por ser a sua estreia

nos UHF nestes ambientes, e na

bateria por um sempre excepcional

Ivan Cristiano, AMR é a voz e o rosto

dos UHF.

Alinhamento: Ucrânia Livre – O Vento

Mudou – Rapaz Caleidoscópio – Matas-

-me Com o Teu Olhar – ‘Bora Lá – Vejam

Bem – Modelo Fotográfico – Brincar no

Fogo – Um Copo Contigo – Cavalos de

Corrida – Nove Anos – Rua do Carmo –

Acende Um Isqueiro – Menina

O Compact Records

Fest’22 escreveu um

capítulo na história do

rock português

Os TAXI e os UHF são as duas principais

bandas impulsionadoras do rock cantado

em português, até então achava-

-se que tal não seria possível, estávamos

no final dos anos 70 inícios de 80,

em que se vivia um período pós-revolucionário,

de juventude irreverente.

De repente soa nas rádios nacionais

‘Chiclete’ e ‘Cavalos de Corrida’, o que

é isto?! perguntávamos nós. Era o início

daquilo que seria uma nova era na

música nacional e que tudo mudou,

musicalmente falando.

Foi o denominado ‘boom do rock cantado

em português’ com o lançamento

dos álbuns ‘TAXI’ e ‘À Flor da Pele’, já

agora fazendo justiça à história, ‘Ar de

Rock’ de Rui Veloso, que rapidamente

atingiram a marca de discos de ouro

tendo o ‘TAXI’ sido o primeiro.

Não vou contar aqui a história dos

TAXI ou dos UHF para isso remeto-os

para as entrevistas que fiz a João Grande

e a AMR, o que pretendo é assinalar

o momento em que se fez história no

Compact Records, na Maia.

Na época, estamos a falar do início dos

anos 80, havia uma grande rivalidade

entre os TAXI e os UHF, disputavam

tudo ao pormenor, desde a montagem

do som, sequência em palco, ambos

queriam fechar a noite musical e até

no alinhamento do cartaz a promover

o evento havia discussão, quem estava

em mais destaque, tinha letras maiores

ou ficava por cima. Era a rivalidade

norte/sul alimentada em grande parte

pelas editoras.

Hoje grandes amigos, João Grande e

António Manuel Ribeiro, vocalistas das

suas bandas, tiveram trajectos diferentes,

os UHF tocam há mais de 40

anos ininterruptamente fazendo deles

a banda de rock com maior longevidade

em Portugal, os TAXI tiveram um

percurso intermitente, regressando há

uns anos para o que parece ser um regresso

definitivo aos palcos. A música

portuguesa agradece, nós agradecemos,

eu agradeço.

O momento histórico que eu muito

ansiava, como fã adolescente que vibrou

com o lançamento dos primeiros

álbuns deles, não é apenas porque

com orgulho posso dizer que sou amigo

de ambos, nem tão pouco porque

fui o fotógrafo oficial dos dois grupos

neste concerto, mas sim porque 40

anos depois estas duas bandas pisaram

o mesmo palco, uma a seguir a

outra, agora sem rivalidade e com

muita amizade. É uma alegria enorme

ver os TAXI de volta aos grandes palcos

e poder estar presente.

Quando lançaram os seus sucessos

musicais, tinha 15 anos, nunca imaginaria

que 42 anos depois estaria a

vivenciar com emoção, embora com

alguma nostalgia e certo saudosismo,

o renascer de uma época. Espero em

breve poder estar de novo em grandes

concertos com eles, é um sinal positivo

para a o rock português.

A propósito quis saber do João o que

representou para ele este concerto.

FOCUSMSN: João, o que representou

para ti este concerto em ambiente de

guerra na Europa, acumulado com

uma pandemia, e poderes sentir 40

anos depois as emoções de estares no

mesmo palco com os rivais de outrora.

Que imagens te passaram pela mente?

João Grande: Respondendo à tua pergunta

e francamente, não pensei em

nada. Sempre que subo a um palco,

estou incrivelmente focado para que

tudo corra bem. Não entram mais nenhum

pensamento a não ser a reacção

do público. E não parecendo, estou

atento ao mais ínfimo pormenor.

Inicialmente, tínhamos combinado

um dueto com o AMR durante a nossa

actuação e depois outra durante os

UHF. Mas por falta de tempo e ensaio,

não foi possível. É claro que fomos

assistir a parte da actuação dos UHF,

mas eu não sou nada saudosista. Para

mim, e neste momento, os TAXI e os

UHF são duas bandas que co-existem,

com muitos projectos para o futuro,

com a grande diferença face ao passado,

que haverá sempre muitos abraços

e provas de amizade.

Quanto à guerra, ninguém em seu perfeito

juízo, consegue ficar indiferente e

não ajudar de alguma maneira a nação

ucraniana. Foi de facto o que me

passou pela cabeça quando comecei

o concerto, envergando a bandeira da

Ucrânia. Quase que pedimos desculpa

por nos estarmos a divertir, enquanto

está a decorrer uma guerra terrível

como aquela. É nossa obrigação chamar

a atenção de toda a maneira possível.

Alphaville

trouxe a Juventude Eterna

ao Coliseu de Lisboa

Joaquim Galante

O Coliseu de Lisboa encheu para ver e

ouvir uma das bandas mais marcantes

do synth/pop dos anos 80. Refiro-me

aos Alphaville, uma banda formada

em 1982, que se apresentavam com

um ‘look’ futurista e arrojado próprio

daquela época.

Os anos passam por todos nós e Marian

Gold, o único membro fundador

da banda em palco, não é excepção,

aquele jovem elegante e de cabeleira

farta deu lugar a um homem em

que se nota que os anos passaram por

ele, por todos nós. O timbre de voz e

o alcance também já são outros mas

a qualidade vocal, a energia colocada

em palco, mesmo depois de na véspera

ter actuado no Porto e a sonoridade

da banda mantêm-se inalteradas, excelentes.

Antes de ser mundialmente conhecida

por Alphaville, a banda chamava-se

Forever Young um nome premonitório

para aquilo que assisti no Coliseu e de

que é a prova, a já longa carreira do

vocalista, que teimou em mostrar um

espírito jovial e alegre, com muita dinâmica

em palco, apesar dos quase 68

anos de idade, fiquei com inveja.

Foi também (Forever Young) o nome

que deu título ao álbum de estreia da

banda e ao seu primeiro grande sucesso

internacional em 1984, que incluía a

música que deu o nome ao disco ‘Forever

Young’ onde pontificaram outros

grandes sucessos tais como ‘Big in Japan’

e ‘Sounds Like a Melody’.

Com um alinhamento riquíssimo cantou

todos os sucessos que foram top

em algumas tabelas da especialidade

por esse mundo fora. Durante o concerto

foram várias as vezes que levou

o público ao delírio. Comunicativo e

dialogante, respondendo a alguns piropos

da plateia, Marian Gold granjeou

a simpatia e muitos aplausos de uma

sala completamente cheia provocando

reacções emotivas por parte de algumas

fãs nas filas junto do palco.

A abrir a banda tocou Jet Set logo para

agitar as águas, seguiu-se Monkey in

the Moon e em seguida uma dupla

dose de sonoridade que nos fazia levitar

quando éramos adolescentes Dance

With Me e Big in Japan, nesta altura

já muitos fãs dançavam ao som destas

icónicas músicas.

I Die For You, Next Generation, The Elevator,

Flame e Jerusalem (vamos levar

amor, por Jerusalém oramos) uma canção

de oração por um povo fustigado

pela guerra, estávamos em 1985 mas

CRÓNICA

nada mudou, apenas a música ficou

para ouvirmos em noites nostálgicas,

foram as que se seguiram.

Depois Summer in Berlim, Nevermore,

A Victory of Love e em seguida outra

dupla dose de grandes sucessos Sounds

Like a Melody e Forever Young a

fechar o concerto, antes de um encore,

com o público delirante, a grande

maioria cinquentões, em pé, recordando

talvez os seus tempos de juventude

irreverente em que certamente imaginavam

ser uns jovens para sempre. E

somos.

No encore os temas Iron John e a balada

Beyond the Laughing Sky a fechar

em apoteose este concerto que me vai

ficar na memória para sempre.

Marian Gold teve o condão de me fazer

viajar no tempo, de me ter ‘obrigado’

a ficar até final do concerto e a cantar

com ele a maioria das canções, no fim,

depois do concerto, não viajei apenas

para casa, viajei também no tempo,

num tempo que me trouxe gratas recordações,

daquele tempo em que éramos

felizes e não sabíamos, mas nunca

deixei de me sentir um eterno jovem

(forever young), esse sentimento os

anos nunca o vão levar.

focusmsn.pt

22 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu focusmsn.pt

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23



Diário de uma avó e de um neto

Retratos contados...

Nélson

Mateus

Simone de Oliveira

V NELSON MATEUS (*)

V ALICE VIEIRA (*)

Cultura

Alice

Querida avó,

Querido neto,

Como sabes, Simone de Oliveira despediu-se dos palcos recentemente.

Deve ter sido um espectáculo lindo.

Vieira

Claro que não podia deixar de ir assistir ao espectáculo que esgotou

o Coliseu de Lisboa.

Quero vê-lo quando der na RTP.

Cresci a ouvi-la e a vê-la na televisão. Não sei explicar o fascínio Muito antes de ser sua amiga, já era sua amiga. E por

que ela causava a uma criança. A verdade é que, cada vez que ela motivos que nada tinham a ver com as cantigas.

aparecia, ficava deslumbrado a ouvir as suas palavras. A ver a garra

e alma, com que cantava, com que falava sobre qualquer assunto.

Naqueles princípios dos anos 60, quem não seguia os

Por altura do Festival da Canção, inevitavelmente aparecia a Simone

a cantar

padrões convencionais de vida era posto de lado. E

a Simone nunca foi mulher de vida convencional. Eu

“ A Desfolhada”.

costumo dizer muitas vezes, a meu respeito, que sou

A imagem daquela mulher determinada, que encanta todo o Teatro

S. luiz, e todos os que em 1969 viram o Festival nas suas casas,

feliz porque tive sempre a profissão que quis, os homens

que quis e os filhos que quis. O que então também

não foi nada fácil. Devo ter aprendido com ela.

faz parte das memórias de várias gerações.

Numa altura em que só havia um canal de televisão, em Lembro-me um dia de ir com uma tia almoçar à Praia

que não existiam redes sociais, em que a maioria ouviu de Santa Cruz. Tínhamos acabado de entrar no restaurante

o Festival através de uma telefonia … foram milhares os

quando a minha tia me pegou na mão e me

que se juntaram na Estação de Santa Apolónia, para a receber

arrastou para a rua.

vinda de Madrid. Simone ficou em penúltimo lugar

na Eurovisão, mas os Portugueses receberam-na como

“Vamos a outro”, disse.

se tivesse conquistado o primeiro prémio!

Não percebi: o restaurante estava praticamente vazio.

Já tive o privilégio de estar várias vezes com a Simone.

Todas as horas, que passamos juntos, são poucas tados.”

Cá fora ouço-a “ não gosto de lugares mal frequen-

para aquilo que ela tem para dizer, e para o que eu

quero ouvir.

Levei tempo a entender, e só mais tarde percebi: a Simone

estava lá com o Henrique Mendes, que era ca-

Ao longo da vida, Simone tem sido o “Sol de Inverno”

dos dias mais difíceis de muitos. Cada ruga da Simone sado e pai de uma filha, e com quem ela então vivia..

conta uma história.

Um escândalo. E acho que foi exactamente nesse dia

Amada por muitos, odiada por outros tantos, é exemplo que, sem ela saber, me tornei sua amiga. Para sempre.

para muitas mulheres. Vestiu calças quando ninguém vestia,

frequentava cafés e bares enquanto as outras mulheres tícias”, já a Simone era famosa, mandaram-me entre-

Muitos anos depois, já eu trabalhava no “Diário de No-

ficavam em casa de avental, agarradas ao terço…

vistá-la. Era a primeira vez que eu estava diante ela, e

Simone dá voz à canção “Saudade”. Mas não tem saudades

nenhumas do tempo em que as outras mulheres lhe

que ela estava diante de mim.

viraram as costas, por cantar “Quem faz um filho, fá-lo por E ela começa a contar-me a vida toda. O primeiro casamento,

a violência doméstica, os filhos de um ho-

gosto”, pois as mulheres não podiam ter prazer!

Quando a Simone começou a cantar, ainda não existia a mem com quem não estava casada, o que os tornavam

ilegítimos, o padre que naõ os queria baptizar

ponte sobre o Tejo, nem o Cristo Rei. No entanto, aos 83

anos, Simone usa as novas tecnologias. No final de um –tudo.

jantar que tivemos, eu disse-lhe; “ Eu chamo um táxi”, ao Eu ainda lhe perguntava de vez em quando “posso

que ela respondeu “ Filho, já chamei um Uber”!

escrever isso?”, mas ela nem me ouvia .

Com 84 anos de vida e 65 de carreira, vividos com intensidade,

Simone de Oliveira anunciou que iria por um ponto Acho que foi uma das minhas melhores entrevistas.

final na carreira.

Lembro-me de ter ido tomar café nessa tarde com o

Acredito que seja mais um vírgula do que um ponto final! Raul Solnado e ele me dizer que não fazia a mínima

“Galinha de campo não quer capoeira”. Não me parece ideia do que tinha sido a vida dela.

que a Simone queira “reformar-se”. Acredito sim que

E ficámos amigas. Partilhamos coisas boas e más: tivemos

cancro da mama na mesma altura, infelicidade

queira abrandar.

Nunca a convidem para beber um chá! Recentemente

provoquei-a ao telefone: “Combinamos um chá com

©: DR

que partilhámos com a Manuela Maria. E cá estamos

as três. Eu e a Simone ainda tivemos mais outro—e cá

a Alice”. Ao que respondeu: “Convidas-me para um chá,

estamos as duas.

(*) Os autores escrevem segundo o Acordo Ortográfico

por ser velha. O que me apetece é um café, fumar um cigarro

ou pedir um copo, com três pedras de gelo e um pouco de E cheguei ao fim do espeço que me dão…e não falei

(**) Jornalista - (***) Jornalista e Escritora

whisky. É isso que quero, precisamente por ser velha”… de cantigas! Mas isto para mim é muito mais importante.

Vão ao Youtube e oiçam-na. Qualquer canção.

https://bit.ly/3dvDigl

Em breve iremos tratar disso!

Vens connosco?

É das nossas maiores intérpretes.

https://bit.ly/3dvi3Li

Bjs

Marca um jantar com a Simone para rirmos disto tudo

https://bit.ly/3tyuFXN

©: DR

e colocarmos a conversa em dia.

info@retratoscontados.pt

www.retratoscontados.pt

Bjs

24 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

25



AGENDA

Cidadania

Informações

MAPS (*)

Caros leitores, um certificado

de Covid é exigido para muitos

eventos. É importante que você

continue a seguir as medidas de

proteção contra o coronavírus.

Você pode encontrar uma visão

geral das medidas atuais em vários

idiomas em www.stadt-zuerich.ch/coronavirus.

Por favor,

informe-se antes de participar

de um evento. Apesar de tudo,

a equipe da MAPS deseja a você

um bom momento!

(*) Escrito na variante brasileira

da Língua Portuguesa

SÁBADO - 7.5.

JORNADAS DE DESCO-

BERTA NA CIDADE

Uma série de eventos “Nahreisen”

oferece um programa variado e original

de apoio para excursões e passeios

guiados pela cidade de Zurique,

de 7 de maio a 9 de julho. Como

apoio para excursões de 2022 observam

animais que vivem perto da

água. Inscrições e informações em

www.nahreisen.ch uo 044 319 80 61.

Participação gratuita.

www.nahreisen.ch

DOMINGO - 8.5.

FAZER JOGGING NA CI-

DADE ANTIGA

Você tem vontade de praticar esportes

e conhecer novas pessoas?

Então junte-se à equipe de jogging

“Züri Rännt”. Todas as quintas-feiras

o grupo se reúne em torno de o fazer

“Münsterhof”. Informações e outros

eventos em www.zueriraennt.ch.

19:00-20:00 Participação gratuita.

Treffpunkt: “Münsterhof”.

Bonde 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de Paradeplatz”.

www.zueriraennt.ch

SEGUNDA-FEIRA - 9.5.

BEBIDAS REFRESCAN-

TES

Como temperaturas estão subindo e

o tempo está melhorando cada vez

mais. Então refresque-se com uma

bebida deliciosa e sem álcool. Por

exemplo, desfrute de um chá gelado,

verduguez jorge frutado com erva-cidreira,

suco de laranja e morangos.

Nesta página você encontrará

muitas receitas deliciosas. Gratuito.

www.stilpalast.ch/savoir-vi-

vre/genuss/coole-drinks-ohne-

-alkohol-4218

TERÇA-FEIRA - 10.5.

CICLISMO E PATINA-

ÇÃO NENHUM AERO-

PORTO

Uma rota de 20 km circunda o aeroporto

em uma pista, desemboca em

caminhos na floresta e passa pelo rio

“Glatt”. Esta rota é ideal para um passeio

de bicicleta uo para patinar. Há

também várias áreas para churrasco

ao longo do percurso. Gratuito.

Flughafen Zürich.

S-Bahnen oder Eléctrico 10/12 bis

“Flughafen Zürich”.

www.flughafen-zuerich.ch

QUARTA-FEIRA - 11.5.

VISITA AO KUNSTHAUS

ZÜRICH

Para uma quarta-feira criativa, visite

o “Kunsthaus”. Aqui você encontrará

arte suíça e internacional. Toda

quarta-feira, numa admissão à coleção

de pinturas, esculturas, fotografias,

vídeos e outras obras de arte é

gratuita. Aproveite livremente hoje

como exposições atuais! Visite, por

exemplo, uma exposição da famosa

artista Yoko Ono ou uma exposição

sobre arte e medicina. Ter/sex-dom

10:00-18:00. Qua/qui 10:00-20:00. A

entrada é gratuita com KulturLegi

(ao invés de de CHF 23.-).

Kunsthaus Zürich. Heimplatz 1.

Bonde 3/5/8/9 oder Ônibus 31 bis

“Kunsthaus”.

www.kunsthaus.ch

SEXTA-FEIRA - 13.5.

FESTIVAL DE DANÇA

(ATÉ 29.05)

Os visitantes vivenciam apresentações

de dança e aprendem danças

do mundo inteiro em aulas relâmpago.

Não é necessário ter nenhum conhecimento

prévio. Alguns eventos

e cursos são gratuitos. Programa em

www.zuerichtanzt.ch. Gratuito para

crianças até 16 anos e pessoas com

status de N/F/S. O escritório da MAPS

sorteia 5×2 passagens de diâmetro.

Basta ligar para 044 415 65 89 uo enviar

um e-mail para maps@aoz.ch.

GLEIS. Zollstr. 121.

Barramento de 32 bis “Röntgenstrasse”.

www.zuerichtanzt.ch

SÁBADO - 14.5.

QUARTIERFEST

Hoje é o festival de bairro do “GZ

Schindlergut”: o festival “Schigu”.

Aqui você encontrará barracas de

comida, música e um mercado das

pulgas. Participe também de várias

atividades como a fabricação de cerveja

e o conserto de bicicletas. 11:00-

17:00. Entrada livre.

GZ Schindlergut. Kronenstr. 12.

Ônibus 32/46 bis “Nordstrasse”.

www.gz-zh.ch

DOMINGO - 15.5.

ANIMAIS E PLANTAS

EXÓTICAS

Vários pássaros, peixes e tartarugas

vivem entre as plantas exóticas fazer

viveiro de palmeiras da cidade. Os

animais alegram-se em ter visitantes

em sua casa acolhedora. Todos os

dias 09:00-16:30. Entrada livre.

Stadtgärtnerei. Sackzelg 27.

O eléctrico 3 oder Ônibus 33/89 bis

“Hubertus”.

www.stadt-zuerich.ch

SEGUNDA-FEIRA - 16.5.

NOITE DE CINEMA

Gosta de histórias sobre super-heróis?

Hoje à noite o cinema “Filmpodium”

exibe o filme de acção “Doutor

Estranho” na versão original com

legendas em alemão. Entrada livre

no cinema “Filmpodium” para pessoas

com estatuto de refugiado S/N/

B/C/F. Contactar previamente SPAZ

www.sans-papiers.ch, se precisar de

obter entrada gratuitos para pessoas

sem autorização de residência. O escritório

da MAPS oferece 4×2 entrada

para um filme à sua escolha. Basta

ligar 044 415 65 89 uo enviar a sua

morada para o e-mail maps@aoz.ch.

Filmpodium. Nüschelerstr. 11.

Bonde 2/3/8/9/14 bis “Stauffacher”.

www.filmpodium.ch

QUARTA-FEIRA- 18.5.

HISTÓRIAS PARA

CRIANÇAS

Não “Krokodilzentrum” há interessantes

e divertidas histórias para

crianças e também encontra livros

que pode ler aos seus filhos. 15:00-

16:00. Gratuito.

Zentrum Krokodil. Friedrichstr. 9.

Bus 75 bis “Friedrichstrasse”.

www.zentrumelch.ch

QUINTA-FEIRA - 19.5.

NOITE DE CINEMA

Aprecia filmes? Uo faz os seus próprios

filmes? Na Rote Fabrik” novos

realizadores de cinema apresentam

os seus filmes. O público escolhe o

melhor filme e o filme vencedor recebe

um prémio. 20:00. Entrada livre.

Rote Fabrik. Seestr. 395.

De eléctrico 7 bis “Pós Wollishofen”

oder Ônibus 161/165 bis “Rote Fabrik”.

www.rotefabrik.ch

SEXTA-FEIRA - 20.5.

CIÊNCIA À NOITE

O evento “Nachtaktiv” realiza-se uma

vez por mês. Jovens entre os 16 e os

25 anos aprendem ciência de forma

acessível e divertida. Cada evento é

dedicado a um tema específico. Hoje

o tema é “Wellen” (ondas). Bebidas e

snacks disponíveis. Para jovens dos

16 aos 25 anos. 19:00 às 22:30. Entrada

livre.

focusTerra. ETH de Zurique. Sonneggstr.

5.

Bonde 6/9/10 bis “ETH/Universitätsspital”.

www.creativelabz.ch

SEXTA-FEIRA - 20.5.

FESTA DA PRIMAVERA

Uma associação “Mosaik” celebra

com uma festa de uma convivência

de pessoas de diversas culturas. Desfrute

de comida, música e danças de

vários paises. A partir das 11:00. Participação

gratuita.

Schwamendingerplatz.

Bonde 7/9 oder Ônibus 61/62/75/79

bis “Schwamendingerplatz”.

www.fruehlingsfest-mosaik.ch

SÁBADO - 21.5.

VIDEOEX-FESTIVAL

Aprecia o cinema experimental?

Então vá ao festival de cinema “Videoex”!

Aqui encontra filmes e vídeos

que são visualmente surpreendentes

e artísticos. Entrada gratuita

para pessoas com documento N/F. O

escritório da MAPS oferece 3×2 entrada

para um filme à sua escolha.

Basta ligar 044 415 65 89 uo enviar

um e-mail para maps@aoz.ch.

Festivalzentrum. Kunstraum Walcheturm.

Kanonengasse 20.

O autocarro 31 bis “Kanonengasse”.

www.videoex.ch

DOMINGO - 22.5.

MERCADOS EM ZURI-

QUE

Nos inúmeros mercados da cidade

encontra flores, legumes frescos, objectos

antigos e especialidades de

diversos paises. Dê um passeio pelas

várias bancas e descubra coisas novas.

Informações sobre os horários e

locais em: www.zuercher-maerkte.

ch. Gratuito.

www.zuercher-maerkte.ch

TERÇA-FEIRA - 24.5.

DESPORTO SEM PISO

SUPERIOR

Não marca precisa de um estúdio

de fitness dispendioso. Não “rooftop”

das instalações fazer de Rua de Treino

pode treinar força e resistência

enquanto aprecia uma vista sobre

Zurique. Para isso, utilize bancos, degraus

e o peso do seu próprio corpo.

Um quadro com imagens explica os

exercícios. Seg-sáb 07:00 às 22:00.

Dom 08:00-20:00. Gratuito.

Rua Treino Parque de ZH no Telhado.

Pfingstweidstr. 36.

De eléctrico de 4 bis “Toni-Areal”.

www.street-workout.com

QUARTA-FEIRA - 25.5.

MÚSICA NA IGREJA DE

FRAUMÜNSTER

Como começar a quarta-feira da

melhor forma? Todas as quartas de

manhã desfrute de um concerto

de órgão de 15 minutos na igreja

“Fraumünster”. 07:45-08:00. Contribuição

espontânea.

Fraumünster. Münsterhof 2.

Bonde 2/6/7/8/9/11/13/17 bis “de Paradeplatz”.

www.musikimfraumuenster.ch

QUINTA-FEIRA - 26.5.

DINHEIRO DE TODO O

MUNDO

A história do dinheiro está bastante

ligada à história de um povo ou de

um país. O “MoneyMuseum” mostra

moedas de diversas regiões do mundo

e explica como o dinheiro tem

evoluído ao longo dos séculos. Qui

10:00-18:00. Entrada livre.

MoneyMuseum. Hadlaubstr. 106.

Bus 39 bis “Schäppiweg”.

www.moneymuseum.com

SEXTA-FEIRA - 27.5.

FAZER CAMINHADAS

De “Üetliberg” há um percurso com

planetas (“Planetenweg”) até “Felsenegg”,

que mostra a sua posição

no sistema solar: um metro corresponde

à distância de um milhão de

quilómetros. Esta caminhada com 2

horas de duração leva-nos a passar

pelo sol e pelos planetas. Chegando

um “Felsenegg”, aprecie uma maravilhosa

vista panorâmica para o lago

de Zurique e as montanhas. Gratuito.

Sihltal de Zurique, Uetliberg Bahn

SZU. Wolframplatz 21.

S10 bis “Üetliberg”.

www.zuerich.com

SÁBADO - 28.5.

CURSOS DE BICICLETA

PARA REFUGIADOS

Aos sábados pode aprender a andar

de bicicleta de forma segura e deslocar-se

na cidade. É possível começar

em qualquer altura. Há bicicletas

à disposição. Inscrições através

do e-mail friendsonbikes@gmx.ch.

13:30-16:00. Gratuito.

GZ Bachwiesen. Bachwiesenstr. 40.

Ônibus 67/80 bis “Untermoosstrasse”.

www.friendsonbikes.ch

DOMINGO - 29.5.

VISITA AO MUSEU DO

ANIMAL

O Museu Zoológico apresenta mais

de 1500 espécies animais de todo

o mundo. Aos domingos às 11:30 há

uma visita guiada pública sobre temas

variados. Ter-dom, 10:00-17:00.

Entrada livre.

Zoologisches Museum. Karl-Schmid-

-Strasse 4.

Bonde 6/9/10 bis “ETH/Universitätsspital”.

www.zm.uzh.ch

TERÇA-FEIRA - 31.5.

LINDENHOF

Aproveite um quente dia de Verão

em pleno coração de Zurique. O recinto

“Lindenhof” é o local perfeito

para descontrair e escapar à agitação

e movimento da cidade. Uma

vista sobre a zona histórica com a

igreja “Grossmünster” é incomparável.

Pode também saborear o seu

almoço uo tomar uma bebida ao

entardecer uo jogar xadrez com amigos.

Gratuito.

Lindenhof.

Bonde 7/10/11/13 bis “de Rennweg”.

www.zuerich.com

26 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

27



Salgueiro Maia

1944 -1992

Tinha 29 anos e uma coragem serena que lhe permitiu enfrentar alguns dos

momentos de maior tensão vividos no dia 25 de Abril de 1974. Depois de uma

alucinante viagem desde Santarém, à frente de uma coluna de blindados da

Escola Prática de Cava-laria, toma a Praça do Comércio e resiste a várias

investidas governa-mentais.

A população que ocorre ao local observa expectante os gestos e acções do

jovem capitão. Ao fi m da manhã, os cordões policiais rompem-se e Maia é já

saudado como um herói.

A sua consagração é alcançada no Largo do Carmo onde, com uma enorme

presença de espírito, domina a difícil espera pela rendição de Marcelo Caetano.

Natural de Castelo de Vide, fez os seus estudos secundários em Tomar e

em Leiria. Em 1964, ingressa na Academia Militar e, dois anos depois, na

Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Já capitão, combate na Guiné e em

Moçambique. Estando ligado activamente ao “movimento dos capitães”, foi um

elemento fundamental para a vitória alcançada no dia 25 de Abril.

No período revolucionário integrou a Assembleia do MFA, mas distan-ciou-se das

facções e recusou ocupar qualquer cargo político.

A sua verticalidade causou-lhe dissabores e alguma marginalização. Homem

simples, superior às pequenas lutas de poder, dedicou-se en-tão ao estudo

e a transmitir aos outros, sobretudo aos mais jovens, as suas experiências

e conhecimentos. Morreu prematuramente, a 3 de Abril de 1992, em

Santarém, vítima de cancro.

Filipa

Menina

morreu

aos 33 anos

Sobre ele escreveu Manuel Alegre:

Ficaste na pureza inicial

Do gesto que liberta e se desprende

Havia em ti o símbolo e o sinal

Havia em ti o herói que não se rende.

Joana Araújo

VENDO MORADIA T4

a menos de 5 minutos do

centro de Braga

Preço: - 210mil €

Info:E-mail: helio_gregorio@protonmail.com

Área total de zona habitável, cerca de 400m2

(r/c, 1º andar e sótão)

- 2 Cozinhas (1 r/c, outra no 1º andar)

- 4 Quartos (1 suite)

- 2 salões

- Sótão que dá para mais 2 quartos

-1 terraço com 26m2

- 1 varanda

- Anexos no fundo do quintal com ca. de 40m2

- Estacionamento frente à casa para vários carros.

- Piscina amovível. Poço e tanque

- Edifício está implantado num terreno com per-

to de 2000 m2, que poderá ser dividido para outra

habitação.

Tem nogueiras, figueira, ameixoeiras, pesseguei-

ro e citrinos (12 árvores)

- Local calmo e privado, a menos de 5 minutos do

centro de Braga.

- Transportes públicos, escola, restaurante, mini-

-mercado, padaria e três praias fluviais etc...

Foto: José Novais

Filipa Menina, jovem e promissora fadista,

que em 2021 participara no concurso televi-

sivo "The Voice", morreu a 21 de Abril, vítima

de doença prolongada. Tinha 33 anos e era

natural de Esposende. Deixa duas filhas me-

nores, de cinco e 10 anos, e marido.

A cantora iniciou-se na música com apenas

14 anos e só parou há quase cinco anos, al-

tura em que, por causa da paramiloidose

(doença rara e hereditária que afecta o sistema

nervoso), deixou de andar e de ser au-

tónoma.

Em Maio de 2018, fez um transplante de fígado

e, em Outubro de 2021, participou no pro-

grama televisivo "The Voice", onde partilhou

com o público o seu imenso sofrimento que

a afectava e que acabou por lhe tirar a vida.

Podem recordá-la e vê-la aqui:

Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | https://bit.ly/38oz7CB

28 www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

29



Margarida Leitão

Ferreira

Foi em Setembro de 2018 que o Tribunal

Constitucional da África do Sul, a

mais alta instância da justiça, decidiu

favoravelmente acerca da legalização

do cultivo de canábis para consumo privado.

Esta decisão do tribunal foi considerada

histórica, desde logo também

porque os três acusados em processo

crime decidiram recorrer da sentença,

alicerçando os fundamentos da sua

acusação com base na ingerência na

vida privada, uma vez que tinham sido

acusados após uma detenção com base

numa rusga domiciliária sem mandato.

Assim, por decisão unânime, os juízes

decidiram conferir legitimidade ao consumidor

adulto de canábis para o cultivo,

desde que esta se destine a consumo

próprio.

Na base da acusação inicial contra os

arguidos a sustentação estava fundamentada

pelo perigo que esta actuação

representava para a saúde pública. Mas,

durante o julgamento, o Juiz Raymond

Zondo proferiu a decisão, alegando o

seguinte: “It will not be a criminal offence

for an adult person to use or be

in possession of cannabis in private

for his or her personal consumption.”

Em português, esta decisão determina

não constituir conduta criminal a

posse de canábis para consumo próprio.

No entanto, permaneceu ilegal

o uso de canábis em público e a sua

venda ou fornecimento a outrém. A

canábis, a que os sul africanos chamam

“dagga”, deveria, segundo Jeremy

Acton, líder do partido Dagga,

ter sido legalizada também quanto à

posse, desde que ficasse comprovado

que o possuidor destinava o produto

ao consumo próprio. A Organização

Não Governamental The Cannabis

Development Council of South Africa

(CDCSA) aplaudiu a decisão e pugnou

ao Governo que retirasse as acusações

contra os três arguidos absolvidos em

sede constitucional.

A decisão do Tribunal não se ficou por

aqui, desde logo reconhecendo a necessidade

de reestruturação legislativa,

e emanou uma decisão em que

concedeu 24 meses desde a data do

acórdão para o Parlamento mudar as

leis em vigor, de acordo com a decisão

proferida, no sentido da regulamentação

efectiva desta substância no país.

Até que este trabalho complementar

fosse realizado por incumbência do

Parlamento, os adultos consumidores

de canábis em privado ficariam protegidos

pela decisão proferida neste

processo. A quantidade de canábis

que cada consumidor pode cultivar

para consumo próprio não foi definida,

devendo, ainda, o Parlamento tomar

uma posição em relação a esta

questão.

Infelizmente, a COVID-19 veio atrasar

substancialmente os desenvolvimentos

legislativos. Até agora têm sido

feitas emendas ao Medicines and Related

Substances Control Act 101, de

1965, em Maio de 2020, que aliviou alguns

preceitos legais mais restritivos.

Saúde

África do Sul:

“O cultivo e a posse de canábis para consumo

próprio não constitui conduta criminal”

Contudo, o Drugs and Drug Trafficking

Act 140, de 1992, ainda não teve desenvolvimentos

na parte da descriminalização

do cultivo para consumo

próprio, posse ou uso, tal como

demandava a decisão do tribunal de

Setembro de 2018. Desde então, não

houve alterações no que tange à propriedade

intelectual até ao presente.

Isto porque a maioria da legislação

acerca da propriedade intelectual vigente

na África do Sul assenta na proibição

de registo de todos os produtos

que sejam contrários à lei ou que possam

constituir ofensa ou conduta imoral.

Depreendendo que a propriedade

intelectual está directamente ligada

com as trocas comerciais, o enquadramento

da canábis e o cultivo para

consumo próprio permanece uma incógnita.

Em Abril de 2019 o Zimbabué

foi o segundo país africano a legalizar

a canábis para fins medicinais, seguindo

o exemplo do Lesoto. Na África

do Sul, a canábis medicinal pode ser

prescrita para qualquer problema de

saúde, desde que o médico determine

que ela pode ajudar no tratamento

do paciente. Depois da proibição, em

1922, a África do Sul descriminalizou a

canábis em 2018, para permitir a sua

utilização para uso médico, práticas

religiosas e outros fins.

______________________________

* Licenciada em Direito em 2005, com

estágio concluído e membro da Ordem

dos Advogados desde 2007, Margarida

Leitão Ferreira praticou advocacia

entre Porto, Matosinhos e Vila

Nova de Gaia durante 15 anos consecutivos,

exclusivamente na área do Direito

civil, bancário e Direito executivo.

Em 2015 ingressou na área imobiliária

e dedicou-se também ao estudo

da canábis no âmbito jurídico e dos

vários desafios que este tema representa.

A canábis tem vindo a desempenhar

um papel significativo no seu

percurso pessoal e profissional.

Crónica originalmente publicada na

edição #4 da Cannadouro Magazine

Corporações

Akanda Corporation

adquire Holigen à Flowr por 26 milhões de

euros, com olhos postos no uso adulto

Laura Ramos

A Akanda Corporation,

uma empresa

com sede no Reino

Unido e operações

em África, adquiriu

a Holigen à Flowr

Corporation por 26

milhões de euros,

conseguindo, assim,

a certificação GMP na

União Europeia. Com

a unidade de cultivo

indoor em Sintra,

projectada para produzir

mais de duas

toneladas de canábis

medicinal por ano, a

Akanda posiciona-se

também para o mercado

do uso adulto,

adquirindo ainda a unidade de produção

de Aljustrel, com cerca de 40 hectares.

Esta operação garante à Akanda

uma posição de liderança no sector da

canábis na Europa, Médio Oriente e África

(EMEA).

A Akanda já detinha uma unidade de

cultivo no Lesotho, um dos primeiros

países africanos a legalizar a canábis

medicinal, e a CanMart, uma empresa

de importação e distribuição que abastece

farmácias e clínicas no Reino Unido.

O Cannareporter tentou contactar o

CEO da Akanda, Tej Virk, mas sem sucesso

até ao momento.

O acordo adicionará activos valiosos de

cultivo, fabrico e distribuição à Akanda,

que está na bolsa (NASDAQ: AKAN),

para “acelerar o modelo desde a semente

ao paciente e atender à elevada

procura nos mercados europeus de

canábis medicinal, além de a posicionar

no mercado do uso adulto à medida

que as regulamentações evoluem”, diz

o comunicado de Imprensa.

A Holigen, que detém a subsidiária portuguesa

RPK Biopharma, foi adquirida

em Junho de 2019 pela Flowr Corporation

e obteve licença do Infarmed pouco

depois, em Julho de 2019, tendo

sido considerado um PIN – Projecto de

Interesse Nacional, ao investir mais de

40 milhões de euros em Portugal.

No início de 2022, a Flowr anunciou

que a subsidiária Holigen tinha concluído

com sucesso a primeira colheita

de canábis medicinal com elevado

teor de THC nas instalações de Sintra,

esperando colher aproximadamente

300 quilos no primeiro trimestre.

As estimativas apontaram para uma

produção anual de mais de duas toneladas

de “canábis premium“ numa

das poucas unidades com certificação

Desenvolvimento mais alargado, destes artigos, podem ser lidos na edição digital desta revista, aqui:

Leia estes e outros artigos em

WWW.CANNAREPORTER.EU

europeia de boas práticas de fabrico

(GMP), além de mais de 100 toneladas

de canábis cultivada no exterior, em

Aljustrel.

De acordo com os termos da aquisição,

a Akanda irá também beneficiar

da biblioteca de genética disponibilizada

pela Flowr, incluindo os seus premiados

BC Pink Kush, BC Black Cherry

e BC Strawnana, bem como algumas

novas genéticas exóticas que serão exportadas

para Portugal a partir do Canadá

.Os testes iniciais em andamento

para ambas as genéticas da canábis

medicinal estão a indicar altos níveis

de teor de THC, superiores a 25%.

O mercado europeu de canábis medicinal

continua a crescer à medida

que outros países actualizam as suas

leis para a canábis medicinal. A Prohibition

Partners estima que o mercado

médico gerou aproximadamente 382

milhões de dólares em 2022 e chegará

a 2,5 mil milhões até 2026.

https://tinyurl.com/LUSITANO-ZURIQUE

O CannaReporter é um projecto independente e completamente

suportado pela comunidade. Para conti-

nuar a desenvolver este projecto, o apoio dos leitores

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30 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

31



INVESTIGAÇÃO

Portugal:

Juízes e Procuradores estão a arquivar processos

de cânhamo por “falta de indícios de

crime”

depoimentos recolhidos é o elemento subjetivo em qualquer

das modalidades do dolo. Os arguidos agiram sempre

convictos de que estavam a abraçar uma oportunidade de

negócio, que viam praticada em países da comunidade,

atividade essa que respeitava até as portarias a que a Lei

15/93, de 22 de Janeiro se ancora.”

De acordo com o disposto no art.º 286°/1 do CPP – Código

de Processo Penal, a instrução visa a comprovação

judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o

inquérito, de forma a submeter ou não o caso a julgamento.

Ou seja, a instrução destina-se a verificar se existem indícios

suficientes da prática, pelos arguidos, dos factos e

crimes dos quais foram acusados, servindo ainda para se

verificar se se mostram presentes todos os pressupostos

processuais de que depende a acusação. Carlos Alexandre

considerou que não.

“Ao contrário do propugnado pelo Ministério Público o

aduzido pelos requerentes de abertura de instrução, os

autos contêm e eles foram escrutinados, indícios que se

consideram fortes em ordem a não submeter os arguidos

a julgamento pelos crimes que lhes são imputados na acusação,

remetendo-se assim para a fundamentação a respeito

produzida pelos arguidos.

O caso de Patrick e da GreenSwallow

Laura Ramos

comércio de cânhamo com menos de 0,2% de THC foram

arquivados em Portugal, o que faz antever decisões semelhantes

noutros casos pendentes e, eventualmente, futuros.

Patrick Martins foi visitado pela PSP – Polícia de Segurança

Pública – no dia 2 de Julho de 2020 na sua loja, Green

Swallow, e automaticamente constituído arguido pelo crime

de “tráfico de estupefacientes”. A maior parte do stock

foi apreendida. Ficou com termo de identidade e residência,

com apresentações obrigatórias de duas vezes por

semana e impedido de se ausentar da sua residência em

Lisboa “por mais de 5 dias, sem comunicar o lugar onde

possa ser encontrado no país”. Na altura, Patrick vivia a

maior parte do tempo com a sua mulher em Londres, o

que acabou por lhe causar um transtorno sem precedentes,

a nível pessoal e profissional, pois viu-se obrigado a

permanecer em Portugal por mais de 18 meses, sem autorização

de saída.

Na decisão instrutória, proferida mais de 20 meses após a

apreensão, o Juiz Carlos Alexandre citou a legislação europeia

e o limite de 0,2% de THC permitido no cânhamo industrial,

mas no documento acabaria por referir “2% THC”,

o que pode ter sido lapso do escrivão.

Consequentemente, estando convicto de que estes factos

se submetidos a “qua tale” a Julgamento é mais forte a

probabilidade de exoneração de responsabilidade, decido

não pronunciar os arguidos do ilícito que lhes imputa o

Ministério Público. Os relatórios periciais e o Relatório final

da Polícia Judiciária sopesados à luz das regras de experiência

comum e da normalidade do acontecer de que os

aqui arguidos sempre estiveram convictos da legalidade

da sua atuação.

Sem pretender tomar posição apodítica sobre a bondade

e legalidade, no estado atual da legislação portuguesa e

da que foi recebida por via de regulamentação ancorada

da União Europeia, embora não deixemos de dizer que

damos por reproduzidas as considerações trazidas pelos

arguidos, de que se nos afigurar que a regulamentação comunitária

saída e vigente após a Lei 15/93, de 22/01 e da

Portaria 94/96, de 26/03, já foi acolhida em Portugal como

doutamente explanado pelos defensores dos arguidos.

Os processos judiciais de comerciantes e de agricultores

de cânhamo industrial, acusados do crime de “tráfico

de estupefacientes”, estão a ser, invariavelmente,

arquivados por Juízes e Procuradores da República Portuguesa.

Patrick Martins, fundador da Green Swallow e

presidente da ACCIP – Associação dos Comerciantes do

Cânhamo Industrial de Portugal e António João Costa,

vice-presidente da Cannacasa – Associação do Cânhamo

Industrial, ambos constituídos arguidos por comercializar

e cultivar cânhamo, respectivamente, foram

ilibados de responder em tribunal, por “não existirem

indícios suficientes da prática de um crime”.

Nos dois últimos meses, o Cannareporter soube que pelo

menos mais três inquéritos relacionados com o cultivo e

“Não considero que, com estes elementos, seja mais forte

a probabilidade de condenação do que a de exclusão da

sua responsabilidade, pelo que forçoso é não pronunciar

os aqui arguidos, o que se decide, determinando o oportuno

arquivamento dos autos”, escreveu o Juiz de Instrução

Criminal, Carlos Alexandre, a 28 de Fevereiro de 2022, na

decisão instrutória do processo judicial de Patrick Martins

e do seu sócio na Green Swallow, uma cadeia de lojas de

produtos de cânhamo. O Ministério Público tinha 30 dias

para recorrer da decisão, mas não o fez.

As quantias despendidas em custos processuais e administrativos

foram, obviamente, avultadas, tanto para o Estado

como para os arguidos nos casos que passamos a descrever.

“Os aqui arguidos lançaram-se a comercializar os produtos

do tipo dos que foram apreendidos na base da aplicação

em Portugal da legislação comunitária que consente tal

actividade para produtos ou artigos que não tenham mais

do que 2% THC (sic).”

Além disso, o Juiz salientou que “agiram convencidos de

que estavam a actuar em moldes tolerados pela legislação

penal portuguesa e socialmente aceites. Os interrogatórios

dos arguidos foram coerentes com este racional.

Não há, pois, tudo o indicia, elementos factuais que consubstanciem

os elementos objetivos do tipo de tráfico de

estupefacientes. E, de certo, o que não há aqui no caso

concreto sub judice, vistos os elementos apreendidos e os

Consequentemente, não considero que, com estes elementos,

seja mais forte a probabilidade de condenação

do que a de exclusão da sua responsabilidade, pelo que

forçoso é não pronunciar os aqui arguidos, o que se decide,

determinando o oportuno arquivamento dos autos. Oportunamente,

arquive-se.”, determinou.

O caso de João Costa: grau de pureza de 0,2% de THC é

“um valor inferior a uma dose”A 23 de Fevereiro passado

também o caso de António João Costa, vice-presidente

da Cannacasa – Associação do Cânhamo Industrial – foi

arquivado, “nos termos do Artº 277 do Código de Processo

Penal”. João tinha sido constituído arguido pelo “crime

de tráfico de estupefacientes” no dia 21 de Dezembro de

2020, apesar de ter explicado aos agentes que o que tinha

32 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

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em casa era cânhamo industrial, e a sua detenção foi divulgada

para a Imprensa. Foi presente a tribunal e, também

ele, ficou com a medida de coação de termo de identidade

e residência. Na notificação que recebeu do Ministério

Público, lê-se que o inquérito foi aberto dando conta que

João Costa “cultiva na sua residência sita no (…) plantas de

canábis”.

“A factualidade denunciada é susceptível de integrar a prática

de um crime de tráfico de estupefacientes, p. E p. Pelo

artigo 21º, nº 1 do DL nº 15/93, de 22 de Janeiro.

Durante as buscas domiciliárias à residência de João Costa,

no dia 21-12-2020, foram apreendidas:

1363.600 gramas de sementes de canábis;

24.100 gramas de folhas de canábis;

467.900 gramas de folhas de

canábis (sic)

Interrogado na qualidade de

arguido, João Costa disse que

era “produtor de cânhamo a

nível industrial” e que tinha documentação

que confirma as

suas declarações, além de ter

contactado as autoridades responsáveis

como o Ministério da

Agricultura, a GNR e a Polícia

Judiciária, dando conhecimento

de que se encontrava a desenvolver

a referida actividade”.

A notificação de João Costa

continua dizendo que “realizado

o exame pericial ao material

apreendido verifica-se que, de

facto, trata-se de canábis (folhas

sumidas) porém com um grau de pureza de apenas 0,2%,

o que dá, no total, um valor inferior a uma dose, de acordo

com a Portaria 94/96. As sementes destinadas à sementeira

de cânhamo para a produção de cânhamo para fins industriais

têm que ter um teor de THC que não pode ser superior

a 0,2, o que se verifica no presente caso”. A notificação

refere ainda: “verifica-se da documentação remetida pelo

arguido que o mesmo solicitou autorização para o cultivo

de cânhamo aqui na Região Autónoma da Madeira, não

obstante não ter documentalmente provado de que já dispunha

da respectiva autorização”.

“Ora face a toda a prova produzida nestes autos, entende-se

que, de facto, o arguido cultivava cânhamo para fins industriais

e que, nessa sequência, iniciou um processo tendo em

vista poder iniciar a respectiva cultura em cumprimento de

todas as normas e requisitos legais exigíveis. Assim, entende-se

que não se reuniram indícios suficientes da prática

pelo arguido do crime de tráfico de estupefacientes, sendo

certo que se o arguido detinha cânhamo e se iniciou o seu

cultivo sem as licenças / autorizações legais, poderá incorrer

em responsabilidade contraordenacional.”

Pelo exposto, e sem necessidade de maiores considerações,

determino o arquivamento do inquérito, nos termos do artigo

277º, nº 2, do Código de Processo Penal”.Assina a Procuradora

da República Carla Pinto.

O caso de António, proprietário de uma loja de cânhamo

em LisboaExactamente nos mesmos termos foi também

arquivado o processo de António (nome fictício, pois prefere

não ser identificado), sócio gerente de uma loja de canábis

na zona da Grande Lisboa. No processo de arquivamento, a

que o Cannareporter teve acesso, pode ler-se que “no presente

inquérito investigaram-se factos relacionados com

a comercialização de potenciais produtos estupefacientes

em dois estabelecimentos comerciais (…) designadamente

produtos à base de cânhamo, alegadamente com teor de

THC inferior a 0,2%. A factualidade em causa é susceptível

de integrar, em abstracto, a prática de um crime de tráfico

de estupefacientes de menor gravidade, p. E p. Pelos arts.

21º, nº1 e 25º, al. A), do Código Penal.

Neste caso, os relatórios

das perícias realizadas

aos produtos apreendidos

numa das lojas (apenas

folhas e sumidades)

revelaram que alguns

deles, nomeadamente

saquetas com folhas ou

sumidades de canábis,

tinham graus de pureza

entre 0,3 e 0,5% de THC,

o que ultrapassa o limite

legal (de 0,2%) em Portugal,

correspondendo

a um x de doses diárias.

Nos restantes, que cumpriam

o limite de 0,2,

não foram calculadas as

doses diárias, referindo-

-se “grau de pureza de

<0,2%, não correspondendo

a dose diária”.

Neste processo foi ouvido como testemunha “um especialista

em segurança da empresa TNT/Fedex, que disse que

foi contactado pelos serviços de segurança espanhóis da

referida empresa, referindo-lhe que, através de canídeos,

havia sido detectada uma encomenda que indiciava ter

produto de substâncias estupefacientes, mas que as autoridades

espanholas não possuíam fundamento legal para

reter tal encomenda postal, porquanto a documentação da

mesma indicava um teor de THC inferior a 0,2% e, em Espanha,

o limite legal corresponde a 0,6%”.

Os produtos apreendidos com teores de 0,3 e 0,5% de THC

são ilegais em Portugal, mas António garantiu ao Cannareporter

que todos os produtos que vendia na loja tinham

certificado de análise a atestar o valor inferior a 0,2% de

THC. Disse também que nem a polícia nem o tribunal lhe

revelaram quais os produtos que acusaram valores superiores,

por isso ficou sem saber qual foi o fornecedor que mentiu

no certificado de análise. No processo de arquivamento

de António refere-se ainda que o mesmo estava “convencido

que a sua atividade está dentro das normas legais em

vigor e que colaborou sempre com as autoridades, designadamente

autorizando buscas aos seus estabelecimentos e

abrindo voluntariamente encomendas, de forma a mostrar

aos OPC’s que a mercadoria em causa não estava à margem

da lei. E tal basta, segundo cremos, para que consideremos

que a conduta do arguido, máxime tendo em conta o recente

quadro legal (conjugado com a data prática dos factos),

não seja dolosa (…) então outra solução não nos resta que não

seja a de determinar o arquivamento do inquérito, por não se

terem recolhido indícios suficientes de que o arguido, com a

sua conduta, preencheu o elemento subjectivo do crime em

causa”.

E, mais uma vez, se decidiu que “pelo exposto, por não se terem

recolhido indícios suficientes quanto ao preenchimento

do elemento subjectivo do tipo de crime em apreciação nestes

autos, determino o arquivamento do inquérito, nos termos

do art.º277, nº2, do Código de Processo Penal. (…) Mais

promovo seja determinada

a destruição do produto estupefaciente

apreendido e

eventuais amostras cofre, em

conformidade com o disposto

no Art.º62, nº6, do Decreto-Lei

n.º15/93”, termina.

António lamentou ao Cannareporter

a perda de milhares

de euros em produtos, não só

os que estavam fora dos limites

de THC, que eram a minoria,

mas também todos os outros

que cumpriam os limites,

que não lhe foram devolvidos.

O mesmo aconteceu com

todos os outros arguidos, a

quem as mercadorias apreendidas

nunca foram devolvidas.

Além de Patrick, João e António,

pelo menos mais uma

proprietária de loja similar no Alentejo e outro agricultor de

cânhamo viram os seus processos arquivados recentemente

por falta de indícios da prática de um crime. Estes casos podem

antever, portanto, uma tendência de não condenação

de quem se dedicar à produção e ao comércio de produtos

derivados do cânhamo em Portugal.

Forças policiais não estão articuladas entre si

As apreensões foram feitas pela PSP ou pela GNR e, no caso

de alguns agricultores, denunciadas pela DGAV, mas as análises

aos produtos apreendidos são feitas pelo Laboratório de

Polícia Científica da Polícia Judiciária (PJ).

O Despacho n.º 10953/2020, que definiu as competências em

matéria de controlo do cultivo de cânhamo para fins industriais,

estabelecia, no ponto 7, que “A DGAV, o IFAP, a PJ, a

GNR e a PSP devem, no prazo máximo de 30 dias após a

publicação do presente despacho, celebrar protocolo onde

sejam indicados os pontos focais de cada entidade e, de forma

detalhada, os meios de articulação entre si”.

A verdade é que, quase um ano depois desse prazo máximo

de 30 dias, o Cannareporter questionou a DGAV, a GNR e a

PJ sobre o referido protocolo e ele ainda não tinha visto a luz

do dia e, até à data, não foi tornado público. As análises do

Laboratório de Polícia Científica aos produtos apreendidos

demoraram, em média, cerca de de 18 meses, período durante

o qual os arguidos se viram obrigados a medidas de

coação como o termo de identidade e residência, com apresentações

periódicas obrigatórias na polícia, normalmente

de duas vezes por semana, e impossibilidade de se ausentarem

do país. Além desses transtornos nas suas vidas pessoais,

todos perderam completamente o tempo e o dinheiro

investido nas suas produções ou stock apreendido, além das

somas avultadas que tiveram de gastar na sua defesa, com

advogados e custos judiciais e administrativos.

GNR e PSP e PJ acusam publicamente os produtores de

cânhamo de tráfico de estupefacientes

Patrick Martins, João Costa

e António não foram, aliás,

os únicos a ser constituídos

arguidos pelo “crime de

tráfico de estupefacientes”

nos últimos anos em Portugal.

Tal como ele, vários

comerciantes de lojas de

canábis e produtores de

cânhamo industrial foram

detidos, acusados, constituídos

arguidos e sujeitos

a termos de identidade e

residência, além de se terem

visto retratados nos

meios de comunicação

social como “traficantes”.

Em vários casos, como o

de Barry McCullough, Hugo

Monteiro ou Pawel Szopa,

por exemplo, a GNR – Guarda

Nacional Republicana

– enviou comunicados de

Imprensa no dia da apreensão, dizendo que se tratava de

canábis, antes de se certificar que, efectivamente, se tratava

de cânhamo industrial. A GNR admitiu ao Cannareporter que

não conseguia distinguir cânhamo de canábis. Com António

João Costa aconteceu o mesmo, com a PSP a enviar um comunicado

de Imprensa sem antes se certificar do que realmente

tinha apreendido.

O Cannareporter soube também que a Polícia Judiciária visitou

um produtor de cânhamo meses depois de ter sido detido,

para lhe pedir amostras do que cultivava, mas o agricultor,

que vive perto da Sertã, disse que não lhes podia fornecer

nada, uma vez que a GNR já tinha levado tudo. A PJ terá confidenciado

ao agricultor que “esse não era o procedimento”

e que a GNR não teria competência para apreender as plantas

em questão. Aqui a história adensa-se. O Cannareporter

contactou a Polícia Judiciária para esclarecer a situação, mas

nunca obteve resposta às questões enviadas, em Novembro

de 2021, apesar da insistência, tanto por email como por telefone.

34 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

35



Crónica

Crónica

Horrores e Amores entre

e realidade e a ficção

Graça Foles Amiguinho

Soam as sirenes, avisando

que é urgente toda

a gente se refugiar nos

abrigos.

São jovens, crianças e

idosos, numa angústia

desmedida, correndo,

como podem. O terror

veio bater-lhes à porta.

Os tempos de paz e alegria

fugiram, num só

dia.

A ansiedade, a incerteza e o medo de

perder a vida e ver morrer, tomaram

conta de todos.

O inimigo, impensável, porque nada

fizeram para que fossem tão brutalmente

atacados, enfureceu-se e procura

destruir, arrasar, matar, para reinar,

para dominar.

Mais parecem estar vivendo um filme

de ficção, que se tornou uma realidade,

tão próxima e dolorosa.

Já não há lágrimas para derramar. A

tristeza absorveu tudo. Nada lhes resta,

senão esperar a hora de partir, ou

morrer, debaixo dos escombros que

as armas mortíferas deixam. Mas não

desanimam.

Reúnem numa mochila, o indispensável

para as primeiras horas de debandada

e o resto, Deus dirá, como

será.

As crianças ficam atónitas, pois não

conseguem entender o porquê desta

fuga, a razão do silêncio, a tristeza espelhada

no olhar dos pais, que se separam

com os corações partidos.

YANA é a filha mais nova de um casal

que vivia confortavelmente numa linda

casa, na cidade de MARIUPOL.

O pai, YROSLAV é médico pediatra e a

mãe, NADEZHDA é professora de música.

Ela frequentava a pré primária e

sente imensa falta das suas amigas,

com quem brincava. Não esquece a

sua linda professora, a jovem KATYA,

com quem viveu momentos muito

bonitos.

Tem um irmão, com 15 anos, o PA-

VLO, que não teve que ficar junto do

pai para defenderem a sua cidade, do

ataque ignóbil do inimigo russo, por

ser um adolescente.

Às costas, carrega a sua guitarra, fiel

companheira, que toca com arte e encanto.

Nas primeiras noites, ficaram na cave

de uma igreja, juntamente com outras

famílias.

Com eles levaram o seu pequenino

cão, que sozinho, morreria, ao abandono.

O pároco, RUSLAN, é um jovem que

dedicou a sua vida a ajudar os irmãos

que sofrem.

A vontade de conversar é pouca, mas

é preciso partilhar o sofrimento com

outras famílias e encontrar a força necessária

para enfrentar momentos tão

estranhos e perigosos.

Encontraram um lugar seguro, onde

poderão passar a noite.

Há colchões espalhados pelo chão,

há brinquedos por todo o lado, há comida

suficiente para ninguém sentir

fome.

Só falta a alegria, a vontade de cantar

e dançar, o prazer de correr de bicicleta

ou a pé, pelos parques da cidade

que está debaixo de tiroteio, ouvindo-

-se o ribombar dos canhões.

NADEZHDA tenta ligar ao marido para

saber onde está e, sobretudo, se está

bem. Mas, naquele local a rede de comunicação

é fraca e não consegue estabelecer

a chamada.

O seu coração parece saltar-lhe pela

boca, tão preocupada está!

Há uma prece que todos sabem e em

comum, rezam, com muita fé:

“Quem teme ao homem cai em armadilhas,

mas quem confia no Senhor

está seguro”.

Faz-se silêncio na ampla cave da igreja

e muitos continuam de olhos fechados,

rezando, em silêncio.

As crianças, cansadas, começam a

adormecer e nos seus sonhos, sobressaltadas,

muitas acordam gritando e

chorando, pensando não estar perto

da família.

Amanhece e os sinos da igreja tocam a

repique, avisando que, mais uma vez, o

inimigo se aproxima.

É preciso procurar uma solução que

garanta mais segurança.

Talvez, partir de comboio, rumo à Polónia,

onde têm amigos que os poderão

receber, por uns tempos.

Dirigem-se à estação dos comboios e

a confusão é enorme. Há soldados em

todos os cantos, receosos que se infiltrem

inimigos.

Sem lugares para se sentarem, quase

em cima, uns dos outros, ouve-se o apito

de partida.

Uma multidão se prepara para partir

da cidade que ama, mas onde a sua

segurança está em causa.

As pessoas tentam entrar e partir, o

mais rápido possível.

A pequena YANA vai apoiada na mão

firme da sua mãe, que com na outra

mão carrega um pequeno saco.

PAVLO leva o seu saco, a guitarra e ao

colo, o seu cãozinho. O cãozinho, também

está assustado com o barulho da

guerra, sem entender nada do que se

passa.

Mas percebe que o seu dono está tremendo

e com vontade de chorar.

Para trás ficam os avós maternos que

vivem numa quinta, no campo, onde

cultivam milho e trigo. Os seus nomes

estão guardados nos seus corações:

NADYA e ANDREY.

Nos fins-de-semana iam para lá para

respirarem ar puro e poderem correr

pelos campos e brincar. Dias muito felizes.

Muitas vezes ajudaram o avô nos

trabalhos do campo e a avó, nas tarefas

caseiras.

A avó NADYA cozinhava muito bem

a sua sopa preferida: Borsch Borsch,

uma sopa de vegetais feita de beterraba

como ingrediente principal, também

popular na Rússia e na Polónia.

Entretanto, NADEZHDA recebe um telefonema

do marido e fica aterrorizada.

O hospital pediátrico e maternidade

da cidade onde trabalha, foi atacado

pelos mísseis russos. Estão vivendo

momentos de angústia e medo. Um

horror, que nunca imaginara ver, apesar

de saber que a maldade dos homens

não tem limites.

Destruição total das enfermarias, muitos

feridos e crianças mortas.

Acalma a esposa, dizendo que está

bem, apenas tem umas escoriações na

cabeça, provocadas por um teto que

abateu no local onde estava.

Mulheres grávidas, prestes a dar à luz

têm a sua vida em perigo e a vida da

criança que trazem no ventre.

YAROSLAV está tristíssimo e muito

preocupado. Todos lutam com coragem

mas não conseguem deter completamente,

o inimigo, que continua a

destruir a sua terra.

Como poderão resistir ao avanço constante

do exército russo, armado até aos

dentes? Não respeitam as regras estabelecidas.

Atacam tudo e todos, sem

olhar para trás.

Uma força malévola os domina. Nada

os demove! Nada os impede de continuarem

a destruir e a matar inocentes.

Muitas cidades e vilas estão completamente

destruídas e desertas.

Os idosos que vivem nos Lares estão

sendo evacuados, porque os ataques

chegam a todos os lugares. A maldade

é cega.

Os avós paternos de YANA e PAVLO

devido a idade avançada e para terem

melhor assistência e quem os cuidasse,

vivem num Lar residencial na cidade

de MARIUPOL.

Já tiveram que ser evacuados para outro

lugar, para não sofrerem os ataques

aéreos, que constantemente se ouvem

na cidade.

Estão vivos, mas muito assustados e

preocupados com o filho, os netos e a

nora.

Não imaginaram, jamais, viver uma

guerra agora, nos seus últimos dias.

O comboio avança, lentamente, pois

há necessidade de saberem se há condições

para prosseguir a viagem com

segurança.

As notícias recebidas nos seus telemóveis

são preocupantes. Não se vislumbra

a esperança de haver um regresso

à Paz perdida, sem uma razão que

consigam entender.

Faz frio, as temperaturas de inverno

são baixas. Embora estejam bem agasalhados,

sentem a falta de condições,

comparadas com a sua vida normal.

Muitas vezes fizeram esta viagem, mas

com outras condições, com tranquilidade,

toda a família reunida e sem

medo de nada.

Esta viagem é muito diferente. A alegria,

os sorrisos, a esperança do reencontro

com a família ficam ofuscados

pela tristeza, pela dor de saberem que

na sua Pátria, há gente que morre, há

choro, lágrimas e muito sangue derramado.

Até quando?

NADEZHDA não conta aos filhos tudo

o que o seu amado esposo lhe disse

para não assustar as crianças.

Seguem o percurso em silêncio, pois

todas as pessoas carregam a tristeza e

a dor de deixarem a sua casa, a família

e as recordações de uma vida.

Ouvem na internet uma notícia que

muita tristeza lhes traz!

Conheciam bem a jovem YULIA ZDA-

NOSKA, a premiada com a medalha de

prata nas Olimpíadas de Matemática,

em 2017.

Sabem que tinha decidido não fugir,

tendo afirmado, no início da guerra:

-“Vou ficar na Ucrânia, até ganharmos!”

Tristemente, morreu num incêndio,

após explosão causada por um míssil

russo que atingiu a zona residencial

em que vivia, em KHARKIV.

Histórias de vida que o povo Ucraniano

e todo o mundo civilizado nunca poderão

esquecer, porque ficam escritas

com sangue inocente impregnado de

coragem.

Ainda em viagem e de coração triste e

lágrimas escorrendo, sem as conseguir

conter, PAVLO começa a desenhar uma

melodia para um poema que nasce no

seu pensamento. Não é a primeira vez

que escreve as letras para as melodias

que vai criando.

Afinal, longe da escola, dos amigos,

do pai e da sua casa, vai tentar, custe

o que custar, transformar todo o sofrimento,

esta angústia que o quer dominar,

em música e poesia.

E os primeiros versos surgem no seu

pensamento. Para que não se esqueça

do que a sua mente lhe dita, pega

numa esferográfica e no próprio bilhete

do comboio, escreve:

Morte infame, morte maldita!

Vieste roubar a vida de uma jovem erudita!

As chamas queimaram o seu destino,

mas o seu exemplo correrá

36 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

37



por este mundo em desatino!

Oh YULIA , Oh! YULIA! Oh! YULIA!

As notícias que vão chegando e que

vão lendo no telemóvel são desanimadoras.

Na cidade de BUCHA, a situação é

dramática.

Idosos, muito idosos, interrogam-se

qual será o seu destino. Uma vida

cheia de trabalhos. Alguns já passaram

por outras guerras e agora, com

93 anos, são obrigados a sair das suas

casas, sob um tempo gélido, quando

poderiam estar confortavelmente

aquecidos e aconchegados nos seus

lares.

Há notícias de pessoas que há dez

dias estão em caves onde falta tudo,

alimentos, higiene, medicamentos

para os doentes, estando sempre sujeitos

a ser roubados, por espiões sabotadores,

ficando sem o pouco que

levavam.

Um Orfanato onde vivem dezenas de

crianças institucionalizadas tem que

ser evacuado e todos têm que fugir

para a Polónia.

O povo Ucraniano, um povo pacífico,

educado, mostra-se revoltado.

Há quem compare Putin, a Hitler.

Há assaltos e assassinatos para roubarem

bens essenciais.

Entretanto surgem notícias de esperança,

também.

Muitos países estão prontos a acolher

os refugiados e entre eles, Portugal dá

um grande exemplo.

Portugal é um país pequeno, pobre,

mas de grande coração.

São inúmeras as manifestações de solidariedade,

vindas de norte a sul de

Portugal.

As populações mobilizam-se e conseguem

reunir toneladas de bens para

enviar para a Ucrânia.

Grande alegria sentem ao saberem

que há a possibilidade de emigrarem

para Portugal.

Em Portugal poderão refazer as suas

vidas.

Sabem que o Governo português está

aberto a dar-lhes boas condições,

com gestos de solidariedade, permitindo-lhes

o acesso à cidadania, cuidados

de saúde, habitação e trabalho.

Em Portugal, NADEZHDA poderá encontrar

uma escola onde lecionar de

acordo com a sua especialização e

tanto YANA como PAVLO entrarão na

escola e continuarão os seus estudos.

Todos terão que aprender a língua

portuguesa. Mas, nada lhes mete

medo. Só a guerra os intimida.

Pela cabeça da Mãe passa o sonho

de o seu amado esposo, YAROSLAV,

quando a guerra terminar, vir para

Portugal, trabalhar num Hospital pediátrico.

A insegurança, no seu país, será uma

constante, sem fim à vista.

Enquanto NADEZHDA e PAVLO vão

lendo as notícias, a pequenina YANA,

brinca com o cãozinho e reparte com

ele um pedaço do seu pão.

O tempo custa a passar. Parece terem

entrado no comboio, há um século.

Tão lentamente avança que perderam

a noção das horas.

Brevemente estarão em Varsóvia.

Mas não conseguem desligar-se das

notícias que chegam, minuto a minuto.

Sabem que chegaram muitas crianças

a Varsóvia que testaram positivo à

Covid 19. Um verdadeiro martírio que

se junta à fuga obrigatória.

Ligam aos avós, NADYA e ANDREY e

estes contam que os seus galinheiros

foram assaltados e lhes levaram todas

as galinhas.

Não bastando isso, foram ao celeiro e

carregaram os sacos de trigo e milho

que tinham guardados.

Pensam ter sido militares russos que

segundo se consta, estão com falta de

alimentos.

Mas nunca se sabe, se serão ou não.

Em tempo de guerra tudo pode acontecer.

As pessoas perdem, completamente,

a noção do que é certo ou errado.

Fazem tudo para sobreviverem.

Mas, felizmente, não foram atacados.

Foi tudo tão silencioso, que não se

aperceberam de nada.

Admiram muito a atitude do seu Presidente,

VOLODYMYR ZELENSKY.

A sua postura, o seu discurso sincero

e humanista têm tido uma força incrível

para dinamizar tanto soldados,

como civis, a combater pela sua terra,

a defendê-la do ataque de um inimigo

tão poderoso e desumano, que não

tem dó nem piedade de ninguém.

Vêem imagens de sofrimento de idosos

doentes e atitudes de uma dedicação

enorme das suas famílias, muitas

que sacrificam a própria vida, para

ficarem junto dos que amam e estão

acamados.

Também os animais têm sido tratados

com muito carinho. Gatos e cães são

levados pelos seus donos. Os que não

podem partir são levados para lugar

onde aguardam novos donos.

Sabem, pelas notícias que correm,

que as tropas russas continuam a tentar

entrar na sua linda cidade de KIEV.

Ouvem, atentamente, o discurso do

seu Presidente, ao Parlamento Polaco.

Emocionante. As lágrimas não podem

ser contidas.

As últimas palavras, como uma prece,

são o sentir de um povo que acredita

que DEUS não o abandonará!

Putin, não desiste. Putin precisa de

mercenários. O Povo russo não chega

para esta guerra?

Abandonam carros por todo o lado.

Milhões de euros que ficam na lama e

que o povo Ucraniano aproveita para

combate.

O povo Ucraniano não desiste de reparar

instalações de fornecimento de

água para abastecimento dos residentes

que ficam.

Um Povo que luta com as suas próprias

armas, sem ajuda de ninguém.

Os russos continuam a bombardear

gente indefesa.

Querem destruir, matar e os soldados

nem sabem para quê, apenas sabem

que podem ter o destino de outros

colegas seus, que ficaram mortos no

chão, sem os seus corpos serem sequer,

recolhidos, para as famílias se

despedirem deles.

Sabem que há manifestações na Rússia,

contra Putin, mas o destino de

quem não concorda com Putin é a

prisão e sabe-se lá se voltarão a ter algum

dia, liberdade.

Também há notícia de pessoas que

estão sendo levadas, por engano, para

a Rússia.

A aflição é tamanha que nem perguntam

para onde as vão levar.

Entram nos transportes, apenas com

o desejo de sair do cenário de guerra

e morte em que estão vivendo.

Finalmente, avistam a estação do caminho-de-ferro

de Varsóvia.

No meio de tanta gente que está na

gare, conseguem ver um lenço azul e

amarelo, a acenar.

É a prima KATARZYNA e o marido, JÓ-

ZEF.

Sorriem, comovidos, quando a carruagem

passa, lentamente, por eles.

Parou.

Calmamente, aguardam a sua vez de

sair.

As pernas estão entorpecidas de tanto

tempo estarem sentados.

Mas esta primeira viagem terminou

bem.

Estão a salvo.

No apeadeiro avançam, como podem,

ao encontro dos familiares. Não é fácil.

São centenas de pessoas que viajavam

em dez carruagens e muita gente que

as espera.

Mas, o sinal do lenço no ar ajuda o encontro.

Choram, abraçados e comovidos.

Não são precisas palavras para manifestarem

o agradecimento que sentem

por terem sido, de imediato, acolhidos

pelos primos.

Os primos sabem muito do que se tem

passado, mas só quem viu e viveu os

últimos dias na Ucrânia atacada, sabe

definir o que é o horror de uma guerra.

Haverá ocasião de falarem sobre muitas

coisas.

Agora é altura de prepararem um bom

banho quente e uma boa refeição que

já fumega, na cozinha.

Mas não há sossego em parte alguma.

As notícias da desgraça são em catadupa.

Em IRPIN, as tropas Ucranianas resistem

aos brutais ataques dos russos.

Idosos acamados, gente desolada, dizendo

entre lágrimas, que deixaram

para trás as suas casas ardidas.

O desejo de ir para bem longe é maior

do que tudo o que possam pensar.

Uma senhora conta ter nascido no

tempo da guerra, ficou órfã e agora

volta a passar pelo mesmo martírio.

Passaram por frio, fome e sofrimento,

muito sofrimento. Precisam encontrar

um sítio onde não haja guerra.

A ponte destruída para evitar o avanço

dos russos, dificulta-lhes o caminho.

Mas a vontade não esmorece. Os seus

soldados vão vencer!

O inferno, mesmo distante, continua a

afligir quem ama a sua terra e quem

nela deixou amores.

As notícias não dão a entender que o

amanhã será melhor. É preciso muita

coragem para não desanimar e continuar

a confiar na força do Bem.

KIEV está sob a mira do inimigo que

procura a todo o custo, entrar na cidade,

abater todos os resistentes e impor

a sua maldita vontade.

O Presidente continua a incentivar o

seu Povo a não desistir, a lutar pela sua

Liberdade!

Pede aos agricultores para fazerem as

suas colheitas de primavera, apesar de

estarem enfrentando uma guerra.

Os avós de YANA E PAVLO vão tentar

arranjar trabalhadores que os ajudem,

entre os poucos que ficaram naquela

região.

Em DNIPRO, a quarta maior cidade da

Ucrânia, um Jardim de Infância foi atacado

por mísseis russos.

O estádio de futebol CHERNIHIV, onde

um grande jogador, YARMOLENKO iniciou

a sua carreira, foi completamente

destruído em bombardeio russo e uma

Biblioteca, não resistiu ao ataque impiedoso.

Ao ouvirem as notícias que a Rússia

quer fazer passar contra o seu País,

ficam incrédulos, pois não acreditam

como é possível, alguém inventar tantas

mentiras e querer torná-las uma

razão forte para invadir e devastar as

suas terras, matar os seus soldados e

tantos civis que já caíram trespassados

pelas suas balas assassinas, incluindo

41 crianças.

Mas nem tudo é contra a sua nação. Há

voluntários a oferecerem-se para lutar

ao lado dos seus soldados. É muito

triste que assim tenha que acontecer.

Mas perante tanta violência, é preciso

aproveitar a agilidade e sabedoria de

quem quer ajudar.

Grandes provas de resiliência vêm de

pessoas de muita idade.

O tenista mais velho do mundo, com

97 anos que ainda joga, LEONID STA-

NISLAVSKYI, vive em KARKIV, onde 48

escolas já foram destruídas pelas armas

russas, diz não querer abandonar

a sua terra e espera viver até aos 100

anos.

O desejo de sobreviver e ver a vitória

dos seus compatriotas!

Há bases aéreas atacadas e destruídas.

Tentam, por todos os meios, avançar.

Os países democráticos estão unidos

contra os países autocráticos.

Até inventam a existência de fábricas

de armas biológicas

Inacreditável.

O Presidente Ucraniano teme que todas

as invenções vindas da Rússia, possam

ser uma ideia a pôr em ação pela

Rússia, que já usou bombas Termobáricas,

proibidas e altamente destrutivas.

Bombas de Fragmentação atacam zonas

residenciais e infantários.

Todos se interrogam até onde irá aquele

ser abominável, sem coração, com

tanta maldade?

KIEV é o grande objetivo a abater. Os

Ucranianos tudo farão para a defender.

O Presidente da Câmara de Melitopol

foi raptado pelas tropas russas.

Notícias pouco animadoras.

NADEZHDA fala com o marido sobre

as notícias que chegam à Polónia e

Crónica

sente nele grande preocupação.

É YAROSLAV que sugere à mulher que

vá para Portugal, onde encontrará

boas condições para educar as crianças

e poder encontrar trabalho.

A prima KATARZYNA, sentindo as

preocupações de NADEZHDA, lembra-

-se que tem uns amigos na cidade do

Porto, em Portugal, e promete falar-

-lhes na vontade que ela manifestou

de viver nesse país.

Vão deixar passar mais uns dia e depois

irão contactar a Embaixada de

Portugal e ver que possibilidades haverá

desta família poder refazer a sua

vida, embora longe.

A última notícia fala de milhares de

combatentes estrangeiros que se querem

juntar ao exército Ucraniano.

São voluntários, jovens, com fortes

ideais de Liberdade que darão a sua

vida, se for preciso, para ajudar os

Ucranianos a salvaguardar a sua Liberdade

e Independência.

As notícias cada vez são mais claras.

Putin é um “psicopata” dominado pelo

seu ideal de criar um grande império,

matando, roubando e devassando

as regiões que fazem fronteira com a

Rússia, com o seu exército.

A sua ação louca e devastadora continua,

difundindo notícias sobre as falsas

razões desta invasão.

Inventa que este país usa os seus cidadãos

como “escudos humanos”, que

fabrica armas biológicas, enfim, talvez

tudo o que a Rússia faz e tem, reverte

como crimes do povo Ucraniano.

A revolta cada vez é maior. O povo sente-se

ofendido, atacado injustamente.

Todos querem defender a sua nacionalidade,

criar os seus filhos na terra

onde nasceram e que tanto amam.

Mas não há sinais mínimos de viragem.

Pelo contrário.

NADEZHDA recebe um telefonema do

marido e fica destroçada.

A cidade de Mariupol foi tremendamente

atacada. Há muitos mortos e

feridos. Está preocupadíssimo com os

sogros que vão resistindo por viverem

fora da cidade. Mas nada garante que

um míssil os atinja.

Não pode haver maior sofrimento. Entretanto,

soube que entre os mortos,

há amigos que ficaram debaixo dos

escombros e sucumbiram.

Cada dia que passa mais cresce a dor,

o receio pela vida, a insegurança.

38 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

39



Eunice

O segredo das

verdadeiras mudanças

Muñoz

morreu

aos 93 anos

Nelson S. Lima

Se biologicamente não estamos

sujeitos a mudanças repentinas

e profundas é verdade, porém,

que culturalmente podemos

rapidamente encetar grandes

transformações na pessoa que

somos e no nosso modo de

viver.

Saibamos, porém, perceber

que as grandes mudanças

na vida devem ser pensadas,

equilibradas, honestas e

aceitáveis para que sigamos

para melhor e não para pior.

E se formos surpreendidos

por forças inesperadas (como

uma doença ou uma desilusão)

tenhamos a lucidez e a força

emocional necessárias para

escolhermos o jeito certo

que minimize ou resolva os

problemas.

Acredite que tudo está em nós,

na força da nossa mente e na

forma como nos auto-educamos

e lidamos com os desafios.

Porque é disso tudo que é feita

a experiência do viver.

Joana Araújo

A actriz Eunice Muñoz, nascida na Amareleja, no

distrito de Beja, em 1928, que completou em Novembro

80 anos de carreira, morreu em 15 de Abril,

no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos.

Ao longo dos anos, fez cinema e televisão, mas foi,

sobretudo, nos palcos do teatro que mais se destacou

e mais brilhou. No ano passado, celebrou oito

décadas de carreira no mesmo palco, o do Teatro

Nacional D. Maria II, onde se estreou aos 13 anos, na

peça "Vendaval". Participou em cerca de 80 peças

de teatro e passou grande parte da carreira como

actriz residente do Teatro Nacional.

Em Abril do ano passado, Eunice Muñoz foi condecorada

pelo Presidente da República, Marcelo

Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar

de Sant’Iago da Espada, cerca de três anos após ter

recebido a Grã Cruz da Ordem de Mérito.

Colegas e personalidades da cultura, da política e

de todos os quadrantes da sociedade portuguesa

mostraram pesar pela morte da actriz. O governo

decretou luto nacional no dia do funeral.

Foto: Arlindo Homem

A Guerra

Miguel de Pompeia

Alguém que não seja completamente burro ainda

tem dúvidas de que o objectivo da guerra SEMPRE foi

incapacitar a Rússia e impedi-la de voltar a ser uma

potência com uma palavra a dizer sobre o que se passa

no mundo?

Desde pelo menos 2008 que os EUA têm estado a

provocar este conflito, alguma vez iriam parar depois

de 2 meses? Alguém ouviu uma única vez um único

responsável americano apelar à paz ou ao diálogo? Desde

antes da guerra a retórica foi SEMPRE a de confrontação.

Prometeram à marionete o apoio da NATO mas nem um

único homem disponibilizam. Os EUA fornecem armas

porque estão dispostos a lutar até ao último ucraniano.

Eles não querem saber da Ucrânia para nada, a Ucrânia, e

o povo ucraniano são um peão, dispensável, tal como foi

o povo de Cuba.

Esta guerra só irá acabar como acabam todas as guerras

onde os americanos estão envolvidos, quando a opinião

pública americana ficar contra a guerra. Ora a opinião

pública americana tende a ficar contra as guerras apenas

e só quando começam a morrer muitos americanos e isso

simplesmente neste caso não vai acontecer.

Portanto a única forma de a guerra acabar será com

uma vitória militar da Rússia mas isso também não é

fácil porque a Rússia nunca teve a intenção, nem tem a

capacidade, de ocupar o país todo...

A outra opção seria o próprio povo ucraniano exigir à

marionete que faça a paz mas qualquer pessoa que se

atreva a sugerir isso acaba numa sarjeta com uma bala na

nuca. Tem acontecido pela Ucrânia inteira...

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Horizontais:

1. O único planeta do

nosso sistema solar que

não tem o nome de um

deus.

5. Período de tempo

que não se pode medir.

8. Érbio (s. q.).

9. Numeração romana

(4).

10. Forma reduzida de

tricampeão e de tricampeonato.

11. Estrela que é o centro

do nosso sistema

planetário.

13. Praia.

15. Explosão (?), deu origem

ao nosso Sistema

Solar.

19. Nome que se dá a

uma grande concentração

de estrelas e outros

astros.

23. Emite som forte e

zoante.

25. O âmago.

26. Teve origem numa

grande explosão (Big

Bang).

28. Satélite natural da

Terra.

29. Símbolo de sudeste.

30. Sétima nota musical.

Verticais:

1. Trabalho original.

2. Deus do Amor entre

os Gregos.

3. Relações Internacionais.

4. Aprovação (fig.).

5. Regiões superiores da

atmosfera.

6. Fala em público.

7. É considerado o maior

rio do planeta Terra,

mas o tem rivalizado

com o rio Amazonas

(o verdadeiro tamanho

continua em aberto).

12. Lituânia (Código Internet).

14. Antigo título, hierarquicamente

inferior

a marajá, atribuído aos

soberanos de um estado

indiano.

16. Época.

17. Vegetação composta

de algas (pl.). 18. Vista

do espaço a Terra é predominantemente

desta

cor, devido ao mar.

19. Na mitologia, é a Mãe-Terra.

20. A eles ou a elas.

21. Incógnita.

22. «A» + «o».

24. Organização das Nações

Unidas.

27. Prefixo que designa repetição.

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Crónica

Um dia André Ventura

levar-nos-á ao altar

Luís Osório

1.

André Ventura parece ter colocado o

seu retrato em todos os gabinetes do

Chega.

Um retrato com a proporção suficiente

para soltar a imaginação dos seus

fiéis ou dos saudosos de um outro

tempo.

O que Ventura deseja é o mesmo que

desejou quando fez a saudação fascista

– recusando sempre, como sabemos,

a ideia de que esticou o bracinho

de um modo consciente e propositado.

Deseja, tão-somente, que o confundam

com Salazar.

E já agora com todos os que teriam a

capacidade de nos meter na ordem e

de acabar com esta bagunça da liberdade

que apenas serve aos que não

querem trabalhar, à esquerda e a toda

a maralha dos portugueses que não

são de bem.

2.

André Ventura provou até agora que

estava certo na sua estratégia.

Provou que se pode mentir descaradamente

sem ter consequências no

que para ele é essencial – ganhar votos,

condicionar o sistema e um dia

ser poder.

De uma eleição para outra o Chega

passou de um deputado para terceira

força partidária.

É obra!

Não vou por isso discutir a estratégia,

pelos vistos tem sido a correta na sua

ótica e perspetiva.

A minha questão é outra.

Qual a razão para que estas maluqueiras

de Ventura resultem em votos?

E qual o posicionamento dos próprios

deputados do Chega quando entram

no seu gabinete e veem que, a partir

daquele momento, a decoração se

confunde com a cara de André Ventura,

como se ele fosse a reencarnação

viva de Salazar?

Não acharão demasiadamente ridículo?

3.

O meu problema com o Chega não é

o da discussão política – o populismo

é uma evidência global e Ventura ocupou

com eficácia o espaço que existia.

O meu problema é a pobreza da mensagem,

a pobreza dos golpes mediáticos

e do grupo parlamentar.

O Estado Novo tinha intelectuais e

gente preparada.

O franquismo ou o fascismo italiano a

mesma coisa.

Mesmo com o Vox espanhol, o projeto

de poder de Le Pen ou o regime de

Órban, existem ideias e uma filosofia.

Mas no Chega parece que os intelectuais

são o Gabriel Mithá – que se

queixou de ter sido ostracizado por

ser negro!! – e um tal de Diogo Pacheco

Amorim que foi sempre uma figura

muito secundária entre saudosistas e

protofascistas.

4.

Isso deveria sossegar-me.

Afinal, se o Chega tivesse um verdadeiro

cimento ideológico seria bastante

mais perigoso.

Mas talvez esteja equivocado.

Talvez as coisas tenham mesmo mudado

e aquilo que antes era valorizado

o tenha deixado de ser.

Talvez a verdade tenha passado a ser

aquilo que as pessoas consomem em

algoritmos que vão apenas ao encontro

do que procuram, do que desejam,

do que precisam.

O Chega é composto por vários tipos

de pessoas.

Us que merecem ser ouvidos e compreendidos.

(a democracia deixou muita gente

pelo caminho, gente ostracizada e esquecida).

Mas grosso modo é um exército de

ressentimento.

Gente que aparentemente não tem

muito a perder.

Gente para quem no tempo de Salazar

“é que era”.

Para esses deve ter sido comovente

ver quadros do grande líder serem

pendurados em gabinetes na Assembleia

da República.

No íntimo talvez lhes passe pela cabeça

que chegará o dia em que o grande

Ventura estará – com a ajuda da Nossa

Senhora – no mais alto altar onde

todos os portugueses serão levados à

sua presença para o dia do seu juízo

final.

É ridículo?

Muito ridículo.

Mas atenção, ao contrário do que alguns

possam estar a pensar, este postal

não é para rir.

Eu não me ri ao escrevê-lo.

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45



Porque saiu o Reino

Unido da União Europeia?

Carlos Matos Gomes

Porque saiu o Reino Unido da União

Europeia?

O regresso da querela trinitária

Uma das mais conhecidas e absurdas separações

políticas foi a que separou o império romano cristão do

Ocidente (Roma) do império romano cristão do Oriente

(Constantinopla) no século IV por causa da célebre e

decisiva questão que ficou conhecida como a “Querela

Trinitária”. Discutida no concílio de Niceia.

Os cristãos dividiram-se, em termos muito simples, por

causa de uns duvidarem da divindade do Espirito Santo e

considerarem o Pai superior ao Filho, e outros considerarem

a unidade da Trindade.

A pergunta de sempre e até hoje é: Afinal separaram-se

porquê se eram iguais e tinham a mesma visão do mundo

com início numa semana de sete dias, no mesmo Deus

que mandara Abraão sacrificar o filho só para lhe testar a

obediência, entre tantos outros factos extraordinários, aos

quais pouco alterava haver um Deus em três ou três num

Deus?

Hoje, perante o comportamento do Reino Unido e da

União Europeia quanto ao decisivo e de consequências não

imaginadas conflito que tem lugar na Ucrânia, a pergunta,

a minha pergunta, é, porque saiu do Reino Unido da União

Europeia, ou: porque não aceitou a União Europeia as

condições do Reino Unido para este permanecer no clube?

Isto é, o que distingue a parelha do populista Boris Johnson

e do nacionalista Nigel Farage, os dois mais extremados

promotores do Brexit, da senhora Van Den Leyen, dos

senhores Mitchell e Borrell?

Os dirigentes do Reino Unido e da União Europeia têm o

mesmo entendimento do papel da Europa no mundo, de

subordinação aos Estados Unidos e de seguidismo da sua

política para com a Rússia e a China.

ou pró-russas era no entanto “o seu regime”;

Entendem que, criada a casus belli para a intervenção

russa com as perseguições e os massacres no Leste da

Ucrânia (o Donbass), e desencadeada a guerra, esta deve

servir para desgastar ao máximo o poderio militar, político

e económico da Rússia, mesmo à custa dos sacrifícios do

povo ucraniano;

Entendem que a exploração dos terríveis resultados da

guerra através da mais intensa e insensível campanha

de propaganda jamais desenvolvida a propósito de uma

guerra, que a censura e a utilização de falsas imagens ou

a criação de factos causadores de emoções são meios

legítimos de conquistar a opinião pública dos seus

cidadãos;

Entendem que a escalada da guerra, de modo a provocar

mais imagens sensíveis, mais danos na Ucrânia com a

finalidade de provocar o desgaste do inimigo é a estratégia

adequada aos seus objetivos;

Entendem que o fornecimento de armas em quantidade

e qualidade sempre crescente constituem o melhor

processo de “ajudar” os ucranianos a servirem-lhes de

carne para canhão, enquanto os glorificam e os mimam

como defensores da sua liberdade e independência;

Entendem que nunca devem ser referida a palavra paz.

Um interdito comunicacional.

Entendem que Zelenski, à semelhança de Bin Laden há

uns anos, é uma excelente personagem para representar o

combatente da liberdade — um São Jorge — e que milícias

nazis do Azov são o correspondente da Al Qaeda do

Afeganistão, os “freedom fighters”. Zelenski, certamente

bem aconselhado por britânicos e europeus, pede armas,

não se dispõe a pedir mediação, nem fala de paz, nem

entende a Rússia como um vizinho com quem a Ucrânia

(se sobreviver) terá de se entender.

Entendem que a utilização da Ucrânia para os seus fins

pode justificar os riscos de um conflito com utilização

de armas nucleares (o que têm insinuado de forma

coordenada);

Minhas amigas e meus amigos, por

razões pessoais fui envolvido na

“britaniedade”, isto é na vã tentativa

de entender os britânicos. Percebi

o Brexit como o cumprimento de

orientações dos EUA que os britânicos

escolheram desde a Grande Guerra

como os seus sucessores à cabeça do

Império mundial. A posição perante

os EUA representava a diferença

entre o RU e a UE. O Brexit pareceume

justificado.

Agora, com a guerra da Ucrânia, os

ingleses deram-me a satisfação de

voltar a não os entender e de, pelo

caminho, não entender a UE.

Na realidade não existe diferença

entre a UE e o RU e já nem me lembro

da qualquer razão para o Brexit.

Esta é a base do texto que aqui

publico.

Entendem que os Estados Unidos devem ser a potência

dominante mundial e que esse domínio está ameaçado,

por isso devem colaborar na estratégia dos Estados Unidos

de bater o inimigo por partes: primeiro a Rússia, depois a

China;

Entendem que a Ucrânia era e é um território de interesse

estratégico para aí instalar um regime favorável ao

“Ocidente”, que permitisse bases de ataque dos EUA

próximos da Rússia (junto à fronteira) e por isso agem

desde 2004: agiram para integrar a Ucrânia na NATO e na

UE e promoveram a implantação de lideres afetos (caso da

ação conjunta da Praça de Maidan);

Entendem que, sendo o regime político que implantaram

desde 2014 em Kiev um regime benevolamente classificado

de iliberal, de oligarcas, de perseguidor de minorias russas

Entendem que esta guerra, com os inevitáveis os efeitos

económicos devastadores que os dirigentes do Reino

Unidos e da UE calculam, mas não revelam aos povos,

servirão para impor uma ordem neoliberal na Europa, com

a destruição do Estado Social, com o desvio de verbas para

armamento, com a inflação que permitirá aos grandes

grupos da oligarquia ocidental aumentar a sua riqueza e

reduzir os povos a rebanhos de dóceis miseráveis.

Enfim, se os dirigentes do Reino Unido e da União Europeia

estão de acordo com todas estas premissas e para este

papel de sendeiros, porque raio se desentenderam como

os velhos teólogos cristãos sobre a questão trinitária, que

levou ao Brexit e de que hoje já ninguém se recorda. Porque

saiu a Reino Unido desta União auxiliar dos Estados Unidos

se nada distingue Boris Johnson da Trindade da UE? Onde

anda o Nigel Farage, a treinar ucranianos, a vender gás e

petróleo?

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47



Crónica

O milagre dos

pastorinhos

Francisco e Jacinta

Carlos Esperança

Lembro-me do velho Hospital Distrital de Leiria

e da magnífica escadaria de mármore partida a

camartelo para obras de remodelação, depois

de retirada a foto imponente do virtuoso bispo

D. Manuel de Aguiar sob cujos auspícios fora

construído o edifício.

No respetivo piso, entre várias enfermarias, ficavam

as de Medicina. Na de “Mulheres”, sobressaía uma

mesinha de cabeceira pela parafernália de senhoras

de Fátima, pastorinhos e outras imagens pias que

a ornamentavam. Ficava junto à cama de uma

paralítica que, durante a noite, se arrastava até junto

das camas de outras doentes para lhes impedir o

descanso.

Essa internada tinha a antipatia e inimizade de

outras doentes, e era dileta do Diretor do Serviço,

Dr. Felizardo Prezado dos Santos, enternecido com

a devoção e extasiado com as suas imagens de

santos e veneráveis. Era a D. Emilinha, a mais antiga

internada, conhecida de toda a gente.

Um dia, nas férias do Dr. Felizardo, o médico José

Luís Alves Pereira, que o substituiu, deu-lhe alta,

por entender que não padecia de moléstia do foro

da Medicina Interna, o que, no regresso, irritou o Dr.

Felizardo.

A D. Emília, Maria Emília Santos, voltou à enfermaria

e foi reintegrada no espaço que lhe servia de asilo e

local de devoção.

As transferências para Psiquiatria, no Hospital da

Universidade de Coimbra, eram para os períodos de

maior necessidade. Segundo o Dr. Marques Pena,

psiquiatra, a D. Emília padecia de uma enfermidade

que a podia conduzir à cegueira, à paralisia ou a

outras mazelas, por períodos de maior ou menor

duração. No respetivo processo clínico dos Hospitais

da Universidade de Coimbra hão de constar dados

rigorosos se, acaso, um qualquer milagre não o fez,

entretanto, desaparecer.

Mas voltemos a Leiria e à D. Emília Santos cuja

paralisia era reincidente e que então foi curada

por intercessão do Francisco e da Jacinta, bem

necessitados de um milagre para a beatificação e

destinatários conjuntos das preces da candidata a

miraculada.

Sarou-a de novo a fé e passou a andar. Morreu

pouco depois, completamente curada. O milagre,

depois de averbado nas provas de beatificação dos

pastorinhos, onde passaram com distinção, deixou

de interessar à Igreja, sendo discreto o funeral da D.

Emília onde, a título meramente particular, se integrou

o bispo de Leiria, D. Serafim Ferreira e Silva.

A divulgação do milagre da paralítica que se curou foi

feita com pompa e circunstância pela imprensa pia

e profana, invocando depoimentos de três médicos

diferentes, a Igreja católica é muito cética e exigente,

unânimes a atestar a intervenção sobrenatural.

Por divina casualidade, a certificação do milagre

foi atestada pelo Dr. Felizardo Prezado dos Santos,

pela Dr.ª Maria Fernanda Brum, por coincidência

esposa do primeiro, e pela psiquiatra Paula Cristina

Amaral Brum Prezado Santos, filha de ambos, todos

da Associação dos Servitas de Nossa Senhora de

Fátima.

Digam lá, leitores, se, depois desta narração,

ainda duvidam da veracidade do milagre! É preciso

demasiado ceticismo. Leiam isto enquanto há

testemunhas porque, um dia, há de constar que

à D. Maria Emília Santos lhe cresceu uma perna

amputada.

A enfermeira Alcina, que trabalhava na enfermaria,

ficou com a vaga sensação de que o Dr. Felizardo se

terá arrependido, depois de ter ativado a certificação

familiar da cura sobrenatural, mas é mera conjetura

48 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

49



Crónica

Suíça falha meta de

redução de gases de

efeito estufa

A enorme

coragem de

ser mãe

A Suíça tem planos ambiciosos de redução de gases de efeito estufa, mas ainda tem que implementar um

plano concreto para realizá-los. © Keystone / Gaetan Bally

swissinfo.ch/mga

A Suíça falhou por pouco sua meta

de reduzir as emissões de gases de

efeito estufa até 2020, apesar do

lockdown do coronavírus e de um

inverno excepcionalmente quente.

O Estado alpino havia estabelecido a

meta de reduzir as emissões nocivas

em 20% em comparação com os

níveis de 1990. A redução real foi de

19%, disse o Departamento Federal

para o Meio Ambiente na segundafeiraLink

externo.

“Menos aquecimento foi

utilizado durante um inverno

comparativamente quente. A

pandemia resultou em uma

queda acentuada na mobilidade”,

declarou o Departamento do

Meio Ambiente. “Com o fim das

restrições pandêmicas, as emissões

estão novamente aumentando

significativamente. A pressão para

agir continua elevada”.

Somente o setor industrial excedeu

suas metas de redução de emissões

entre 2013 e 2020, reduzindo em 17%

o equivalente de CO2 nesse período.

O governo está particularmente

desapontado pelo fato do setor de

transportes ter perdido sua meta

de redução de 10%. Os veículos só

conseguiram uma redução de 8%

apesar do aumento do número de

alternativas elétricas e de biogás e

uma enorme redução no tráfego no

auge da pandemia.

As emissões do setor de construção

caíram 39%, falhando por pouco

a meta de 40%, apesar de menos

petróleo e gás serem usados para

aquecer casas durante um inverno

quente. “O setor de construção

continua a ser aquecido de forma

significativa com combustíveis

fósseis”, leu a declaração.

A agricultura e “outros” setores

falharam suas metas por alguma

margem.

A Suíça havia visado um pouco mais

do que as reduções de 15,8% entre

2013 e 2020 estabelecidas pelo

protocolo de Kyoto. As emissões

internas foram reduzidas em 11%

durante este período, o que foi

contrabalançado em grande parte

até 19%, compensando as emissões

com o financiamento de projetos

climáticos sustentáveis em outros

países.

Nos termos do acordo climático de

Paris, a Suíça se comprometeu a

reduzir pela metade as emissões até

2030 e pretende reduzir a zero as

emissões líquidas de gases de efeito

estufa até 2050Link externo.

Mas o governo foi forçado a

redesenhar seus planosLink externo

quando os eleitores rejeitaram um

pacote de reformas climáticas no

ano passado.

Luís Osório

1.

Em meados da década de 1980,

Eunice Muñoz foi a “Mãe Coragem”.

Encenada por João Lourenço, nunca

mais foi possível imaginar outra

mulher naquele papel de mãe que,

perdendo os três filhos, um por um,

continuou todos os dias, como se

nada fosse, a tentar sobreviver – como

se eles ainda estivessem vivos ou

como se ela, naquele corpo cansado

e morto em vida, fosse a metáfora

perfeita de todas as guerras.

2.

Hoje, dia de luto nacional pela “mãe

coragem” quero dedicar este postal a

todas as mães.

A todas, mesmo àquelas que não

chegam a ter o seu bebé no colo.

Mesmo a essas que não sendo mães,

são-no pela força de um desejo não

concretizado.

Mesmo às que têm um bebé que

decide partir num sopro deixando-as

de colo e berço vazios.

Mesmo às que carregam um filho

sozinhas assumindo todas as

responsabilidades.

3.

Hoje celebramos um dia de luto pela

“mãe coragem”, mas celebremos todas

as que carregam vida e cansaços.

Também as que têm filhos diferentes

dos que foram sonhados, meninos

que não falam, que não ouvem, que

não caminham, que não veem, mas

que são amados em cada abraço, em

cada olhar e em cada partícula do seu

sofrimento.

Celebro todas as “mães coragem”.

As que pegam nos filhos e batem com

a porta.

As que agora têm a coragem de os

proteger da guerra. Que atravessam

mares, desertos e países sem os

largar, numa barriga para lá do seu

umbigo, numa fome que só poderá

ser satisfeita quando o bebé estiver

tranquilo e protegido.

As que guardam os filhos das sirenes

dos bombardeamentos.

As que inventam histórias para que as

crianças não se esqueçam de como se

sorri, para que não percam antes de

tempo o desejo de brincar.

4.

As mães coragem que choram

sozinhas por estarem exaustas.

Por ninguém em casa lhes perguntar

se precisam de ajuda, se precisam de

descansar, se precisam de um abraço.

Mulheres coragem que dilaceram de

dor quando o leite sobe nas mamas

doridas.

Coragem para dar à luz, para as perdas

de sangue, para os cortes, para os

pontos, para as visitas na maternidade

e para os chazinhos em casa com

visitas que não imaginam o cansaço,

as dores e a falta de paciência.

5.

O instinto animal de proteger as crias.

O amor para lá do amor quando os

seus bebés finalmente descansam.

O amor que diz que sim quando

aparecem de surpresa, quando casam

e têm filhos, quando fazem merda.

Também quando têm febre, quando se

apaixonam pela primeira vez, quando

sofrem de amor ou se perdem.

6.

Hoje, dia em que o país se despede

de Eunice, celebremos todas as “mães

coragem”.

As que carregam os seus filhos num

mundo tão incerto.

As que têm a coragem de desafiar

o medo com a força da vida e da

esperança.

As que acreditam que o amor salva

sempre.

As que choram em silêncio quando a

casa fica vazia.

É para elas

(as felizes e infelizes, as que se

cumpriram e as que vivem em

sofrimento e angústia)

É para elas este postal.

É para si.

É para ti.

50 Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu Lusitano de Zurique - MAIO 2022 | www.cldz.eu

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Crónica

O SEXO DOS NOSSOS

DEUSES

Paulo Marques

Quinze portugueses ilustres (“15 Portugueses

Ilustres”, Paulo Marques,

Porto Editora, 2012). Quinze

homens e mulheres com

grandes contribuições em

áreas como a Literatura, a

Educação, a Cultura, a Arte

e a Política que, ao inscreverem

o seu nome na História,

se distinguiram da

maioria dos comuns mortais

exceto numa coisa: a

sua vida amorosa e íntima

onde, talvez, tenham sido

como os demais.

Das suas biografias constam

todos os feitos, incluindo

os mais privados. E desses,

os que se provam, e os

que se afirmam nos bastidores,

reiteradamente, mas

sem certezas. Como dizia o

Eça: «de um homem público

tudo é lícito revelar-se,

até mesmo o rol da roupa

suja». Cá vai então:

A Amália, cedo percebeu

que não estava talhada

para a felicidade amorosa,

excluída que foi pela excecionalidade.

Casou-se com

um guitarrista que a maltratava,

apaixonou-me perdidamente

por um playboy,

forçou-se a amar um banqueiro

que dava tudo por

ela, e partilhou quase quatro

décadas da sua vida

com um engenheiro que

nunca amou. Ainda assim,

despertou as mais acesas

paixões: teve homens e

mulheres a fazerem-lhe a

corte. Inventaram-lhe tantas

calúnias e mentiras que

nem da fama de bissexual se livrou.

Não há, todavia, provas que atestem…

doma». Apesar disso, parece que se

divertiu. E bem.

O Cunhal amou (e viveu) exigindo discrição

e silêncio. Terá aprendido a so-

amor lhe limitasse a vida política, a

entrega ao partido. Além disso, achava

a homossexualidade «uma coisa

muito triste». E estamos falados.

A Maria de Lourdes Pintasilgo

foi acusada de

demagoga, populista,

utópica, ingénua, «terceiro-mundista»,

comunista,

«meloantunista»,

beata e … lésbica. Para

a História ficará como

aquela que trocou as

paixões pelo estudo,

pela religião, pela política,

pela defesa de

grandes causas, mas

como nunca se lhe conheceram

namorados,

nunca casou, nunca

teve filhos, as más-línguas

(?) afiançam que

era lésbica e que teve

uma relação com uma

das fundadoras do movimento

Graal no nosso

país. Vá-se lá saber.

Francisco Sá Carneiro

foi um herói romântico

que desafiou os princípios

da sociedade do

seu tempo. Teve o assombro

de assumir em

público a relação com

uma dinamarquesa

belíssima por quem se

fazia acompanhar nos

atos oficiais. Foi uma

afronta à velha hipocrisia

e ao falso puritanismo

portugueses. Ironicamente,

o chefe da

Direita portuguesa, um

católico militante, casado,

vivia com uma mulher

“ilegítima”. Todavia,

contra tudo e contra

todos, não abdicou do seu amor por

Snu. Às razões de Estado e às conveniências

prevaleceram as razões do

coração. Uma história romântica mas,

infelizmente, breve e trágica. Faleceriam

ambos, quatro anos depois de se

terem conhecido, em circunstâncias

nunca completamente esclarecidas.

não teve, porém, uma vida pessoal que

possamos considerar bafejada pela sorte.

Mal-amada, celibatária, não deu «os

beijos que tinha a dar», «não [foi] amorosa»,

nunca «ninguém se interessou»

por ela, e não viveu «suficientemente,

com gosto, com paixão». A agravar, o

regime fascista saneou-a do ensino

com um processo do qual fazem parte

acusações de libertinagem com homens,

e alusões enviesadas de relações

com mulheres. Não se entende…

O cantor lírico Tomás Alcaide e o Sidónio

Pais foram ambos uns sedutores e

uns mulherengos. Sobre o chefe carismático

(e autoritário) em quem muitos

viram o «salvador da pátria», era voz

corrente em Coimbra: «tudo se pode

confiar a Sidónio, menos a mulher».

A jurista, escritora e feminista Elina Guimarães,

a grande atriz Maria Matos e a

Maria Lamas, uma heroína do século

XX, casaram, procriaram e foram felizes

(?).

Em relação ao Régio, apesar de constar

que manteve várias relações episódicas

com mulheres, nunca constituiu família

e a sua vida amorosa permanece um

mistério. O poeta combatia ferozmente

a sua natureza sensual. Fazia fé em

viver casto e inteiramente para a sua

Obra. Escolheu o trabalho por companhia.

O Torga era um homem de hábitos

monásticos, arisco, duro como pedra,

ensimesmado na escrita. Antes de casar

avisou a mulher: «quero que saibas,

enquanto é tempo, que em todas as

circunstâncias te troco por um verso.»

Nem mais.

A Fernanda de Castro conviveu e foi

amiga de muitos homossexuais, possuía

um espírito muito modernista para

a época, mas amou o António Ferro,

entreteve-se a escrever (e bem), com os

Parques Infantis, com a beneficência

e a cultura, e com a representação do

país, no papel de «Primeira-Dama» do

Estado Novo.

“VÃO PARA A

VOSSA TERRA!”

Paulo Marques

Originários do Norte da Índia, especialmente das regiões de Rajahsthan,

Haryana e Punjabe, a partir do século XI, através do vale do Danúbio, os

ciganos espalharam-se pela Europa. A diáspora do povo iniciou-se em

obediência à impiedosa ordem de deportação do sultão Mahmud de

Ghazni (971 – 1030).

Entraram em Portugal, pelo Alentejo, na viragem do século XV para o

século XVI: Gil Vicente dedicou-lhes o Auto das Ciganas, representado na

Corte de D. João III, em 1521.

Passados poucos anos, logo em 1526, saiu a primeira lei repressiva: «Que os

ciganos não entrem no reino e que saiam os que nele estiverem.»

A ordem seria apenas a primeira de muitas.

A desgraçada da nossa última rainha,

D. Amélia de Orleães, nasceu sob o E o princípio subjacente à ordem manteve-se ao longo do tempo,

signo da tragédia. Atravessou guerras, continuando, triste e vergonhosamente, presente. É mais que conhecido e

exílios, revoluções e regicídios, e lá foi sabido: a ignorância é a mãe de todos os preconceitos.

lidão, a autossuficiência e a autodisciplina

na clandestinidade e na prisão.

sentido de sacrifício. Sofreu as maio-

Dentro das minorias em Portugal – estima-se que existam atualmente

sempre sobrevivendo com o seu forte

Sabe-se que casou aos quarenta e

res injustiças, entre elas, a infidelidade cerca de 40 mil ciganos portugueses, isto é, 0,3% da população do país – os

O Botto, embora tenha acabado por sete anos, que teve uma filha, e pouco

mais se conhece da sua vida emo-

ter alimentado uma relação amorosa racismo e xenofobia.

descarada do real esposo, a calúnia de ciganos constituem a mais grave e escandalosa de todas as situações de

casar antes da partida para o exílio

definitivo no Brasil, era claramente (e cional e íntima. Ignoram-se os seus

com Mouzinho de Albuquerque e o

Já cá estão há mais de 500 anos e há mais de 500 anos que continuam a

descaradamente) homossexual. Por amores, apesar da sua capacidade de

boato de que mantinha jogos de paixão

com uma das suas damas. Chegou

ouvir: «Vão para a vossa terra!»

ter celebrado na sua poesia a beleza despertar paixões. Teve várias mulheres,

no entanto, não falava nelas, não

a publicar-se um romance pornográfi-

Acusam-nos de não se integrarem: só que não entendem que a sua

masculina, acabou sendo acusado pelos

semifradescos conservadores da

A escritora e pedagoga Irene Lisboa,

se fazia acompanhar por elas em atos

co, que Lisboa consumia aos milhares resistência à integração é uma questão de sobrevivência. Se tivessem

moral de produzir «Literatura de So-

mulher inteligente, autora de obra literária

e educativa de elevado mérito

a intitulava como «Marquesa da Baca-

visceral de liberdade e independência, há muito que tinham desaparecido.

públicos, nem nunca permitiu que o

de exemplares no ano de 1908, e que abandonado a sua cultura, tradição, língua e costumes, a sua necessidade

lhoa».

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CULTURA

Humor - ”Quem não sabe rir, não sabe viver” Passatempo

Na catequese dizia o padre:

-Como vocês sabem, o nosso primeiro

pai foi Adão e nossa primeira mãe

foi Eva... Nisto, uma das crianças

interrompe:

-Não é verdade.

- Como não é verdade? - pergunta o

padre um tanto aborrecido.

-O meu pai diz que nós descendemos

do macaco!

-Olha meu filho, os teus problemas de

família não me interessam...

----

Um sovina criava um burro. Para

economizar ainda mais, deixava o

burro sem comida. Um dia encontrou

um amigo que perguntou: - E o burro

compadre, tá indo bem? - Que nada.

Quando já estava acostumado a não

comer, decidiu morrer. - respondeu.

----

Um homem entra num Restaurante

e pede uma sopa. Quando a sopa lhe

foi servida reparou que tinha uma

mosca dentro e reclamou junto do

empregado: - Você já viu que a sopa

tem uma mosca dentro... O empregado,

expedito, responde-lhe: - Psiuu... não

fale alto, senão todos vão querer e já

acabaram as moscas...

----

Um jovem entra numa pastelaria e

pede um pastel de nata. Quando o

empregado lho vinha a servir o jovem

pediu ao empregado para o trocar

por um bolo de arroz. Quando ia a

sair, sem ter pago o bolo que comera,

o empregado interpelou-o dizendo:

- Desculpe, mas não pagou o bolo de

arroz. O jovem respondeu: - Pois não,

eu fiz a troca com um pastel de nata.

Mas, insistiu o empregado : - Você não

tinha pago o pastel de nata. - Pois não,

respondeu o rapaz, mas também não

o comi.

----

Uma cigana está ao balcão de uma

pastelaria com o filho de quatro anos

ao colo. Este arregalava os olhos para

os bolos e pastéis. Uma senhora já de

idade, que se encontrava ao seu lado,

oferece um pastel ao garoto. O rapaz

come o bolo num ápice. Pergunta a

mãe cigana ao filho: - Filho, o que se diz

à senhora? Responde o filho: - Senhora,

dê-me outro !

----

Sermão do Padre Alemão

Mios Carrísimos Irmons,Quem criô

o mondo fo Deus:Ontem fo dia

santo,Fo dia de algria,Fo dia de

satisfaçon.Semana qui vem terremos

procisson,Mas no serrá como no

ano passadoQue as mulherres se

mestruava com os homensEla serrá

combosta de 3 filas:Uma combosta de

homens,Uma combosta de mulherresE

otra combosta de crianças.Todos as

senhorras deverron vir de véu,Quem

non tiver,Vem cu da mãe, cu da tia, cu da

vóOu cu de quem quiser.Os mulherres

deverron trazer velas,As casadas

que já tem experriênciaLevarron

velas na frente,As solteirras que

nunca levarram,Levarron atrásE as

velhinhas, coitadinhas,Que já levarram

muitas velas,Non precison levar

mais.Um aviso parra os homens:Non

deverrom amarrar cavalos no pau

da igreja,Porque aquele pau non ser

da Igreja,Aquele pau ser meu.Outro

aviso pros vaqueirros:Non deverron

entrar com esporra na Igreja,Porque

esporra aqui, esporra ali,Von acabarr

esporrando todo a gente.Terremos

tamben uma Campanha parra

cercar cemitérrias,Parra cavalos non

entrarrem,Senon piça ali, piça aliE

qando voces morrer, piçam vocês

tamben.

----

Num restaurante, uma cliente farta de

esperar, chama o empregado: - Oiça lá,

já o chamei mais de cinquenta vezes!

Será que não tem orelhas? - Claro, minha

senhora. Como as quer? Fritas ou

de coentrada?

----

Uma senhora queixava-se à amiga: -Já

não sei o que hei-de fazer com o meu

marido. Ele é doido por Pickles; come

de manhã, come pickles ao almoço,

come pickles à merenda.... Passa o dia

a comer Pickles. - E que mal isso tem?

...pergunta a amiga admirada. -O problema

é que com tantos Pickles durante

o dia, chega à noite e ...Nickles.

Baptista Soares

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POESIA

CULTURA

LETRAS

Emílio Costa

Sonho de trapezista

Carmindo

de Carvalho

O meu amigo trapezista

Exercita os músculos

Repimpado ao sol

E sonha ser bailarina de varão!

Que com grande ambição

Mostra certos dotes

De preferência ao barrigudo capitalista

Em vez do ocioso

Operário preguiçoso

Com mania de Barão.

Eu sou

Eu sou o Emílio Costa

E trago aqui uma amostra

De como me sinto feliz.

Meu coração de ti gosta

Vila de Prado, terra nossa,

Estas quadras para ti eu fiz.

Trago bloco de notas na mão,

Enquanto por aqui caminho

Nem sei bem em que direcção.

De estar aqui sinto emoção,

Vou avançando devagarinho

Na Vila que é uma tentação.

Mais daqui a um bocadinho,

Com algum jeitinho,

Para ti cantarei um refrão.

Um melro ouço assobiar,

Dando depois às asinhas,

Observar isto é tão bom.

Vejo, também, a voar

Duas lindas rolinhas,

E folhas caindo no chão.

Uma parte gratificante

É teu manto verdejante,

Fruto de rara beleza.

Teu chão vale diamante,

És terra sempre constante

Das maravilhas da natureza.

Passo frente a duas velhas casinhas,

Num terreiro está uma velhinha

Jogando milho no chão.

A correr chegam as galinhas,

Isto foi observação minha,

Enchendo o papo com satisfação.

Agora olha para ela,

Que certamente

Não lhe trará coisa boa

Coisa de boa gente! ...

Nem festanças de rua ou salão.

E lá terá de se esfregar no varão

Enquanto sonha

Por coisa boa, dote

Ou algum golpe de sorte.

É a vida. Uns trabalham e outros sonham! ...

Abençoada e linda capela

Da Senhora do Bom Sucesso.

Mas que “coisa” tão bela…

Faço questão de entrar nela

E à Senhora licença eu lhe peço.

Já estou a demorar,

Está na hora de jantar

E o calor continua a apertar.

Minha alma vou refrescar,

No Cávado vou-me molhar

E a linda ponte admirar.

Este é o meu local encantado,

Tendo sido abençoado

Por Deus Nosso Senhor.

Agora vou dormir um bocado,

O sol já está do outro lado,

Volto amanhã, sem favor,

Para te ver respirar teu amor,

Minha linda Vila de Prado.

Україна

Madrugada de 24 Abril de 1974

Maria José Praça

E Depois do Adeus, prefácio do futuro,

Era já caminho começado

E a segunda senha abriu portões

À Coluna a partir em “pronto” declarado

Maria José Praça

Ukrayina

O grito das sirenes nas mochilas

De ventre grávido a gemer de dor

E cada passo leva o peso aos ombros

De um girassol em pedaços de flor

E abraços de colo que adormecem

Em mãos de levar pelo caminho

Que em tremente avançar têm colados

Soluços em exôdo do ninho

Aprendi terras do mapa d’ Okrayna

Com kapas e Erres bem vincados

Em chão de lama com destroços vivos

De bateres abatidos e apagados

E enquanto a mó do trigo rasga o sangue

Dilacerado no meio dos estilhaços,

Como pingos de velas derretidas,

Lágrimas tombam, sem baixarem braços...

(“Pedras do meu andar” )

E juntaram-se cravos à manhã,

Que ainda noite escura já raiava

Na marcha dos tanques que avançava

À luz verde de Grândola cantada !

Ontem

Euclides

Cavaco

Ontem, foi apenas mais um dia que passou,

Sem dar por isso, se dele não há lembrança.

Mas se dele, alguma coisa nos ficou,

Que ela seja, o alimentar duma esperança.

Ontem foi apenas, mais uma pétala caída...

Que mal caiu. foi levada pelo vento,

Dessa flor, que retrata a nossa vida.

No seu mais permanente movimento.

Para onde foi cada pétala desfolhada?

Da frágil flor, que ainda tem perfume...

Porquê ? O vento as levou sem dizer nada!.

Bem sei que nada vale o meu queixume.

Porque cada ontem, é memória mitigada...

Do breve tempo... A que a vida se resume!.

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HORÓSCOPO

Carneiro

O nativo de carneiro encontra uma energia

que favorece as perdas. É importante procurar

fazer actividades que o enraízem e lhe

deem estrutura para enfrentar o que está

por vir.

No que diz respeito aos afectos e relacionamentos,

tende a ser uma fase pouco favorável,

propiciando perdas e afastamentos.

Perceba o que precisa mudar na sua vida,

e não deixe que estes “ratos” se alastrem,

tornando-se uma verdadeira praga a afectar

qualquer relação.

Touro

O nativo de touro encontra um mês com

uma energia de novidade, em que as surpresas

podem bater à porta, pelo que deverá

manter-se atento. É ainda um bom

período para apostar nos projectos a que

deseja dar vida, aproveite ao máximo esta

energia de fertilidade. Foque aquilo que

ambiciona para si. No que respeita ao amor,

os relacionamentos ficam muito favorecidos,

já que poderá sentir maior vontade de

criar um projecto a dois, até mesmo pequenas

viagens que irão potencializar o clima

de romance. Para os que estão solteiros, é

uma boa altura para iniciar novos contactos

estabelecer novos conhecimentos, que poderão

ser frutuosos.

Gémeos

O nativo de gémeos encontra uma energia

positiva que promove a colheita daquilo

que plantou pelo caminho, prometendo

saúde e estabilidade. Perceba, ainda assim,

que precisa continuar a semear, para que

tenha sempre farta colheita.

Em matéria de afectos, tende a sair valorizado,

já que esta energia promete saúde e

firmeza. Ainda assim, é importante investir

nas relações e nos afectos, já que quanto

mais alimentados, maior presença terão na

sua vida.

A nível de trabalho, tende a ser uma fase

bastante estável e de colheita. Não deixe,

ainda assim, de pensar a médio prazo e de

continuar a lançar as sementes.

Caranguejo

O nativo de caranguejo encontra um mês

que lhe pede para terminar situações. É

uma boa altura para pontos finais, mudanças

de história. Ninguém diz que será fácil,

mas é necessário, libertando-se da carga

acumulada, permitir-se-á a enveredar por

novas aventuras mais disponível e receptivo

ao novo.

Em matéria de afectos, esta energia favorece

os fins de ciclo, as situações tendem

a passar a outro nível. As transformações

estarão na ordem do dia, o que poderá significar

um novo relacionamento, um fim ou

mesmo uma nova fase. Ainda assim, são

transformações que se impõem e que devem

ser aceites.

Maio

Leão

O nativo de leão encontra um mês com tendência

para se refugiar em si mesmo, sobretudo

se tiver de enfrentar alguma dificuldade.

O que poderá levar a um alheamento

daquilo que realmente o rodeia. Mantenha

o foco, e não se permita fechar a sete chaves,

a necessidade de protecção desencadeará

alheamento.

A nível dos afectos, poderá haver tendência

para se afastar, virar-se mais para si, para

dentro. Não deixe que essa tendência de

reclusão o alheie daquilo que o rodeia, nem

desvaloriza aqueles que gostam de si. Saiba

manter o equilíbrio.

Virgem

O nativo de virgem encontra uma energia

de velocidade, em que tudo tende a desenrolar-se

com rapidez. Os bloqueios que

poderá sentir, serão dissolvidos. Seja persistente

e determinado, mas não perca o auto-

-controlo e foco.

No que diz respeito ao amor, será um mês

favorável que, ainda assim, pede cautela,

porque tende a correr de forma acelerada.

Os relacionamentos encontram o terreno

perfeito para ultrapassar qualquer bloqueio,

e, aqueles que estão sós, estão protegidos

nas suas investidas, saiba, no entanto,

ter um comportamento bem direcionado.

Balança

O nativo de balança encontra um mês a

convidá-lo a conviver, sendo que, nas circunstâncias

actuais, é um apelo que tenderá

a causar alguma ansiedade. Assim,

deverá tentar conciliar esta necessidade de

socialização, com as exigências actuais, e tirar

daqui o máximo proveito.

No que diz respeito ao amor, é uma energia

benéfica, que convida ao convívio, que

o impulsiona a sair e a passear, a conviver.

Assim, para quem está num relacionamento

é-lhe pedido que saia de portas, que convivam

com outras pessoas, desfrutando da

relação integrados em outros grupos. Para

quem está solteiro, sair e conviver poderá

potencializar um novo relacionamento,

desfrute da sua vida social.

Escorpião

O nativo de escorpião encontra uma energia

que impõe respeito e pede muita atenção

a tudo que o rodeia, já que a carta “cobra”

potencia enganos e, até mesmo, perdas,

pelo que se torna necessário aproveitar esta

energia a seu favor, sabendo agir sem dar

nas vistas, sem fazer barulho, ladeando os

obstáculos de forma inteligente, até escolher

o momento certo para agir.

No que diz respeito ao amor, esta energia

é densa e pede cuidados acrescidos, atenção

e cautela, tudo deve ser muito bem

reflectido. Para quem está num relacionamento,

deverá acautelar atitudes impensadas,

e pensar bem antes de falar, já que

poderá adoptar comportamentos frios que

magoam a outra pessoa. Para quem está

solteiro, tenha atenção em relação a quem

deixa entrar na sua vida, nem sempre as

pessoas são o que parecem, e uma nova relação

deverá ser bem reflectida.

Sagitário

O nativo de sagitário encontra um mês com

uma energia que tem tudo para ser de superação,

poderá passar ou ter passado por

situações mais difíceis, mas surge agora a

altura de ultrapassar e seguir adiante, definitivamente.

altura de ultrapassar e seguir

adiante, definitivamente.

No que diz respeito ao amor, a energia desta

fase, num primeiro momento, tende a ser

tensa e a causar conflitos, quanto mais não

seja consigo mesmo. O que de bom tem

esta Cruz é que ela acaba por trazer a superação

de qualquer bloqueio. Assim, para

os que estão num relacionamento, poderá

ter de enfrentar situações menos benéficas,

mas tem tudo para as ultrapassar. Para

quem está solteiro, é uma boa altura para

colocar a cabeça em dia, limpar os pensamentos,

e dedicar-se a si.

Capricórnio

O nativo de capricórnio encontra uma energia

que favorece o reconhecimento, que lhe

pede para se dar valor a si mesmo e para

valorizar, devidamente, quem o rodeia. Saiba

ouvir a sua intuição.

No que respeita ao amor, o reconhecimento

e a admiração estarão favorecidos, pelo que

os relacionamentos existentes poderão ver

uma energia a favorecê-los, com a paixão

no ar. Para os que estão solteiros, é favorável

a um novo relacionamento.

No que diz respeito ao trabalho, é uma fase

muito favorável à valorização daquilo que

faz e como faz, a Lua promove o reconhecimento.

Saiba fazer uso da sua intuição a

seu favor, e entregue-se à realização profissional.

Aquário

O nativo de aquário encontra um mês muito

beneficiado, sobretudo no que respeita

às relações interpessoais, já que estão protegidas

pela energia do amor. Saiba procurar

perceber o outro e cada situação por si,

sem preconceitos, a solidariedade e o encontro

com o outro deverão estar na ordem

do dia.

No que respeita aos relacionamentos, não

poderia estar mais beneficiado, já que a

energia do coração promete amor e saúde

emocional. Namore, promova a paixão e

aproveite.

Peixes

O nativo de peixes encontra uma energia

mais densa, que irá exigir de si muita calma,

ponderação, uma permanente busca

de equilíbrio, para que não caia nessa densidade

que tenderá a prejudicá-lo. Procure

agir com razão e com amor, e não se deixe

levar por acontecimentos mais agressivos.

No que diz respeito ao amor, a tendência

desta energia é favorecer os conflitos, logo

os afastamentos, prejudicando os afectos

de uma forma geral. É muito importante

procurar o equilíbrio, e saber colocar-se no

lugar do outro.

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Seg. a Sexta. — 08h00 às 20h00

Sábado — 08h00 às 19h00



COVID-19

Os requisitos de entrada na fronteira

suíça voltaram ao normal em 2 de maio

Até agora, todos os países fora do espaço Schengen, exceto

uma lista de exceções, eram considerados "de alto

risco" pelo SEM, o que significa que turistas ou pessoas

desses países que procuravam emprego na Suíça não podiam

entrar segundo a regulamentação normal.

Sem máscaras, sem exigências especiais de entrada: Os aeroportos suíços

estão voltando lentamente ao normal. © Keystone / Salvatore Di Nolfi

Keystone-SDA/dos (*)

A partir de 2 de maio, o governo suíço

levantou todas as restrições relacionadas

à Covid para os viajantes

que entram no país, independentemente

do país de origem.

A partir de 2 de maio, as "regras habituais" para entrar

na Suíça foram aplicadas, segundo a Secretaria de Estado

para as Migrações (SEM).

Uma longa lista de exceções a esta regra foi aplicada:

pessoas com 18 anos ou menos, pessoas em trânsito pela

Suíça ou pessoas totalmente vacinadas contra a Covid-19

com uma vacina aprovada pela Suíça, pela União Européia

ou pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Fim das medidas

Em fevereiro, o governo levantou a exigência de que os

viajantes entrantes apresentassem prova de vacinação,

recuperação ou teste negativo, e preenchessem um formulário

de entrada. Entretanto, o SEM esclareceu posteriormente

que isto não se aplicava a países ainda considerados

de "alto risco".

Em 1º de abril, o governo levantou todas as medidas internas

remanescentes para combater a propagação do

coronavírus, notadamente deixando de lado a exigência

de máscara no transporte público e um período de isolamento

de cinco dias para pessoas infectadas.

(*) Texto escrito na variante

brasileira da Língua Portuguesa

60

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