OUTUBRO 2021
Edição número 281do órgão de informação do Centro Lusitano de Zurique.
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POSTAL DO DIA
Júlio Isidro, o homem a quem
nunca diremos adeus
© impala
LUÍS OSÓRIO (*)
1.
Júlio Isidro foi infetado pelo Covid 19.
E sabemos que recuperou e voltou ao
ativo.
Há pessoas assim, mais eternas do
que outras.
Pessoas que nos fazem acreditar na
possibilidade de sermos mais fortes,
mais resistentes, mais capazes de encarar
o que somos, a começar pelo
envelhecimento.
2
Júlio Isidro tem mais de 60 anos de
carreira. Há uns largos meses, no
Casino Estoril, centenas de pessoas
prestaram-lhe justa homenagem. São
raros os exemplos de portugueses
que souberam atravessar tempos e
regimes diferentes mantendo uma
coerência, uma qualidade e um sentido
de futuro. Júlio foi um deles, não
há muitos mais.
3.
Nasceu quando a II Guerra Mundial
ainda não acabara. E quando eu
nasci ele já era uma figura emergente.
Cresci com o Passeio dos Alegres
onde lançou uma quantidade enorme
de talentos. Sentava-me a vê-lo
naquelas tardes lentas, tardes em
que tínhamos tempo para ouvir com
atenção o que se passava. E ele sabia
como me captar a atenção.
4.
5.
Quando o vejo continuo a reconhecer
o mesmo de antes. O que vi nas
gravações de Fungagá da Bicharada,
com José Barata Moura. O que vi
numa tarde no Cinema Europa a entrevistar
os Duran Duran. O mesmo
homem que identifico quando penso
nos dias de infância em frente à
televisão, o mesmo que as minhas
avós reconheciam ser grande, o mesmo
que os meus filhos mais velhos
ouvem no Traz para a Frente para
aprenderem sobre música, sobre artes
plásticas, sobre a cultura e a essência
de sermos estes e não outros.
Estava dentro do aparelho de televisão
como se estivesse na nossa casa.
6.
Era culto, mas não nos agredia com Júlio é eterno. Uma das poucas pessoas
que não morrerá – mesmo que
o seu conhecimento. Pertencia a
uma elite cultural, mas tratava toda um dia se ausente, saberemos (no
a gente com dignidade. Era uma estrela,
mas a sua generosidade quase nas será uma pausa até que volte a
fundo dos nossos fundos) que ape-
nos obrigava a acreditar que os seus estrear um novo Passeio dos Alegres
convidados é que o eram.
onde ensinará a maioria desta gente a
fazer televisão de qualidade.
(*) O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico
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Lusitano de Zurique - Outubro 2021 | www.cldz.eu