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Saúde em novo Paradigma
ciência supostamente verdadeira e apodítica sobre o que ocorre com o corpo
e até com a mente humana. Mas na verdade, o grau de incerteza é imenso,
como o demonstram os fatos: alto índice de mortes devido à intervenções
médico-hospitalares; instabilidade nos resultados; doenças recidivas,
aumento vertiginoso de doentes crônicos; mascaramento de sintomas; efeitos
colaterais e de complexidade, precariedade da saúde em meio ao combate
tecnocêntrico às doenças etc. 8
Tanto no desenvolvimento do modelo explicativo sobre o corpo,
como também na prática terapêutica, duas categorias são fundamentais
para entender como se constitui a racionalidade do modelo biomédico:
As categorias “Normal e Patológico”, muito bem debatidas na obra de
Canguilhem (2006). Destaca-se, na história deste modelo, a importância
dos estudos de Bichat, Braussais, Comte e Bernard para a estruturação do
discurso sobre essas duas categorias opostas e ao mesmo tempo reveladoras
da verdade uma da outra. Tanto o normal torna-se substrato para definir o
que é patológico, como o patológico o é para definir o que é normal. O normal
e o patológico enquanto categorias objetivas e positivas se concebem aqui
em função de qualidades verificáveis e da quantificação destas, fazendo da
normalidade regras e medidas a cumprir, e da anormalidade o desvio dessas
medidas e regras, fazendo do modelo explicativo do normal e do patológico
uma função quantificável. Cada vez mais, o normal será concebido enquanto
média, como função da proximidade à reta central da curva gaussiana,
ganhando protagonismo no discurso explicativo do fenômeno vital, discurso
esse de universalização e de verdade paradoxalmente redutora. Trazendo um
exemplo: muitos começaram a pensar que a loucura é mensurável, algo físico
e matemático.
Esse modelo de racionalidade sobre o adoecimento e a normalidade não
ficará recluso na dimensão individual do corpo, mas terá grande peso para
explicar a sociedade como conjunto de corpos e, mais do que isto, como corpo
8 Os dados sobre o alcance deletério da prática médica alopático-hospitalar são alarmantes. Cf.
Tenner, 1997; Coleman 2000; Botsaris 2001. Os efeitos iatrogênicos, erros médicos etc. são a quinta
maior causa de morte nos EUA. Há uma epidemia de câncer, a ponto de uma em cada 7 pessoas nos
EUA terá algum tipo de tumor durante sua vida. Cf. Servan-Schreiber 2004 e 2007, e as obras de Samuel
Epstein (http://www.preventcancer.com/about/epstein.htm)
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