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Saúde em novo Paradigma
adversário, mas o resultado está sempre fora do controle. O adversário pode
mudar sua estratégia, e o acaso sempre ronda, tornando o jogo uma caixinha
de surpresas. O sentido último do jogo não permite quebrar regras, pois
já não seria mais propriamente o jogo. Mas mesmo quando as regras são
quebradas, ainda há algo em jogo, um outro jogo diante do jogo inicial. No
jogo, algo e nós mesmos estamos em jogo. A experiência em jogos nos diz
que não podemos nos prender tanto a estratégias, pois, se não mantivermos
a abertura à dinâmica mutante do processo, se esquecermos a criação e o
improviso, corremos um sério risco de sermos atropelados. No jogo com o
outro, mais do que tentar evitar surpresas com predições, precisamos manter
uma postura de abertura e flexibilidade, na garantia de um diálogo de fato.
O exemplo do jogo é perfeito para representar a dinâmica e o caráter
incerto dos processos de interação entre atores, mas, ao mesmo tempo, traz
alguns problemas, sendo necessário desconstruí-lo. As relações humanas
não necessariamente precisam de vencedores e perdedores, a vitória pode
ser nosso fim primeiro, mas não precisa ser nosso fim último, pois no jogo
da alteridade imperativos e fins fixos são empecilhos para a negociação e
a chegada ao consenso (RIVERA, 1995). Quando se supervaloriza os fins,
no diálogo de negociação, os meios se transformam em instrumentais
estratégicos para se chegar aos objetivos, guardando alguns riscos éticos que
precisam ser dimensionados.
Quando se quer muito algo, podemos achar que os fins justificam
os meios, nos colocando no jogo com pressupostos tão estruturados que
transformam os outros atores em partidários e não partidários, em que é
preciso ganhar a qualquer custo. E assim, podemos nos valer de ferramentas
que implicam em problemas sérios em nossa postura em relação ao outro,
nas quais bombas são justificadas pela paz, guerras são justificadas pela
expansão da democracia, e mais especificamente no caso da saúde, formas
de anulação da autonomia das pessoas são justificadas em nome da defesa
da cura e do sistema. Num agir estratégico preso aos fins, corremos o risco
de transformar o processo comunicativo num mundo sem regras e sem
ética, instrumentalizando a relação com o outro, fazendo com que ele seja
apenas um meio para se chegar a determinado fim. Isso abre a possibilidade
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