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Saúde em novo Paradigma
O que Illich (1975) chamou de medicalização da sociedade seria esse
processo de colonização da vida pelas estratégias de controle que a medicina
moderna trouxe, colocando em xeque inclusive os próprios fenômenos
naturais ligados à vida, gerando uma desconfiança do natural. O poder
da vida é gradativamente, no processo de legitimação da medicina entre a
sociedade, substituída pelo poder sobre a vida, aumentando a artificialidade
dos processos vitais. A legitimação da medicina moderna ancora-se
fundamentalmente no desenvolvimento tecnológico aliado às promessas
da produção de uma sociedade saudável, sem sofrimento, uma analgesia da
vida, que desde as possibilidades geradas pelo advento dos antibióticos e das
vacinas (que na época se anunciavam como o fim das doenças infecciosas),
evolui até a presente engenharia genética, que é colocada como “a nova
panacéia, para todos os males”. Analgésicos efetivos contra dor, partos
cesáreos assistidos, antidepressivos para o sofrimento da alma, inseminações
artificiais, cirurgias plásticas, somados às promessas da genética de correções
de defeitos e morbidades ainda no ventre da mãe, e de produção de seres
humanos “perfeitos” fizeram a medicina construir um imaginário de um
espaço de possibilidades de controle, infiltrando-se na vida cotidiana e
ressignificando-a. O alerta bioético surge exatamente nesse contexto, em
tempos de progresso tecnológico e suas ameaças, crises do desenvolvimento
e da saúde humana e planetária (PELIZZOLI, 2007).
Contudo, apesar de ser a medicina moderna hegemônica na produção
de cuidado, principalmente a partir da segunda metade do século XX, o
modelo biomédico sofre grandes críticas de pensadores e movimentos ligados
ao setor saúde, criando-se um mal estar e uma crise de legitimidade junto a
alguns setores da sociedade (SCHRAIBER, 1997). Essa crise está ligada tanto
aos problemas políticos e éticos ligados às práticas interventoras sobre o
“mundo da vida” humano e natural, como também aos limites epistêmicos
do modelo biomédico que, com sua prática tecnificante e objetificadora, se
mostrou incapaz de dar conta de um objeto tão complexo e misterioso como
é o fenômeno do adoecer e do viver. Não questionamos aqui a importância de
suas teorias ou a efetividade de sua prática, mas o reducionismo das mesmas
e o perigo que disso advém.
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