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SAUDE EM NOVO PARADIGMA_02-09-2011

Práticas integrativas em saúde

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Saúde em novo Paradigma

uma perturbação que nos coloca num estado de estranheza de nosso ser no

mundo. Como Canguilhem (1990, p. 67) argumenta, “ser doente é, realmente,

para o homem, viver uma vida diferente, mesmo no sentido biológico da

palavra. A doença é uma forma diferente de vida”.

Se a saúde é ligada a uma normalidade cotidiana, ter saúde é justamente

uma potência que nos joga com vitalidade na vida, no cotidiano. Assim, não

seria estranho além de perguntar o que é saúde, ou como é estar saudável,

também perguntar para quê ter saúde? Saúde não pode ser tida como um fim

em si mesmo, pois ninguém quer ter saúde para ter saúde simplesmente, mas,

pelo contrário, ter saúde é meio, uma condição que permite possibilidades no

mundo da vida. Como bem colocou Caponi, ter saúde tem sentido apenas com

a possibilidade de “abusar da saúde”. Assim, cuidar da saúde sempre nos remete

a uma busca de expandir possibilidades de ser no mundo, na integralidade

da vida enquanto ser no espírito, no corpo e na utopia, articulando limites

e imperativos. Nessa perspectiva, saúde pode ser entendida como potência

que nos joga na experimentação de nossas possibilidades mais próprias, em

relação imbricada aos desafios vitais e existenciais. Talvez por isso mesmo, a

medicina moderna seja acusada de não conseguir dar conta do objeto saúde,

pois mutila a saúde da vida dos sujeitos, mutilando junto a dimensão éticopolítica-existencial

do ter (ser) saúde, já que falar de ser saudável é também

falar de ser no mundo.

Com isso, saúde é algo desde sempre dado, mas não explícito, pois

somente podemos experimentá-la no vivenciar das possibilidades que ela

nos permite, em meio às faticidades da existência. É assim que, por exemplo,

um evento fatídico e trágico é passível de superação, como a perda de um

membro em um acidente, que apesar do trauma, conseguimos com o tempo

encontrar novos sentidos e possibilidades de ser; são sentidos e possibilidades

impossíveis de serem objeto de uma ciência metódica, pois encontram sentido

somente na vida prática dos sujeitos reais. Isso nos traz a compreensão da

natureza misteriosa do estar saudável, o que Gadamer chamou caráter oculto

da saúde. Eis que a expressão da saúde nunca se mostra por ela mesma,

mas enquanto potência para algo; torna-se fenômeno apenas nesse algo,

pois apenas se pode conceber saúde numa relação de conformidade com

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