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Saúde em novo Paradigma
para o futuro, ao se sonhar algo, necessariamente demanda-se cuidado, pois
entre o sonhado e o possível há o devir mutante que se transmuta a cada dia
em ato que surge a partir da experiência de cada momento. Sonhar com uma
família, sonhar com uma carreira, uma profissão, amigos, uma comunidade
solidária, uma sociedade melhor, vai exigir que cuidemos, sob diversas
perspectivas, para que os sonhos se estruturem e ganhem forma. Seja na
tranquilidade, seja nos contratempos, estamos sempre cuidado da vida
como projeto de existência, cuidando do mundo, cuidando de si. Cuidado
de si que Foucault tematizou em sua Hermenêutica do sujeito, levantando as
experiências ocidentais de epiméleia he autoû. Daí ser o cuidado um processo
inerente à experiência de si. Quando cuidamos de nossos doentes, cuidamos
na verdade de nossa família, de nossas amizades, de nossa vizinhança, de
nossa comunidade, de nós mesmos, pois o outro é parte de nossos projetos
existenciais, nossos projetos de felicidade que se diluem com os projetos dos
outros, transformando-se num projeto de mundo compartilhado, já que o
outro como outro sempre vai ser fundamental em vista da natureza social e
dialógica do homem.
Projeto e cuidado, nesta perspectiva, são alegorias que formam
uma unidade, não sendo possível uma sem a outra. Como já trabalhado,
projeto e cuidado, inseridos na experiência hermenêutica, conduzem-se
no devir, entre a historicidade, a finitude e a negatividade, transformandose
a cada dia, como também ampliando-se em consciência que se abre e
se projeta do presente para o futuro. Esta consciência que se abre, não traz
necessariamente a estabilidade para o que se projeta, mas plasticidade ao ser
no projeto, que embora seja passível de incompletude, a compreensão diante
das possibilidades e das limitações torna-se cada vez mais ampla, aberta e
forte diante dos contratempos. Uma consciência forte não está no projeto
realizado, mas na compreensão e sabedoria diante do jogo de possibilidades
e limitações da existência. Isso implica dizer que o cuidado não está
necessariamente no retorno ao domínio sobre a vida, mas na compreensão de
sua natureza, exigindo uma postura “sábia” diante do que cada situação impõe,
exigindo do espírito, do ser no mundo, a busca interminável da tékhne toû
bíou (arte de viver). Neste sentido, cuidar de si e do outro exige provocações
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