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Saúde em novo Paradigma
vida. Isso se dá a partir do momento em que vida, existência, saúde, morte
e sofrimento ganham um estatuto existencial, “incoerente” com o modelo
biomédico preso as objetividades do “real”, o que mostra a dificuldade da
medicina moderna em lidar com tais questões. A doença e a morte são males
combatidos, de valor sempre negativo para a medicina, inviabilizando a
possibilidade que a morbidade tem de ressignificar a vida e reorientar o agir
sobre o mundo pelo paciente - pelo sujeito. Esse cenário abre espaço para
o processo de desumanização da medicina, transformando-a numa prática
dura, técnica e utilitária. Além do que, tende a “desempoderar” o sujeito,
que passa a não acreditar mais na manutenção de sua vitalidade, ambiente
e qualidade de vida, e assim no potencial natural de cura de seu corpo
(PELIZZOLI, 2010).
Sendo a doença um processo complexo, social, existencial, interacional
e simbólico, qualquer ação terapêutica que não possa deslumbrar um olhar
amplo de possibilidades, fracassará na sua eficácia. Nesse sentido, observase
a grande incapacidade do modelo biomédico de promover saúde em
grande parte dos casos, pois, geralmente, seus procedimentos intervêm sobre
sintomas, produzindo um processo de “cronificação” de enfermidades e do
próprio sofrimento, não trazendo uma resposta efetiva para a produção
de saúde de uma forma ampla e duradoura (ILLICH, 1975). Isso acontece
sobretudo nas doenças ditas crônicas, intimamente relacionadas às formas
de existir no transcorrer da vida de cada sujeito em particular. A medicina
fundada na patogênese – patologia – perdeu as dimensões da salutogênese 9 .
Além disso, como a terapêutica predominante no modelo biomédico é
essencialmente intervencionista de base alopática ou cirúrgica, no nível da
mecânica dos órgãos ou da bioquímica celular, ela guarda grande potencial
iatrogênico, já que dificilmente a ação de uma droga ou da retirada de um
órgão terá um efeito restrito no local lesado. A iatrogenia potencial dos
atos médicos é ainda mais nociva num cenário de consumo descontrolado
de planos de saúde, produtos e serviços médicos e no processo intenso de
medicalização da vida cotidiana. Somado a isso, na vinculação da medicina
9 Trata-se de como produzir e manter a saúde, mais do que combater doenças e sintomas. Cf. Glocker,
in: Pelizzoli, 2010; ver Gonzales, 2006.
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