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Saúde em novo Paradigma
técnico-instrumental, vinculada ao consumo e à promessa de bem estar
instantâneo, através de um comprimido, uma cirurgia plástica, a retirada de
órgão com defeito, uma sessão de rádio, na qual a cura é reduzida à cessação
dos sintomas. Nessa perspectiva, saúde está vinculada à mecânica do corpo,
completamente divorciada da vida em sua dimensão ampla, perspectiva que
precisa ser rompida na busca de paradigmas holísticos e conciliadores entre
o ser humano e a vida prática. Assim, falar em saúde é também falar na saúde
na dor, no sofrimento e na morte, e não apenas na felicidade. Os “cuidadores”
de nosso tempo não podem perder de vista esses desafios, podendo a
hermenêutica se constituir como boa ferramenta, não só para construção de
nova episteme, mas, sobretudo, para a construção de novos Ethos do cuidado.
O cuidador hermeneuta
A idéia central desse texto se constitui na hipótese de que a hermenêutica
filosófica pode ser um caminho de crítica e complementaridade ao paradigma
cartesiano que domina o modelo biomédico no sentido de enfrentamento
de seus principais problemas epistêmicos e éticos. Num contexto de crise de
confiança com relação às políticas hegemônicas dentro da saúde, defendemos
a urgência do que chamamos aqui de “o cuidador hermeneuta”, capaz de
desenvolver formas dialógicas, compreensivas, éticas e responsáveis de
interação e cuidado, capaz de resgatar a totalidade vital dos fenômenos que
envolvem saúde e doença, para além do reducionismo físico-químico e
mecanicista. Desse modo, não se trata de apresentar outra verdade objetiva,
pretensiosamente absoluta. O que se propõe aqui é não um ponto de chegada,
mais um ponto de partida que possa construir novos caminhos, como
também, lembrando das idéias do educador pernambucano Paulo Freire
(2005), a conscientização e novos jeitos de caminhar.
O ponto fundamental na crítica ao cartesianismo e, por extensão,
ao modelo biomédico, não está na inverdade de seus enunciados, e sim,
justamente na pretensão de se colocar como único caminho na construção de
verdades com relação ao fenômeno do adoecimento, e fazer perder aspectos
essenciais do que seja o processo saúde-doença. Toda forma de estruturação de
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