You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Saúde em novo Paradigma
que odeia, de forma que é apenas o corpo que nos conduz a nos sentirmos
inteiros na vida.
Este espírito, que também é corpo, está imerso no tempo e na
historicidade, projetando-se enquanto um refazer-se contínuo de si mesmo,
buscando sentido ao seu ser no mundo. O espírito, enquanto possibilidade
de ser, se inquieta, não se satisfaz com o que se apresenta simplesmente dado,
e sonha novas maneiras de estar no mundo transformando este mesmo
mundo, fazendo do seu passado e do seu presente o lugar para antecipar-se ao
futuro. O futuro não é apenas o que acontece, mas também o que se sonha e
se planeja. Esta é nossa terceira dimensão humana, a utopia, nossa substância
de Saturno que nos faz buscar infinitas possibilidades, não por conta de uma
ausência no ser, mas pela busca de transbordar-se a si mesmo como potência,
extravasamento, expansão de vida. Contudo, a condição da utopia é a forma
relacional, do eu com o mundo que me cerca, pois sonhar um mundo possível
é sonhar também um mundo para o outro, quer em consenso ou dissenso
com ele. Isso faz da utopia mais do que um ato de abstração, mas, sobretudo,
ato político, pois apenas socialmente é possível sonhar. Sozinhos, sonhos são
apenas vontades, sem potência criadora e política.
A utopia se constrói como síntese entre as exigências da Terra
(imanentes no corpo) e os imperativos do espírito (BOFF, 2008). Contudo,
essa construção não surge restrita à ação de sonhar, de conceber utopias, mas
vai exigir trabalho, empenho, zelo, luta, dedicação, disciplina, alteridade,
responsabilidade, preocupação, uma série de atitudes em relação a si e ao
mundo para que o mundo dado também seja projeto de mundo. Todas essas
atitudes que projetam sujeito e mundo ao seu vir a ser, em relação ao que
a condição humana enquanto ser no mundo impõe, e o que as vontades e
potências possibilitam, apresentam-se ontologicamente como cuidado,
nossa quarta dimensão seminal que expressa nosso ser no mundo enquanto
possibilidade de compreender a si mesmo e possibilidade de ser. Nesse
sentido, retomamos a pergunta: o que é cuidar? O cuidado, ou a atitude de
cuidar, é um modo de ser fundamental, não podendo ser concebido como
estância fora de nós, mas sim ontologicamente constitutivo da natureza
humana. Quando nos propomos a cuidar de algo ou de alguém, somos
42