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Sapeca nº 40

Nº 40 – Outubro/2022 – Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com

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uma proeza para encontrar o caminho de volta. Retornar ao latifúndio dos tios Lalade

e Lili, situado entre a Avenida João Inácio Peixoto e Avenida Cel. Artur Cruz.

Foi uma manhã de susto e medo, perdido entre ruas arborizadas na terra da revista

Verde e Rosário Fusco.

Numa dessas férias fomos a Cataguarino. No final do século 19, esse pequeno

lugarejo acolheu o casal Joseph Abritta e Angela Salerno, avós do Tio Osveraldo.

E lá a família multiplicou-se. Hoje temos Abritta e Abrita espalhados por

todos os cantos, povoando esse mundaréu. Ficamos hospedados na casa de um

parente do Tio Lalade que possuía um armazém. Um dos comerciantes só andava

de camisolão. Sofria de incontinência urinária. Esta imagem inusitada ficou guardada

para sempre na minha cabeça.

Adornando uma mesinha na sala havia um pequeno escudo do Flamengo

feito de pano, no formato de um coração. Creio que recheado de algodão ou outro

material para fazer o enchimento. Era menor que o tamanho de um punho. Na

mesma sala enfeitando a parede um estribo, modelo sapato, de bronze.

Assim como o meu pai Zizinho o do Marcílio, o Tio Lalade torcia pelo

Vasco da Gama desde antes do “Expresso da Vitória”. E permaneceu fiel ao time

de coração até a eternidade. Ao ver o brasão rubro-negro, maior adversário do seu

clube, ouriçou-lhe os pelos, mexeu com os seus brios. Tio Lalade teve uma ideia,

propôs ao sobrinho, nesse caso, eu, a seguinte estripulia: “Vamos esconder o coração

do Flamengo dentro desse sapato-estribo”. Topei na hora. Toda criança gosta

de um malfeito. E nessa ocasião eu ainda não estava contaminado pelo “flamenguismo”,

doença que depois que nos pega, jamais nos abandona.

Colocamos o plano em prática. Tio e sobrinho, cúmplices, sorrateiros, esconderam

o emblema do time da Gávea no interior do sapato de bronze. Não sei

por quanto tempo ficou sumido o distintivo do mengo. Sei que a travessura persiste

na minha memória.

E nessa Pasárgada encravada ao pé da Serra da Onça, éramos amigos do rei,

nesse caso a Família Abritta. E mesmo sob a cerrada vigilância do Padre José,

guarda-costas do Marcílio, aprontamos as nossas bagunças. Nadamos no córrego.

Apoderamos da quase centenária Igreja do Divino Espírito Santo do Empoçado.

Tivemos acesso ao sistema de som. Colocamos na vitrola discos de 78 rpm. Sonorizamos

a dorminhoca Cataguarino com melodias e chiados.

Na sacristia encontramos uma vasilha repleta de hóstias. Com a autorização

eclesial do primo Marcílio comemos muitas delas. Eu, que fizera a Primeira Comunhão

havia pouco tempo achei, a princípio, uma heresia comer hóstias. Acontece

que o argumento do primo mais velho e seminarista continha fundamento.

Sem a consagração, a hóstia seria apenas uma massa de pão ázimo. Não pecamos.

Hoje não tem mais a velha igreja. Os doidos, sempre de plantão, desmancharamna

em 1965. Não sei se antes ou depois desse passeio a Cataguarino pegamos uma

carona no almoço oferecido pelo Monsenhor da Igreja Santa Rita de Cássia ao

Padre José e Marcílio. Uma ceia, um banquete.

Em meados da década de 60 fervilhava o mundo musical. Era assim na

Meia-Pataca do poeta Joaquim Branco e no antigo Sapé de Ubá, na Barbearia do

Sô Nilo onde se reuniam os bambambãs da música de Guidoval. Em 1965, os Beatles

contagiam com Help de Lennon/McCartney, Roberto Carlos ataca de Quero

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