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francês estudou com os jesuítas preparando-se para o sacerdócio (tal como
ambos no nosso tempo), o que não o impediu de escrever em Les
Éleuthéromanes o verso: “E suas mãos arrancarão as entranhas do padre/na falta
de uma corda para estrangular os reis”.
Essa invectiva, usualmente traduzida como cerne do ideário libertário e
ateísta, é com frequência atribuída como conceito original de Diderot ou, em
outra variante, ao seu contemporâneo Voltaire; porém, Diderot está citando uma
obra que teve exatamente Voltaire como seu primeiro editor, cuja autoria é de
um padre ateu, anterior aos dois, e que confessa isso em seu livro de memórias
publicado postumamente, Memória dos pensamentos e sentimentos do Abade
Jean Meslier, com a frase: “Eu gostaria, e este será o último e o mais ardente dos
meus desejos, eu gostaria que o último rei fosse estrangulado com as tripas do
último padre”.
Padre Meslier, pouco antes de morrer, em 1729, passou seus últimos anos
construindo arrazoados contra a sua própria fé; no dizer dele mesmo, para
demonstrar a “falsidade de todos os deuses e religiões do mundo”. Essa foi a
maneira de expiar seu arrependimento e amargura.
Ainda bem que Padre Fábio e Karnal não denotam arrependimento algum
pelas crenças e descrenças que suportam; assumem com perspicácia aquilo em
que creem e defendem com elegância aquilo de que descreem.