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dos grandes desafios do cristianismo hoje, que é manter uma fé que seja
razoável. Creditar a uma medalha o poder de proteção precisa de contexto. Caso
contrário, descambamos no absurdo. Desvincular o aspecto simbólico da
medalha das convicções a que ela se refere, derramar sobre ela uma aura
misteriosa que não tenha conexão com o Evangelho é retomar o paganismo. Um
símbolo só tem sentido quando nos faz chegar a algo. É por isso que toda
devoção precisa ser vivida como ponte para se chegar à vivência dos
ensinamentos de Jesus. Se não há uma ligação responsável dos símbolos
devocionais com a mentalidade cristã, a prática religiosa passa a ser pagã.
Desvinculada da proposta de ser transformadora da mentalidade, a religião deixa
de se referenciar na história, passando a ser um lugar de cultos que favorecem a
alienação. Veja bem, nós estamos falando justamente do contexto que Jesus
condenou. Dos ídolos, das devoções vazias, dos costumes religiosos que eram
naturalmente pagãos. Eu me sinto confortável dentro dessa postura. Por meio
dela eu reivindico o direito de ser e pensar como o meu fundador. Jesus é o
divisor de águas. Nele temos a hermenêutica da transcendência, a interpretação
que nos coloca diante de um Deus que não se prende ao exterior dos ritos, mas
que privilegia o resultado dos ritos no coração humano. Se a religiosidade não
me conceder o caráter cristão, ela foi em vão. Precisamos levar a sério os
motivos pelos quais Ele morreu. Motivos religiosos, políticos. Mas não nos
esqueçamos, Ele morreu, sobretudo, porque ousou contradizer o discurso
religioso de Seu tempo. O fator religioso contou bem mais que o político.
“Parece que Deus fala exatamente o que as
pessoas querem ouvir... E o mesmo fazem
seus emissários, seus santos, suas
entidades, seus orixás, seus gurus. Falam
tão exatamente o que as pessoas querem
ouvir que é lícito eu supor que são as
pessoas que fazem Iemanjá falar, o
demônio, Jesus, Nossa Senhora de
Fátima...”
Karnal