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o ambiente que será oferecido à visita. A espera pela eternidade como uma
oportunidade para evoluir. A espera como instrumento para deslocamentos que
nunca terminam. Espera como aperfeiçoamento humano. É só olhar para o
século passado. Nós estávamos justificados enquanto escravizávamos as pessoas.
Evoluímos para compreender que isso não é justo. Com esse esclarecimento, de
alguma forma já derramamos eternidade sobre a história. Uma mudança que
trouxe vida a muitas pessoas. Nunca dissocio a vida espiritual da evolução
humana. São caminhos que seguem juntos. Há tanto a evoluir, há tanto a
avançar. Pode ser que daqui a algum tempo cheguemos à conclusão de que
estávamos errados em matar e comer os animais, não sei. O fato é que
precisamos pensar nessa preparação para a eternidade como uma melhoria do
humano. A espera operante é a dinâmica da evolução.
Mas nem sempre tenho um Moltmann como ponto de partida. Se me falta
esse amparo conceitual que reconciliou a sensatez com a fé, incorro no risco de
me portar como um idiota. Há alguns aspectos da fé que não aceitam a
racionalização. Então, eu tenho muito mais oportunidade de confundir do que de
esclarecer. São aspectos incompatíveis com as palavras. É como eu querer
descrever o que significa, para mim, amar alguém.
Em que momento do processo se tornou obrigatório definir o que é mistério?
Por que a fé não aceita o silêncio? É uma característica do Ocidente? Não é mais
interessante aceitarmos que sobre isso nós não temos o que dizer, mas apenas
esperar? Não há necessidade de falar, especular, fazer pregações. Seria mais
honesto ensinar a reverência, a contemplação. Quando me ponho a falar sobre o
mistério, abro a possibilidade de colocar um obstáculo entre a fé e a minha
inteligência. E então passo a viver uma fé que não é fé, porque, em última
instância, está desmoralizada pelo meu bom senso.
Karnal: Eu acho que existe uma coerência entre o que você faz e o que está
dizendo. É o que acontece quando você opta por cantar, escrever livros, que em
vez de apologética, você decide traduzir de forma afetiva a experiência, essa
prática, e não a teoria, e a especulação teológica. É quase como dizer: o que é
Deus pra você? Deus é aquele que, como o rei Davi, me faz cantar e dançar.
Padre Fábio: Sim, cantei muito uma música quando criança que dizia isso:
“Quando o Espírito de Deus se move em mim eu canto como o rei Davi!”.
Karnal: Você tem uma experiência carismática, ou seja, de vida no Espírito
Santo, inclinando sua espiritualidade para as pessoas também. Para evitar a base
do farisaísmo: eu me relaciono com Deus, mas oprimo o próximo. Que é essa
coisa que a gente brinca com o Rousseau, que amava a humanidade, mas odiava