PERSONAGEM O ex-colaborador que se tornou bispo De família humilde, trabalhou por dois anos, de 1984 a 1985, na Máquina de Algodão, onde desempenhou várias funções e fez muitos amigos Ao longo dos 60 anos de história da <strong>Cocamar</strong>, milhares foram os seus colaboradores, nas mais diferentes áreas. E, dentre esses, se sabe que vários seguiram a vocação religiosa, se tornaram padres, diáconos ou pastores, mas não havia notícia de que algum deles teria sido elevado à condição de bispo da igreja católica. PRIMEIRO - Dom Eduardo Vieira dos Santos, 58 anos, há pouco mais de um ano à frente da Diocese de Ourinhos (SP), missão que lhe foi confiada pelo Papa Francisco, é possivelmente o primeiro religioso, ex-funcionário da <strong>Cocamar</strong>, a alcançar o prelado, respondendo por uma importante região que conta com 24 municípios e uma população de centenas de milhares de pessoas. D. Eduardo, bispo da região de Ourinhos (SP) 1 4 | Jo r n a l C o c a m a r
BOIA FRIA - Nascido em 18 de março de 1965 em Bom Sucesso (PR), é o sexto filho de uma família de nove irmãos, trabalhadores rurais que prestavam seus serviços em terras dos outros. O pai Augusto foi porcenteiro de café na região de Terra Boa e Malu e, com o declínio da cultura, passaram a trabalhar como “boias frias”. PRIMEIRO EMPREGO - Sua passagem pela cooperativa se deu em 1984 e 1985, quando a família se mudou para Maringá. “A <strong>Cocamar</strong> foi o meu primeiro emprego com carteira assinada”, lembra D. Eduardo, que foi admitido como horista na Máquina de Algodão, no recebimento da safra. “A gente organizava o pátio para receber o algodão que ia para as tulhas e depois era beneficiado”, conta, lembrando que havia ali grandes estrados de madeira, nos quais o produto era descarregado dos caminhões que vinham da roça. CLASSIFICAÇÃO - “Em poucos dias fui chamado para trabalhar junto às tulhas, como marcador”. Com uma prancheta nas mãos, sua função era anotar o tipo do algodão. “Como eu tinha a oitava série e sabia ler e escrever, fui designado para trabalhar junto ao classificador nas tulhas. E, como passei a entender de classificação, fui classificar algodão no pátio. A safra era muito grande e havia longas filas de caminhões”. CRESCIMENTO - Terminando a safra, os trabalhadores sazonais eram desligados, mas ele, por sua dedicação e a facilidade em realizar os trabalhos, permanecia, sendo conduzido para outras estruturas. “Ajudei no bicho da seda, na Máquina de Café, passei por diversos setores, e trabalhava na manutenção. Fui até lá no IBC onde recebia o algodão já beneficiado, para armazenar os fardos”. Depois, começava a safra de algodão novamente. Para D. Eduardo, esse era o período mais marcante, devido ao grande número de empregados. “Era muito divertida e bonita aquela convivência”. FAMÍLIA - A família residiu no Maringá Velho e ele seguia de bicicleta para o trabalho, enquanto o pai Augusto, que também foi horista na <strong>Cocamar</strong>, preferia caminhar ou ir de ônibus. Sua função era varrer o pátio, cuidar das vias do parque industrial e manter tudo limpo. Outro irmão de D. Eduardo, Manuel, foi ensacador na cooperativa, ligado ao sindicato da categoria. AMIGOS - Ele se recorda que um dos classificadores era o Jacob, “muito conhecido, mas, bravo”. E entre outros, havia o Juca, jogador de truco, o Brito, o Zenardino, o Zé Bassan, “pessoas já de certa idade, que me ajudaram muito. Eu era um guri, tinha apenas uns 20 anos na época”. João Santinho, um dos responsáveis pela parte operacional, gostava de conversar com seu pai. No escritório tinha o responsável, o Tetsuo Noda, a dona Eliza, o Wilson, motorista da kombi, o José Magossi, o Natalino, o Gaúcho da balança. Ele se lembra do Rubens da Máquina de Café, e do pessoal do sindicato dos ensacadores, principalmente do Imbuzeiro e do Catité. Entre os dirigentes da <strong>Cocamar</strong>, conheceu o Dr. Constâncio Pereira Dias, presidente, e ouvia falar muito de Luiz Lourenço. SAÍDA - Em 1985, quando a região foi afetada por uma seca, a <strong>Cocamar</strong> realizou ajustes estruturais e precisou demitir um grande número de colaboradores. Ao saber, junto a João Santinho, que seu nome não estava na lista, Eduardo pediu que fosse incluído, pois durante a safra não conseguia estudar e seu sonho era dedicar-se à vida religiosa. “Eu já havia me matriculado duas vezes para fazer o colegial no Instituto de Educação, mas não conseguia estudar porque na época da safra tinha que trabalhar à noite também”. Foi uma demissão voluntária. Então, ele achou outro emprego e completou os estudos com o supletivo no Colégio Paraná. VOCAÇÃO - D. Eduardo conta que desde os 10 anos, já cultivava o desejo de ser padre, uma vocação natural que o fazia “celebrar” missas em casa para os irmãos. Segundo ele, “ficaram lembranças maravilhosas da <strong>Cocamar</strong>”, onde fez muitos amigos, em um tempo bom e de muito trabalho, “e foi uma época que me ajudou a realizar o meu sonho, com a minha família”. ALEGRE E FELIZ - Ao deixar a <strong>Cocamar</strong>, seu pai foi trabalhar como segurança na casa do Dr. Constâncio. “Ele era de dentro da casa do Dr. Constâncio”. Seu pai, aliás, gostava de contar causos, o que, nos finais de semana, mantinha a casa repleta de amigos e vizinhos, enquanto os irmãos se divertiam tocando violão e, no quintal, a criançada brincava tranquila. “Meu ambiente familiar sempre foi alegre e feliz”. SAUDADES – Quando passa por Maringá para visitar parentes em Paiçandu, D. Eduardo conta que só por estar perto da <strong>Cocamar</strong> “dá uma alegria muito grande e ao mesmo tempo um aperto no coração. Vêm lembranças boas, passa um filme na minha cabeça de tudo que passei. Foram dois anos intensos e sinto que ajudei a construir um pouco da cooperativa”. FÉ - Com sua fé, logo que chegou a Maringá o jovem foi participar de missas na Catedral e se recorda da voz vigorosa do então bispo, D Jaime Luiz Coelho. Na paróquia Cristo Ressuscitado, se lembra de padre Geraldo Schneider, e na Santa Maria Goretti, onde frequentava grupos de jovens, conviveu com os padres Geraldo Trabuco e Júlio Antônio da Silva. Foi o padre Julinho quem lhe deu a carta de apresentação para estudar na Congregação de Santa Cruz, em São Paulo. ORDENAÇÃO - Ordenado padre em 15 de dezembro de 2000, trabalhou na Arquidiocese de São Paulo e, já em 10 de dezembro de 2014, foi nomeado bispo-auxiliar. Em 7 de julho de 2021, D. Eduardo tomou posse como bispo diocesano de Ourinhos, em substituição a D. Salvador Paruzzo, que renunciou por atingir a idade limite de 75 anos. D. Eduardo recebe presente da <strong>Cocamar</strong>, das mãos do jornalista Rogério Recco A História da <strong>Cocamar</strong> continua nas próximas edições Jo r n a l C o c a m a r | 1 5