Boletim BioPESB 2014 - Edição 15.pdf
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<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Ciência, meio ambiente e cidadania em suas mãos ISSN - 2316-6649 - Ano 4 - Nº 15 - <strong>2014</strong><br />
Em entrevista ao <strong>BioPESB</strong>, promotor de Justiça do Meio<br />
Ambiente fala sobre os riscos iminentes no PESB<br />
Nos últimos anos, os cientistas<br />
de vários países vêm<br />
alertando que a perda de<br />
biodiversidade ocorrida de<br />
forma rápida e disseminada<br />
pelo planeta é a ameaça<br />
real mais importante<br />
enfrentada pela humanidade<br />
hoje. Este fenômeno<br />
ocorre em um momento de<br />
grandes mudanças climáticas<br />
globais, pressão pelo<br />
crescimento econômico e<br />
de forte pressão para aumentar<br />
drasticamente a<br />
produção de alimentos.<br />
Nesta ameaça de perda<br />
de biodiversidade, a luta<br />
Saiba como as RPPN’s ajudam na preservação ambiental<br />
As Reservas Particulares<br />
do Patrimônio Natural (RPPN)<br />
são unidades particulares de<br />
conservação criada pela iniciativa<br />
dos proprietários rurais<br />
que manifestam o desejo<br />
de preservar a terra que possuem,<br />
sem perderem o direito<br />
legal sobre a mesma. Seu<br />
objetivo é preservar o patrimônio<br />
natural, os recursos hídricos,<br />
a fauna e a flora local.<br />
Pode haver ainda a realização<br />
de atividades de turismo<br />
e de educação. No Brasil, Minas<br />
Gerais e Paraná são os<br />
estados de maior número de<br />
RPPNs registradas.<br />
Nesta edição, conheça um<br />
pouco mais sobre a RPPN de<br />
Fazenda Lagoa, localizada<br />
no município de Monte Belo<br />
(MG), e também a RPPN Amigos<br />
do Iracambi, situada em<br />
Rosária Limeira, no território<br />
do Parque Estadual da Serra<br />
do Brigadeiro.<br />
Pág 5<br />
pela conservação ambiental<br />
no Parque Estadual Serra<br />
do Brigadeiro, que conserva<br />
fragmento de Mata<br />
Atlântica, considerado um<br />
dos biomas mais rico em<br />
biodiversidade do planeta,<br />
é uma forma de atuação<br />
local que terá impacto<br />
global. Nesta batalha pela<br />
preservação ambiental, os<br />
promotores de justiça do<br />
Meio Ambiente vinculados<br />
ao Ministério Público<br />
aparecem como importante<br />
aliado à população<br />
que luta pelo equilíbrio<br />
ecológico da região. Nesta<br />
edição, o promotor Dr.<br />
Bruno Guerra, atualmente<br />
responsável pela produção<br />
de laudo pericial sobre<br />
problemas encontrados na<br />
implementação e funcionamento<br />
do PESB, fala sobre<br />
problemas e desafios encontrados<br />
dentro da Unidade<br />
de Conservação.<br />
RPPN Fazenda Iracambi<br />
Município de Rosária Limeira (MG)<br />
Págs 6 e 7<br />
André Berlinck<br />
Ciência<br />
Entenda melhor o Sequestro<br />
de Carbono e o<br />
seu papel na preservação<br />
ambiental.<br />
Página 3<br />
Meio Ambiente<br />
Unidades de Conservação<br />
no Brasil carregam<br />
problemas que ameaçam<br />
sua biodiversidade.<br />
Página 4<br />
Turismo<br />
Conheça a história da<br />
Ermida Antônio Martins<br />
e sua importância no<br />
Parque Estadual da Serra<br />
do Brigadeiro.<br />
Página 8
Ciência<br />
Ano 4, n°15 - Pág 2<br />
Unidade de Conservação é espaço privilegiado<br />
para a prática de educação ambiental<br />
Nas escolas de ensino<br />
fundamental e médio, várias<br />
são as disciplinas que os<br />
professores trabalham que<br />
têm como base as ciências<br />
ambientais. Para aumentar o<br />
interesse dos alunos, mais do<br />
que informações e conceitos,<br />
recomenda-se que as escolas<br />
trabalhem com o ensino de<br />
habilidades e ações inserido<br />
na realidade local. Dessa<br />
forma, é recomendado que<br />
o trabalho pedagógico em<br />
Educação Ambiental nas escolas<br />
extrapole as salas de<br />
aula, levando os estudantes<br />
a ambientes onde se possa<br />
criar maior interação com a<br />
natureza, estabelecendo elo<br />
entre o que aprende e sua<br />
realidade cotidiana.<br />
Neste contexto, as Unidades<br />
de Conservação (UCs),<br />
frações do território cuja<br />
área é de grande representatividade<br />
de recursos naturais<br />
voltadas para a conservação<br />
e preservação dos<br />
ecossistemas, se consolidam<br />
como ambiente privilegiado<br />
para o educação ambiental.<br />
Normalmente, nas UCs tem-se<br />
como preocupação a importância<br />
da relação humana<br />
com a natureza, ressaltando<br />
o desenvolvimento crítico e<br />
conservador do indivíduo e<br />
atentando-se para a implantação<br />
da educação ambiental<br />
juntamente com o conceito<br />
de sustentabilidade.<br />
Devido à necessidade de<br />
preservação dessas áreas, é<br />
comum que a educação ambiental<br />
esteja integrada às<br />
UCs, que em conjunto com a<br />
<strong>Boletim</strong> Biopesb<br />
Redação: Alunos do PET- Bioquímica da UFV<br />
(Danilo Santos, Fernanda Araújo, Helaindo Júnior,<br />
Isabella Costa, Joana Marchiori, Paula Sudré,<br />
Raquel Santos, Renato Senra e Thaís Martins).<br />
Projeto Gráfico : Thamara Pereira<br />
Diagramação: Ana Paula Lopes<br />
Revisão: Joana Marchiori<br />
www.biopesb.ufv.br<br />
Apresentação da maquete do PESB no seu<br />
Centro de Visitação.<br />
sociedade, busca estimular o<br />
desenvolvimento sustentável e<br />
o respeito ao meio ambiente,<br />
tornando-se possível reduzir<br />
a degradação ambiental nas<br />
regiões ameaçadas. Diante<br />
das ações prestadas pelas<br />
UCs e a necessidade de<br />
maior contato da sociedade<br />
com as áreas protegidas, a<br />
educação ambiental tem sido<br />
importante instrumento para<br />
a sensibilização dos cidadãos<br />
quanto a importância econômica,<br />
social e ecológica dessas<br />
áreas.<br />
Para que esses objetivos<br />
sejam atingidos, é preciso<br />
que as UCs tenham, como<br />
principal foco, a formação<br />
de multiplicadores do conhecimento<br />
ambiental pelo<br />
contato com as comunidades<br />
do seu entorno, escolas e visitantes.<br />
Estas ações podem se<br />
dar pela realização de ações<br />
como palestras, condução de<br />
trilhas, eventos voltados para<br />
o meio ambiente, distribuição<br />
de mudas, entre outras.<br />
Desde a sua implantação,<br />
o PESB tem recebido<br />
várias visitas de escolas e de<br />
universidades para realizarem<br />
atividades de educação<br />
ambiental, aproveitando sua<br />
rica diversidade biológica da<br />
Mata Atlântica e com a interação<br />
de produtores rurais<br />
do seu entorno com a natureza,<br />
sobretudo em atividades<br />
agroflorestais. Conhecer<br />
também a história dos antepassados<br />
que por ali viveram,<br />
como os índios Puris, é outro<br />
grande atrativo.<br />
Dessa forma, você professor,<br />
estudante ou líder comunitário,<br />
não perca tempo.<br />
Aproveite as áreas das UCs,<br />
como o PESB, e agende sua<br />
visita. No caso do PESB, funcionários<br />
preparados estarão<br />
à disposição para auxiliar<br />
e tornar sua aula muito<br />
mais atrativa. Dessa forma,<br />
você estará contribuindo<br />
para a formação de defensores<br />
da natureza.<br />
Helaindo Junior<br />
Fernanda Araújo<br />
Editor-Chefe: João Paulo Viana Leite<br />
Telefone: (31) 3899-3044<br />
E-mail: biopesbufv@gmail.com<br />
Endereço: Departamento de Bioquímica e Biologia<br />
Molecular - UFV<br />
CEP 36570-900, Viçosa - MG - Brasil<br />
Tiragem: 1.000 exemplares<br />
Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PIBEX)-UFV<br />
Apoio: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em<br />
Interações Planta-Praga; Ministério da Educação.<br />
Reprodução<br />
Editorial<br />
O Sistema Nacional de<br />
Unidades de Conservação<br />
da Natureza (SNUC) instituída<br />
pela lei 9.985 de 2000,<br />
estabelece, entre outras normas,<br />
critérios para a gestão<br />
das UC`s. Estão entre as<br />
competências do Conselho<br />
elaborar o seu regimento interno;<br />
implementar e revisar<br />
o Plano de Manejo da UC,<br />
garantir o caráter participativo;<br />
buscar a integração da<br />
UC com o seu entorno, entre<br />
outras. Dessa forma, o Conselho<br />
constitui o principal<br />
instrumento de relacionamento<br />
entre as UC´s e a sociedade,<br />
representando um<br />
espaço de grande importância<br />
para a sociedade tomar<br />
conhecimento de atitudes<br />
humanas que possam vir a<br />
interferir no equilíbrio ambiental<br />
do Parque. O fato do<br />
PESB estar há mais de uma<br />
ano sem o Conselho Consultivo,<br />
apesar de durante<br />
este período dois editais<br />
de convocação terem sido<br />
lançados e os representantes<br />
eleitos como anunciado<br />
na edição n. 13 do <strong>Boletim</strong><br />
<strong>BioPESB</strong>, a demora na convocação<br />
dos seus membros<br />
para tomarem posse deve<br />
ser visto com grande preocupação<br />
por todos aqueles<br />
que lutam pela preservação<br />
ambiental da Serra do<br />
Brigadeiro. Como o Brasil é<br />
notoriamente reconhecido<br />
como um país em que muitas<br />
leis simplesmente são<br />
negligenciadas pelos órgãos<br />
públicos, a organização<br />
popular deve constituir<br />
o principal instrumento de<br />
defesa social e ambiental.<br />
O PESB sem Conselho Consultivo<br />
representa a exclusão<br />
da voz popular em sua<br />
gestão.<br />
João Paulo Viana Leite<br />
Editor Chefe
Ciência<br />
Ano 4, n°15 - Pág 3<br />
Crédito de carbono torna moeda para o equilíbrio ambiental<br />
gazetadacidade.com<br />
Muito se tem discutido<br />
sobre as consequências<br />
da ação humana sobre<br />
o meio ambiente e o que<br />
pode ser feito para reverter<br />
esse quadro. O efeito<br />
estufa, por exemplo, é um<br />
processo natural do planeta<br />
que desempenha um<br />
papel fundamental na manutenção<br />
da vida na Terra.<br />
Entretanto, as atividades<br />
humanas, como a queima<br />
de combustíveis fósseis e a<br />
utilização de calcário para<br />
produção de cimento, associados<br />
ao desmatamento<br />
e queimadas, estão tornando<br />
esse efeito exagerado,<br />
pelo excesso de liberação<br />
de gás carbônico (CO 2<br />
) na<br />
atmosfera, contribuindo<br />
assim para o aquecimento<br />
global.<br />
É nesse cenário que se<br />
Em fase de<br />
crescimento, as<br />
árvores são<br />
verdadeiros<br />
aspiradores<br />
de CO 2<br />
da<br />
atmosfera.<br />
Uma<br />
árvore,<br />
sozinha, é<br />
capaz de<br />
absorver 180<br />
quilos da substância<br />
ao longo de seu crescimento.<br />
destaca a ideia de sequestro<br />
de carbono, que como<br />
nome sugere, é um processo<br />
de remoção de gás carbônico<br />
do ambiente. Tal processo<br />
ocorre principalmente<br />
em oceanos, florestas e outros<br />
locais onde organismos<br />
utilizam a captação de carbono<br />
como fonte de energia<br />
(fotossíntese). Esse processo<br />
é importante pois captura e<br />
estoca o CO 2<br />
, evitando assim<br />
sua emissão e permanência<br />
na atmosfera.<br />
Acordos internacionais<br />
têm intensificado a discussão<br />
e proposto o investimento<br />
em programas<br />
envolvendo sequestro de<br />
carbono. Para isto foi criado<br />
o termo “crédito de<br />
carbono”, que são certificados<br />
emitidos para uma<br />
empresa ou pessoa física<br />
que reduziu a sua emissão<br />
de gases do efeito estufa.<br />
A negociação dos créditos<br />
de carbono é uma estratégia<br />
para alguns países<br />
reduzirem numericamente<br />
as emissões dos gases que<br />
causam o efeito estufa. É<br />
como se cada país tivesse<br />
um limite de toneladas de<br />
CO 2<br />
possível de ser liberada<br />
na atmosfera. Dessa<br />
forma, empresas poluidoras<br />
ficam obrigadas a comprarem<br />
créditos de quem polui<br />
menos ou que investe em<br />
programas de conservação<br />
florestal ou de reflorestamento.<br />
A forma mais comum<br />
de sequestro de carbono<br />
é naturalmente realizada<br />
pelas florestas. Na fase de<br />
crescimento, as árvores demandam<br />
uma quantidade<br />
Fotossíntese:<br />
As árvores<br />
retiram do ar o<br />
CO 2<br />
e<br />
devolvem<br />
oxigênio para a<br />
atmosfera.<br />
O tronco de uma árvore é 80% composto<br />
de carbono. Portanto, não é de se admirar<br />
que elas suguem, por hectare, cerca<br />
de 150 toneladas de CO 2<br />
por ano.<br />
O Brasil é o 12 o em emissão de CO 2<br />
, segundo o ranking produzido pela IWR. O país<br />
liberou 488 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera em 2011, mais<br />
do que o México (464 milhões), Indonésia (453 milhões) e África do Sul (452 milhões).<br />
Ações cotidianas e essenciais como tomar banho, cozinhar e deslocar-se para o trabalho<br />
representam, ao fiinal de um ano, 1,6 toneladas de CO 2<br />
liberados na atmosfera, por uma única<br />
pessoa, segundo a calculadora de carbono da ONG Iniciativa Verde.<br />
muito grande de carbono<br />
para se desenvolver e acabam<br />
tirando esse elemento<br />
do ar. Esse processo natural<br />
ajuda a diminuir consideravelmente<br />
a quantidade de<br />
CO 2<br />
na atmosfera. Cada<br />
hectare de floresta em desenvolvimento<br />
é capaz de<br />
absorver nada menos do<br />
que 150 a 200 toneladas<br />
de carbono.<br />
Existem estudos avançados<br />
de outras formas<br />
de sequestro de carbono<br />
que os cientistas chamam<br />
de sequestro geológico de<br />
carbono. É uma forma de<br />
devolver o carbono para o<br />
subsolo. Os gases são comprimidos,<br />
transportado e<br />
depois injetado em um reservatório<br />
geológico apropriado<br />
– que podem ser<br />
campos de petróleo não<br />
mais explorados, aquíferos<br />
salinos (lençóis de água<br />
subterrânea com água salobra<br />
não aproveitável) ou<br />
camadas de carvão que<br />
foram encontradas no solo.<br />
Estas são algumas maneiras<br />
encontradas para<br />
minimizar os efeitos negativos<br />
que o desequilíbrio<br />
desses gases podem causar.<br />
Além de uma escala<br />
global, há iniciativas vindo<br />
de lugares mais próximo,<br />
como é o caso, do Parque<br />
Estadual da Serra do Brigadeiro,<br />
que preserva boa<br />
parte de sua flora, uma<br />
importante área de Mata<br />
Atlântica que desempenha<br />
também esse papel de restaurar<br />
os níveis normais dos<br />
gases nocivos ao meio ambiente,<br />
através do sequestro<br />
de carbono.<br />
Paula Sudré<br />
Renato Senra
MeioAmbiente<br />
Ano 4, n°15 - Pág 4<br />
Unidades de Conservação no Brasil sofrem com a falta de<br />
regularização fundiária<br />
A falta de regularização<br />
fundiária em unidades<br />
de conservação federal<br />
e estadual tem trazido<br />
grande problema para a<br />
preservação ambiental e<br />
para a subsistências de<br />
famílias que vivem nessas<br />
áreas. Segundo levantamento<br />
do Jornal Estado<br />
de Minas (EM), juntamente<br />
com o Instituto Estadual de<br />
Florestas de Minas Gerais<br />
(IEF), 70% das questões<br />
fundiárias existentes nas<br />
áreas de conservação integral<br />
estaduais ainda estão<br />
pendentes, sendo que<br />
30% delas estão paradas<br />
na Justiça.<br />
Nas áreas federais, as<br />
Unidades de Conservação<br />
também carecem de<br />
regularização fundiária,<br />
RESERVA DE PROBLEMAS<br />
Principais Unidades de Conservação em Minas Gerais<br />
54<br />
estaduais<br />
Principais desafios<br />
Questão fundiária, queimadas e atividades<br />
irregulares<br />
70% da população<br />
que vive nas unidades<br />
têm problemas<br />
fundiários<br />
38% dos moradores<br />
do Parque Nacional<br />
do Rola Moça não<br />
recebem indenização<br />
por suas terras<br />
104<br />
federais<br />
Do Rio da Prata<br />
Pau Furado<br />
70 mil hectares apenas<br />
dos 200 mil do<br />
Parque Nacional da<br />
Serra do Canastra,<br />
fundado em 1972, estão<br />
regularizados<br />
12 inquéritos da Polícia<br />
Federal investigam diversos<br />
tipos de delito nos parques<br />
nacionais da Serra do Cipó<br />
e das Sempre Vivas<br />
Veredas do Peruaçu<br />
Serra das Araras<br />
de Paracatu<br />
Rio Pandeiros<br />
Mata Seca<br />
Lapa Grande<br />
Serra do Cabral<br />
Serra do Cipó<br />
Gruta Rei do Mato<br />
Serra Aroeiras<br />
Serra do Rola Moça<br />
Corumbá Serra da Moeda<br />
Serra do Ouro Branco<br />
Serra da Boa Libélula da Serra<br />
Esperança de São José<br />
Fazenda São Pedro II<br />
Nova Boden<br />
Serra do Papagaio<br />
como é o caso do Parque<br />
Nacional da Serra da Canastra,<br />
criado em 1972,<br />
que atualmente conta com<br />
apenas 35% da área regularizada.<br />
O mesmo<br />
ocorre em outras unidades<br />
de conservação federais<br />
país afora. De acordo<br />
com o Ministério Público,<br />
o que se vê é a ausência<br />
de regularização fundiária<br />
e de planos de manejo<br />
na maior parte das áreas<br />
protegidas, além de intensos<br />
conflitos sociais entre<br />
os gestores das unidades<br />
de conservação e a população<br />
que vive dentro<br />
delas, que ainda não foi<br />
indenizada pela União ou<br />
pelo estado.<br />
Segundo o EM, este<br />
cenário de falta de regularização<br />
deixa milhares<br />
de famílias posseiras<br />
ou proprietárias de terra<br />
encurraladas pelos parques,<br />
o que leva a vários<br />
desentendimentos com o<br />
Instituto Chico Mendes de<br />
Conservação da Biodiversidade<br />
(ICMBio) – órgão<br />
ambiental do governo<br />
brasileiro criado em 2007<br />
–, para manter sua tradicional<br />
produção rural e<br />
seu modo de vida, o que<br />
na maioria das vezes vai<br />
de encontro às leis ambientais.<br />
Dessa maneira,<br />
surgem áreas de preservação<br />
ambiental que têm<br />
partes públicas e partes<br />
privadas, o que deixa os<br />
moradores desses locais<br />
encurralados.<br />
Verde Grande<br />
Serra Azul<br />
Rio Preto<br />
Pico do Itambé<br />
Serra da Candonga<br />
Sumidouro Mata do Limoeiro<br />
Rio Doce<br />
Macaúbas<br />
Serra da<br />
Piedade<br />
Itacolomi<br />
Caminho dos Gerais<br />
Serra Nova<br />
Grão Mongol<br />
Mata dos Muquiris<br />
Mata dos Ausente da<br />
Serra Negra<br />
Serra do Brigadeiro<br />
Água Limpa<br />
Ibitipoca<br />
Mar de Espanha<br />
Fonte: Estado de Minas 01/06/<strong>2014</strong><br />
Território do PESB<br />
ainda convive com<br />
áreas não<br />
regularizadas<br />
O Parque Estadual da<br />
Serra do Brigadeiro<br />
conta com uma área de<br />
14.984 hectares. Em levantamento<br />
realizado<br />
junto ao IEF, estima-se<br />
que atualmente ainda<br />
estão pendentes de<br />
regularização 8.494<br />
hectares, equivalente<br />
a 56,6% da área da<br />
Unidade de Conservação<br />
(UC). Existe em<br />
andamento cerca de<br />
22 processos de desapropriação<br />
judicial sob<br />
a responsabilidade da<br />
AGE (Advocacia Geral<br />
do Estado). Uma das<br />
maiores dificuldades da<br />
regularização no Parque<br />
tem sido a ausência<br />
de documentação adequada<br />
das propriedades.<br />
Recentemente, a<br />
Gerência de Regularização<br />
Fundiária do IEF<br />
capacitou funcionários<br />
do Parque e do Regional<br />
Mata do IEF para<br />
atuarem nos trabalhos<br />
de Regularização Fundiária<br />
da UC, buscando<br />
auxiliar nos trabalhos<br />
de cadastramento e<br />
levantamento de proprietários<br />
e posseiros no<br />
PESB.<br />
João Paulo Viana Leite
MeioAmbiente Ano 4, n°15 - Pág 5<br />
Reservas Particulares do Patrimônio Natural ajudam na tarefa da<br />
preservação ambiental<br />
As Reservas Particulares<br />
do Patrimônio Natural<br />
(RPPN) são unidades particulares<br />
de conservação cujo<br />
objetivo é preservar o patrimônio<br />
natural, os recursos<br />
hídricos, a fauna e a flora<br />
local. Pode haver ainda a<br />
realização de atividades<br />
de turismo e de educação.<br />
A RPPN é criada pela<br />
iniciativa dos proprietários<br />
rurais, que manifestam o<br />
desejo de preservar a terra<br />
que possuem, sem perderem<br />
o direito legal sobre a<br />
mesma. O compromisso de<br />
preservação é por tempo<br />
indeterminado, isso significa<br />
que mesmo que o local<br />
seja vendido no futuro, ele<br />
continuará sendo uma unidade<br />
de conservação e deverá<br />
ser preservado.<br />
Atualmente o Brasil conta<br />
com inúmeras Reservas<br />
Particulares do Patrimônio<br />
Natural, cerca de aproximadamente<br />
750 unidades<br />
que somam quase 480 mil<br />
hectares, sendo a Mata<br />
Atlântica a que apresenta<br />
o maior número de RPPN’s<br />
registradas. O Paraná e<br />
Minas Gerais são os dois<br />
Estados com maior número<br />
de RPPN’s.<br />
São tantas reservas em<br />
Minas Gerais que criou-se<br />
a Associação de Reservas<br />
Particulares do Patrimônio<br />
Natural e Outras Reservas<br />
Privadas de Minas Gerais,<br />
a ARPEMG. Ela foi criada<br />
no ano de 2000 pela necessidade<br />
de maior organização<br />
dos proprietários<br />
e um maior apoio à conservação<br />
da natureza. A<br />
ARPEMG realiza projetos<br />
como o incentivo à criação<br />
de RPPN, assessoraria aos<br />
proprietários de reservas<br />
particulares e articulação<br />
e organização dos proprietários<br />
das reservas. No território<br />
Serra do Brigadeiro,<br />
várias RPPN`s têm sido<br />
registradas, auxiliando na<br />
conservação do meio ambiente<br />
e na formação de<br />
corredores ecológicos.<br />
Muitos produtores rurais<br />
encontram dificuldades na<br />
conservação ambiental de<br />
suas propriedades, como a<br />
caça ilegal, desmatamento<br />
e invasões de animais e<br />
pessoas. Assim, estes proprietários<br />
encontram na<br />
criação da RPPN um apoio<br />
legal a preservação ambiental<br />
de seu território,<br />
uma vez que a legislação<br />
brasileira trata como crime<br />
o desmatamento e a caça<br />
em unidades de conservação.<br />
Há ainda outros benefícios,<br />
como a isenção do<br />
Imposto sobre Propriedade<br />
Territorial Rural sobre a<br />
área preservada, preferência<br />
na análise de pedidos<br />
de concessão de crédito<br />
agrícola para projetos a<br />
serem implementados, cooperação<br />
com Ong’s e entidades<br />
privadas e públicas<br />
na proteção, gestão e manejo<br />
da RPPN inclusive com<br />
apoio financeiro.<br />
O primeiro passo para<br />
a criar uma RPPN é contatar<br />
o órgão ambiental do<br />
estado ou o IBAMA. Recomenda-se<br />
ao proprietário<br />
que procure o auxílio de um<br />
profissional habilitado para<br />
ajudar no processo, pois<br />
uma série de documentações<br />
será requerida. Após<br />
análise desses documentos,<br />
o órgão ambiental fará<br />
uma vistoria do local onde<br />
será criada a RPPN.<br />
A criação dessas RPPNs<br />
é de extrema importância,<br />
uma vez que ajudam a<br />
criar cada vez mais áreas<br />
preservadas, além de estimular<br />
as pessoas a terem<br />
consciência e responsabilidade<br />
ambiental. O desafio<br />
de querer preservar é<br />
grande e envolve adversários<br />
poderosos, movidos por<br />
interesses que pouco tem<br />
contribuído para a proteção<br />
dos recursos naturais.<br />
Mas o que está em jogo é,<br />
antes de tudo, a vida do<br />
planeta e de seus habitantes.<br />
Por isso é urgente a<br />
mobilização de todos para<br />
salvar a biodiversidade, da<br />
qual todos dependem.<br />
Joana Marchiori<br />
Thaís Martins<br />
Algumas RPPN em Minas Gerais:<br />
- RPPN Fazenda Lagoa: Localizada no município de Monte Belo, a propriedade é aberta à visitação e possui leitos para<br />
pernoite. A RPPN possui uma importante área para a manutenção da biodiversidade na Floresta Atlântica do sul de Minas<br />
Gerais, e as ações de educação ambiental e pesquisa científica têm sido estratégia para a conservação da natureza em uma<br />
região severamente impactada pela ação humana. Conta com programa de estágio, biblioteca e recebe visitas de escolas.<br />
- RRPN Amigos do Iracambi: Além de RPPN, Amigos do Iracambi é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de<br />
Interesse Público. Na sede, localizada no município do território Serra do Brigadeiro, Rosário da Limeira, está localizado<br />
o Centro de Pesquisas, lugar onde são desenvolvidos trabalhos de manejo de recursos naturais, desenvolvimento de<br />
comunidades sustentáveis e pesquisas em ecossistemas.<br />
RPPN Fazenda Lagoa
Entrevista Ano 4, n°15 - Pág 6<br />
Bruno Oliveira discute problemas enfretados pelo PESB<br />
André Berlinck<br />
Dr. Bruno Guerra<br />
Bruno Guerra de Oliveira<br />
é Promotor de Justiça,<br />
Coordenador da Coordenadoria<br />
Regional das<br />
Promotorias de Justiça de<br />
Meio Ambiente da Bacia<br />
do Rio Paraíba do Sul e<br />
Conselheiro da URC Zona<br />
da Mata – COPAM. Nesta<br />
entrevista concedida ao<br />
<strong>BioPESB</strong>, vem tratar de assuntos<br />
como a profissão, e<br />
a forma como a Promotoria<br />
de Justiça e Meio Ambiente<br />
interfere no Território<br />
do Parque Estadual da<br />
Serra do Brigadeiro.<br />
Em que atuam os promotores<br />
de Justiça de Defesa<br />
do Meio Ambiente? Como<br />
estas promotorias estão organizadas<br />
no Estado?<br />
Bruno Guerra: A Constituição<br />
Federal de 1988<br />
definiu que, dentre as funções<br />
institucionais do Ministério<br />
Público, encontra-<br />
-se a missão de proteger<br />
os interesses difusos e coletivos,<br />
o que engloba a<br />
tutela do meio ambiente.<br />
Cada Comarca do Estado<br />
de Minas Gerais possui,<br />
portanto, um Promotor<br />
de Justiça com atribuições<br />
para garantir que o direito<br />
fundamental ao meio<br />
ambiente ecologicamente<br />
equilibrado seja respeitado<br />
pelo Poder Público e<br />
pela própria coletividade.<br />
Em Minas Gerais, o Ministério<br />
Público Estadual criou<br />
as Coordenadorias Regionais<br />
por Bacias Hidrográficas<br />
com o objetivo de que<br />
os Promotores de cada Comarca<br />
possuam um apoio<br />
especializado na tutela<br />
do meio ambiente, bem<br />
como para que sejam estabelecidos<br />
planejamentos<br />
regionais tendo por enfoque,<br />
sobretudo, as Bacias<br />
Hidrográficas. A atuação<br />
do Ministério Público busca,<br />
primordialmente, uma<br />
tutela preventiva, ou seja,<br />
evitar a ocorrência de danos<br />
ambientais. No entanto,<br />
diante de um ilícito já<br />
praticado, o Promotor de<br />
Justiça irá adotar as providências<br />
para que ocorra<br />
a reparação do dano ambiental<br />
e, ainda, a responsabilização<br />
criminal dos infratores,<br />
nos casos em que<br />
as condutas são previstas<br />
como crime ambiental.<br />
A Promotoria de Justiça<br />
do Meio Ambiente da Bacia<br />
do Rio Paraíba do Sul<br />
abrange o PESB?<br />
B.G.: Atualmente, por<br />
designação do Procurador-Geral<br />
de Justiça, eu<br />
ocupo da Coordenadoria<br />
Regional das Promotorias<br />
de Justiça de Meio Ambiente<br />
da Bacia do Paraíba<br />
do Sul, a qual é sediada<br />
em Ubá e engloba 32<br />
Comarcas, com um total de<br />
101 Municípios. O território<br />
do PESB está situado<br />
parcialmente na área de<br />
atuação da Coordenadoria<br />
Regional da Bacia do<br />
Paraíba do Sul, mas também<br />
encontra-se em trecho<br />
da área da Coordenadoria<br />
Regional da Bacia do<br />
Rio Doce. Através de consenso<br />
com o Coordenador<br />
Regional da Bacia do Rio<br />
Doce, eu fiquei responsável<br />
pela instauração de um<br />
procedimento cujo objetivo<br />
é apurar possível omissão<br />
estatal na implementação<br />
e funcionamento do PESB,<br />
o qual se encontra em andamento,<br />
aguardando sobretudo<br />
o término de laudo<br />
pericial que está sendo<br />
elaborado com a cooperação<br />
de professores da<br />
UFV.<br />
Como outras UC`s no<br />
Brasil, o PESB ainda tem<br />
problema com a regularização<br />
fundiária?<br />
B.G.: De fato, o PESB,<br />
não obstante criado por<br />
Decreto datado de 1996,<br />
ainda não possui a sua devida<br />
regularização fundiária.<br />
Segundo informação<br />
obtida do IEF em dezembro<br />
de 2012, o percentual<br />
de regularização limitava-<br />
-se a 42,45%, o que é<br />
muito pouco para que seja<br />
garantida a devida proteção<br />
à biodiversidade do<br />
Parque. A omissão estatal<br />
em solucionar tal pendência<br />
constitui-se em um problema<br />
extremamente sério<br />
e acaba por perpetuar as<br />
ocupações e intervenções<br />
gravosas à proteção desse<br />
patrimônio ambiental<br />
singular, além de dificultar<br />
a instalação de estruturas<br />
imprescindíveis à conservação<br />
do meio ambiente.<br />
Recursos provenientes de<br />
verbas compensatórias têm<br />
sido efetivamente aplicadas<br />
ao PESP?<br />
B.G.: Como se sabe, a<br />
Lei 9.985/2000 determina<br />
que empreendedores que<br />
pretendam realizar atividades<br />
no entorno de unidades<br />
de conservação devem<br />
efetuar o pagamento<br />
de uma quantia a título de<br />
compensação ambiental.<br />
Referido valor, necessariamente,<br />
deve ser revertido<br />
em prol das unidades de
Entrevista<br />
Ano 4, n°15 - Pág 7<br />
conservação. Levantamentos<br />
realizados pelo Ministério<br />
Público constaram<br />
que boa parte dos valores<br />
recebidos pelo Estado de<br />
Minas Gerais a título de<br />
compensações ambientais<br />
estão contingenciados, sem<br />
a devida aplicação e investimento<br />
nas Unidades<br />
de Conservação, em especial<br />
estruturação, atualização<br />
de plano de manejo e<br />
regularização ambiental.<br />
André Berlinck<br />
No mês de agosto o PESB<br />
completou um ano sem o<br />
Conselho Consultivo (o mandato<br />
do 4° biênio terminou<br />
em 04 de agosto de 2013).<br />
Quais os possíveis prejuízos<br />
para a UC decorrente da<br />
inatividade desse Conselho?<br />
B.G.: Como se sabe,<br />
o Conselho Consultivo<br />
de uma unidade de conservação<br />
tem função em<br />
constituir em um ambiente<br />
democrático de controle<br />
social, discussão, valorização<br />
e gestão da unidade<br />
de conservação. É através<br />
do Conselho Consultivo<br />
que a sociedade civil participa<br />
do funcionamento e<br />
ações do Parque e que as<br />
decisões tomadas ganham<br />
legitimidade popular. Não<br />
há dúvidas de que a ausência<br />
do funcionamento<br />
do Conselho no PESB, além<br />
de constituir-se em uma<br />
ilegalidade, prejudica sobremaneira<br />
a sua gestão<br />
e, consequentemente, a tomada<br />
das providências necessárias<br />
para a adequada<br />
proteção da Unidade<br />
de Conservação.<br />
O senhor tem informação<br />
do por que da demora da<br />
posse dos novo membros do<br />
Conselho?<br />
B.G.: Recebi a notícia da<br />
ausência do Conselho Consultivo<br />
em funcionamento<br />
no PESB apenas no mês de<br />
julho deste ano. Expedi ofício<br />
ao IEF, requisitando as<br />
informações a respeito. Todavia,<br />
independentemente<br />
de eventuais justificativas,<br />
trata-se, sem dúvida, de<br />
uma situação que, caso<br />
confirmada, viola a legislação<br />
e, portanto, precisa ser<br />
corrigida.<br />
Atualmente quais são os<br />
principais problemas encontrados<br />
no PESB?<br />
B.G.: As apurações por<br />
parte do Ministério Público<br />
ainda se encontram<br />
em curso. No entanto, já<br />
foram identificados vários<br />
problemas, como a já<br />
mencionada ausência de<br />
regularização fundiária do<br />
PESB e a necessidade de<br />
atualização do Plano de<br />
Manejo. Além disso, o Parque<br />
conta, ainda, com uma<br />
estrutura deficiente de fiscalização,<br />
com problemas<br />
em relação ao número de<br />
guarda-parques com tal<br />
função específica, número<br />
de veículos, necessidade<br />
de outros postos de fiscalização,<br />
sinalização deficiente,<br />
etc. Verificou-se,<br />
ainda, o desenvolvimento<br />
de atividades conflitantes<br />
com a natureza da Unidade<br />
de Conservação, como<br />
a realização de rallys e<br />
trilhas motorizadas, atividades<br />
agrossilvipastoris na<br />
área do Parque, presença<br />
de animais domésticos,<br />
etc. Enfim, vários são os<br />
problemas já verificados,<br />
muitos dos quais poderiam<br />
ser adequadamente resolvidos<br />
com a efetiva destinação<br />
das verbas oriundas<br />
da compensação ambiental<br />
em favor das Unidades<br />
de Conservação.<br />
Como a comunidade<br />
pode contribuir com o Ministério<br />
Público para a defesa<br />
do Meio Ambiente?<br />
B.O.: A comunidade tem<br />
enorme importância para<br />
a atuação do Ministério<br />
Público, pois é principal-<br />
mente através dela que os<br />
Promotores de Justiça tomam<br />
conhecimento dos fatos<br />
e podem, a partir daí,<br />
adotar das providências<br />
legais cabíveis. Aliás, no<br />
caso da apuração em curso<br />
acerca do PESB, tais informações<br />
são de extrema<br />
relevância e certamente<br />
servirão para subsidiar as<br />
medidas que serão adotadas<br />
para buscar a regularização<br />
das pendências,<br />
inclusive, se necessário for,<br />
com o ajuizamento de uma<br />
eventual Ação Civil Pública.<br />
Na oportunidade, informo<br />
que o contato com<br />
a Coordenadoria Regional<br />
das Promotorias de Justiça<br />
de Meio Ambiente da Bacia<br />
do Rio Paraíba do Sul<br />
pode ser feito através do<br />
telefone (32) 3541-1320<br />
ou em sua sede, situada<br />
na Rua Monsenhor Paiva<br />
Campos, 110/5º andar,<br />
centro, Ubá, MG.<br />
João Paulo Viana Leite
Turismo<br />
Ano 4, n°15 - Pág 8<br />
Antônio Martins: A história do protagonista da Ermida do Parque<br />
Estadual Serra do Brigadeiro<br />
A Ermida Antônio Martins<br />
foi construída há 106<br />
anos, entre os municípios<br />
de Araponga e Fervedouro,<br />
atualmente localizada<br />
dentro da área do PESB.<br />
A devoção a Antônio Martins<br />
pode ser explicada<br />
pela história desse personagem,<br />
que é contada nas<br />
próximas linhas, como uma<br />
adaptação do relato de<br />
Rodinei Ribas, construído<br />
com bases em depoimentos<br />
de descendentes de Antônio<br />
Martins e Sô Neco. Conheça<br />
a história:<br />
Antônio Martins, um<br />
belo jovem, casado, residia<br />
no município de Jequeri,<br />
caixeiro por profissão, vivia<br />
viajando com sua tropa<br />
de burros, comercializando<br />
mercadorias pela região.<br />
São Miguel do Araponga<br />
era um lugar onde<br />
ele tinha muitos amigos.<br />
Como passava por ali com<br />
bastante frequência, com<br />
suas tropas carregadas<br />
de mercadorias, sempre<br />
necessitava de um lugar<br />
para pernoitar. Numa das<br />
vindas a São Miguel do<br />
Araponga instalou-se na<br />
Fazenda do Sr. Manoel Bitencourt,<br />
conhecido por Sô<br />
Neco, seu padrinho e parceiro<br />
de algumas relações<br />
profissionais.<br />
Nas vindas a Araponga,<br />
quando terminava as visitas<br />
aos comércios do distrito,<br />
ia com a tropa de animais<br />
para fazenda do padrinho.<br />
Após soltar os animais, ia<br />
para a sede da fazenda<br />
onde trabalhava e ficava<br />
de conversas. Esta rotina<br />
se repetiu até se tornar íntimo<br />
de toda família. Foi<br />
então que se aproximou<br />
de Manuela Bitencourt, filha<br />
do Sô Neco, e quando<br />
se deram conta, estavam<br />
mergulhados em uma paixão<br />
proibida.<br />
Num certo dia, quando<br />
Antônio Martins chegou,<br />
Manuela muito apreensiva,<br />
o procurou e na primeira<br />
oportunidade, lhe dera<br />
uma notícia: estava grávida<br />
e já não conseguia esconder<br />
da família. Antônio<br />
Martins recebeu a notícia e,<br />
em desespero, procurou a<br />
melhor solução.<br />
Conversando com Manuela,<br />
planejaram fugir<br />
para Divino do Carangola<br />
e marcou então uma data<br />
para voltar e buscá-la de<br />
madrugada. Assim ele fez.<br />
No dia combinado, veio com<br />
dois animais prontos para a<br />
viagem, bateu na janela de<br />
Manuela, que já o esperava<br />
com as malas prontas. Ela<br />
pulou a janela, montou no<br />
cavalo e fugiram.<br />
Sô Neco, percebendo o<br />
acontecido, saiu pelo terreiro<br />
da fazenda e vendo<br />
pegadas de animais mandou<br />
que chamasse o Coronel<br />
Rafael Jacovine e o seu<br />
irmão Antônio Bitencourt,<br />
ambos de grande influência<br />
e respeito na região.<br />
Contou-lhes o que havia<br />
acontecido, afirmando ser<br />
Antônio Martins o principal<br />
suspeito. Imediatamente<br />
providenciaram dois jagunços<br />
para buscarem sua filha<br />
de volta e pegar Antônio<br />
Martins.<br />
Os jagunços saíram.<br />
Após horas de cavalgada,<br />
Antônio Martins e Manuela<br />
pararam numa encosta e,<br />
distraídos, não notaram a<br />
aproximação dos quatro.<br />
Antônio Martins foi surpreendido<br />
pelos capangas que<br />
o agarraram e o amarraram<br />
de costas sobre o arreio<br />
de um dos animais.<br />
De volta, seguiram sempre<br />
com a moça mais à<br />
frente, deixando para trás<br />
Antônio Martins com capangas.<br />
De longe Manuela ouvia<br />
gritos e desesperava-se.<br />
Os jagunços dispararam<br />
tiros, o corpo mutilado<br />
foi estendido na beira<br />
da estrada. Voltaram para<br />
Araponga e contaram ao<br />
Sô Neco, o qual mandou<br />
que voltassem lá e picassem<br />
o corpo.<br />
A tortura e o sofrimento<br />
vivido em suas últimas horas<br />
de vida, a morte cruel<br />
e covarde, fez com que o<br />
povo o tomasse por santo.<br />
Seus restos mortais estão no<br />
cemitério de Araponga. Entretanto,<br />
pela fama de milagreiro,<br />
meses depois, no<br />
local onde fora morto, ergueram<br />
uma capela que se<br />
mantém até hoje: a Ermida<br />
de Antônio Martins.<br />
Isabella Alves<br />
Raquel Santos