Maria de Medeiros - Cap Magellan
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A C T U A L I T É S<br />
União Ibérica:<br />
missão impossível?<br />
O iberismo volta a estar na or<strong>de</strong>m do dia nos <strong>de</strong>bates públicos em Portugal. Em finais <strong>de</strong> Setembro, na mesma semana da<br />
visita do Presi<strong>de</strong>nte da República, Cavaco Silva, a Espanha, o recém-nascido semanário Sol encomendou e publicou uma sondagem<br />
revelando que 28% dos portugueses são favoráveis a uma união política com Espanha. Pouco <strong>de</strong>pois, a revista espanhola<br />
Tiempo publicou uma outra sondagem alegando que quase meta<strong>de</strong> dos espanhóis opina no mesmo sentido.<br />
06<br />
BRÈVES<br />
COMMUNAUTÉS : BUDGET EN BAISSE<br />
Le budget <strong>de</strong>s communautés pour 2007 sera <strong>de</strong><br />
3,3 millions d'euros, ce qui représente une baisse<br />
<strong>de</strong> 13,1 % par rapport à 2006, selon le projet <strong>de</strong><br />
Budget <strong>de</strong> l'Etat présenté le 16 octobre à<br />
l'Assemblée <strong>de</strong> la République. Les fonds <strong>de</strong>stinés<br />
au Secrétariat d'Etat aux Communautés<br />
Portugaises sont intégrés dans le budget global<br />
du ministère <strong>de</strong>s Affaires Etrangères, dont la<br />
dépense consolidée atteint les 372,8 millions<br />
d'euros. Le montant attribué "à la valorisation<br />
<strong>de</strong>s communautés portugaises" diminue donc<br />
d'un <strong>de</strong>mi million d'euros par rapport aux 3,8<br />
millions <strong>de</strong> 2006. Selon le rapport, la somme<br />
pour 2007 sera essentiellement consacrée à<br />
l'amélioration <strong>de</strong>s services consulaires et <strong>de</strong>s<br />
mécanismes <strong>de</strong> soutien aux communautés portugaises".<br />
La création du "Consulat Virtuel" à<br />
travers la migration <strong>de</strong> l'actuel du "système <strong>de</strong><br />
gestion consulaire" vers une version Internet,<br />
l'installation <strong>de</strong> kiosques multimédia dans les<br />
consulats et <strong>de</strong>s associations portugaises à<br />
l'étranger font partie <strong>de</strong>s initiatives que le gouvernement<br />
souhaite concrétiser en 2007. Au<br />
programme également, le renforcement <strong>de</strong>s<br />
liens entre la diaspora portugaise et les pays<br />
d'accueil à travers le "perfectionnement <strong>de</strong>s<br />
mécanismes <strong>de</strong> soutien aux communautés et<br />
d'incitation à la participation <strong>de</strong>s Portugais et<br />
<strong>de</strong>s luso-<strong>de</strong>scendants à la vie civique, politique et<br />
associative". Les communautés portugaises<br />
bénéficient également <strong>de</strong> fonds du ministère <strong>de</strong><br />
l'Education, pour l'enseignement du portugais à<br />
l'étranger. Là aussi on constate une diminution<br />
en 2007 : 38,1 millions d'euros contre 41,4 en<br />
2006, ce qui représente une baisse <strong>de</strong> 8 %. n<br />
Fonte : luso.fr<br />
O tema não é novo no <strong>de</strong>bate público em<br />
Portugal. Em tempos <strong>de</strong> crise, olha-se para o vizinho<br />
espanhol, ora como culpado, ora como possível<br />
salvador. Em 2002, uma série <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> relevo na vida económica portuguesa, assinou<br />
um documento, o Manifesto dos 40, no qual avultava<br />
o apelo para a manutenção dos “centros <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão nacional”. O então Presi<strong>de</strong>nte da<br />
República, Jorge Sampaio, manifestaria a sua opinião<br />
no mesmo sentido: “Sem centros <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão,<br />
não há nação”. Era a febre da “ameaça espanhola”,<br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada com especial virulência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que,<br />
três anos antes, o multimilionário português<br />
António Champalimaud alienou o Grupo Totta ao<br />
gigante espanhol Santan<strong>de</strong>r. Criticado por conduta<br />
anti-patriótica, o multimilionário surpreen<strong>de</strong>ria<br />
tudo e todos no dia do seu falecimento. No testa-<br />
mento publicamente anunciado, Champalimaud<br />
ce<strong>de</strong>ria um terço da sua fortuna para a criação <strong>de</strong><br />
uma fundação com o seu nome, <strong>de</strong>stinada a apoiar<br />
a investigação médica e que, este ano já auferiu 8,5<br />
milhões <strong>de</strong> euros <strong>de</strong> divi<strong>de</strong>ndos do banco espanhol.<br />
Estranhamente não tão criticada foi a conduta<br />
do empresário Américo Amorim que, após assinar<br />
o Manifesto, ven<strong>de</strong>u 75% do BNC ao espanhol<br />
Banco Popular. Súbito arrependimento? Ou rendição<br />
aos encantos <strong>de</strong> nuestros hermanos? Ou<br />
inevitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino?<br />
Em todo o caso, Espanha já não apavora,<br />
como noutros tempos, as elites portuguesas. O<br />
Compromisso Portugal (CP, referido no último<br />
número da CAPMag) integra hoje antigos<br />
signatários do Manifesto mas também sensibilida<strong>de</strong>s<br />
muito diversas. O lí<strong>de</strong>r do CP,<br />
António Carrapatoso, por exemplo, consi<strong>de</strong>ra<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> centros <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão “inútil”. A visita<br />
do, alegado por muitos, ponta-<strong>de</strong>-lança do CP<br />
na classe política, Cavaco Silva, indicia uma<br />
aproximação a Espanha. O primeiro-ministro<br />
Sócrates também já havia anunciado este ano<br />
as três priorida<strong>de</strong>s da política externa portuguesa:<br />
“Espanha, Espanha e Espanha”.<br />
Ventos iberistas parecem soprar do<br />
po<strong>de</strong>r em Portugal. E do povo?<br />
* * *<br />
“Quando me encontro com um português em<br />
França sinto-me em casa”. Virgínia Lopez, 26<br />
anos, jornalista correspon<strong>de</strong>nte em Lisboa da<br />
rádio Ca<strong>de</strong>na Ser e do jornal Periódico <strong>de</strong><br />
Cataluña, trabalha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> recentemente como colaboradora<br />
da re<strong>de</strong> Euronews, juntamente com o<br />
namorado português, também jornalista. Criada<br />
em Valladolid, nos arredores <strong>de</strong> Madrid, partiu<br />
para Lisboa há cerca <strong>de</strong> cinco anos enquanto estudante<br />
ao abrigo do programa Erasmus.<br />
Gostou e ficou no país <strong>de</strong> Camões, cuja língua<br />
apren<strong>de</strong>u antes <strong>de</strong> ensinar a língua <strong>de</strong><br />
Cervantes a portugueses no Instituto Espanhol<br />
<strong>de</strong> Línguas durante um par <strong>de</strong> anos. Em <strong>de</strong>cla-<br />
Virgínia Lopez, jornalista espanhola, correspon<strong>de</strong>nte<br />
em Lisboa e colaboradora da<br />
Euronews em Lyon: “Quando me encontro com<br />
um português em França sinto-me em casa”<br />
rações exclusivas à CAPMag, a jornalista<br />
espanhola <strong>de</strong>clara consi<strong>de</strong>rar-se “nem espanhola<br />
nem portuguesa”, ou seja, “ibérica”, mas<br />
nem por isso “iberista”: “Não me cabe na cabeça<br />
que se produza essa união ibérica política.<br />
As relações entre Espanha e Portugal estão<br />
cada vez mais fluidas, o que acho muito positivo.<br />
Que se aju<strong>de</strong>m e que aprendam uns aos<br />
outros. Mas cada um com a sua soberania.”<br />
As sondagens, na sua opinião, não reflectem<br />
uma verda<strong>de</strong>ira vonta<strong>de</strong> dos inquiridos pela criação<br />
<strong>de</strong> um Estado único.: “Não creio que os portugueses<br />
queiram ser espanhóis. O que gostariam<br />
era <strong>de</strong> ter um nível <strong>de</strong> vida melhor, mais similar ao<br />
dos espanhóis. Porque nesse aspecto, quando se<br />
compara com Espanha, Portugal per<strong>de</strong> sempre:<br />
tudo é mais caro e os salários são inferiores.”<br />
Assim, e a confiar nas palavras da jornalista,<br />
protótipo <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira “juventu<strong>de</strong> ibérica”, o<br />
conhecido iberismo político terá <strong>de</strong> esperar assim,<br />
por melhores dias. Porque se 28% dos portugueses<br />
querem, também é verda<strong>de</strong> que há 72% que não<br />
querem ou que simplesmente não se interessam. n<br />
Pedro Filipe Santos<br />
capmag@capmagellan.org