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Carla Juliana Pissinatti Borges - Proceedings.scielo.br

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Perspectivas educacionais em revista: explorando as interfaces da educação social<<strong>br</strong> />

As funções sociais da educação<<strong>br</strong> />

<strong>Carla</strong> <strong>Juliana</strong> <strong>Pissinatti</strong> <strong>Borges</strong> 1<<strong>br</strong> />

Reconhecidamente, as escolas tais como as concebemos hoje são uma invenção<<strong>br</strong> />

relativamente recente na história da humanidade, marcadamente a partir das<<strong>br</strong> />

transformações trazidas pela Revolução Francesa. A educação, ao contrário, é tão antiga<<strong>br</strong> />

quanto à própria capacidade do ser humano em aprender.<<strong>br</strong> />

Efetivamente, a espécie humana é a única capaz de acumular experiências, modificá-las<<strong>br</strong> />

e transmiti-las, transformando o meio ao seu redor e seu modo de vida. Os processos de<<strong>br</strong> />

transmissão de conteúdos de cultura e de conhecimentos tornam-se, assim, importantes<<strong>br</strong> />

fatores de interação social em prol da so<strong>br</strong>evivência e da perpetuação da espécie.<<strong>br</strong> />

Diversas são as formas pelas quais os processos educativos têm se concretizado, mas<<strong>br</strong> />

fato é que ao longo da história a tradição de se aprender uns com os outros e de<<strong>br</strong> />

transmitir conhecimentos e culturas acumulados ao longo de gerações sempre esteve<<strong>br</strong> />

presente em qualquer cultura e agrupamento social e pode ser considerado como<<strong>br</strong> />

inerente à própria natureza humana e como um elemento essencial para a manutenção<<strong>br</strong> />

da espécie.<<strong>br</strong> />

A natureza do homem, na sua dupla estrutura, corpórea e espiritual, cria<<strong>br</strong> />

condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma particular<<strong>br</strong> />

de ser e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto das quais damos<<strong>br</strong> />

o nome de educação (JAEGER, p. 7).<<strong>br</strong> />

Pestalozzi foi um dos primeiros autores a trazerem luz à finalidade social da Pedagogia,<<strong>br</strong> />

tomando a família como ponto de referência até chegar à noção de educação livre,<<strong>br</strong> />

ligada à humanidade, de caráter eminentemente moral (PESTALOZZI, 1902). A ele<<strong>br</strong> />

seguiram-se diversos outros e progressivamente se reconheceu e solidificou a ideia de<<strong>br</strong> />

que à educação cabe despertar as predisposições sociais do sujeito e formá-lo para a<<strong>br</strong> />

vida em sociedade, da qual ele essencialmente faz parte e por natureza depende<<strong>br</strong> />

(DURKHEIM, 1973, NATORP, 1898). Para eles, “a educação não molda o homem em<<strong>br</strong> />

abstrato, mas dentro de uma determinada sociedade” (MANNHEIM, 1958, p. 48).<<strong>br</strong> />

1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade<<strong>br</strong> />

de São Paulo sob orientação do Prof. Dr. Roberto da Silva. E-mail: carla.borges@gmail.com.


Educar significaria, então, socializar, integrar o indivíduo à sociedade e ensiná-lo a<<strong>br</strong> />

viver, antes de tudo, em função do grupo. A educação seria assim o meio que lança os<<strong>br</strong> />

fundamentos da lógica de convivência social, por meio da qual se transmitem<<strong>br</strong> />

experiências acumuladas e modificadas e se disseminam as regras de coexistência.<<strong>br</strong> />

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas so<strong>br</strong>e aquelas que ainda<<strong>br</strong> />

não estão maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver<<strong>br</strong> />

na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe<<strong>br</strong> />

exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se destina<<strong>br</strong> />

particularmente. [...] Constituir esse ser [social] em cada um de nós, tal é o<<strong>br</strong> />

fim da educação (DURKHEIM, 2007, p. 53).<<strong>br</strong> />

De acordo com essa corrente, o indivíduo por si só nada tem e nada é senão mero<<strong>br</strong> />

resultado das circunstâncias sociais. Essa doutrina afirma que a realidade humana está<<strong>br</strong> />

na coletividade, na sociedade e é justamente ali que residiriam os pilares para a própria<<strong>br</strong> />

constituição do indivíduo. Paul Natorp (1898) alcança um extremo ainda mais distante,<<strong>br</strong> />

ao dizer que o homem individual é uma total abstração, uma vez que ele só encontra seu<<strong>br</strong> />

sentido quando inserido em uma comunidade.<<strong>br</strong> />

De maneira semelhante, Parsons (1964) acredita que a educação é o mecanismo básico<<strong>br</strong> />

de constituição dos sistemas sociais e de sua manutenção e perpetuação e destaca que,<<strong>br</strong> />

sem ela, o sistema social é ineficaz em manter-se integrado e em conservar seus limites.<<strong>br</strong> />

O equilí<strong>br</strong>io é o fator fundamental do sistema social e para que ele so<strong>br</strong>eviva é<<strong>br</strong> />

necessário que os indivíduos assimilem e internalizem os valores e as normas que regem<<strong>br</strong> />

seu funcionamento. Parsons afirma que é necessária uma complementação do sistema<<strong>br</strong> />

social e do sistema de personalidade: ambos os sistemas têm necessidades básicas que<<strong>br</strong> />

podem ser resolvidas de forma complementar e harmônica.<<strong>br</strong> />

Enquanto para Durkheim e para Parsons a educação acabaria servindo, dessa forma, à<<strong>br</strong> />

manutenção do status quo, ou seja, da ordem, do equilí<strong>br</strong>io e da continuidade de um<<strong>br</strong> />

dado sistema social, cujas leis são apenas assimiladas e reproduzidas pelos indivíduos,<<strong>br</strong> />

para Dewey (1971) e Mannheim (1971) a educação constitui um mecanismo<<strong>br</strong> />

dinamizador das sociedades por meio da ação de um indivíduo que é sujeito das<<strong>br</strong> />

mudanças desse sistema. O processo educacional, para esses autores, possibilita ao<<strong>br</strong> />

indivíduo atuar na sociedade sem que necessariamente esteja reproduzindo experiências<<strong>br</strong> />

anteriores, de forma acrítica. Pelo contrário, sua ação é capaz de voltar-se tanto para<<strong>br</strong> />

mudanças na sociedade como da sociedade, isso é, internas ou externas.<<strong>br</strong> />

No entanto, essa não foi a única visão que predominou ao longo da história da<<strong>br</strong> />

educação. A própria história da infância nos indica que as primeiras atividades


educacionais praticadas entre mestres e aprendizes revelavam uma educação puramente<<strong>br</strong> />

customizada, individualizada em princípio e em forma (ARIÉS, 1981). Em contraponto<<strong>br</strong> />

aos que acreditam que à educação são reservadas funções especificamente sociais, há<<strong>br</strong> />

também os que acreditam que sua principal vocação é servir nada mais que à formação<<strong>br</strong> />

do indivíduo (NEILL, 1968). Conhecidos por seus críticos como individualistas, esses<<strong>br</strong> />

teóricos defendem que a educação deve se dedicar essencialmente à formação<<strong>br</strong> />

individual do ser humano, de sua personalidade, de sua auto-estima e de seus<<strong>br</strong> />

conhecimentos e aptidões. Essa abordagem encontra grande parte de seus fundamentos<<strong>br</strong> />

na psicologia e na epistemologia cognitiva e parte da perspectiva de que a educação só<<strong>br</strong> />

pode ser de fato de qualidade quando adaptada a cada um de seus destinatários em<<strong>br</strong> />

particular, reconhecendo, respeitando e valorizando suas especificidades. Nessa visão,<<strong>br</strong> />

por meio da educação seria permitido aos indivíduos desenvolver integralmente sua<<strong>br</strong> />

personalidade, adaptar-se à vida e, só assim, passar de uma condição puramente natural,<<strong>br</strong> />

ou mesmo animal, a um estágio mais avançado de desenvolvimento cultural e social.<<strong>br</strong> />

Essa interpretação marcou por muito tempo a pedagogia e encontra-se presente<<strong>br</strong> />

inclusive nas práticas atuais. A ascensão dos preceitos liberais parece ter fortalecido<<strong>br</strong> />

essa tendência, levando a uma so<strong>br</strong>evalorização das atribuições individuais do ser<<strong>br</strong> />

humano em detrimento das sociais, o que representou, de certa maneira, um retorno às<<strong>br</strong> />

origens individualistas educacionais da educação customizada. Tal é a leitura de<<strong>br</strong> />

Bauman, para quem a sociedade pós-moderna é formada por “indivíduos cada vez mais<<strong>br</strong> />

individualizados” (BAUMAN, 2008, p. 21), que entram em ágora apenas para encontrar<<strong>br</strong> />

outros indivíduos solitários (BAUMAN, 2008).<<strong>br</strong> />

Entre um extremo e outro, entretanto, encontramos a ponderação de se reconhecer na<<strong>br</strong> />

educação uma dupla vocação: social e individual.<<strong>br</strong> />

A educação equipa os indivíduos para servirem à sociedade e servir a si<<strong>br</strong> />

mesmos como pessoas, como mem<strong>br</strong>os de suas famílias, como trabalhadores,<<strong>br</strong> />

impulsionadores da economia de seu país, como dirigentes e inovadores,<<strong>br</strong> />

como cidadãos locais e do mundo e como colaboradores na cultura, e tudo<<strong>br</strong> />

isso porque a educação melhora nos indivíduos seu conhecimento básico, sua<<strong>br</strong> />

destreza intelectual e moral, seu poder de raciocínio e crítica, suas atitudes e<<strong>br</strong> />

motivações, sua capacidade de criatividade e inovação, seu apreço pelo saber,<<strong>br</strong> />

seu sentido de responsabilidade social e, por último, sua compreensão do<<strong>br</strong> />

mundo moderno (COOMBS, 1973, p. 182).<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, sendo o indivíduo a partícula nuclear da sociedade, ele tanto dela se<<strong>br</strong> />

beneficia como nasce em seu âmago o entusiasmo e o poder para transformá-la<<strong>br</strong> />

(QUINTANA, 1974 p. 5). A partir dessa visão, o ser humano não é visto apenas como<<strong>br</strong> />

um fruto apático e moldável das estruturas sociais, mas como um ente capaz de


contribuir com a instituição social e também modificá-la a partir da própria<<strong>br</strong> />

transformação de sua maneira de comunicar e de ver o mundo. A educação passa a ser<<strong>br</strong> />

vista como o mecanismo que permite a construção ou a legitimação dessa relação<<strong>br</strong> />

simbiótica, dialética, entre indivíduo e sociedade, que se constroem, complementam-se<<strong>br</strong> />

e se transformam mutuamente. Assim o faz também a Pedagogia, ciência dedicada ao<<strong>br</strong> />

estudo e à compreensão de seus fenômenos.<<strong>br</strong> />

[...] a relação da educação com a sociedade tem sido a base principal da<<strong>br</strong> />

educação. Em seu seio tem-se realizado a atividade educativa desde os<<strong>br</strong> />

tempos mais remotos até os nossos dias. Vista por esse prisma, a Pedagogia<<strong>br</strong> />

tem de ser social. Mas a educação não se esgota na sociedade. Destina-se<<strong>br</strong> />

antes de tudo à formação do homem, que é mais que um ser social: é uma<<strong>br</strong> />

personalidade com vida própria e intransferível, que cumpre cultivar ou<<strong>br</strong> />

desenvolver. Nesse sentido, a Pedagogia tem de ser individual. Esses dois<<strong>br</strong> />

aspectos não são independentes. Constituem, antes, unidade indivisível, como<<strong>br</strong> />

na vida humana (LUZURIAGA, 1960, p. 5).<<strong>br</strong> />

Fica claro, pela leitura desses autores, que não se pode falar em educação sem se<<strong>br</strong> />

considerar igualmente sua dimensão e sua função social, sem desconsiderar sua<<strong>br</strong> />

importância na formação do indivíduo e sem entender essas suas duas facetas como<<strong>br</strong> />

contraditórias, senão como complementares. Nas palavras de Nassif (1958, p.165), “a<<strong>br</strong> />

educação é socializadora e a sociedade é educadora”. Fazemos juz à essa perspectiva ao<<strong>br</strong> />

defendermos que uma educação de qualidade é aquela capaz de extrair frutos dessa<<strong>br</strong> />

relação simbiótica e equili<strong>br</strong>ada entre indivíduo, a sociedade e o meio em que vivem,<<strong>br</strong> />

oferecendo-lhes oportunidades concretas de desenvolver competências individuais e<<strong>br</strong> />

sociais que lhes capacitem para a vida.<<strong>br</strong> />

Dizer que a vocação fundamental da educação é formar os indivíduos para a vida em<<strong>br</strong> />

sociedade, não implica necessariamente assegurar a concretização prática desse ideal,<<strong>br</strong> />

nem garantir que a educação, em todas as suas formas, estará naturalmente voltada para<<strong>br</strong> />

esse fim em definitiva. É necessária, antes disso, uma decisão deliberada em fazê-la<<strong>br</strong> />

coexistir, prevalecer ou sucumbir em meio aos objetivos individuais. Por esse motivo as<<strong>br</strong> />

diferentes etapas de socialização foram partilhadas por atmosferas educacionais<<strong>br</strong> />

distintas e com intensidades variadas ao longo da história. Atualmente essa distribuição<<strong>br</strong> />

de papéis entre os diferentes entes educativos é cada vez menos nítida, mais difusa entre<<strong>br</strong> />

os diversos setores educacionais, também esses mais difusos. Se por um lado esse fator<<strong>br</strong> />

torna mais difícil a identificação e a responsabilização de atores por determinadas<<strong>br</strong> />

funções, por outro ele cria também um imenso potencial de cooperação entre setores<<strong>br</strong> />

que agora passam a exercer uma co-responsabilidade pela formação individual e social<<strong>br</strong> />

do indivíduo. Preferimos olhar por esse viés.


O que se nota, entretanto, é que esse equilí<strong>br</strong>io nem sempre se fez presente ao longo da<<strong>br</strong> />

história da educação e das instituições que se dedicaram ao seu desenvolvimento,<<strong>br</strong> />

majoritariamente a escola. Passemos então à revisão dessa instituição em particular, das<<strong>br</strong> />

definições que acabou assumindo o próprio conceito de educação e da necessidade de<<strong>br</strong> />

retorno a uma visão mais a<strong>br</strong>angente, capaz de efetivamente tornar possível o alcance de<<strong>br</strong> />

um equilí<strong>br</strong>io entre a formação individual e a constituição social do ser humano,<<strong>br</strong> />

essencial para uma educação de qualidade.<<strong>br</strong> />

Algumas reflexões a respeito da escola<<strong>br</strong> />

Sendo a educação resultado de uma ação majoritariamente social em sua natureza e fins,<<strong>br</strong> />

conforme sugere a reflexão anterior, alguns veem a escola então como uma instituição<<strong>br</strong> />

histórica, uma criação do ser humano para dar forma, sistematizar e organizar os<<strong>br</strong> />

processos educativos que ocorriam de forma espontânea e assumiam distintas feições.<<strong>br</strong> />

A escola é uma instituição histórica. Não existe desde sempre nem nada<<strong>br</strong> />

garante sua perenidade. Foi e é funcional a certas sociedades, mas o que é<<strong>br</strong> />

realmente essencial a qualquer sociedade é a educação. A escola constitui<<strong>br</strong> />

apenas uma de suas formas, e nunca de maneira exclusiva (TRILLA, 2008, p.<<strong>br</strong> />

17).<<strong>br</strong> />

Alguns a vêm, na verdade, como o ápice da apropriação da função de educar por parte<<strong>br</strong> />

de alguns grupos ou pessoas (BRUNO, 1996, p. 21). Outros, como o momento em que a<<strong>br</strong> />

educação se sujeita a uma teoria científica e se institucionaliza.<<strong>br</strong> />

A educação aparece sempre que surgem formas sociais de condução e<<strong>br</strong> />

controle da aventura de ensinar e aprender. O ensino formal é o momento em<<strong>br</strong> />

que a educação se sujeita à Pedagogia (a teoria da educação), cria situações<<strong>br</strong> />

próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece suas regras<<strong>br</strong> />

e tempos e constitui executores especializados. É quando aparecem a escola,<<strong>br</strong> />

o aluno e o professor (BRANDÃO, 1981, p. 26).<<strong>br</strong> />

O atrelamento da função de educar à instituição que a incorpora de maneira<<strong>br</strong> />

predominante – a escola – no entanto, se deu de forma tão intensa e predominou ao<<strong>br</strong> />

longo do tempo de maneira tal que a educação praticada por outros atores passou a ser<<strong>br</strong> />

apenas marginalmente reconhecida como parte importante da formação do indivíduo.<<strong>br</strong> />

Com isso, as atenções e reflexões acadêmicas so<strong>br</strong>e educação acabaram por se restringir<<strong>br</strong> />

em grande parte ao setor formal. Assim, foi disseminada a compreensão de que a ação<<strong>br</strong> />

educativa e o alcance de uma formação apropriada e condizente com as demandas<<strong>br</strong> />

sociais de aprendizagem necessariamente passariam pela escola (TRILLA, 2008, p. 17).<<strong>br</strong> />

O que se testemunhou, em decorrência, foi uma progressiva redução do conceito de


educação à escolarização, limitando os contextos de ensino-aprendizagem a setores<<strong>br</strong> />

exclusivamente formais (CAMORS, 2008, p. 88). Visão essa que tem sido difícil<<strong>br</strong> />

desmistificar.<<strong>br</strong> />

No entanto, diante da dificuldade por parte da escola em atingir parcial ou totalmente<<strong>br</strong> />

grande parte de seus objetivos e à medida que, por outro lado, vão se acrescendo suas<<strong>br</strong> />

responsabilidades, ao lado das expectativas em torno dela, invariavelmente surgem<<strong>br</strong> />

indagações quanto a sua efetividade, seu custo-benefício e so<strong>br</strong>e sua capacidade em<<strong>br</strong> />

oferecer as respostas mais adequadas aos desafios educativos que se anunciam<<strong>br</strong> />

(GRANDSTAFF, 1973, p. 41). Dessas reflexões emergem diversas críticas e propostas,<<strong>br</strong> />

que variam desde recomendações mais radicais de abolição completa da instituição<<strong>br</strong> />

escolar a reformas internas sensíveis, estruturais, passando pela exploração de novos<<strong>br</strong> />

campos e possibilidades que também possam revelar um precioso potencial educativo,<<strong>br</strong> />

tal qual o universo pertencente à chamada educação não-formal.<<strong>br</strong> />

No Brasil, um dos movimentos que fizeram história ao dirigir duras críticas à<<strong>br</strong> />

configuração escolar na década de 30 e que lançaram as bases do modelo adotado até<<strong>br</strong> />

hoje ficou conhecido como Escola Nova. Seus adeptos, entre os quais Anísio Teixeira,<<strong>br</strong> />

Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Afrânio Peixoto, entre outros, criticavam a<<strong>br</strong> />

estrutura tradicional da escola centrada na autoridade do professor e lutavam pela<<strong>br</strong> />

universalização da escola pública, laica e gratuita. O escolanovismo, que consagrou suas<<strong>br</strong> />

diretrizes por meio do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), propunha uma<<strong>br</strong> />

total reformulação da estrutura interna da escola, de modo a ampliar a qualidade do<<strong>br</strong> />

ensino ali oferecido por meio da construção de relações democráticas em uma escola<<strong>br</strong> />

“livre, criadora, espontânea, sem medo da liberdade” (GADOTTI, 2001, p. 13).<<strong>br</strong> />

A postura antiautoritária dos escolanovistas, entretanto, não chegou a colocar em<<strong>br</strong> />

questão a concepção de neutralidade da ação educativa, so<strong>br</strong>e a qual se orientava a<<strong>br</strong> />

escola tradicional. Foi apenas a partir da década de 60, diante das condições históricas e<<strong>br</strong> />

como reflexo de contribuições da Ciência Política, da Economia e da Sociologia, que se<<strong>br</strong> />

disseminou a percepção de que a educação não pode ser neutra e nunca esteve separada<<strong>br</strong> />

da questão do poder (FREIRE, 1979). Ao contrário, carrega sempre como pano de<<strong>br</strong> />

fundo um projeto político, a serviço de determinados objetivos e interesses, implícitos<<strong>br</strong> />

ou explícitos, opressores ou emancipadores. O reconhecimento do caráter político da<<strong>br</strong> />

educação induziu à revisão do papel da escola para que se colocasse também como<<strong>br</strong> />

formadora de consciência crítica e de mobilização social.


A escola deixa de ser considerada aquela ilha de pureza sonhada pelos<<strong>br</strong> />

educadores que viam a educação como a redentora da humanidade. Num<<strong>br</strong> />

mundo em que os conflitos sociais, étnicos e culturais são cada vez mais<<strong>br</strong> />

perceptíveis, a escola não pode ficar imune. A educação passou a ser o lugar<<strong>br</strong> />

da denúncia da própria educação e a escola tornou-se uma instituição em<<strong>br</strong> />

conflito como qualquer outra (GADOTTI, 2001, p. 22).<<strong>br</strong> />

Internacionalmente, aos fins da década de 60 e princípio dos anos 70, esse olhar crítico<<strong>br</strong> />

em relação à escola também ganhou espaço entre a comunidade acadêmica, so<strong>br</strong>etudo, a<<strong>br</strong> />

partir das ponderações de Philip Coombs so<strong>br</strong>e a crise mundial da educação (COOMBS,<<strong>br</strong> />

1968). O autor reconhece que a educação oferecida então pela escola não correspondia<<strong>br</strong> />

às demandas sociais de maneira adequada, tinha perdido a qualidade dos conteúdos e<<strong>br</strong> />

metodologias trabalhados, colocando-se a serviço das aspirações mercadológicas por<<strong>br</strong> />

mão de o<strong>br</strong>a. Para ele, os sistemas de ensino formais tardaram a adaptar-se às velozes<<strong>br</strong> />

transformações das demandas educacionais em decorrência de diversos fatores, entre os<<strong>br</strong> />

quais, o a<strong>br</strong>upto crescimento das aspirações populares perante a educação, a escassez de<<strong>br</strong> />

recursos, a apática resistência à transformação e à inércia da sociedade tradicionalista e<<strong>br</strong> />

de base religiosa. A superação da crise, em sua opinião, dependeria do ajustamento<<strong>br</strong> />

entre o que a escola tinha a oferecer e as necessidades da população, o que pedia uma<<strong>br</strong> />

transformação de comportamento tanto por parte da escola quanto da sociedade<<strong>br</strong> />

(COOMBS, 1968, p. 21).<<strong>br</strong> />

Adotando uma postura muito mais radical, Ivan Illich (1976) ficou conhecido<<strong>br</strong> />

mundialmente pelo seu ceticismo em relação è escola e pelas duras críticas tecidas<<strong>br</strong> />

contra ela e contra o contexto que a circunda, este, em sua visão, profundamente tomado<<strong>br</strong> />

por uma “mentalidade escolarizante” (ILLICH, 1976, p. 6). Dirigindo duros ataques aos<<strong>br</strong> />

propósitos escolares e às conseqüências da escolarização, Illich acreditava que a escola<<strong>br</strong> />

estaria nada mais que a serviço da reprodução da ordem estabelecida e à manutenção do<<strong>br</strong> />

status quo, assim como já adiantava Parsons (1971). Ele a vê como um<<strong>br</strong> />

ritual de iniciação para uma sociedade orientada para o consumo progressivo<<strong>br</strong> />

de serviços cada vez menos tangíveis e cada vez mais caros, uma sociedade<<strong>br</strong> />

que se baseia em padrões internacionais, planejamento de larga-escala e<<strong>br</strong> />

longo prazo: a tradução constante das novas necessidades em demandas<<strong>br</strong> />

específicas de consumo de novas satisfações. Essa sociedade tem se mostrado<<strong>br</strong> />

infrutífera (ILLICH, 1976, p. 6).<<strong>br</strong> />

Dados os nefastos efeitos que a escola, na sua opinião, dirige aos que dela se servem,<<strong>br</strong> />

Illich propõe a completa abolição da instituição escolar, lado a lado com a<<strong>br</strong> />

desescolarização da cultura, que ele entende estar já contaminada pela visão de que não<<strong>br</strong> />

seria possível progredir socialmente sem a educação escolar (ILLICH, 1970, p. 11). Em<<strong>br</strong> />

substituição desse modelo, ele propõe outra racionalidade pedagógica, não


curricularizada, não fragmentada e não estandardizada, que deve ser acompanhada por<<strong>br</strong> />

uma mudança radical da postura política do Estado de modo a garantir liberdade de<<strong>br</strong> />

acesso às fontes educacionais por meio das quais se realiza a aprendizagem.<<strong>br</strong> />

De maneira semelhante, alguns cognitivistas e construtivistas chegaram também a<<strong>br</strong> />

defender alternativas mais fluidas e flexíveis em contraposição à rigidez escolar,<<strong>br</strong> />

defendendo metodologias voltadas à auto-aprendizagem e ao autodidatismo. Tais visões<<strong>br</strong> />

são também muito controversas, so<strong>br</strong>etudo devido ao fato de que de certa forma<<strong>br</strong> />

chegam, em última instância, a responsabilizar o próprio indivíduo por sua informação,<<strong>br</strong> />

formação e qualificação (AFONSO, 2001, p. 33), ou pela falta delas.<<strong>br</strong> />

A partir de todos esses questionamentos quanto à efetividade da escola, o potencial<<strong>br</strong> />

educativo das práticas extra-escolares de educação passa a ser crescentemente<<strong>br</strong> />

reconhecido e valorizado. Obviamente, elas já existiam muito antes, desde sempre e<<strong>br</strong> />

antes mesmo da própria criação da escola. A diferença é que com as críticas<<strong>br</strong> />

direcionadas à escola e as preocupações em se revisar os pilares educacionais, tais<<strong>br</strong> />

práticas passaram a ser analisadas pela comunidade acadêmica de maneira mais<<strong>br</strong> />

incisiva, fortalecendo-se enquanto possibilidades factíveis e efetivas de se contornar os<<strong>br</strong> />

desafios enfrentados e de aproximar o mundo da escola do mundo da vida (FREIRE,<<strong>br</strong> />

1986), universos que parecem permanecer ainda tão distanciados.<<strong>br</strong> />

Como proposta para se contornar a crise que acabara de anunciar, Coombs sugere que a<<strong>br</strong> />

educação passe a ser abordada a partir de diferentes “linguagens e ideias de muitas<<strong>br</strong> />

disciplinas intelectuais e esferas de ação que possam ampliar a visão do processo<<strong>br</strong> />

educativo” (COOMBS, 1978, p. 17). Ele propõe a revisão e a ampliação do próprio<<strong>br</strong> />

conceito de educação – ou uma recuperação de sua natureza original – de maneira a<<strong>br</strong> />

considerar outros contextos educativos como potenciais respostas às expectativas<<strong>br</strong> />

geradas naquele momento em torno da escola (Idem, p. 23).<<strong>br</strong> />

Em nossa opinião, há necessidade de alguma coisa a mais – de uma<<strong>br</strong> />

abordagem estratégica fundamentalmente nova, que consiga que<strong>br</strong>ar os<<strong>br</strong> />

grilhões do convencionalismo e tenha a ousadia de levar em consideração as<<strong>br</strong> />

inovações com facilidade aceitas em outros domínios da vida, mas que, por<<strong>br</strong> />

falta de coragem e imaginação, consideramos de pequena aplicabilidade no<<strong>br</strong> />

domínio vital da aprendizagem e do desenvolvimento humanos. Fato<<strong>br</strong> />

estranho – é muito mais difícil inovar no ensino formal que no ensino nãoformal<<strong>br</strong> />

(COOMBS, 1986, p. 196).<<strong>br</strong> />

Colocações como tal a<strong>br</strong>iram margem para o reconhecimento de práticas extra-escolares<<strong>br</strong> />

que já vinham ocupando a arena educacional tanto como fonte de inspiração para que a<<strong>br</strong> />

escola revisasse seus critérios e métodos de atuação, como para complementar seus


esforços no sentido de garantir uma educação de qualidade e de acesso universal. A seu<<strong>br</strong> />

ver, era necessária uma grande transformação para que os problemas da escola<<strong>br</strong> />

pudessem ser resolvidos, por exemplo, por meio da consideração e, por que não, da<<strong>br</strong> />

incorporação de elementos alheios à sua atmosfera.<<strong>br</strong> />

Vale ponderar, contudo, que a suposta crise da escola não foi o único fator a a<strong>br</strong>ir<<strong>br</strong> />

margem para o reconhecimento e expansão de estratégias educacionais não-escolares. O<<strong>br</strong> />

período que antecedeu os primeiros críticos da escola testemunhou um sensível aumento<<strong>br</strong> />

na demanda por educação, que se deve a inúmeros fatores, entre os quais o crescimento<<strong>br</strong> />

de uma percepção compartilhada de que a educação poderia servir como porta de acesso<<strong>br</strong> />

a novas oportunidades de emprego, de melhores condições de vida e de ascensão social<<strong>br</strong> />

(BEISIEGEL, 2005, p. 23). Além disso, as transformações no mundo do trabalho<<strong>br</strong> />

passaram a exigir um nível cada vez mais elevado de capacitação e especialização,<<strong>br</strong> />

sendo co<strong>br</strong>adas formações mais especializadas, assim como uma constante reciclagem<<strong>br</strong> />

dos profissionais já inseridos no mercado (TRILLA, 2008, p. 19). A emancipação<<strong>br</strong> />

feminina também contribuiu para o aumento da demanda pelo acesso educacional por<<strong>br</strong> />

parte de seus filhos, o que se intensifica, por fim, pelo aumento da sensibilidade social<<strong>br</strong> />

para a inclusão de setores marginalizados da sociedade, provavelmente em decorrência<<strong>br</strong> />

da exasperação da percepção das funções sociais e econômicas que também cumpria à<<strong>br</strong> />

educação corresponder (TRILLA, 2008, p. 20).<<strong>br</strong> />

A consideração dessas outras causalidades nos leva a crer que a crise da escola foi<<strong>br</strong> />

apenas o estopim para que a comunidade acadêmica se coordenasse em torno da revisão<<strong>br</strong> />

e ampliação do que se entendia por e, principalmente, do que se esperava da educação.<<strong>br</strong> />

Mais que um momento de buscar novos caminhos para substituir as instituições<<strong>br</strong> />

educacionais formais, a segunda metade do século XX mostrou-se um período de<<strong>br</strong> />

reflexão a respeito da distribuição de papéis dentro dessa renovada e ampliada esfera<<strong>br</strong> />

educacional. E, assim, o próprio conceito de educação ganha novas nuances e recupera<<strong>br</strong> />

seu sentido mais amplo, que vai além da escolarização, incorporando os processos<<strong>br</strong> />

educativos não-escolares, conforme pondera Petrus (1998) no seguinte extrato:<<strong>br</strong> />

A educação, felizmente, deixa de ser patrimônio da escola, ultrapassa a esfera<<strong>br</strong> />

do tempo escolar e vai além dos espaços de sala de aula. A educação é<<strong>br</strong> />

concebida como uma característica da existência humana (PETRUS, 1998, p.<<strong>br</strong> />

10)<<strong>br</strong> />

Entretanto, dizer que essas práticas educativas que têm lugar em contextos não-formais<<strong>br</strong> />

podem contribuir para o alcance de uma educação de qualidade não significa,


obviamente, priorizar um contexto em detrimento do outro, nem colocar o universo<<strong>br</strong> />

extra-escolar como uma alternativa à escola ou como uma fórmula mágica para se<<strong>br</strong> />

resolver todos os problemas educacionais.<<strong>br</strong> />

É tão maniqueísta projetar toda a culpa educacional na escola quanto supor<<strong>br</strong> />

que a educação não-formal seja uma poção mágica e imaculada. Apresentá-la<<strong>br</strong> />

globalmente como remédio para as desigualdades educacionais e sociais, e<<strong>br</strong> />

para os vícios em que a escolarização formal tem caído é tão simplista e todo<<strong>br</strong> />

quanto recusar sua colaboração para facilitar o acesso mais amplo e justo a<<strong>br</strong> />

uma educação da maior qualidade possível (TRILLA, 2008, p. 54).<<strong>br</strong> />

Isso significaria, na verdade, incidir novamente so<strong>br</strong>e o mesmo equívoco de enviesar e<<strong>br</strong> />

restringir o escopo educacional a um contexto parcial de ações educativas, que, assim<<strong>br</strong> />

como a escola, constitui apenas uma das faces que a educação pode assumir. Como<<strong>br</strong> />

coloca Dewey (1918),<<strong>br</strong> />

Costumamos superestimar o valor da instrução escolar diante da que<<strong>br</strong> />

recebemos no curso ordinário da vida. Contudo, não devemos corrigir esse<<strong>br</strong> />

exagero menosprezando a instrução escolar, e sim examinando aquela<<strong>br</strong> />

educação ampla e mais eficiente propiciada pelo curso ordinário da vida, para<<strong>br</strong> />

iluminar melhores procedimentos de ensino dentro dos muros da escola<<strong>br</strong> />

(DEWEY, 1918, p. 10, apud TRILLA, 2008, p. 18).<<strong>br</strong> />

À medida que se busca aproximar esses dois grandes domínios, nota-se um<<strong>br</strong> />

fortalecimento do debate so<strong>br</strong>e as funções sociais da educação, pelo qual introduzimos o<<strong>br</strong> />

presente capítulo. Entre um e outro mundo, o que se encontra então é a chamada<<strong>br</strong> />

educação social, partilhada tanto pela escola como pelas instituições sociais, não-<<strong>br</strong> />

formais e informais.<<strong>br</strong> />

Antes de adentrarmos o universo da educação social, contudo, cabe aqui uma digressão<<strong>br</strong> />

importante a respeito das denominações tradicionalmente atribuídas à educação extra-<<strong>br</strong> />

escolar, principalmente no que se refere aos termos e conotações utilizados no Brasil.<<strong>br</strong> />

No país, assim como em diversas partes do mundo, habituou-se subdividir a educação<<strong>br</strong> />

em três universos, denominados educação formal, não-formal e informal.<<strong>br</strong> />

Algumas interfaces educacionais: educação formal, não-formal e informal<<strong>br</strong> />

Como sabemos, tudo o que acontece na vida das pessoas é dotado de um enorme<<strong>br</strong> />

potencial educativo. A maneira e a gradação com que as pessoas se apropriam das<<strong>br</strong> />

informações que estão a sua volta e as convertem em conhecimentos que influenciarão<<strong>br</strong> />

suas ações fazem parte de um processo de aprendizagem constante que cada indivíduo<<strong>br</strong> />

faz inconscientemente como parte do seu processo evolutivo e como fruto de sua<<strong>br</strong> />

interação social. Apesar da complexidade do mundo educacional, contudo, não


pareceria difícil discernir entre atividades escolares e não-escolares. Essa separação está<<strong>br</strong> />

claramente vinculada à instituição que as ministra: as primeiras são tarefas realizadas<<strong>br</strong> />

sob orientação da escola e as demais são operações que têm lugar fora desse contexto.<<strong>br</strong> />

É necessário observar, porém, que o campo não-escolar, por sua vez, engloba todo um<<strong>br</strong> />

universo de práticas das mais diversas naturezas, que variam desde atividades<<strong>br</strong> />

espontâneas e cotidianas a práticas mais coordenadas, deliberadas e sistematizadas.<<strong>br</strong> />

Algumas delas são tão naturalizadas que sequer são identificadas como atividades<<strong>br</strong> />

educativas, tais como ler um jornal ou revista, discutir uma questão polêmica entre<<strong>br</strong> />

amigos, ouvir histórias de pessoas mais velhas, freqüentar um culto religioso, etc. Já<<strong>br</strong> />

outras adotam estruturas muito similares às escolares e chegam a despertar dúvidas até<<strong>br</strong> />

mesmo quanto à propriedade de não serem classificadas como formais, por exemplo os<<strong>br</strong> />

cursos de idioma, de aprimoramento profissional, as auto-escolas, etc. Assim, em<<strong>br</strong> />

contraste com a nitidez e solidez do sistema educacional escolar, essas atividades<<strong>br</strong> />

assumem feições multiformes e são, por isso, de difícil classificação e organização.<<strong>br</strong> />

Os objetivos dessas atividades, freqüentemente, são pouco claros, as clientelas indefinidas e a<<strong>br</strong> />

responsabilidade de sua manutenção e administração divide-se entre dezenas de entidades<<strong>br</strong> />

públicas e privadas. Elas surgem espontaneamente, aparecem e desaparecem; às vezes têm um<<strong>br</strong> />

êxito fulgurante, outras tantas vezes morrem obscuramente sem deixar saudades (COOMBS,<<strong>br</strong> />

1986, p. 198).<<strong>br</strong> />

De qualquer maneira, parece haver uma concordância geral de que esse outro universo<<strong>br</strong> />

de ensino que se encontra além dos muros escolares, ainda que de maneira amorfa e<<strong>br</strong> />

indefinida, é relevante e merece maior atenção. Trata-se de atividades que atingem a<<strong>br</strong> />

vida de muitas pessoas e “quando bem orientadas, podem contribuir de maneira<<strong>br</strong> />

substancial para o desenvolvimento individual e nacional e têm, também, possibilidade<<strong>br</strong> />

de dar uma alta contribuição para o enriquecimento cultural e a auto-realização<<strong>br</strong> />

individual” (COOMBS, 1986, p. 198).<<strong>br</strong> />

Para solucionar esse problema, convencionou-se fazer das duas grandes fatias do bolo<<strong>br</strong> />

educacional, a escolar e a não-escolar, três: a formal, a não-formal e a informal. De<<strong>br</strong> />

maneira simplificada, a educação escolar equivaleria à formal, enquanto a não-escolar<<strong>br</strong> />

subdividir-se-ia entre não-formal e informal. Essa classificação tampouco é consensual,<<strong>br</strong> />

mas, como veremos, os autores costumam divergir mais em relação aos critérios<<strong>br</strong> />

selecionados para delimitá-los do que à repartição tripartite em si.


Coombs foi, provavelmente, o primeiro a diferenciar os três setores educacionais e a<<strong>br</strong> />

cunhar o termo educação não-formal (LA BELLE, 1986, p. 2). Em um trabalho<<strong>br</strong> />

preparado conjuntamente com Manzoor Ahmed, ele distingue esses contextos da<<strong>br</strong> />

seguinte forma (COOMBS e AHMED, 1975, p. 27):<<strong>br</strong> />

1. educação formal: sistema educacional fortemente institucionalizado,<<strong>br</strong> />

cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado, que compreende os<<strong>br</strong> />

primeiros anos da escola primária até a universidade;<<strong>br</strong> />

2. educação não-formal: toda atividade educativa organizada e sistemática<<strong>br</strong> />

realizada fora do marco do sistema oficial para facilitar a aprendizagem de<<strong>br</strong> />

subgrupos específicos da população; e<<strong>br</strong> />

3. educação informal: um processo ao longo da vida, em que as pessoas adquirem<<strong>br</strong> />

e acumulam conhecimento por meio das experiências diárias e de sua relação<<strong>br</strong> />

com o meio.<<strong>br</strong> />

A definição proposta por Almerindo Afonso complementa essa classificação, inserindo<<strong>br</strong> />

categorias de análise importantes tais como as de tempo e espaço.<<strong>br</strong> />

Por educação formal entende-se o tipo de educação organizada com uma determinada seqüência<<strong>br</strong> />

e proporcionada pelas escolas, enquanto a designação de educação informal a<strong>br</strong>ange todas as<<strong>br</strong> />

possibilidades educativas no decurso da vida do indivíduo, constituindo um processo permanente<<strong>br</strong> />

e não organizado. Por último, a educação não-formal, embora obedeça também a uma estrutura e<<strong>br</strong> />

a uma organização (distintas, porém, das escolas) e possa levar a uma certificação (mesmo que<<strong>br</strong> />

não seja essa a finalidade), diverge ainda da educação formal no que respeita a não fixação de<<strong>br</strong> />

tempos e locais e à flexibilidade na adaptação dos conteúdos de aprendizagem a cada grupo<<strong>br</strong> />

concreto (AFONSO, 1989, p. 78).<<strong>br</strong> />

Com base nessas definições, podemos apreender que para Afonso e para Ahmed e<<strong>br</strong> />

Coombs a educação formal seria ligada a um sistema oficial, regulado por leis<<strong>br</strong> />

nacionais, cujo representante é majoritariamente a escola. A educação não-formal,<<strong>br</strong> />

embora se dê também de maneira organizada, proposital e estruturada, ao ser ministrada<<strong>br</strong> />

por outras instituições e ao margear a fronteira do sistema educacional oficial anuncia-<<strong>br</strong> />

se como um campo de ação também particular, com maior flexibilidade e com foco<<strong>br</strong> />

específico a certos grupos ou temas. A educação informal, por fim, a<strong>br</strong>angeria todas as<<strong>br</strong> />

experiências educativas não-organizadas, espontâneas, cotidianas que estão presentes<<strong>br</strong> />

durante toda a vida do indivíduo.


Essa definição teve grande aceitação e rapidamente conquistou espaço entre os<<strong>br</strong> />

discursos e documentos nacionais e internacionais. Entretanto, à medida que se inserem<<strong>br</strong> />

novos critérios para diferenciá-los, as delimitações entre um e outro campo parecem<<strong>br</strong> />

menos claras. De acordo com o ponto de vista que se adote, os limites mostram-se mais<<strong>br</strong> />

tênues e aumentam hesitações quanto ao enquadramento de certos processos ou<<strong>br</strong> />

atividades em um ou outro domínio.<<strong>br</strong> />

Certamente não é fácil estabelecer critérios que permitam estabelecer os limites exatos entre um<<strong>br</strong> />

tipo de educação e outro, ou precisar os critérios que permitam localizar cada processo educativo<<strong>br</strong> />

sob uma das três etiquetas propostas (TRILLA, 1985, p. 15).<<strong>br</strong> />

Mas ao analisarmos as definições mais a fundo, nota-se que a educação não-formal é a<<strong>br</strong> />

que transita mais livremente e interpenetra os dois demais domínios, ora se<<strong>br</strong> />

aproximando da educação formal, ora estando mais relacionada à educação informal.<<strong>br</strong> />

Uma das categorias de análise que acercam a educação formal e a não-formal, em<<strong>br</strong> />

oposição à educação informal, por exemplo, é a intencionalidade da ação educativa. De<<strong>br</strong> />

acordo com esse critério, tanto a educação formal como a não-formal organizam-se de<<strong>br</strong> />

maneira deliberada e consciente, nascendo desde o princípio com finalidades educativas<<strong>br</strong> />

explícitas. A educação informal, ao contrário, manifesta-se de maneira difusa e<<strong>br</strong> />

espontânea, sem que os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem tomem<<strong>br</strong> />

consciência de si como sujeitos e objetos de uma ação educativa.<<strong>br</strong> />

Para Libâneo, anteriormente boa parte da prática educativa costumava ocorrer de modo<<strong>br</strong> />

não-intencional, não premeditada. A intencionalidade surge, segundo ele, à medida que<<strong>br</strong> />

a vida social e cultural vai tornando-se mais complexa, que as instituições se<<strong>br</strong> />

modernizam, que se ampliam as necessidades de participação e que o conhecimento<<strong>br</strong> />

técnico e científico avança. Em conseqüência, processos educacionais cada vez mais<<strong>br</strong> />

específicos são construídos deliberadamente com o propósito de preparar o indivíduo<<strong>br</strong> />

para lidar com tais transformações (LIBÂNEO, 1999, p. 87). Essa é também a visão de<<strong>br</strong> />

Gohn, que concorda com o critério da intencionalidade para diferenciar educação não-<<strong>br</strong> />

formal e informal.<<strong>br</strong> />

O que diferencia a educação não-formal da informal é que na primeira existe<<strong>br</strong> />

intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas<<strong>br</strong> />

qualidades e/ou objetivos. A educação informal decorre de processos<<strong>br</strong> />

espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de valores e<<strong>br</strong> />

representações, como é o caso da educação familiar (GOHN, 1999, p.<<strong>br</strong> />

100).


Trilla, contudo, ressalva que não se pode afirmar com confiança que todas as práticas<<strong>br</strong> />

informais sejam necessariamente despretensiosas no que se refere à educação. Tome-se,<<strong>br</strong> />

por exemplo, a literatura infantil, os jogos didáticos, ou mesmo a repreensão de uma<<strong>br</strong> />

mãe diante de uma atitude do filho que ela considera reprovável. Todos carregam um<<strong>br</strong> />

propósito educativo claro, um currículo oculto, mas real, ainda que sejam comumente<<strong>br</strong> />

classificadas como representantes da educação informal (TRILLA, 2008, p. 36).<<strong>br</strong> />

Outro fator que costuma colocar educação formal e não-formal em posições<<strong>br</strong> />

equivalentes é seu caráter metódico, que obedece a orientações metodológicas bem<<strong>br</strong> />

delineadas, enquanto a informal seria desorganizada e assistemática. Aqueles que lhes<<strong>br</strong> />

atribuem essa diferenciação costumam observar ainda que, embora as metodologias e<<strong>br</strong> />

procedimentos pedagógicos da educação formal e não-formal sejam, na maioria das<<strong>br</strong> />

vezes, distintos entre si, ambos carregam a preocupação de escolher métodos, organizar<<strong>br</strong> />

seus propósitos educativos e estabelecer condições de acompanhamento do alcance<<strong>br</strong> />

desses objetivos. Isso equivale a dizer que ambos seriam sustentados por uma espécie<<strong>br</strong> />

de currículo, cada qual com suas peculiaridades.<<strong>br</strong> />

Ao retomarmos as definições de Afonso e de Coombs, temos a impressão de que eles<<strong>br</strong> />

tendem a concordar com essa colocação, já que, para definir os limites entre uma e outra<<strong>br</strong> />

modalidade, fazem referência a características do processo educativo relacionadas aos<<strong>br</strong> />

métodos e à sistematização. Nas duas conceituações, tanto a educação formal como a<<strong>br</strong> />

não-formal são estruturadas, organizadas, sistemáticas, embora ambos ressaltem que a<<strong>br</strong> />

educação formal vale-se de estruturas mais rígidas, principalmente no que se refere à<<strong>br</strong> />

fixação de tempo e espaço. A flexibilização dessas duas últimas dimensões, na verdade,<<strong>br</strong> />

serviria à aproximação da educação não-formal com os mecanismos educativos<<strong>br</strong> />

informais, como veremos mais adiante.<<strong>br</strong> />

Libâneo, por outro lado, não compartilha dessa visão. Ao contrário, entre os elementos<<strong>br</strong> />

que ele cita para diferenciar a educação formal da não-formal é justamente o baixo grau<<strong>br</strong> />

de estruturação e sistematização da última em contraposição à primeira. Segundo seu<<strong>br</strong> />

raciocínio, a palavra formal refere-se a tudo que implica uma forma, ou seja, algo<<strong>br</strong> />

estruturado, de método inteligível. Sob essa perspectiva, tudo o que corresponde a um<<strong>br</strong> />

ensino sistematizado e organizado, ainda que não seja escolar, poderia ser definido<<strong>br</strong> />

como educação formal. Essa posição o diferencia radicalmente dos demais teóricos,<<strong>br</strong> />

uma vez que para ele a educação formal é composta por outros tipos de educação além<<strong>br</strong> />

da escolar, tais como a educação de adultos, a educação sindical, profissional, etc.


Caberia à educação não-formal, portanto, os movimentos sociais, os trabalhos<<strong>br</strong> />

comunitários, os meios de comunicação social, etc., que adotam mecanismos menos<<strong>br</strong> />

formalizados. (LIBÂNEO, 1999, p. 89).<<strong>br</strong> />

Embora não faça eco à Libâneo quanto à última argumentação, Trilla também discorda<<strong>br</strong> />

do critério de sistematização para separar a educação informal das demais, uma vez que<<strong>br</strong> />

muitos processos educacionais comumente incluídos na educação informal costumam<<strong>br</strong> />

possuir método e organização, tais como métodos de educação familiar, metodologia<<strong>br</strong> />

dos meios e comunicação, etc. (TRILLA, 2008, pp. 36-37).<<strong>br</strong> />

Por fim, outro critério que segundo alguns (COOMBS, 1975; TRILLA, 1985) aproxima<<strong>br</strong> />

formal e não-formal, distanciando-as da educação informal, é a institucionalização de<<strong>br</strong> />

cada prática. Para os que adotam esse critério, ainda que dirigidas por organizações<<strong>br</strong> />

essencialmente diferentes, um lado pela escola e outro normalmente por instituições da<<strong>br</strong> />

sociedade civil, tanto a educação formal como a não-formal, respectivamente, seriam<<strong>br</strong> />

institucionalizadas, no sentido de serem conduzidas deliberadamente por organizações<<strong>br</strong> />

dotadas de personalidade jurídica. A educação informal, por sua vez, não teria por trás<<strong>br</strong> />

de suas práticas a coordenação de nenhuma organização, ou seja, não seria gerida<<strong>br</strong> />

deliberadamente por nenhuma instituição, até mesmo devido a sua espontaneidade,<<strong>br</strong> />

dispersão e descentralização.<<strong>br</strong> />

Essa abordagem foca-se so<strong>br</strong>e o agente da prática educativa, ou seja, traça as<<strong>br</strong> />

diferenciações entre os três domínios educacionais de acordo com o ator responsável<<strong>br</strong> />

pelas decisões e pela oferta de ensino. Já que, segundo essa compreensão, tanto a<<strong>br</strong> />

educação não-formal como a formal são institucionalizadas, o que diferenciaria uma da<<strong>br</strong> />

outra, nesse caso, seria, so<strong>br</strong>etudo, a natureza da instituição envolvida: todas as ações<<strong>br</strong> />

praticadas pela instituição escola são consideradas de ordem formal, assim como tudo o<<strong>br</strong> />

que é feito no âmbito de instituições educacionais não-escolares seria dotada de caráter<<strong>br</strong> />

não-formal. Ações educativas que não contam com amparo institucional seriam, por<<strong>br</strong> />

exclusão, informais.<<strong>br</strong> />

Essa perspectiva suscita muitos questionamentos, principalmente pela rigidez com que<<strong>br</strong> />

separa os três campos. Nota-se uma clara redução da definição dos três domínios à<<strong>br</strong> />

instituição que a opera, independentemente dos métodos adotados e das similitudes<<strong>br</strong> />

compartilhadas por todas elas em suas práticas educativas cotidianas. Não cabe aqui<<strong>br</strong> />

entrar nas minúcias do debate teórico acerca de regimes e instituições, mas vale<<strong>br</strong> />

sublinhar que vastos estudos têm consagrado a família, a igreja, o ambiente de trabalho,


a mídia – normalmente associados à educação informal – como instituições que sempre<<strong>br</strong> />

desempenharam um papel importantíssimo na formação educativa do ser humano<<strong>br</strong> />

(ALTHUSSER, 1998). Essa colocação põe em questão a diferenciação proposta por<<strong>br</strong> />

essa corrente.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, é preciso reconhecer que a cada um desses três grandes domínios<<strong>br</strong> />

educacionais é freqüentemente associado um conjunto determinado de instituições,<<strong>br</strong> />

sendo inclusive, com base na natureza de cada uma que se diferencia, muitas vezes, o<<strong>br</strong> />

formal do não-formal. É o caso, por exemplo, da definição de Coombs (1975). Como<<strong>br</strong> />

vimos, para esse autor, tanto nos âmbitos formais como nos não-formais, há uma<<strong>br</strong> />

preocupação com o método, sendo as duas organizadas e sistematizadas. O que as<<strong>br</strong> />

diferencia, assim, não parece ser nem sua organização, nem a intencionalidade, mas,<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>etudo, as instituições por trás de cada prática.<<strong>br</strong> />

Entretanto, pode-se perceber que esse não é o único critério presente na definição de<<strong>br</strong> />

Coombs (1975) ou de Afonso (1989). Ainda que o conhecimento so<strong>br</strong>e se a instituição é<<strong>br</strong> />

escolar ou não seja importante para separar o formal do não-formal, a conceituação<<strong>br</strong> />

proposta por eles também considera a natureza dos processos educativos que ocorrem<<strong>br</strong> />

em uma ou outra esfera e podem admitir, assim, a presença de atividades não-formais<<strong>br</strong> />

em cenários formais e vice-versa. Por essa definição, dizer que o tipo de educação<<strong>br</strong> />

ministrada pela escola é majoritariamente formal não implica automaticamente que<<strong>br</strong> />

todas as atividades que ali se desenvolvem também o sejam. A natureza das atividades,<<strong>br</strong> />

os métodos, a estrutura também contam decisivamente para classificar a atividade, a<<strong>br</strong> />

despeito da instituição que a implemente. O que se percebe, assim, é que ainda que o<<strong>br</strong> />

critério de institucionalização seja importante, ele não pode reinar absoluto, ou seja, é<<strong>br</strong> />

necessário que se apóie em outros indicadores ligados às características do processo<<strong>br</strong> />

educativo para caracterizar cada atividade com propriedade.<<strong>br</strong> />

Talvez uma maneira interessante de resolver esse dilema encontre suas bases na<<strong>br</strong> />

interpretação proposta por La Belle. Diante da dificuldade de se distinguir entre os três<<strong>br</strong> />

tipos de educação, La Belle sugere que eles não sejam considerados como entidades<<strong>br</strong> />

separadas, mas sim como modalidades predominantes, que apresentam-se em maior ou<<strong>br</strong> />

menor concentração em determinado contexto. Mais precisamente, um processo<<strong>br</strong> />

educativo, nessa visão, pode reunir predominantemente características de uma das três<<strong>br</strong> />

áreas, mas também congregar elementos das outras duas em menor concentração. É<<strong>br</strong> />

comum que a escola, por exemplo, apesar de apresentar pontos reconhecidamente


pertencentes à educação formal, organize atividades extra-curriculares (não-formais) e<<strong>br</strong> />

gere processos de interação e aprendizagem informais, tais como a interlocução com a<<strong>br</strong> />

família ou com base em tecnologias da informação e comunicação (informais) (LA<<strong>br</strong> />

BELLE, 1982, p. 44).<<strong>br</strong> />

A classificação é dada, então, pela predominância de um tipo de atividade e não<<strong>br</strong> />

necessariamente pela instituição que a ministra, admitindo-se a existência de práticas<<strong>br</strong> />

não-formais ou informais na escola e vice-versa. Por essa visão, ainda que o mesmo<<strong>br</strong> />

conjunto de instituições seja repetidamente associado a um único grande domínio da<<strong>br</strong> />

educação, essa classificação não é dada a priori. Faz-se necessário direcionar o olhar<<strong>br</strong> />

para suas características processuais, suas atividades, metodologias e critérios.<<strong>br</strong> />

Essa postura é endossada por Libâneo, conforme podemos extrair da seguinte colocação<<strong>br</strong> />

Na escola, são práticas não-formais as atividades extra-escolares (feiras,<<strong>br</strong> />

visitas, etc.) que provêem conhecimentos complementares, em conexão com<<strong>br</strong> />

a educação formal. Uma associação de bairro, instância de educação nãoformal,<<strong>br</strong> />

poderá reunir as mães, durante três dias, para um curso so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

importância do aleitamento materno, onde se terão objetivos explícitos,<<strong>br</strong> />

conteúdos, métodos de ensino, procedimentos didáticos, que são<<strong>br</strong> />

características da educação formal (LIBÂNEO, 1999, p. 89).<<strong>br</strong> />

Por outro lado, conforme mencionado, da mesma maneira que em certos momentos a<<strong>br</strong> />

educação não-formal pode se aproximar mais da educação formal no que se refere a<<strong>br</strong> />

suas características internas, em outros, ela se vale de elementos normalmente<<strong>br</strong> />

pertencentes à esfera informal e se afasta definitivamente dos parâmetros formais.<<strong>br</strong> />

Para Trilla, a educação não-formal tem lugar mediante procedimentos ou instâncias que<<strong>br</strong> />

rompem com quaisquer das determinações que habitam a natureza da escola (2008, p.<<strong>br</strong> />

39). Seriam elas, por exemplo, a fixação rígida e praticamente imutável de tempo e<<strong>br</strong> />

espaço, a separação institucional de papéis hierárquicos e assimétricos, como<<strong>br</strong> />

professor/aluno; a definição antecipada do currículo, com todos seus elementos, e da<<strong>br</strong> />

proposta pedagógica; o amparo legal da jurisdição nacional e o ordenamento por<<strong>br</strong> />

diretrizes e resoluções governamentais; a abstração dos conteúdos dos locais em que os<<strong>br</strong> />

fenômenos ocorrem. Em suma, “quando se fala em metodologias não-formais, o que se<<strong>br</strong> />

quer dar a entender é que se trata de procedimentos que, com maior ou menor<<strong>br</strong> />

radicalismo, se distanciam das formas canônicas ou convencionais da escola” (Idem, p.<<strong>br</strong> />

40).<<strong>br</strong> />

Ao passo que se afasta da escola, a educação não-formal invariavelmente acerca-se das<<strong>br</strong> />

práticas informais de educação. Ambas são caracterizadas, por exemplo, por uma ampla


flexibilidade no que se refere à organização do tempo e espaço, que nesse âmbito<<strong>br</strong> />

parecem ganhar nova conotação. Tanto num caso como no outro, a maioria delas não<<strong>br</strong> />

depende de intervalos rígidos e pré-fixados de tempo, nem estão condicionadas a<<strong>br</strong> />

localizações geográficas específicas. Assim ocorre, por exemplo, com o ensino à<<strong>br</strong> />

distância, que revoluciona as concepções de tempo e espaço no âmbito da aprendizagem<<strong>br</strong> />

não-formal, ou com a Internet, que oferece múltiplas oportunidades para o ensino<<strong>br</strong> />

informal e para a auto-aprendizagem. A relativização de tempo e espaço na educação<<strong>br</strong> />

não-formal fica clara pelo seguinte extrato de Gohn:<<strong>br</strong> />

As categorias de espaço e tempo também têm novos elementos na educação não-formal porque<<strong>br</strong> />

usualmente o tempo da aprendizagem não é fixado a priori e são respeitadas as diferenças<<strong>br</strong> />

existentes para a absorção e reelaboração dos conteúdos, implícitos ou explícitos, no processo de<<strong>br</strong> />

ensino-aprendizagem. Como existe a flexibilidade no estabelecimento dos conteúdos, segundo os<<strong>br</strong> />

objetivos do grupo, a forma de operacionalizar estes conteúdos também tem diferentes<<strong>br</strong> />

dimensões em termos de sua operacionalização. Assim, o espaço também é algo criado e<<strong>br</strong> />

recriado segundo os modos de ação previstos nos objetivos maiores que dão sentido ao fato de<<strong>br</strong> />

determinado grupo social se reunir (GOHN, 1999, p. 101).<<strong>br</strong> />

O mesmo ocorre com os elementos curriculares. Diferentemente da escola, a educação<<strong>br</strong> />

não-formal não costuma definir seus conteúdos, ementas, cronogramas, metodologias,<<strong>br</strong> />

avaliações e demais elementos curriculares previamente. Às vezes sequer chegam a<<strong>br</strong> />

positivá-los, embora tenham consciência so<strong>br</strong>e quais seriam eles. E se o fazem,<<strong>br</strong> />

freqüentemente envolvem os próprios sujeitos da aprendizagem nas decisões quanto às<<strong>br</strong> />

formas e conteúdos, de modo a garantir que os temas tenham relevância e sentido para<<strong>br</strong> />

os que interagem nesses meios. Tais opções são comumente revisadas, questionadas,<<strong>br</strong> />

alteradas ao longo do percurso educativo e não por outro motivo essa modalidade<<strong>br</strong> />

educacional é também chamada de educação aberta, de ensino não-convencional. No<<strong>br</strong> />

que se refere à educação informal, dificilmente as práticas que ali ocorrem chegam a<<strong>br</strong> />

tomar por base elementos curriculares ou a valer-se de teorias pedagógicas. Mas ainda<<strong>br</strong> />

quando os objetivos são claros, é comum que também adaptem suas estratégias em<<strong>br</strong> />

função da reação e da receptividade de seus mem<strong>br</strong>os, estando suas decisões de toda<<strong>br</strong> />

natureza sujeitas à constante revisão.<<strong>br</strong> />

As relações no âmbito da educação não-formal e informal são normalmente menos<<strong>br</strong> />

hierárquicas, evitando distribuir funções por uma lógica vertical imutável, entre os que<<strong>br</strong> />

sabem e os que não sabem, como nos casos de educação formal que ainda seguem os<<strong>br</strong> />

moldes da educação bancária (FREIRE, 2005, pp. 65-87). Os papéis não são sempre<<strong>br</strong> />

pré-estabelecidos e freqüentemente são intercambiáveis em cada atividade e em cada<<strong>br</strong> />

contexto. É com base nesse raciocínio, por exemplo, que os educadores dos contextos


não formais preferem chamar-se facilitadores, ao invés de professores. Essa<<strong>br</strong> />

verticalidade tem sido muito questionada dentro da escola e abordagens mais<<strong>br</strong> />

horizontais pouco a pouco passaram a permear esse espaço, so<strong>br</strong>etudo a partir das<<strong>br</strong> />

contribuições de abordagens construtivistas. De qualquer maneira, a figura que se tem<<strong>br</strong> />

da escola hoje ainda encontra-se fortemente atrelada à distribuição de funções<<strong>br</strong> />

hierarquizadas e enrijecidas e a metodologias de ensino tradicionais.<<strong>br</strong> />

Ademais, a educação não-formal se assemelha à informal ao não contar com uma<<strong>br</strong> />

legislação específica que determine seu escopo e que lhe atribua responsabilidades<<strong>br</strong> />

fixas, dentro de prazos determinados. Assim sendo, tanto uma como a outra permanece<<strong>br</strong> />

à margem do organograma do sistema educacional graduado e hierarquizado (TRILLA,<<strong>br</strong> />

2008, p. 40), dividido em diferentes níveis aos quais se atribuem diplomas específicos.<<strong>br</strong> />

Tampouco dependem de certificação ou de avaliações, ainda que isso possa ocorrer em<<strong>br</strong> />

alguns casos. O que é formal, oficial, por definição demanda um amparo legal e<<strong>br</strong> />

disposições administrativas governamentais, que ao mesmo tempo em que o protege<<strong>br</strong> />

também co<strong>br</strong>a dele posturas e o seguimento de diretrizes.<<strong>br</strong> />

Esse fator tem extrema importância do ponto de vista político. A aprovação de<<strong>br</strong> />

legislação so<strong>br</strong>e uma área específica imediatamente gera responsabilidades estatais para<<strong>br</strong> />

com o seu trato, se não sob forma de execução das ações ali prescritas, pelo menos no<<strong>br</strong> />

que se refere a sua fiscalização e à avaliação. Assim, ao estarem desprovidas de um<<strong>br</strong> />

aparato legal que as respalde e as proteja, tanto a educação não-formal quanto à<<strong>br</strong> />

informal acabam ficando à margem do que é considerado como responsabilidade<<strong>br</strong> />

governamental, o que se reflete diretamente na distribuição de recursos, em apoios<<strong>br</strong> />

financeiros e políticos e a priorização de ações por parte dos programas nacionais e das<<strong>br</strong> />

políticas públicas de maneira geral. Essa é uma das preocupações compartilhadas pelos<<strong>br</strong> />

defensores da Pedagogia Social como uma maneira de conferir maior reconhecimento<<strong>br</strong> />

político, jurídico e acadêmico desse campo de ação tal qual a educação não-formal,<<strong>br</strong> />

como veremos adiante.<<strong>br</strong> />

Por fim, menciona-se a habilidade da educação não-formal, bem como da informal, em<<strong>br</strong> />

produzir situações educativas que tenham lugar no ambiente em que os fenômenos<<strong>br</strong> />

objeto da aprendizagem ocorrem. A escola também pode valer-se esporadicamente<<strong>br</strong> />

desse recurso, por exemplo, ao levar as crianças a museus ou a parques para demonstrar<<strong>br</strong> />

fenômenos físicos, químicos ou biológicos. Mas fato é que devido a restrições de tempo<<strong>br</strong> />

e espaço e à burocracia que normalmente acompanha essas atividades, tais recursos


acabam sendo menos freqüentes do que talvez a própria escola gostaria. A educação<<strong>br</strong> />

não-formal, em contrapartida, muitas vezes tem como ambiente de atuação os próprios<<strong>br</strong> />

contextos em que esses fenômenos ocorrem. Instituições voltadas para a educação<<strong>br</strong> />

ambiental, por exemplo, costumam organizar suas atividades em ambientes externos,<<strong>br</strong> />

onde podem demonstrar com maior facilidade o funcionamento de certos processos.<<strong>br</strong> />

Como se vê, a educação não-formal pode compartilhar características tanto com o setor<<strong>br</strong> />

formal como do setor informal, a depender do indicador que se adote. A figura seguinte<<strong>br</strong> />

talvez possa fornecer uma representação gráfica útil para entender essas interconexões e<<strong>br</strong> />

para sintetizar a discussão que temos desenvolvido so<strong>br</strong>e esse tema.<<strong>br</strong> />

Figura 1 - Delimitação conceitual entre educação formal, não-formal e informal.<<strong>br</strong> />

A maneira pela qual esses três grandes domínios se definem, como vimos, de forma<<strong>br</strong> />

muitas vezes entrecruzada e porosa, sugerem diversas formas de interação e atividades<<strong>br</strong> />

que podem ser compartilhadas entre uma e outra área sem prejuízo de suas propriedades<<strong>br</strong> />

fundamentais. De fato, como alerta Libâneo, muitas vezes é mais fácil compreendê-las<<strong>br</strong> />

em suas interpenetrações do que nas delimitações nem sempre evidentes. Na verdade,<<strong>br</strong> />

conforme atenta Trilla, “se não existisse essa interdependência dos efeitos educacionais<<strong>br</strong> />

produzidos nos diversos ambientes, a própria eficácia formativa de cada um deles seria<<strong>br</strong> />

posta em questão” (TRILLA, 2008, p. 45).<<strong>br</strong> />

Em realidade, a própria diferenciação entre educação formal e não-formal e a validação<<strong>br</strong> />

desse último conceito têm sido revisadas e questionadas, principalmente pela<<strong>br</strong> />

comunidade acadêmica <strong>br</strong>asileira. Conforme nos indica o prefácio da primeira<<strong>br</strong> />

publicação <strong>br</strong>asileira so<strong>br</strong>e a Pedagogia Social (SILVA et al., 2009), a denominação


educação não-formal pode, de certa maneira, levar (ou reafirmar) à marginalização de<<strong>br</strong> />

suas atividades e vinculá-la ao atendimento de grupos específicos, em situação de<<strong>br</strong> />

vulnerabilidade social. Para esses autores, tal denominação oculta ou favorece uma forte<<strong>br</strong> />

dicotomia entre os dois grandes contextos em que ocorre a educação e coloca num<<strong>br</strong> />

mesmo frasco, práticas de naturezas e propósitos tão distintos.<<strong>br</strong> />

Citadas por muitos autores como campo preferencial de atuação da<<strong>br</strong> />

Pedagogia Social, parece-nos que as ricas e diversificadas práticas educativas<<strong>br</strong> />

que se convencionou arrolar sob o rótulo de educação não-formal foram<<strong>br</strong> />

despidas de suas conotações históricas, políticas e ideológicas. Sob o mesmo<<strong>br</strong> />

rótulo de educação não-formal são relacionadas manifestações do espírito<<strong>br</strong> />

humano, formação para o trabalho e preparação para o exercício da<<strong>br</strong> />

cidadania, como se todas comungassem dos mesmos propósitos, adotassem<<strong>br</strong> />

como fundamentos as mesmas matrizes teóricas e fossem ministradas<<strong>br</strong> />

segundo as mesmas técnicas e metodologias (SILVA et al., 2009, p. 289).<<strong>br</strong> />

Ao colocar o mundo chamado formal e não-formal em oposição, pode-se a<strong>br</strong>ir margem<<strong>br</strong> />

para uma idéia de competitividade entre dois domínios que possuem, na verdade, um<<strong>br</strong> />

enorme potencial colaborativo. E o que é ainda mais grave, a utilização do termo pode<<strong>br</strong> />

chegar a induzir a uma conotação negativa ao que se entende por não-formal, ou seja, o<<strong>br</strong> />

não-oficial e, consequentemente, o não-estatal, isentando assim certos atores de<<strong>br</strong> />

responsabilidades sérias e indispensáveis para com esse contexto educativo. A educação<<strong>br</strong> />

não-formal invariavelmente acabaria ocupando, assim, uma posição secundária, ou<<strong>br</strong> />

mesmo marginalizada em relação às estratégias escolares.<<strong>br</strong> />

Obviamente, essa é apenas uma das visões. Gohn (1999), uma das principais autoras a<<strong>br</strong> />

introduzir o debate so<strong>br</strong>e a educação não-formal no contexto <strong>br</strong>asileiro, propõe uma<<strong>br</strong> />

definição mais ampla desse conceito. Para ela, a educação não-formal se subdivide em<<strong>br</strong> />

algumas sub-áreas de a<strong>br</strong>angência: a conscientização so<strong>br</strong>e direitos, a capacitação para o<<strong>br</strong> />

trabalho, a resolução de problemas comunitários, os conteúdos comumente abordados<<strong>br</strong> />

pela escola, a educação midiática e a educação para a arte de bem viver. Essa visão<<strong>br</strong> />

parece ir além da compreensão da educação não-formal como aquela destinada<<strong>br</strong> />

exclusivamente ao atendimento setores marginais da população, sendo distinta também<<strong>br</strong> />

da vertente que prefere adotar uma visão mais estrutural do não-formal, equiparando-o<<strong>br</strong> />

basicamente ao local onde a educação é desenvolvida (TRILLA, 2008). Segundo a<<strong>br</strong> />

autora, uma das premissas básicas da educação não-formal é que a aprendizagem se dá<<strong>br</strong> />

por meio da prática social, ou seja, somente por meio da interação social as pessoas<<strong>br</strong> />

tornam-se capazes de gerar e acumular aprendizados, construídos no seio de grupos (p.<<strong>br</strong> />

104). Essa colocação, independente de qual conotação infira de educação não-formal,<<strong>br</strong> />

vem a somar-se com as contribuições da Pedagogia Social ao ressaltar as correlações


entre a educação e as práticas sociais, independentemente do termo que se decida adotar<<strong>br</strong> />

para referir-se às práticas educacionais realizadas fora da escola.<<strong>br</strong> />

No presente texto, contudo, manteremos o uso do termo educação social para nos<<strong>br</strong> />

remetermos às práticas educacionais relacionadas ao desenvolvimento social do<<strong>br</strong> />

indivíduo e educação não-formal para fazer referência às práticas educacionais<<strong>br</strong> />

institucionalizadas e intencionais realizadas fora da escola, ou seja, uma definição mais<<strong>br</strong> />

relacionada com o local onde se desenvolvem as práticas do que com a natureza da ação<<strong>br</strong> />

ali desenvolvida 2 . De acordo com essa definição pode haver ocorrências da educação<<strong>br</strong> />

social tanto dentro da educação formal como da educação formal, a depender do<<strong>br</strong> />

contexto em que se desenrole, respectivamente, dentro e fora da escola, como veremos<<strong>br</strong> />

em seguida.<<strong>br</strong> />

O reconhecimento da educação social<<strong>br</strong> />

A preocupação em recuperar esse escopo mais holístico da educação foi o grande<<strong>br</strong> />

leitmotiv que inspirou o surgimento da Pedagogia Social, vertente pedagógica já de<<strong>br</strong> />

grande tradição histórica em países europeus, mas que apenas recentemente tem<<strong>br</strong> />

permeado a cena educacional <strong>br</strong>asileira. Segundo Hans-Uwe, essa corrente científica<<strong>br</strong> />

originou-se como uma crítica à educação focada exclusivamente no desenvolvimento<<strong>br</strong> />

individual, sem se considerar as dimensões sociais da existência humana (HANS-UWE,<<strong>br</strong> />

2009, p. 25), so<strong>br</strong>e as quais, conforme vimos, soerguem-se os pilares educacionais. Para<<strong>br</strong> />

a Pedagogia Social, à educação cabe fortalecer os processos de autoconhecimento,<<strong>br</strong> />

autoestima, autodidatismo, conscientização e transformação tanto dos indivíduos como<<strong>br</strong> />

da sociedade (KURKI, 2006 apud RYYNÄNEN, p. 63). Conforme pondera Luzuriaga,<<strong>br</strong> />

um dos autores dessa corrente, se é verdade que há uma relação simbiótica entre<<strong>br</strong> />

educação e sociedade, é também verdadeiro que o objeto de ambas é o ser humano em<<strong>br</strong> />

sua personalidade individual. “Daí a estreita correlação entre a Pedagogia Social e a<<strong>br</strong> />

Pedagogia Individual” (LUZURIAGA, 1960, P. 7).<<strong>br</strong> />

2 Essa compreensão se aproxima do critério estrutural sugerido por Trilla: “entendemos por<<strong>br</strong> />

educação não-formal o conjunto de processos, meios e instituições específica e diferenciadamente<<strong>br</strong> />

concebidos em função de objetivos explícitos de formação ou instrução não diretamente voltados à<<strong>br</strong> />

outorga dos graus próprios do sistema educacional regrado” (TRILLA, 2008, p. 42)


Os objetivos daquela, no entanto, focam-se so<strong>br</strong>e essa segunda vocação, ou seja,<<strong>br</strong> />

interessa-se pela dimensão social da personalidade e das relações entre os indivíduos:<<strong>br</strong> />

“ela educa para a participação social” (RYYNÄNEN, 2009, p. 63).<<strong>br</strong> />

A ótica da Pedagogia Social parece mesmo estar concentrada nos processos<<strong>br</strong> />

conexos com a socialização dos indivíduos, com o desenvolvimento da<<strong>br</strong> />

identidade, com a formação da personalidade humana e com os<<strong>br</strong> />

condicionamentos que os diversos contextos impõem à formação de atitudes,<<strong>br</strong> />

valores e crenças. Nesse sentido, está ligada de modo particular às<<strong>br</strong> />

necessidades humanas de sujeitos sociais contextualizados (CALIMAN,<<strong>br</strong> />

2009, p. 54).<<strong>br</strong> />

Mais que isso, a Pedagogia Social serviria para o próprio fomento de estratégias de<<strong>br</strong> />

desenvolvimento pessoal por vias sociais, com vistas ao empoderamento do indivíduo<<strong>br</strong> />

para que os efeitos de sua intervenção sejam duradouros ao longo do tempo e para<<strong>br</strong> />

permitir sua plena integração no meio social em que vive (CASTELEIRO, 2009, p. 86-<<strong>br</strong> />

87).<<strong>br</strong> />

Seus primeiros teóricos tinham a intenção de construir uma teoria adicional para<<strong>br</strong> />

complementar o que chamavam de pedagogia individual exercida pela escola, conforme<<strong>br</strong> />

ponderavam seus críticos, com vistas a ampliar o escopo educacional e englobar<<strong>br</strong> />

práticas desenvolvidas também em outros setores que os não-escolares. Assim, essa<<strong>br</strong> />

vertente parte do princípio de que é possível influenciar circunstâncias sociais por meio<<strong>br</strong> />

da educação e adota como diretriz o preceito de confrontar pedagogicamente as aflições<<strong>br</strong> />

sociais tais como a po<strong>br</strong>eza, a exclusão, o abandono, entre outros. Desde o seu<<strong>br</strong> />

surgimento, portanto, ainda quando era ainda fortemente vinculada ao assistencialismo e<<strong>br</strong> />

ao atendimento a setores marginais, a Pedagogia Social se propunha a desvelar os<<strong>br</strong> />

fenômenos que se desenrolavam no universo da educação não-formal, que eles preferem<<strong>br</strong> />

reconceituar como educação social.<<strong>br</strong> />

A educação social seria então o aspecto da educação integral do ser humano que tende a<<strong>br</strong> />

preparar a criança, o adolescente, o jovem ou o adulto para uma convivência com seus<<strong>br</strong> />

pares, que elimine ou reduza os atritos e conflitos, capacitando-o para a compreensão<<strong>br</strong> />

dos demais, para o diálogo construtivo e para a paz (MAILLO,1971, p. 12 apud<<strong>br</strong> />

QUINTANA, 1974, p. 28). Essa definição, no entanto, ainda permanece muito abstrata<<strong>br</strong> />

e a<strong>br</strong>angente. Para lapidá-la, recorremos aos critérios oferecidos por Trilla 3 , importante<<strong>br</strong> />

3 Assim como Trilla, outros teóricos da Pedagogia Social especificam a educação social de outras<<strong>br</strong> />

maneiras. Garrido, por exemplo, sugere quatro dimensões para compreender a educação social: (1) o meio<<strong>br</strong> />

onde se desenvolve – a sociedade; (2) a transmissão de valores educativos próprios de uma determinada<<strong>br</strong> />

sociedade; (3) a influência educativa da sociedade so<strong>br</strong>e o cidadão e (4) a influência do poder político<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e a vida social (GARRIDO, 1971, p. 89-91). Quintana sugere outros seis critérios, definindo-a como


teórico da Pedagogia Social espanhola, e depois a Paulo Freire, para entendermos os<<strong>br</strong> />

contornos que a Pedagogia Social tem assumido no Brasil.<<strong>br</strong> />

Para Trilla (2003, p. 15-23), a educação social pode ser entendida por meio de três<<strong>br</strong> />

acepções, das quais duas devem ser necessariamente verificadas: (a) o desenvolvimento<<strong>br</strong> />

da sociabilidade do indivíduo, (b) o atendimento a indivíduos em situação de conflito<<strong>br</strong> />

social; e (c) a educação em âmbitos não-formais.<<strong>br</strong> />

A primeira dimensão consiste precisamente na função social da educação a cujo debate<<strong>br</strong> />

nos dedicamos no início deste capítulo ao debatermos a função social da educação.<<strong>br</strong> />

Nesse eixo, a Pedagogia Social teria como objeto a educação destinada à formação<<strong>br</strong> />

social do indivíduo, ou seja, o estudo das ações que produzem efeitos educativos na<<strong>br</strong> />

esfera social da personalidade, conduzindo o ser humano à maturidade. Dizer que a<<strong>br</strong> />

Pedagogia Social se ocupa da educação social entendida segundo essa acepção não<<strong>br</strong> />

implica dizer, porém, que a formação social do indivíduo fica – ou deve ficar – sob seu<<strong>br</strong> />

monopólio. Ao contrário, conforme defendem os teóricos mais radicais – e também o<<strong>br</strong> />

terceiro grupo – toda educação é, por natureza, social, independente do meio onde se<<strong>br</strong> />

desenrola, já que é uma prática recorrente em diversas sociedades e que, ainda quando<<strong>br</strong> />

se volta para o indivíduo e para sua formação individual, presta contribuição à própria<<strong>br</strong> />

consolidação da sociedade e à sua continuidade. Ao mesmo tempo, a socialização do<<strong>br</strong> />

indivíduo não seria a única entre as facetas abordadas pela Pedagogia Social.<<strong>br</strong> />

[...] parece que o uso da expressão pedagogia social, por um lado, remete não<<strong>br</strong> />

só a intervenções educativas so<strong>br</strong>e a dimensão social da personalidade e, por<<strong>br</strong> />

outro lado, tampouco todas as intervenções educativas deste tipo costumam<<strong>br</strong> />

ser contempladas sob os prenúncios daquela disciplina pedagógica.<<strong>br</strong> />

Poderíamos dizer que o desenvolvimento da sociabilidade é um traço muito<<strong>br</strong> />

identificador do “ar de família” da pedagogia social; mas um traço que não é<<strong>br</strong> />

exclusivo dessa família nem necessariamente é compartilhado por toda a<<strong>br</strong> />

parentela (TRILLA, 2003, p. 19).<<strong>br</strong> />

Fica clara, assim, para Trilla, a necessidade de outros critérios para delinear mais<<strong>br</strong> />

precisamente o seu escopo. Assim, na segunda acepção proposta pelo autor temos a<<strong>br</strong> />

educação social como a educação voltada para indivíduos em situação de conflito<<strong>br</strong> />

social. Essa concepção se foca so<strong>br</strong>e os destinatários da ação educativa, formados por<<strong>br</strong> />

doutrina de: (1) formação social do indivíduo; (2) educação nacionalista e política do indivíduo; (3) ação<<strong>br</strong> />

educadora da sociedade; (4) assistencialismo; (5) sociologismo pedagógico; e (6) trabalho social<<strong>br</strong> />

(QUINTANA, 1997). Esses critérios não são muito menos a<strong>br</strong>angentes que o apresentado por Maillo e<<strong>br</strong> />

por isso baseamo-nos em Trilla, que nos fornece base mais concretas para a contextualização desse debate<<strong>br</strong> />

no marco das competências.


aqueles que necessitam de algum tipo de assistência educacional por encontrarem-se<<strong>br</strong> />

fora do sistema ou não terem acesso a ele. Seria o caso da educação em a<strong>br</strong>igos e<<strong>br</strong> />

prisões, educação de meninos e meninas na rua, educação em hospitais. Tal dimensão<<strong>br</strong> />

assume, dessa forma, um aspecto mais emergencial e assistencialista, ou seja, uma<<strong>br</strong> />

“pedagogia da necessidade” (TRILLA, 2003, p. 20).<<strong>br</strong> />

A terceira e última refere-se ao lócus da ação educativa: os contextos educativos não-<<strong>br</strong> />

escolares, mais precisamente, os que ele chama de não-formais. Isso implica destacar o<<strong>br</strong> />

viés da educação social que se desenrola por vias não-oficiais, ou seja, não-escolares,<<strong>br</strong> />

tais como nos movimentos sociais, nas organizações não-governamentais, nos projetos e<<strong>br</strong> />

programas sociais.<<strong>br</strong> />

Vale mencionar, novamente, que essas dimensões tampouco limitam-se entre:<<strong>br</strong> />

[...] nem o que chamamos educação não-formal se esgota no que chamamos<<strong>br</strong> />

pedagogia social nem vice-versa. Existem sub-setores da educação nãoformal<<strong>br</strong> />

que não costumam ser objeto da Pedagogia Social e há intervenções<<strong>br</strong> />

próprias dessa que não se realizam em contextos nem sob procedimentos<<strong>br</strong> />

não-formais (TRILLA, 2003, p. 22).<<strong>br</strong> />

A proposição de Trilla nos leva a compreender a educação social como um universo<<strong>br</strong> />

mais a<strong>br</strong>angente, que passa então a englobar o próprio conceito de educação não-formal,<<strong>br</strong> />

ou seja, a educação não-escolar institucionalizada, como uma de suas três manifestações<<strong>br</strong> />

possíveis. Contudo, ao perceber que nenhuma dessas acepções basta para abarcar por si<<strong>br</strong> />

mesmas o objeto da Pedagogia Social, nem tampouco a somatória ou a intersecção entre<<strong>br</strong> />

todas elas, Trilla (2003) sugere então uma alternativa para se resolver a imprecisão<<strong>br</strong> />

quanto à definição do escopo da Pedagogia Social. Segundo o uso vigente, para ele o<<strong>br</strong> />

referencial da Pedagogia Social se forma pela verificação simultânea de, no mínimo,<<strong>br</strong> />

duas das três possíveis formas de concretização da educação social. Logo, estaríamos<<strong>br</strong> />

falando de Pedagogia Social quando nos deparamos com uma das situações seguintes:<<strong>br</strong> />

(i) educação voltada à formação social do indivíduo em contexto não-formais, ou seja,<<strong>br</strong> />

fora da escola, (ii) à inclusão social dos indivíduos em situação de conflito ou (iii) a<<strong>br</strong> />

populações em conflito em contextos extraescolares.<<strong>br</strong> />

O que se percebe por essa leitura é que, embora cada um desses três pilares, ao serem<<strong>br</strong> />

definidos separadamente, de fato abarquem o conteúdo comumente compreendido como<<strong>br</strong> />

objeto de ação da educação social, nenhuma das análises combinatórias traçadas entre<<strong>br</strong> />

elas a<strong>br</strong>e espaço para as manifestações da educação social que podem ocorrer também<<strong>br</strong> />

dentro da escola. Em outras palavras, se compreendêssemos que a educação social só


estaria presente quando duas das acepções de Trilla (2008) fossem verificadas,<<strong>br</strong> />

necessariamente estaríamos vinculando a educação social aos contextos de<<strong>br</strong> />

marginalidade, ainda que a definição do autor so<strong>br</strong>e o termo se anuncie mais amplo do<<strong>br</strong> />

que esse único domínio.<<strong>br</strong> />

Diferentemente do que se pode apreender por esse viés da leitura de Trilla (2008), Paulo<<strong>br</strong> />

Freire (1973), largamente referenciado pelos europeus como teórico da Pedagogia<<strong>br</strong> />

Social, embora não tenha utilizado o termo em sua produção bibliográfica, não avaliza a<<strong>br</strong> />

percepção de que a educação social – por ele denominada educação popular – deva ser<<strong>br</strong> />

confinada apenas ao universo dos excluídos sociais. Mesmo tendo dedicado sua<<strong>br</strong> />

principal o<strong>br</strong>a – Pedagogia do Oprimido – aos "esfarrapados do mundo" (FREIRE,<<strong>br</strong> />

1977, p. 12), Freire sustenta a convicção, estruturadora de sua teoria do conhecimento,<<strong>br</strong> />

de que a educação deve libertar não apenas o oprimido, mas também o seu opressor.<<strong>br</strong> />

Essa perspectiva desafia e instiga a educação social a tornar-se uma prática libertadora,<<strong>br</strong> />

emancipatória aplicável onde quer que se constituam as relações oprimido/opressor,<<strong>br</strong> />

inclusive dentro da escola.<<strong>br</strong> />

“A nova pedagogia social” não pode reduzir seu âmbito de atuação ao<<strong>br</strong> />

tratamento dos tradicionais problemas sociais. A educação social tem de<<strong>br</strong> />

refletir também acerca de sua intervenção, onde realizá-la e se perguntar por<<strong>br</strong> />

que o faz de uma maneira e não de outra. A educação social deve a<strong>br</strong>ir novos<<strong>br</strong> />

espaços de reflexão e trabalho e, o que é mais importante, deve incidir nas<<strong>br</strong> />

causas dos problemas; deve prevenir as causas que os geram (PETRUS,<<strong>br</strong> />

2003, p. 61).<<strong>br</strong> />

Essa visão privilegia iniciativas capazes de criar espaços e possibilidades de<<strong>br</strong> />

convivência na diversidade, entre diversas culturas, diversas classes socioeconômicas,<<strong>br</strong> />

diversas realidades e visões de mundo, superando assim os “muros invisíveis”<<strong>br</strong> />

(RYYNÄNEN, 2009, p. 74) que os separam. A Pedagogia Social deixa de ser vista,<<strong>br</strong> />

assim como uma pedagogia para os excluídos, mas uma pedagogia para todos,<<strong>br</strong> />

principalmente no que se refere à sua socialização, ou seja, à sua postura e ações perante<<strong>br</strong> />

os demais. “A importância dos processos de conscientização vai muito além das classes<<strong>br</strong> />

menos favorecidas, sendo necessário alcançar as classes com poder” (RYYNÄNEN,<<strong>br</strong> />

2009, p. 74).<<strong>br</strong> />

[...] precisamos de uma Pedagogia dos direitos, so<strong>br</strong>etudo para as elites. A<<strong>br</strong> />

Pedagogia Social de rua, como parte constituinte dessa pedagogia dos<<strong>br</strong> />

direitos precisa educar também a família, o ministério público, advogados,<<strong>br</strong> />

juízes, promotores e a polícia, não só os educadores e os oprimidos<<strong>br</strong> />

(GRACIANI, 2005, p. 15).<<strong>br</strong> />

Com a desvinculação da Pedagogia Social com uma suposta vocação para o<<strong>br</strong> />

atendimento aos excluídos sociais e aos órfãos de guerras que até muito recentemente


lhe era atribuída, a corrente transformou-se em área de conhecimento que tem por<<strong>br</strong> />

objeto a educação social em todas as suas dimensões: a dimensão sociocultural, a<<strong>br</strong> />

dimensão sociopedagógica e a dimensão sociopolítica (SILVA et al., 2009, p. 309), que<<strong>br</strong> />

podem ganhar forma tanto nos âmbitos educacionais formais como nos não-formais.<<strong>br</strong> />

A dimensão sociocultural se estende pelas manifestações do espírito humano expressas<<strong>br</strong> />

pelos sentidos, tais como as artes, a cultura, a música, a dança e o esporte. O domínio<<strong>br</strong> />

sociopedagógico a<strong>br</strong>ange o desenvolvimento de habilidades e competências que<<strong>br</strong> />

permitam às pessoas o rompimento com os fatores e condições de marginalidade,<<strong>br</strong> />

violência e po<strong>br</strong>eza, voltado às áreas de exclusão social. Ela se desenvolve em a<strong>br</strong>igos,<<strong>br</strong> />

unidades de internação, asilos, instituições psiquiátricas e demais outras chamadas<<strong>br</strong> />

“instituições totais” (ADORNO, 1993), o que equivale à terceira acepção que Trilla<<strong>br</strong> />

atribui à educação social. Seu escopo sociopolítico, por fim, diz respeito à educação<<strong>br</strong> />

voltada para a educação popular, o protagonismo político e social, o cooperativismo, o<<strong>br</strong> />

associativismo, a geração de renda, entre outros. Seu objetivo é desenvolver<<strong>br</strong> />

competências para qualificar a participação social, política e econômica da comunidade<<strong>br</strong> />

onde se insere seus destinatários (SILVA e al. 2009, p. 309).<<strong>br</strong> />

Educação social dentro e fora da escola<<strong>br</strong> />

A compreensão das manifestações da educação social e das possibilidades de<<strong>br</strong> />

desenvolvimento das competências sociais está em muito ligada à verificação dos<<strong>br</strong> />

entremeios que se interpõem ao que Habermas (1984, p. 124-136) e Freire (1996, p.<<strong>br</strong> />

164) denominam "mundo da escola" e "mundo da vida". Suas colocações buscam<<strong>br</strong> />

diminuir pouco a pouco o distanciamento histórico, ou mesmo a aparente ruptura, entre<<strong>br</strong> />

um e outro domínio e o referencial teórico e metodológico da Pedagogia Social auxilia-<<strong>br</strong> />

nos a compreender melhor essas esferas e, principalmente, as intersecções desses dois<<strong>br</strong> />

mundos.<<strong>br</strong> />

A concepção freiriana de mundo da vida foi originalmente desenvolvida em uma<<strong>br</strong> />

entrevista a Ira Shor, em que analisava as perspectivas da educação nos Estados Unidos,<<strong>br</strong> />

com as seguintes palavras:<<strong>br</strong> />

Tenho a impressão de que uma das principais dificuldades é uma dicotomia<<strong>br</strong> />

que existe na experiência educacional dos EUA. Refiro-me à dicotomia entre<<strong>br</strong> />

ler as palavras e ler o mundo. Vejo isso como um dos principais obstáculos,<<strong>br</strong> />

aqui nos EUA, para se praticar a educação libertadora, procurando captar<<strong>br</strong> />

criticamente o objeto de estudo. O que é que eu quero dizer com dicotomia


entre ler as palavras e ler o mundo? Minha impressão é que o mundo da<<strong>br</strong> />

educação norte-americana, a escola, está aumentando a distância entre as<<strong>br</strong> />

palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo<<strong>br</strong> />

da leitura é só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado,<<strong>br</strong> />

isolado do mundo onde vivemos experiências so<strong>br</strong>e as quais não lemos. Esse<<strong>br</strong> />

mundo escolar, onde lemos palavras que cada vez menos se relacionam com<<strong>br</strong> />

nossa experiência concreta exterior, tem-se tornado cada vez mais<<strong>br</strong> />

especializado, no mau sentido da palavra. Ao ler palavras, a escola se torna,<<strong>br</strong> />

um lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não<<strong>br</strong> />

as “palavras da realidade”. O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da<<strong>br</strong> />

vida, o mundo no qual os eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o<<strong>br</strong> />

mundo da discriminação e da crise econômica (todas essas coisas estão aí.),<<strong>br</strong> />

não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a<<strong>br</strong> />

escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma<<strong>br</strong> />

espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola<<strong>br</strong> />

mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da<<strong>br</strong> />

experiência é silenciado, sem seus textos críticos próprios, circunscrevendo a<<strong>br</strong> />

primeira a uma "educação bancária" e a segunda a uma educação po<strong>br</strong>e para<<strong>br</strong> />

pessoas po<strong>br</strong>es (FREIRE e SHOR, 1986, p. 85).<<strong>br</strong> />

O que se pode apreender por essa crítica de Freire é que há uma necessidade clara de se<<strong>br</strong> />

aproximar os conteúdos ensinados na escola e a realidade prática com a qual os alunos<<strong>br</strong> />

são confrontados quando dela saem. Na verdade, a sugestão indica, mais bem, que<<strong>br</strong> />

crianças e adolescentes, jovens e adultos não deveriam ter de esperar desvincularem-se<<strong>br</strong> />

de suas instituições formais de educação – seja a escola, seja a EJA, seja as<<strong>br</strong> />

universidades ou instituições de ensino técnico – para se depararem com os desafios da<<strong>br</strong> />

prática cotidiana onde deverão aplicar esses conhecimentos. Cabe ao currículo e demais<<strong>br</strong> />

elementos escolares incorporá-los, esmiuçá-los, sugerir a reflexão crítica so<strong>br</strong>e eles e,<<strong>br</strong> />

mais que isso, oferecer aos seus beneficiários a vivência prática dos conceitos e<<strong>br</strong> />

conteúdos debatidos. Em resumo, tem se co<strong>br</strong>ado da escola oferecer aos seus alunos<<strong>br</strong> />

uma vivência “práxica” (RYYNÄNEN, 2009), desafio que curiosamente concentra as<<strong>br</strong> />

possíveis soluções em espaços alheios a ela.<<strong>br</strong> />

Daí a sugestão de se buscar na Pedagogia Social, ciência por natureza voltada para a<<strong>br</strong> />

compreensão social em todos os seus domínios, algumas respostas que a escola não tem<<strong>br</strong> />

conseguido processar de maneira autônoma e isolada. O referencial teórico e<<strong>br</strong> />

metodológico desse campo possibilita configurar de forma muito objetiva os saberes e<<strong>br</strong> />

as competências necessários tanto ao mundo da escola quanto ao mundo da vida e que<<strong>br</strong> />

têm suscitado algumas primeiras experiências de complementaridade entre as duas.<<strong>br</strong> />

Pode-se dizer que as propostas recentes de reforma da estrutura escolar têm apontado<<strong>br</strong> />

para uma abertura progressiva à educação social e que as práticas desenvolvidas em<<strong>br</strong> />

contextos alheios à escola podem passar a permear as práticas educacionais escolares,<<strong>br</strong> />

contribuindo para o aprimoramento da qualidade da educação oferecida ali e também<<strong>br</strong> />

fora dela.


Dizer que a educação social é o campo de especialização das práticas educativas<<strong>br</strong> />

institucionalizadas que se desenrolam fora da escola e objeto central da Pedagogia<<strong>br</strong> />

Social não implica defender que esse é o único domínio onde ela se desenvolve, nem<<strong>br</strong> />

dizer que se desenvolve melhor nessas esferas. Ao contrário, a educação social enquanto<<strong>br</strong> />

formadora de um indivíduo para a prática da liberdade, dos direitos individuais e para a<<strong>br</strong> />

vida em sociedade, não apenas encontra na escola um ambiente fértil para sua<<strong>br</strong> />

realização, mas consiste em um dos seus pilares principais. Mais precisamente, se a<<strong>br</strong> />

educação social já não pode mais ser vista como um universo exclusivamente dedicado<<strong>br</strong> />

às populações marginalizadas, ao entendê-la como a preparação do indivíduo para a<<strong>br</strong> />

vida em sociedade, temos claro que ela não apenas é abordada pela pedagogia escolar,<<strong>br</strong> />

como efetivamente constitui uma das funções primordiais da escola pública <strong>br</strong>asileira.<<strong>br</strong> />

Se por um lado, contudo, é possível afirmar que a educação social é mais bem<<strong>br</strong> />

desenvolvida em âmbitos não-escolares, não podemos deixar de assumir que tal é a<<strong>br</strong> />

principal função da educação desenvolvida nesses contextos. Historicamente, os<<strong>br</strong> />

contextos extraescolares têm sido considerados como o lócus central de<<strong>br</strong> />

desenvolvimento dos contextos não-formais de ensino e aprendizagem e pode-se dizer<<strong>br</strong> />

que esta constitui a sua vantagem comparativa, ou seja, sua especialidade entre todas as<<strong>br</strong> />

funções que pode vir a desempenhar 4 . Tanto que por muito tempo, como vimos, a<<strong>br</strong> />

educação esteve atrelada à ideia de educação em contextos hostis e marginalizados e<<strong>br</strong> />

apenas ultimamente essa inter-relação tem começado a ser questionada. Fato é que a<<strong>br</strong> />

experiência secular das práticas não formais muito tem contribuído para a concretização<<strong>br</strong> />

do que viemos entendendo por educação social e para a própria consolidação do<<strong>br</strong> />

conceito. Dessas experiências históricas podem surgir inspirações para a solução dos<<strong>br</strong> />

desafios contra os quais as escolas, e a educação de maneira geral, têm sido<<strong>br</strong> />

contrastadas.<<strong>br</strong> />

Observa-se, dessa maneira, que o lócus de desenvolvimento da educação social e,<<strong>br</strong> />

consequentemente, das competências sociais, pode variar muito, mas sua diferenciação<<strong>br</strong> />

não necessariamente precisa seguir o critério escolar ou não-escolar. De maneira mais<<strong>br</strong> />

precisa, quaisquer dos domínios educacionais que se considere possuem manifestações<<strong>br</strong> />

4 O conceito de vantagem comparativa sugere uma comparação consigo mesmo, ou seja, indica o<<strong>br</strong> />

que uma instituição, organização ou país é capaz de fazer de melhor em relação às outras funções que lhe<<strong>br</strong> />

cabem desempenhar. A comparação não é, portanto, externa nem relativa a terceiros. Neste caso, esse<<strong>br</strong> />

conceito extraído da economia serve a indicar não que os contextos não-formais podem implementar<<strong>br</strong> />

melhor a educação social do que a escola, mas sim que é o que faz de melhor entre todas as tarefas sob<<strong>br</strong> />

sua alçada e so<strong>br</strong>e a qual, justamente por isso, tem se especializado.


explícitas da educação social, embora os setores não-formais tendam a concentrar-se<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e essas práticas e tenham sido mais referenciados como espaços privilegiados para<<strong>br</strong> />

seu desenvolvimento.<<strong>br</strong> />

A partir dessa reflexão, podemos aprofundar a própria definição de educação social.<<strong>br</strong> />

Conforme vimos, se a educação social e o desenvolvimento das competências sociais<<strong>br</strong> />

podem se dar tanto em âmbitos formais como não formais, pode-se dizer que a<<strong>br</strong> />

educação social passa a constituir-se como a própria intersecção entre o mundo da<<strong>br</strong> />

escola e o mundo da vida e, enquanto tal, um instrumento privilegiado para se analisar<<strong>br</strong> />

as interdependências e trabalhar as conexões possíveis e necessárias entre esses dois<<strong>br</strong> />

domínios.<<strong>br</strong> />

As educações formais, não-formais e informais, o escolar e o social, estão<<strong>br</strong> />

cada vez mais entremeados, o que tem muito de positivo. Por isso, já não<<strong>br</strong> />

valem certos maniqueísmos, típicos em seu momento, do ar de família da<<strong>br</strong> />

educação social (TRILLA, 2003, p. 43).<<strong>br</strong> />

Muitas das propostas que emergem em reação à crise da escola apontavam justamente<<strong>br</strong> />

que grande parte das respostas para o fortalecimento dos pilares da escola revelava-se<<strong>br</strong> />

nas práticas educativas existentes fora dela e que suas chances de sucesso cresciam ao<<strong>br</strong> />

passo que se a<strong>br</strong>iam oportunidades para o intercâmbio entre esses ricos universos de<<strong>br</strong> />

aprendizagem. Conforme pondera o próprio Ministério da Educação <strong>br</strong>asileiro,<<strong>br</strong> />

A reaproximação entre a escola e a vida representa um desafio enfrentado por<<strong>br</strong> />

muitos educadores em diferentes tempos e, pelo menos, desde o advento da<<strong>br</strong> />

institucionalização da escola o<strong>br</strong>igatória, laica, gratuita, universal e<<strong>br</strong> />

controlada pelo Estado, fortemente influenciado pelo desenvolvimento da<<strong>br</strong> />

ciência moderna. [...] Ao se enfrentar a distância que hoje caracteriza as<<strong>br</strong> />

relações entre escola e comunidade é que se pode ampliar a dimensão das<<strong>br</strong> />

experiências educadoras na vida dos estudantes, promovendo a qualificação<<strong>br</strong> />

da educação pública <strong>br</strong>asileira. Para isso, as diversas experiências<<strong>br</strong> />

comunitárias precisam estar articuladas aos principais desafios enfrentados<<strong>br</strong> />

por estudantes e professores. Quando a escola compartilha a sua<<strong>br</strong> />

responsabilidade pela educação, ela não perde seu papel de protagonista,<<strong>br</strong> />

porque sua ação é necessária e insubstituível, porém não é suficiente para dar<<strong>br</strong> />

conta da tarefa da educação integral (MEC, 2009, p. 32).<<strong>br</strong> />

Essa linha nos sugere que talvez o êxito escolar dependa justamente da medida em que a<<strong>br</strong> />

escola seja capaz de fortalecer em sua estrutura e em sua pedagogia a capacidade de<<strong>br</strong> />

desenvolver a educação social em sua função socializante. Ou seja, pode ser que o<<strong>br</strong> />

sucesso da escola em cumprir com os novos encargos que lhe têm sido atribuídos e de<<strong>br</strong> />

dar conta da invasão ou retorno do social dependa diretamente de sua abertura para a<<strong>br</strong> />

incorporação ou a revitalização da educação social em todas as suas atividades, intra ou<<strong>br</strong> />

extra-classe. Conclui nesse sentido Libâneo (2005, p. 89),


É preciso superar duas visões estreitas do sistema educativo: uma, que o<<strong>br</strong> />

reduz à escolarização, outra que quer sacrificar a escola ou minimizá-la em<<strong>br</strong> />

favor de formas alternativas de educação. Na verdade, é preciso ver as<<strong>br</strong> />

modalidades de educação [...] em sua interpenetração. A escola não pode<<strong>br</strong> />

eximir-se de seus vínculos com a educação informal e não-formal; por outro<<strong>br</strong> />

lado, uma postura consciente, criativa e crítica ante os mecanismos da<<strong>br</strong> />

educação informal e não-formal depende, cada vez mais, dos suportes da<<strong>br</strong> />

escolarização.<<strong>br</strong> />

Seria interessante, portanto, indagarmo-nos so<strong>br</strong>e de que maneiras a educação social<<strong>br</strong> />

tem transitado entre os campos da educação formal e não-formal, inspirando a criação<<strong>br</strong> />

de pontes cada vez mais sólidas entre um e outro universo educativo. A sinergia da<<strong>br</strong> />

educação social entre um campo e outro é para nós evidente e explorá-las nos parece<<strong>br</strong> />

urgente quando se fala em educação de qualidade para todos. Está lançado o convite<<strong>br</strong> />

para elucu<strong>br</strong>ações futuras.<<strong>br</strong> />

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