A CULTURA DOS CORDÉIS - Centro de Educação - Universidade ...
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séculos XVI, XVII e XVIII, não impediu que os membros da socieda<strong>de</strong> que fossem<br />
letrados tivessem acesso a esse tipo <strong>de</strong> produção. Nesse sentido, concordamos com<br />
Guinzburg (1987), quando ele chama à atenção para a questão da circularida<strong>de</strong><br />
entre culturas, ou seja, uma cultura se apropria <strong>de</strong> elementos da outra, e, portanto,<br />
não há uma supremacia entre uma cultura dita erudita e outra popular. Há um<br />
intercâmbio entre saberes e uma apropriação <strong>de</strong>les entre as práticas culturais <strong>de</strong><br />
elementos <strong>de</strong> uma mesma socieda<strong>de</strong>.<br />
Os folhetos <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l eram produzidos por poetas oriundos do campo, pois foi<br />
da ambiência rural que esse gênero textual inicialmente partiu, já que sua<br />
elaboração tinha como propósito o entretenimento das camadas populares rurais. No<br />
entanto, com o tempo, esse tipo <strong>de</strong> arte também caiu no gosto <strong>de</strong> eruditos e <strong>de</strong>mais<br />
habitantes das cida<strong>de</strong>s.<br />
Nesse período, a maioria dos poetas não era alfabetizada e foi na oralida<strong>de</strong><br />
que, inicialmente, os poemas <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l se <strong>de</strong>senvolveram. Todavia, quando alguns<br />
<strong>de</strong>les apren<strong>de</strong>ram a escrever, os poemas passaram a ser escritos. É necessário<br />
ressaltar que apenas um número muito restrito <strong>de</strong> trabalhadores rurais do período<br />
era letrado, porque eram poucos os que tinham alguma posse e acesso ao saber<br />
escolarizado.<br />
Quando os cordéis passaram à dimensão da escrita, alcançaram gran<strong>de</strong><br />
circularida<strong>de</strong> entre muitos países europeus, proliferando-se suas publicações e<br />
vendas. O cor<strong>de</strong>l ganhou uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>nominações em diferentes<br />
localida<strong>de</strong>s da Europa. Em Portugal, era chamado <strong>de</strong> literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l, <strong>de</strong>vido à<br />
forma como os folhetos eram distribuídos e expostos à venda; na França, a<br />
<strong>de</strong>nominação dos cordéis foi <strong>de</strong> littérature du colportage; na Espanha, chamavam-se<br />
pliegos soltos. Entretanto, foi em Portugal que o cor<strong>de</strong>l produzido no Nor<strong>de</strong>ste<br />
encontrou sua maior influência (ABREU, 1999; LUYTEN, 2005).<br />
Portugal foi um dos países que muito influenciou a produção do cor<strong>de</strong>l no<br />
Brasil, particularmente no Nor<strong>de</strong>ste, on<strong>de</strong> apresenta uma contextura peculiar. Ali, a<br />
disseminação dos folhetos foi muito intensa, visto que os baixos custos e o nível <strong>de</strong><br />
divulgação tornaram esse artefato acessível a todas as camadas. Contribuía para<br />
isso a linguagem utilizada - a coloquial - com um vocabulário acessível aos<br />
diferentes estratos sociais.<br />
O Século XIX é o período mais produtivo da literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l lusitana. No<br />
Brasil, nesse período, particularmente no nor<strong>de</strong>ste do país, o cor<strong>de</strong>l floresceu <strong>de</strong><br />
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