A CULTURA DOS CORDÉIS - Centro de Educação - Universidade ...
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novida<strong>de</strong>s que ocorriam, quer dizer, além <strong>de</strong> ser uma espécie <strong>de</strong> jornal do povo, o<br />
folheto <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l também exerceu um importante papel educativo na vida <strong>de</strong> muitos<br />
que não tiveram acesso à escola, pois, durante muito tempo, consistiu no único<br />
caminho às letras para essas pessoas. Noutras palavras, para além do seu papel<br />
comunicativo, os folhetos <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l tiveram uma significativa participação na prática<br />
educativa, pois funcionaram, durante muito tempo, como único meio <strong>de</strong><br />
alfabetização. O fácil acesso a eles e o nível muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicação que se<br />
<strong>de</strong>senvolvia entre as camadas populares, além da forma como os poetas se<br />
apresentavam diante <strong>de</strong> seu público, chamavam a atenção tanto dos ouvintes<br />
quanto dos possíveis leitores. Para gran<strong>de</strong> parte das pessoas, os cordéis consistiam<br />
na única fonte que possibilitava conhecimento, informação e também educação.<br />
Ao se reportar à importância educativa do cor<strong>de</strong>l na alfabetização, o poeta<br />
popular Manoel Monteiro refere:<br />
Hoje os governos municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>rais continuam lutando contra<br />
o analfabetismo. Hoje, no século XXI. No começo do século passado, a<br />
necessida<strong>de</strong> era bem maior, e Leandro Gomes <strong>de</strong> Barros escreveu e<br />
publicou com dificulda<strong>de</strong>s e ven<strong>de</strong>u os seus livros nas feiras do Nor<strong>de</strong>ste<br />
com muito mais dificulda<strong>de</strong>, ensinando, pois, o nor<strong>de</strong>stino a ler. [...] quem<br />
tem afinida<strong>de</strong> com a história cultural do Brasil sabe que muitas pessoas que<br />
se tornaram famosas <strong>de</strong>pois, foram políticos famosos, cientistas famosos<br />
<strong>de</strong>pois, tiveram a honestida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos seus <strong>de</strong>poimentos biográficos ou<br />
autobiográficos <strong>de</strong> dizerem que apren<strong>de</strong>ram as primeiras letras com os<br />
folhetos, a importância do cor<strong>de</strong>l, do folheto na formação do povo brasileiro,<br />
é muito gran<strong>de</strong>, felizmente que hoje está sendo reconhecida (MANOEL<br />
MONTEIRO).<br />
A partir da introdução dos meios <strong>de</strong> comunicação, como o rádio, a televisão e<br />
outros, e diante das mudanças que se foram operacionalizando na região Nor<strong>de</strong>ste,<br />
levando um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nor<strong>de</strong>stinos, assíduos consumidores <strong>de</strong> cordéis, a<br />
migrar, houve uma queda na sua comercialização, já que os meios <strong>de</strong> comunicação<br />
tiraram os folhetos <strong>de</strong> evidência, mas não <strong>de</strong> circulação. Entre os anos 70 e 90, o<br />
cor<strong>de</strong>l passou por algumas modificações que contribuíram para que pu<strong>de</strong>sse resistir<br />
às investidas <strong>de</strong> um novo tempo.<br />
Quando os primeiros cor<strong>de</strong>listas migraram para o Su<strong>de</strong>ste, lá <strong>de</strong>spertaram o<br />
interesse pelo cor<strong>de</strong>l, interesse mantido não apenas pelos leitores mas também<br />
pelos editores, como foi o caso da Editora Luzeiro que, no su<strong>de</strong>ste do país,<br />
particularmente em São Paulo, a partir da relação com poetas nor<strong>de</strong>stinos que<br />
migraram para lá, passou a ser o foco <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> edição, venda e<br />
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