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Nota de orelha do livro

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Napoleon Avenue com seu <strong>do</strong>ce e úmi<strong>do</strong> parque ver<strong>de</strong>jante no centro, um parque<br />

cheio <strong>de</strong> flores cuida<strong>do</strong>samente plantadas e <strong>de</strong> humil<strong>de</strong>s árvores no<strong>do</strong>sas e envergadas.<br />

A paisagem toda se movia com os sutis ventos <strong>do</strong> rio, e uma névoa úmida dançava no ar<br />

mas não se fazia chuva, e folhinhas ver<strong>de</strong>s vinham cain<strong>do</strong> leves como cinza. Suave<br />

primavera <strong>do</strong> sul. Até o céu parecia prenhe da estação, baixan<strong>do</strong> e no entanto coran<strong>do</strong><br />

com reflexos da clarida<strong>de</strong>, parin<strong>do</strong> a névoa por to<strong>do</strong>s os poros. Um perfume gritante<br />

emanava <strong>do</strong>s jardins à esquerda e à direita, das flores-das-quatro-horas, como os<br />

mortais chamam, uma trepa<strong>de</strong>ira parecida com mato, mas infinitamente <strong>do</strong>ce, e as íris<br />

silvestres em riste como lâminas sain<strong>do</strong> da lama negra, pétalas roucas monstruosamente<br />

gran<strong>de</strong>s, amassan<strong>do</strong>-se em muros velhos e <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> concreto, e, como sempre, havia<br />

rosas, rosas <strong>de</strong> velhas e rosas <strong>de</strong> moças, rosas muito sadias para a noite tropical, rosas<br />

cobertas <strong>de</strong> veneno.<br />

Antigamente havia bon<strong>de</strong>s nesta faixa central relvada. Eu sabia que os trilhos<br />

corriam por esse grama<strong>do</strong> ver<strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu caminhava à frente <strong>de</strong>le, rumo aos cortiços, ao<br />

rio, à morte, ao sangue. Ele vinha atrás <strong>de</strong> mim. Eu conseguia andar <strong>de</strong> olhos<br />

fecha<strong>do</strong>s, sem tropeçar, e ver os bon<strong>de</strong>s.<br />

— Venha, siga-me — falei, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> o que ele fazia, não o convidan<strong>do</strong>.<br />

Quarteirões e quarteirões em segun<strong>do</strong>s. Ele continuou. Muito forte. O sangue<br />

<strong>de</strong> toda uma corte <strong>do</strong> Vampiro Real corria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le, sem dúvida. Lestat podia criar<br />

os monstros mais letais, isto é, após seus sedutores equívocos iniciais — Nicolas, Louis,<br />

Claudia —, nenhum <strong>do</strong>s três capaz <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> si mesmo sozinho, e <strong>do</strong>is morreram, e<br />

um sobrou e talvez o vampiro mais fraco ainda esteja a circular no gran<strong>de</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Olhei para trás. Seu rosto contraí<strong>do</strong>, escuro e lustroso espantou-me. Ele parecia<br />

to<strong>do</strong> enverniza<strong>do</strong>, encera<strong>do</strong>, poli<strong>do</strong>, e tornei a pensar em coisas condimentadas,

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